sábado, abril 29, 2006

O professor

"É certo que não vou aqui andar feito Diógenes, com uma candeia na mão, à procura daqueles que merecem ou não estas palavras, mas reconheço, no entanto, que muitos não são dignos delas, mercê da sua marreca pedagogia e da sua postura em relação aos alunos, originando que estes, por um lado, não compreendam o que lhes é transmitido, e por outro tomem o freio nos dentes e se apossem de um desregramento que atinge os limites da razoabilidade.
Podem juntar-se todos os psiquiatras e neurologistas, sociólogos e assistentes sociais, numa tentativa vã para justificar o injustificável, porque as suas bonitas teses, vazias de conteúdo, nada justificam; antes pelo contrário: agravam mais a situação de insubordinação e a falta de respeito que actualmente se vive nas instituições de ensino, desde o primário até à universidade, onde o desrespeito abusivo é um facto dos nossos dias, cujas provas são de total irrefutabilidade.
Não venham os "entendidos" dubiamente armados de puritana compreensão, porque não foi neles que o "arganel" foi introduzido, imputar as culpas de tudo o que tem vindo a acontecer nas instituições de ensino, onde o professor é, por vezes, vexado e agredido, à descriminação social e à instabilidade familiar, porque isso, para além de ser caricato, só vem dar força aos novos energúmenos em fase de germinação e impulsionar os que já o são, a fazerem pior.
Ainda há bem pouco tempo numa das minhas crónicas, nomeei uma frase de Nietzch, "o medo é o pai da moral". O facto é que hoje ninguém tem medo e, por isso, a moral está decadente. Se os puritanos da filosofia do entendimento, nas suas intervenções televisivas e escritas, procuram justificar todas as atitudes dos desvios da personalidade que originam pulsões nefastas nalguns elementos constituintes da nossa sociedade, então é lógico que acabem de vez os castigos, porque ninguém faz nada de bom ou de mau sem uma razão de causa. Assim sendo, existe uma equivalência absoluta entre o bem e o mal. Neste caso, que reine a anarquia. Mas que o resultado dessa mesma anarquia ataque incisivamente aqueles que a defendem, que eles mudarão de ideias a curto prazo.
O problema actual existe por causa da existência do "culto" à impunidade, onde fiéis crentes tudo compreendem, ou fazem por isso, porque as coisas não se passam com eles e, por outro lado, têm um posto de trabalho a assegurar; eu compreendo-os, todavia não concordo com as suas alegações!
Actualmente quem dá o pão, já não o dá, ou não sabe dar a educação e, por vezes, nem uma coisa nem outra. Contudo, isto não deverá ser motivo para justificar a isenção implacável do castigo sem qualquer condescendência, que evidentemente deverá obedecer não só ao delito cometido, mas também a uma série de antecedentes que normalmente precedem a sua eventual consumação.
As instituições de ensino, no que respeita a comportamentos, são, em parte, a continuidade daquilo que no seio familiar é ensinado, não descurando porém, que independentemente disso, cada um sabe o que é o bem e o que é o mal.
Agredir um professor ao ponto de o mandar para o hospital, como recentemente aconteceu. Na minha cabeça, esta atitude não tem lugar para desculpas. No meu tempo, atitudes menos "poluentes" do que esta, resolviam-se com duas ou três chapadas no cangote, dadas por um Director ou até mesmo por um professor, que até davam para ver a Ursa-Maior; e chegado a casa, se apresentava queixa comia mais duas ou três. Era assim que as coisas andavam direitas.
Presentemente, com toda a compreensibilidade doentiamente vivente, não é permitido puxar a orelha ao menino porque ele fica traumatizado e o professor é condecorado com um processo disciplinar por agressão indevida. E os pais todos contentes, de mãos dadas com as leis governamentais, até alinham na fita do menino, ajudando a linchar a autoridade do professor, esquecendo-se de que país com ensino defeituoso e onde não existem regras, é país com espondilose anquilosante cívica, que lhes servirá de futura enxerga, onde jamais conseguirão descansar a consciência do seu osteoporoso esqueleto"
António Figueiredo e Silva

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