"Dois professores da Escola Superior de Saúde da Guarda travaram-se de razões, ao murro e pontapé, num corredor do estabelecimento de ensino. Um deles usou spray de gás paralisante. Não sabemos quem quis tratar da saúde a quem. Mas na docência, profissão maioritariamente constituída por mulheres, estes exercícios de virilidade são encorajadores.
Nunca ignorei, na minha passagem pelo ensino, que as professoras também usam sprays. E lacas de marca. Gostam de se produzir. Mesmo as mais despretensiosas não dispensam unhas de gel, eyeliners, batons. Fazem dos corredores da escola elegantes passerelles, espalhando glamour e charme. Mas os professores, meu Deus, acantonados na sua cinzenta minoria, habitualmente não se fazem notar. Chegou a sua hora.
Estes dois docentes, homens do sexo masculino, contrariando a crescente efeminização da escola, dão um bom exemplo de que pelo menos esta catedral do saber, o Instituto Politécnico da Guarda, não é o reino da quietude amaricada, o lugar soturno onde as aulas provocam mansos bocejos.
Os tesos docentes andavam há seis anos pegados um com o outro. Esperavam uma boa oportunidade para exercitarem o músculo. Ela surgiu. Um dos contendores confessou ao Correio da Manhã que apenas se defendeu, usando "em absoluta legítima defesa e como último recurso, a arma de classe E (spray)", para cujo uso teria licença.
Um professor que anda na escola com uma arma de classe E no bolso é homem prevenido. Anda armado. Armado em parvo, julgarão os mais cépticos.
Eu não creio. O spray servia apenas para fixar a poupa do cabelo, dar-lhe um look mais másculo, para evitar que algum colega lhe chegasse a mão ao pêlo.
Os docentes brigões, com escoriações visíveis, foram assistidos no hospital da Guarda. Sendo professores da escola Superior de Saúde, não compreendi se o treino fazia parte de alguma formação prática, devidamente protocolada entre os ministérios da Ciência e da Saúde. Se assim foi, deseja-se formação mais intensiva e vigorosa. Em arrufos, para medir competências psicossomáticas e científicas, tem de haver mais sangue. É necessário estimular a prática das diversas especialidades de medicina e de enfermagem.
Não sabemos quem abriu as hostilidades pedagógicas. Mas estes raros ódios de estimação, entre professores do ensino superior, são excelentes para tornarem insignificantes, e desculpáveis, os inúmeros episódios de violência nas escolas secundárias e básicas. Não fica bem, em níveis de ensino não superior, mosquinhas mortas abúlicas, sejam professores ou alunos.
Não consegui confirmar se este docente de classe E tinha mesmo licença. Classe, tinham os dois. Com licença ou sem ela, o que estão a precisar é de licença sabática. Para, no mínimo, se dedicarem às artes marciais. Se um dia regressarem à escola, poderão treinar as competências dos seus colegas e alunos em kickboxing. Gente eriçada, a animar as escolas, faz falta.
A sociedade portuguesa anda deprimida com a recessão. Se o exemplo frutificar terá excelentes oportunidades para desviar o olhar do seu umbigo e distrair-se com as punhadas e as biqueiradas de alguns dos melhor preparados, e melhor formados, profissionais do Ensino.
Só espero que a Direcção-Geral do Ensino Superior e o Tribunal, onde já correm as participações, sejam magnânimos para com os docentes. Estes não sendo os "heróis do mar" - que Henrique Lopes de Mendonça incensava no seu poema de 1890 e que Alfredo Keil musicou em A Portuguesa - não deixam de ser verdadeiros heróis da Serra. Fomos, somos e seremos, como o hino pátrio não se cansa de o proclamar, uma Nação valente".
Nunca ignorei, na minha passagem pelo ensino, que as professoras também usam sprays. E lacas de marca. Gostam de se produzir. Mesmo as mais despretensiosas não dispensam unhas de gel, eyeliners, batons. Fazem dos corredores da escola elegantes passerelles, espalhando glamour e charme. Mas os professores, meu Deus, acantonados na sua cinzenta minoria, habitualmente não se fazem notar. Chegou a sua hora.
Estes dois docentes, homens do sexo masculino, contrariando a crescente efeminização da escola, dão um bom exemplo de que pelo menos esta catedral do saber, o Instituto Politécnico da Guarda, não é o reino da quietude amaricada, o lugar soturno onde as aulas provocam mansos bocejos.
Os tesos docentes andavam há seis anos pegados um com o outro. Esperavam uma boa oportunidade para exercitarem o músculo. Ela surgiu. Um dos contendores confessou ao Correio da Manhã que apenas se defendeu, usando "em absoluta legítima defesa e como último recurso, a arma de classe E (spray)", para cujo uso teria licença.
Um professor que anda na escola com uma arma de classe E no bolso é homem prevenido. Anda armado. Armado em parvo, julgarão os mais cépticos.
Eu não creio. O spray servia apenas para fixar a poupa do cabelo, dar-lhe um look mais másculo, para evitar que algum colega lhe chegasse a mão ao pêlo.
Os docentes brigões, com escoriações visíveis, foram assistidos no hospital da Guarda. Sendo professores da escola Superior de Saúde, não compreendi se o treino fazia parte de alguma formação prática, devidamente protocolada entre os ministérios da Ciência e da Saúde. Se assim foi, deseja-se formação mais intensiva e vigorosa. Em arrufos, para medir competências psicossomáticas e científicas, tem de haver mais sangue. É necessário estimular a prática das diversas especialidades de medicina e de enfermagem.
Não sabemos quem abriu as hostilidades pedagógicas. Mas estes raros ódios de estimação, entre professores do ensino superior, são excelentes para tornarem insignificantes, e desculpáveis, os inúmeros episódios de violência nas escolas secundárias e básicas. Não fica bem, em níveis de ensino não superior, mosquinhas mortas abúlicas, sejam professores ou alunos.
Não consegui confirmar se este docente de classe E tinha mesmo licença. Classe, tinham os dois. Com licença ou sem ela, o que estão a precisar é de licença sabática. Para, no mínimo, se dedicarem às artes marciais. Se um dia regressarem à escola, poderão treinar as competências dos seus colegas e alunos em kickboxing. Gente eriçada, a animar as escolas, faz falta.
A sociedade portuguesa anda deprimida com a recessão. Se o exemplo frutificar terá excelentes oportunidades para desviar o olhar do seu umbigo e distrair-se com as punhadas e as biqueiradas de alguns dos melhor preparados, e melhor formados, profissionais do Ensino.
Só espero que a Direcção-Geral do Ensino Superior e o Tribunal, onde já correm as participações, sejam magnânimos para com os docentes. Estes não sendo os "heróis do mar" - que Henrique Lopes de Mendonça incensava no seu poema de 1890 e que Alfredo Keil musicou em A Portuguesa - não deixam de ser verdadeiros heróis da Serra. Fomos, somos e seremos, como o hino pátrio não se cansa de o proclamar, uma Nação valente".
José Alberto Quaresma
Expresso