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"Mais de 5100 professores (5140) reformaram-se entre Setembro do ano passado e Julho de 2009, 1440 dos quais com penalizações na reforma. Os números foram avançados ao DN pelo secretário-geral do Sindicato Nacional e Democrático dos Professores (Sindep/Fenei) e resultam de um levantamento feito recentemente pelo sindicato junto da Caixa Geral de Aposentações. Para Carlos Chagas, o aumento significativo de pedidos de reforma resulta do descontentamento da classe com as políticas educativas do Governo.
Segundo dados oficiais da Caixa Geral de Aposentações, já no ano civil de 2008, cerca de 5100 professores tinham ido para a aposentação, o que representou um aumento de 35% em relação a 2007. Agora, os dados do Sindep indicam que as reformas no último ano lectivo já ultrapassaram esse número. "Isto só prova que os professores mais experientes estão a deixar a profissão e que a carreira deixou de ser atractiva, isto porque as políticas educativas do Governo conduziram à desvalorização da carreira profissional ", considera Carlos Chagas".
DN
"O caso de um aluno que passou de ano (o 8.º) com nove negativas despertou por aí certos queixumes. É vontade de dizer mal. Antes de mais, o aluno em causa não é uma excepção, é um exemplo: pelos vistos, "transitar" criancinhas com sete, oito, nove ou dez negativas já se tornou prática relativamente comum nas escolas nacionais. E o hábito não é tão negativo quanto aparenta. Muito pelo contrário, e por quatro razões.
Em primeiro lugar, acaba com a discriminação entre disciplinas. Até agora, inúmeros alunos saltitavam de ano em ano sem saberem nada de matemática. Agora, são livres de saltitar sem saberem nada de coisa nenhuma. Um ponto a favor da "interdisciplinaridade".
Em segundo lugar, acaba com a discriminação entre os diferentes tipos de ensino. Se os frequentadores das Novas Oportunidades obtêm um diploma do 9º ou do 12º mediante a mera elaboração de uma redacção, num dialecto vagamente evocativo do português, sobre "O Mel" ou "As Minhas Férias" ou "O Magalhães", não há motivo para submeter os restantes usufrutuários do sistema educativo a exigências desumanas. Um ponto a favor da sistematização das "valências".
Em terceiro lugar, acaba com os traumas escusadamente infligidos às crianças. Por regra, os meninos e meninas corridos a nove negativas são criaturas sensíveis, que sofrem imenso com as sanções e que, frustradas, dedicam em consequência a vida à birra, à droga e ao pequeno crime. Um ponto a favor da segurança.
A quarta, e primordial, razão é que o fim das "retenções" acaba com alguns traumas no Orçamento de Estado. Há tempos, a sra. ministra explicou: cada aluno custa ao erário público 3 mil euros por ano, logo um aluno reprovado fica por 6 mil. Em 2007, os "chumbos" no ensino básico e secundário pesaram 600 milhões na despesa, uma enormidade que poderá perfeitamente ser aplicada no aprimoramento tecnológico da rede escolar, de modo a que os alunos que "transitam" na maior ignorância o façam nas melhores condições. Um ponto a favor do avanço em geral".
Alberto Gonçalves, DN
"Uma escola do Minho decidiu não reprovar um aluno que contava nove negativas. As razões aduzidas são férias, têm a ver com o ambiente familiar do jovem que, há três anos, recebe apoio psicológico – e o conselho escolar decidiu que era melhor passá-lo para o 9º ano em vez de aplicar "a retenção", como agora se diz em vez de "chumbo".
Nove disciplinas negativas é, no entanto, um número aterrador. O que vai acontecer é que, no 9º ano, o aluno vai repetir o insucesso dos anos anteriores, como mandam as regras e ilustra a experiência. A ideia de que a penalização seria traumática e, vamos lá, injusta, tem os seus defensores – com muita jurisprudência e psicopedagogia, à mistura com caridade vagamente cristã. Infelizmente, sem sensatez ou sentido das proporções. A isto chegámos".
Francisco José Viegas
"Já em alguns escritos passados me insurgi contra a cultura facilitista que, do meu ponto de vista, se instalou no Ministério da Educação. A todos os níveis e de forma crescente. Nas provas de aferição de Língua Portuguesa dos 4º e 6º anos de escolaridade realizadas em Junho último, cerca de 90% dos estudantes obteve classificação positiva. No “papão” que é a Matemática, 89% foi a taxa de aprovação no 4º ano, tendo aprovado 6º ano nesta disciplina registado os piores resultados, com…80% de positivas.
No entanto, é bom lembrar que em 2007, por exemplo, as classificações positivas não chegaram aos 60%... Sabe-se que estas provas de aferição nos 4º e 6º anos são meramente informativas, não contando para a nota final dos alunos, ao contrário dos exames do final do 3º ciclo (9º ano) e do Ensino Secundário (12º ano). Mas, mesmo assim, numa ânsia de obter boas estatísticas, que contribuam para um a melhor comparação de Portugal nos rankings internacionais, o Ministério de Educação não tem poupado esforços no sentido da facilidade destas provas.
Isso mesmo se infere do que referem a Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM) e a Associação de Professores de Português (APP), respectivamente: “continuam a não testar os conhecimentos mínimos correspondentes aos anos de escolaridade” e “o Ministério incluiu [nas provas] instruções que funcionam como um factor evidente e inaceitável de facilitação da resposta”.
No caso da Língua Portuguesa, a APP refere mesmo que “já pouco falta para escreveremos textos por eles [os alunos]”.
Infelizmente, quando chegamos aos exames nacionais dos 9º e 12º anos, a doer (porque contam para a nota final dos alunos), o que se conclui é que, afinal… a dor é praticamente nula.
A figura em anexo é elucidativa. Nunca em toda a história dos exames do Secundário a média da Matemática foi positiva… até 2008, quando não só ultrapassou a barreira dos 10 valores, como atirou esta disciplina para o topo das classificações – imagine-se!...– entre as provas com mais inscritos. Claro que a SPM e também a Associação de Professores de Matemática logo salientaram que a melhoria das notas não reflectia uma melhoria da aprendizagem dos alunos. E, como se nota, os resultados começaram a subir em… 2006. Coincidência?
Não creio: o Governo entrou em funções em Março de 2005, pelo que só em 2006 as primeiras alterações neste domínio poderiam ser notadas… E as reprovações a esta disciplina, que atingiam 31% dos estudantes em 2005 são, agora, residuais (7%).
Como seria de esperar, o panorama no 9º ano é semelhante: as classificações positivas subiram de 29% em 2005 para 55,2% (pela primeira vez acima de 50%!...) em 2008. Aguarda-se com expectativa os resultados dos exames relativos a 2009, recentemente realizados. E até aposto que será notada uma nova melhoria face ao ano passado!...
Senão, vejamos: “No exame nacional de Matemática do 9º ano [de 2009] há questões que podem facilmente ser resolvidas por alunos de 12 anos, exercícios que contêm a resposta e conteúdos essenciais que não são testados”.
A análise nem sequer é da crítica e exigente (e ainda bem!...) SPM – é da Associação Francesa de Professores de Matemática do Ensino Público que, a convite do Semanário Expresso, analisou a prova do 9º ano no nosso País, tendo notado ainda, por exemplo, a falta do cálculo algébrico e da análise de funções na prova. E conclui que “é compreensível que a SPM esteja chocada, porque o nível é muito baixo”.
Bem sei que têm vindo a ser adiantadas explicações para esta tendência que não é só Portuguesa – de nivelamento por baixo (é disso que estamos a falar) devido à indisciplina, ao número excessivo de alunos por turma e aos constrangimentos familiares. Para além de muitos especialistas na matéria defenderem que não é sustentável uma sociedade aceitar uma taxa de insucesso de 50% ou mais no exame final da escolaridade obrigatória.
O que tem levado governos de muitos países (incluindo Portugal) a estarem mais preocupados em controlar as taxas de sucesso, as reprovações e os fluxos dentro do sistema do que com o nível de formação – até porque as reprovações saem caro…
Não me parece, porém, que esta tendência (de crescente facilitismo) seja solução para o que quer que seja. Trata-se, até, de um caminho extremamente perigoso. Que, em minha opinião, só pode ser invertido com a união de decisores políticos, professores, alunos e, claro, encarregados de educação e famílias em geral em torno de valores como a disciplina, o rigor, a exigência, o método de trabalho, a cultura do mérito e a avaliação periódica. Todos imbuídos do mesmo espírito.
Será o actual nível de exigência suficiente para formar cientistas, engenheiros, economistas, professores, enfim, profissionais de qualidade no dia de amanhã?...
Não creio. Por este caminho, por mais agradáveis à vista que sejam hoje as estatísticas e as comparações nos rankings internacionais, os profissionais formados amanhã serão certamente piores, comprometendo o desenvolvimento da sociedade. O que agravará o problema e não o resolverá minimamente, como seria desejável".
Miguel Frasquilho, Jornal de Negócios