Se há algo no nosso ensino que sempre me fez confusão é o sistema de classificação do ensino básico. Percebe-se porque ele foi implementado: facilitar o sucesso escolar de todos os alunos. Neste sistema facilmente se altera um nível 2 para um nível 3 sem que nada de substancial o justifique. Quem é que já não participou em Conselhos de Turma de final do 3º período, onde alunos com uma catrefada de níveis negativos conseguem transitar de ano? A facilidade com que estas alterações chegam a ser feitas devia-nos envergonhar a todos. Muitos professores não reprovam os seus alunos, não porque entendam que eles devam transitar, mas apenas porque não querem ter a maçada de justificar as retenções. Como estas justificações não são necessárias em caso de progressão, escolhe-se o caminho mais fácil. Resultado: bastas vezes, as progressões acontecem, não devido a aprendizagens bem sucedidas mas antes por razões burocráticas e formais que se sobrepõem às razões pedagógicas. Inconcebível!
sábado, março 25, 2006
quarta-feira, março 15, 2006
Novas regras no acesso à docência
A ministra da educação continua a dar mostras de sede de protagonismo. O frenesim com que apresenta novas medidas para a educação é algo que não se vê em mais nenhum ministério. Desta vez são as alterações propostas às condições de acesso à profissão docente, onde ressaltam as diferenças existentes entre a formação exigida aos professores do 1º ciclo comparativamente com os dos 2º e 3º ciclos, e o exame nacional a que estes últimos serão sujeitos se quiserem ingressar na profissão. Fica por explicar esta aparente discriminação entre professores do 1º ciclo e os restantes, e o porquê da prova nacional que, pelos vistos, irá aferir se um determinado indivíduo reúne condições para ser professor. Mas desde quando é que um bom ou um mau resultado numa prova escrita pode esclarecer quanto à qualidade do futuro professor?!!
P.S.- Prevejo mais uma semana de elogios públicos ao desempenho da ministra.
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Regras de acesso à função docente
sexta-feira, março 10, 2006
Áreas curriculares não-disciplinares
Alguém me consegue explicar qual a importância pedagógica das área curriculares não-disciplinares? É que eu até hoje ainda não consegui perceber e provavelmente o defeito é meu. Para além da desvantagem de sobrecarregar os horários dos alunos, não consigo deslumbrar nenhuma vantagem. As taxas de insucesso escolar não param de aumentar o mesmo acontecendo com os actos de indisciplina, o que faz pressupor que as áreas de estudo acompanhado e de formação cívica não estão a cumprir a sua função. É assim ou estarei enganado?
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Áreas Curriculares Não Disciplinares
quarta-feira, março 08, 2006
O negócio das explicações
As explicações constituem para muitos professores um negócio altamente rentável, em especial para aqueles que acumulam a função de professor e de explicador. Tudo estaria bem se esta última fosse legalizada o que na maioria dos casos não acontece. Acresce que muitos destes professores se recusam a dar aulas de apoio na escola, mas em contrapartida acabam por aceitar os alunos da sua própria escola enquanto explicadores, o que do ponto de vista ético é altamente reprovável. Habitualmente, estes turbo-professores recusam na escola qualquer tarefa que vá para além do seu horário lectivo porque precisam desse precioso tempo para as explicações. Quem não conhece as situações de "panelinha" entre Conselhos Executivos e alguns destes professores no que toca aos seus horários escolares (ex: leccionam só de manhã estando as tardes preenchidas com explicações). Uma perfeita vergonha que só desprestigia a nossa classe. Depois admiram-se da imagem dos professores estar pelas ruas da amargura. Vem tudo isto a propósito da recente medida tomada pelo Governo de querer acabar com as ilegalidades dos milhares de professores que dão explicações sem declararem os rendimentos ao fisco. Neste caso, só tenho que aplaudir a decisão do Ministro das Finanças. Há que moralizar o sistema. Além do mais, se as escolas investirem nas aulas de recuperação talvez menos alunos precisem de recorrer a explicações privadas, por muito que isso custe a estes professsores.
terça-feira, março 07, 2006
Mais uma opinião
"A ministra seria sábia se conseguisse obter o apoio de muitos pais e suas organizações. Seria inteligente se obrigasse as autarquias a assumir as suas responsabilidades educativas. Seria avisada se procurasse, fora do sistema, fora dos professores requisitados para o ministério e fora das indústrias e do comércio educativos, apoio e opinião. Sózinha, não vai lá. Com os sindicatos de professores também não. Com a sociedade, os cientistas e os pais, talvez."
Quem assim escreve é António Barreto em artigo de opinião no "Público" . Ou seja, para este ilustre colunista, o sucesso da educação faz-se com o contributo de todos, menos com a ajuda dos professores. Achei piada a alusão aos pais. Pais que, como sabemos, a maioria deles, está-se perfeitamente borrifando para a escola e, em particular, para o acompanhamento escolar dos seus educandos. Não me parece que a educação tenha a ganhar com contributos como o deste senhor.
sexta-feira, março 03, 2006
E a tudo isto os professores respondem com a passividade absoluta
O texto que aqui coloco é da autoria da jornalista da revista "Sábado", Filomena Martins:
"No dia em que os professores iniciavam greve por causa das aulas de substituição no ensino básico, José Sócrates anunciou que já no próximo ano elas serão também obrigatórias no secundário. Uma afronta? Não. Uma boa razão. Porque pior que não ter argumentos é usar argumentos falsos. E é o que fazem os professores.
Comecemos pelos ordenados e pelo tempo. Os professores queixam-se porque estas aulas não são pagas apesar do tempo que perdem com elas. Esquecem-se de dizer que passam em média menos 379 horas por ano nas escolas que os colegas da OCDE e que ao nível dos salários ganham acima da média europeia. E esquecem-se de dizer que as aulas de substituição não afectam o horário de trabalho (35 horas por semana), fazem parte do tempo sem aulas (máximo de 25 horas semanais).
A seguir, as condições. Dizem os professores que não há espaços nas escolas. Esquecem a lógica: se um professor falta e eles têm de o substituir, podem usar a sala de aula que ficou vazia.
Por fim, a formação. Para os professores, não faz parte do seu estatuto entreter os alunos, apenas ensiná-los. Esquecem-se que se pode entreter ensinando; que é preferível o Sudoku ao cigarrinho nos furos; que podem aproveitar esse tempo para tirar dúvidas sobre as próprias matérias que ensinam. Enfim, que podem dar explicações sem ser em casa, pagos a peso de ouro e livres de impostos"
Um mimo! Cheio de inverdades e falsidades, mas cumpre o objectivo a que se propôs: achincalhar a classe dos professores, denegrindo a sua imagem perante a opinião pública. O que se estranha é que, perante tudo isto, os professores continuem a responder com a passividade absoluta!
quinta-feira, março 02, 2006
A boa imprensa da ministra da educação
Definitivamente, a Ministra da Educação caiu no goto dos opinion makers cá do burgo. Não se regateiam elogios à sua coragem, por finalmente pôr ordem na educação. Qualquer medida que a senhora tome, é imediatamente aplaudida por estes senhores. Sobretudo, porque estas medidas têm, supostamente, ido contra os interesses dos professores, essa classe canalha a quem se deve o falhanço da educação neste país. Fecho das escolas com menos de 1o ou 15 alunos; prolongamento dos horários; substituição dos professores faltosos; aulas de recuperação para os alunos com dificuldades de aprendizagem; permanência dos professores nas escolas por um período de 3 ou 4 anos e estabilidade nos manuais escolares, tudo medidas essenciais que contribuirão decisivamente para a melhoria na qualidade de ensino no básico e secundário. A sociedade aplaude, especialmente os pais, que vêem assim a possibilidade de, uma vez por todas, se demitirem - muitos deles já o fizeram há muito - da sua função de educadores. Quem pensa que a resolução de todos os problemas nas nossas escolas passa apenas pela implementação destas medidas, só pode estar a brincar, para além de revelar um grande desconhecimento da realidade escolar. Quem trabalha no terreno sabe que assim é. O ME também. Mas a demagogia sempre rendeu votos e quanto a isso não há nada a fazer.
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