sexta-feira, abril 06, 2007

O amanhã-que-podemos-fazer-hoje

"Afirmou recentemente o primeiro-ministro que a educação era o único problema estrutural do País. Parece haver aí certo exagero de ocasião, mas, se não é o único, é com certeza o problema número um. Porque dele (da forma como o resolvermos, ou não) depende o Portugal dos próximos 30 anos.
Nesse campo - o da educação, espécie de amanhã-que-podemos-fazer-hoje -, o trabalho do Governo tem deixado muito a desejar. Para mal dos nossos pecados, presentes e futuros. Que nota daria ao Ministério da Educação: um médio menos? Um sofrível mais? Ou uma simpática negativa tangencial?
Em primeiro lugar, a reforma da educação não é como outras (aliás, no terreno, já ninguém deve poder ouvir o termo "reforma"; de tão repetido, e tantas vezes em vão, este já traz consigo um peso triste, contraproducente... Talvez se lhe chamássemos antes "revolução"...). Não é como as outras: uma mudança de fundo na educação em Portugal não pode ser feita "contra" - contra os interesses, corporações, forças de bloqueio. Estes também existirão aqui, claro, mas a atitude não pode ser de tipo "adversarial". Ideias precisas, sim - mas a partir de uma base de boa-fé, sem partidarites inúteis e com poder de encaixe a toda a prova. Só haverá resultados se, paralelamente às melhores soluções políticas, se conseguir o consenso mais amplo e construtivo que for possível ("consenso" é, porventura, outro dos termos já queimados, lembrando moleza e deixa-andar... Um "acordo" então...).
Em segundo lugar, não faz sentido cruzar um discurso pró-qualificação com medidas de tipo meramente economicista. Contra a lógica (barata...) da facilidade e do baixar- -o-nível, exige-se um investimento sólido e outra ambição. O nosso amanhã próximo depende já disso: um ensino que junte exigência e criatividade, saber e imaginação, responsabilidade e confiança.
Num plano mais geral (na vista "em planta", digamos, da questão da educação), deve a esquerda questionar-se seriamente se, nos dias que correm, a manutenção de um sistema de "igualdade" imposta não acaba por perpetuar diferenças sócio-económicas de base - e se, tudo considerado, não seria mais justo um modelo de maior autonomia e liberdade, que aumentasse as possibilidades de escolha para todos".

Jacinto Lucas Pires
Diário de Notícias

3 comentários:

João Soares disse...

Viva
Parabéns pelo seu trabalho.
O meu blogue versa mais a Educação Ambiental, mas sou professor e revejo-me muito no que leio aqui.
Por isso coloquei um link do seu blogue na lista de blogues amigos do Bioterra (lado esquerdo).
Boa Páscoa, em boa hora.
Um abraço
João Bioterra
http://bioterra.blogspot.com

Anónimo disse...

"Contra a lógica (barata...) da facilidade e do baixar- -o-nível, exige-se um investimento sólido e outra ambição. O nosso amanhã próximo depende já disso: um ensino que junte exigência e criatividade, saber e imaginação, responsabilidade e confiança."

Coitado do nosso amanhã próximo, se depende de um ensino com exigência e saber... Quão melhor seria se dependesse do folclore e do foguetório!

José Carrancudo disse...

A nossa análise do sistema escolar, recentemente publicada, revelou a existência de dois problemas de fundo, ao nível dos métodos de ensino, que condicionam o desempenho de todo o sistema educativo escolar.

Temos proposto medidas claras e concretas, que devem ser implementados com uma maior brevidade possível, para que os seus efeitos se façam sentir nos próximos anos.

Sem resolver estes problemas de fundo, todos as outras medidas se revelarão infrutíferas, sendo à partida condenadas ao fracasso.