"Nuno Crato encheu de nada e de cortes três
páginas deste jornal. Lê-lo a 31 de Outubro traveste-lhe a graça para Nuno
Cortes. Quando não identifica medidas para cortar, responde que não sabe. Nuno
Nada, tão-pouco destoava para sua nova graça. Que desgraça!
Tirando o desígnio de castrar, despedir e
poupar, não há na entrevista a mais ligeira ideia consistente sobre Educação.
Perguntado sobre como se vai cumprir a escolaridade obrigatória até aos 18 anos,
responde com profundidade: “Está tudo em aberto”. Interrogado sobre a verdadeira
grandeza da redução orçamental, riposta com rigor: “Depende do quadro que se
leia”. Questionado sobre o número de professores estritamente necessário, que
antes havia invocado, é preciso: “É um bocado menos do que temos hoje. Não
consigo quantificar”. Solicitado a esclarecer o objectivo que propõe para um
novo modelo de financiamento do ensino superior, que acabara de preconizar,
repete-se: “Está tudo em aberto”. À insistência dos entrevistadores, que querem
conhecer os critérios a incluir no tal modelo, responde filosoficamente: “Vamos
pensar nisso”. Quando lhe perguntam se já começou a pagar as bolsas de estudo, é
negativamente claro: “ Ainda não”. Quando lhe perguntam se tem ideia de quantos
alunos perdem o direito à bolsa, é claro, negativamente: “Ainda não”.
“Estamos a estudar”, “estamos a ver”, “estamos
a identificar”, “temos de ver” “temos que pensar” e “vamos ter de repensar” são
fragmentos frásicos abundantes na entrevista, que ilustram a vacuidade
predominante. Mas há passagens concretas, que patenteiam impreparação,
ignorância e manipulação da realidade. Passo a fundamentar.
Comecemos pela impreparação. Nuno Crato
confessa que era inconsciente, quando crítico do anterior poder. Para tentar
estabelecer coerência entre o que dizia e o que agora faz, afirma-se fiel aos
seus princípios de sempre e deixa implícito que os actos que pratica, que
contradizem tais princípios, são ditados por uma realidade que desconhecia. É
uma quadratura do círculo, donde emerge impreparação crassa. Vista do lado do
crítico, o ministro fica sem crédito. Vista do lado do ministro, o crítico virou
a casaca. A seriedade mínima conclui pela implosão recíproca.
Passemos à ignorância, com dois exemplos. No
primeiro caso, é deprimente constatar o desconhecimento do ministro sobre a
gestão do currículo do ensino básico. Nuno Crato assevera que poupou, com a
supressão do Estudo Acompanhado, 15 milhões de euros no 2º ciclo e 17 no 3º.
Afirma, preto no branco, que “ o Estudo Acompanhado era dado por dois
professores no 2º ciclo”. Ora o que todos sabemos é que o Estudo Acompanhado
continua a existir para o 2º ciclo e é acompanhado pelos mesmíssimos dois
professores. Termos em que uma supressão que não existiu, senão na mente capta
do ministro, não pode originar 15 milhões de poupança, senão nas virtuais contas
deste economista, especialista em Matemática e arauto do rigor. No segundo caso,
é embaraçoso ver Nuno Crato referir que a escolaridade obrigatória é de nove
anos. Pena que um assessor não tenha tido a oportunidade de o esclarecer que já
é de 12.
Vejamos agora a manipulação da realidade,
também com dois, de vários exemplos possíveis:
1. Nuno Crato deixa cair, com ar dramático:
«Quase metade (46,7 por cento) do pessoal da administração central está no
Ministério da Educação. É um valor extraordinário. Isso significa que as
reduções têm de ser, em grande parte, em pessoal e que têm de se reflectir na
educação.» Mas não justifica seja o que for. A Educação tem cerca de dois
milhões de utentes directos. Como se comparam estes números com os outros
serviços públicos? Como se comparam estes números com dados internacionais? Como
se enquadram estes números no que ele, como definidor das politicas educativas,
quer do sistema? Sobre isso disse nada.
2. Nuno Crato branqueia o quadro da Parque
Escolar, qual copista do surrealismo. Revela-se um verdadeiro artista. Diz que a
dotação do Orçamento de Estado de 2012 para aquele monstro é zero. E mostra como
chega a este zero. Explica, com candura, que mandou “prolongar as obras por mais
tempo, de forma a não concentrar todos os custos neste ano”. Esclarece, qual
vestal, que 95 milhões de euros são receitas próprias da Parque Escolar, como se
não soubéssemos todos que resultam da saloia engenharia financeira que obrigou,
por decreto, as escolas a pagar-lhe rendas, que saem, obviamente, do Orçamento
do Estado para 2012. E acrescenta que 80 milhões virão de endividamento ao Banco
Europeu de Investimento, que não serão pagos pelo condomínio do meu prédio, digo
eu. Brilhante. Em linha com o sofisma clássico: “Todo o cavalo raro é caro. Um
cavalo barato é raro. Logo, um cavalo caro é barato!”
Se subsistissem dúvidas sobre o papel de Crato
neste Governo, esta entrevista dissipou-as. Do que disse não se extrai uma
única ideia estruturada sobre qualquer dos níveis de ensino que tutela.
Crato é apenas um dos economistas do Governo que, da Economia, só aproveitam a
contabilidade. Sobre as desreguladas e criminosas actividades especulativas, que
são do domínio público, não se lhes ouve uma palavra. Mas são lestos a
condenar o sector público. E fazem-no de modo a que os gastos com a
educação, com a saúde e com a justiça, naturalmente não isentos de erros, sejam
apontados como responsáveis únicos pela descida ao inferno das finanças e da
economia nacionais".
Santana Castilho
Público
1 comentário:
Caso INSÓLITO
Diretor e Presidente de Conselho Executivo/ Diretivo há mais de 20 anos com progressão na carreira como se fosse licenciado sem o ser.
O atual Diretor do Agrupamento de Escolas Dr. João de Araújo Correia, recentemente eleito -16 de julho de 2011- apresentou-se a concurso, como sendo licenciado em Produção Animal na IUTAD quando, afinal, se verificou que nunca completou a licenciatura que diz ter.
De acordo com o Regulamento eleitoral para o cargo de Diretor, aprovado, por unanimidade, pelo Conselho Geral Transitório, os candidatos que prestassem declarações falsas seriam excluídos automaticamente do concurso. A Comissão que acompanhou e verificou todo o processo eleitoral, na sua boa fé, não verificou se o candidato tinha ou não feito declarações falsas; aceitou-as como verdadeiras e, por isso, considerou que o ex Presidente da Comissão Administrativa Provisória, ex Diretor do Agrupamento vertical de Peso da Régua, ex Presidente do Conselho Diretivo/Executivo, reunia as condições para ser candidato a diretor do Agrupamento, vindo a ganhar a eleição com 12 votos contra os 9 que o seu opositor teve, no órgão que o elegeu - o CGT.
Faça-se JUSTIÇA!!!!!
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