"O ministro da Educação quer desenvolver o ensino vocacional. Muito bem. Como
seria bom que os estudantes pudessem escolher formações técnicas capazes de lhes
transmitir (também) um saber profissional. Como seria excelente que estes cursos
respondessem (também) às necessidades do mercado de trabalho. Como seria bom que
não se desperdiçasse recursos atirando para cursos superiores pessoas que não os
querem fazer. Já se pensou no tempo que poderíamos poupar? Na inteligência,
energia e talento que um plano assim libertaria? Aposto que seríamos um país
mais feliz e competitivo.
Mas se é assim tão evidente, porque nunca se deu este passo como deve ser?
Porque será que a concretização se revela tão difícil? Porque será que as
famílias e os alunos evitam esta escolha? A resposta está no projeto macabro de
Nuno Crato. De acordo com o ministro, quem irá para estes cursos? Ora bem, além
dos voluntários - coitadinho, tem 14 anos, mas não dá para mais... -, os que
chumbarem duas vezes no ensino secundário também têm o destino traçado. É um
castigo: és uma besta, vais já para jardineiro; sim, terás mais uma oportunidade
para voltar ao ensino regular, mas para já ficas-te por aqui. Depois, se
passares os exames do 9.º ou 12.º anos, logo veremos.
Não há dúvida: se a via profissional é apresentada como uma punição, é lógico
que poucos - entre os bons e talentosos - quererão juntar-se a este gueto onde a
qualidade será ridiculamente baixa. É lógico que só as famílias mais pobres ou
desinformadas aceitarão este afunilamento precoce, cruel e estúpido das
perspetivas. Os outros nem por um segundo pensarão em seguir este caminho (a
segunda divisão!) que o próprio Governo se encarrega à partida de desvalorizar.
O que isto revela de Nuno Crato é apenas um terrível cheiro a naftalina.
Na Alemanha, pátria do ensino vocacional, ninguém é chutado da "escola
regular". Não se fecham portas. Não se elevam barreiras aos 14 anos em lado
nenhum do mundo civilizado. Avaliam-se competências, oferecem-se alternativas.
Não se apressam escolhas à reguada. A ligação às empresas é uma das maneiras de
fazer isto com algum êxito: são as associações de empresários que, na Alemanha,
ajustam a oferta de cursos profissionais às necessidades do mercado. Não há
rigidez, há flexibilidade e oportunidade - a oportunidade de, na idade adequada,
estagiar numa empresa. É por isso que 570 mil alunos alemães se inscreveram
nestes cursos em 2011, contra os 520 mil que preferiram a universidade. Não foi
porque lhes enfiaram orelhas de burro na adolescência".
André Macedo
DN
Nuno Crato vive preocupado em exibir autoridade. Quer chumbar, punir, travar.
Vê a escola como um centro de exclusão, não como espaço de desenvolvimento de
competências sociais, culturais e técnicas - com regras, competição e exigência.
Não tem um plano educativo desempoeirado: sofre de reumatismo ideológico.
Engaveta os alunos. Encolhe o País. Reduz a riqueza. É matemático.
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