"Esta semana, foram conhecidos os resultados de dois estudos internacionais
sobre as competências em matemática, ciências e leitura de crianças de nove
anos. Quatro mil alunos portugueses de 150 escolas foram avaliados. Os
resultados são muito animadores: entre 1995, quando Portugal participou pela
primeira vez nestes estudos, e 2011, o ano a que estes últimos se reportam,
passou da cauda dos 50 países participantes para o grupo dos primeiros 20: é
15.º em Matemática e 19.º em leitura e Ciências.
Matemática - a disciplina na qual estávamos todos convictos, a começar pelo
ministro da Educação, de que os estudantes portugueses são uma nódoa. Pois entre
os 16 países da UE que entraram no estudo, Portugal ficou, nessa área, em 7.º
lugar, logo acima da Alemanha e da Irlanda. Parece mentira, não é? E, sobretudo,
parece muito mal a quem repete todos os dias que o nosso sistema de ensino é
ineficaz e "facilitista" e que isto só lá vai mudando tudo de alto a baixo, com
exames e chumbos e castigos e privatizações e demais cassete. Vai daí, Nuno
Crato olhou para os estudos e que viu? Que, ao invés do que pudesse parecer a
observadores menos prevenidos, aquilo que estes diziam não era que o seu país
progrediu de forma notável no ensino, e que isso deveria ser motivo de orgulho,
relevado e louvado, como incentivo às escolas e aos estudantes. Não: para Crato,
a conclusão foi, de acordo com o título do comunicado por si exarado, "Estudos
internacionais mostram necessidade de melhorar conhecimentos dos alunos em
Matemática e Ciências."
E como concluiu o ministro tal coisa? Assim: "Em todos os estudos, mais de
metade dos alunos portugueses não ultrapassam o nível intermédio de benchmark
(melhores práticas), o segundo mais baixo em quatro níveis."
É isto falso? Não. É um falseamento. Vejamos o caso da Matemática. 40% dos
estudantes portugueses estão no nível intermédio, mas a média internacional é
41%. E se esta é 21% para o nível "fraco", a portuguesa é 17%. Mas há melhor: a
média portuguesa é, no nível avançado, o dobro (8%) da internacional (4%), e, no
elevado, 32%, superior em oito pontos à outra (24%). Ou seja: sendo verdade que
mais de metade (57%) dos alunos portugueses estão nos níveis intermédio ou
fraco, 43% estão no elevado e avançado, o que é um resultado muitíssimo superior
ao interna- cional (28%). Aliás, no universo do estudo, só seis países têm mais
de 50% dos alunos nos dois níveis superiores.
Se um ministro deste Governo não hesita, para "vender" a sua ideia para a
Educação, em perverter desta forma os resultados de estudos internacionais
disponíveis a qualquer um na Net, que nos diz isso de qualquer coisa que o
Executivo diga sobre assuntos, como a média das indemnizações por despedimento
na Europa, sobre os quais nos falta informação imediatamente disponível? Podemos
ser muito maus em Matemática, mas mesmo assim, pelo mais rudimentar cálculo de
probabilidades, só podemos concluir que deve ser mentira".
Fernanda Câncio
DN
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