quarta-feira, outubro 13, 2010

Entrevista de Maria de Lurdes Rodrigues

"Quis prestar contas ao país. Saldou-as?
Do meu lado, estão, que as prestei.

O sistema está preparado para o fim dos chumbos?
Os chumbos têm vindo a diminuir progressivamente. Sabe-se que esse é que um mecanismo totalmente ineficaz - um aluno que chumba tem elevada probabilidade de não cumprir com êxito o seu percurso escolar e vai acumulando repetências. Qual é a alternativa? Acabar com os chumbos? Não. É instituir outros mecanismos pedagógicos que reforcem o tempo de trabalho e acompanhamento dos alunos.

Ao primeiro sinal de dificuldade?
Foi o que fizemos com os planos de recuperação, dar orientação às escolas para reforçar os tempos de trabalho de todo e qualquer aluno que tenha nota negativa no Natal - porque os alunos não chumbam em Julho. O que é errado é falar-se no fim dos chumbos sem mais. Não é isso que está em cima da mesa. O que deve estar em cima da mesa é qual é o mecanismo alternativo à repetência - e é mais trabalho. Têm de ser dadas condições às escolas e aos professores para que possam, de facto exercer, esse poder de acompanhamento.

Na última conversa que tivemos defendeu que a contestação às suas políticas não custou a maioria absoluta ao PS, antes pelo contrário, deu a vitória ao partido. Os professores podem derrubar ou eleger governos?
Ninguém sabe porque se ganha ou se perde uma eleição, é preciso estudar isso no final de um escrutínio; e como ninguém sabe o que na realidade se passou e o PS ganhou as eleições, o que posso é também ter uma opinião e a minha opinião é que o PS não perdeu as eleições porque tem muito trabalho para mostrar na área da Educação.

O país é governável sem Orçamento?
Na minha opinião, não. Além de que não se consegue prosseguir neste caminho de diminuição do défice e da despesa pública. Um início de novo ano com um orçamento de duodécimos seria fatal para a despesa, para a receita. O país ficaria totalmente desorganizado.

Está preocupada com os efeitos das medidas de austeridade no ensino?
As medidas de austeridade são muito duras com todos, mas não podemos, mesmo nestes momentos de maior aflição, perder de vista os grandes desígnios. Não sabemos como será o futuro, mas há uma certeza que podemos ter: será pior se não continuarmos esforço da qualificação.

A Educação tem de ser prioritária?
Tem de ser. A crise deve ser um momento em que não há hesitações sobre esta matéria.

Onde é que o sistema pode emagrecer?
O esforço da reorganização da rede é um esforço que o país procura fazer desde 1984 - fechar escolas com poucos alunos, integrar escolas de diferentes níveis de ensino.
Só a rede pode emagrecer?
Todos os sistemas públicos têm muito a fazer no que respeita à eficiência. No caso da Educação, o principal recurso, o mais valioso, é o tempo de trabalho dos professores e aí há muito trabalho a fazer, para conseguir com o mesmo tempo, fazer o trabalho de melhor qualidade possível.

O país tem professores a mais?
Os professores são necessários para formar alunos e não para estar nas escolas. Temos um racio confortável. Mas temos muitos alunos a conquistar. Não falaria em professores a mais, mas em alunos a menos. Aquilo que necessitamos é de conquistar o número de alunos que justifique o de docentes.

No livro, escreve que os professores são uma classe homogénea e indiferenciada. Essa classe tem sido um obstáculo à melhoria dos resultados escolares?
Tem, claro, porque sistemas que não promovem a diferenciação são pouco competitivos. Portanto, as possibilidade de desenvolvimento são mais limitadas. Essa ideia de que a cultura de mérito, mais competitiva, se opõe a uma cultura de solidariedade, é errada; pode acontecer, mas não acontece obrigatoriamente.

Receia que o agravamento da crise possa aumentar o abandono escolar?
Espero que não, espero que as medidas de apoio social às famílias possam efectivamente ajudar a manter o esforço na educação.

Cortes nessa área serão um risco?
Sim, mas não estão previstos cortes na Acção Social Escolar. Pelo contrário, é o momento de apoiar todas as famílias cujos adultos caiam em situação de desemprego ou de maior precariedade.

Tem conversado com a sua sucessora?
(risos) Tenho conversado com muitas pessoas, sim".

JN

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