"Nuno Crato, o novo ministro da Educação, é conhecido pelas suas críticas ao baixo grau de exigência do nosso ensino, por contestar aquilo a que apelidou de "facilistismo" nos exames, por ser exigente em relação ao rigor que a avaliação deve ter para professores e alunos. Duas notícias que publicamos nesta edição indicam que o ex-presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática tem muito trabalho e muitas dores de cabeça à sua espera à frente de uma das pastas mais polémicas para todos os governos.
Do lado dos professores sobe a contestação ao que consideram ser um crescendo de dificuldades para chumbar alunos, que não só encerra, segundo eles, um desrespeito pelas suas decisões, como serve para mascarar resultados e estatísticas sobre a educação em Portugal. De facto, reprovar tornou-se uma tarefa quase impossível: planos de recuperação, justificações por escrito, avaliações extraordinárias e até recurso dos pais sempre que os filhos chumbarem duas vezes no mesmo ciclo. Nuno Crato, que se pronunciou várias vezes sobre este tipo de situações, terá agora de agir em conformidade.
Do lado dos alunos surge a notícia de mais um descalabro nas provas de aferição do 4.º e do 6.º ano. A Matemática e o Português registaram um aumento significativo de negativas, que o ministério justifica com um grau superior de exigência e os professores explicam que se deve ao facto de estas provas serem desvalorizadas por não contarem para as notas. Entre as duas explicações surge outro facto há muito conhecido: as dificuldades em relação a duas disciplinas fundamentais, sobre as quais se conhecem também várias críticas do novo ministro.
Nuno Crato vai liderar um sector em que os sindicatos têm um peso tremendo e uma área a necessitar há muito de várias reformas, algumas delas interrompidas por José Sócrates perante as pressões sofridas. As posições críticas que tomou colocam-lhe ainda mais dificuldades nas decisões que vai ter agora de tomar. Porque o que se exige não é que os alunos percam direitos, ou que as decisões dos professores se tornem leis, mas sim que todo o processo e os seus objectivos sejam clarificados".
João Marcelino
DN
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