(...) "2. Quem revisite o anterior discurso do ora ministro da Educação facilmente
acreditaria que, uma vez no posto, dele só se poderiam esperar políticas que
conduzissem ao crescente interesse dos professores pelo ensino. Mas o engano foi
colossal. Tão-só seguiu e ampliou à dimensão do desumano a estratégia de
proletarização dos docentes: desinvestiu na sua formação; reduziu-lhes os
salários e aumentou-lhe os horários de trabalho; manteve exigências burocráticas
que roçam o sadismo; fixou-lhes vários locais de trabalho, obrigando-os a
deslocarem-se de uns para os outros em períodos não remunerados e a expensas
próprias; desafiou os tribunais não cumprindo as sentenças favoráveis aos
despedidos; com um volume de despedimentos nunca visto em alguma classe
profissional em Portugal (30 mil, segundo os critérios mais generosos), criou um
exército de mão-de-obra barata, na reserva, miserável, chantageado e sem
horizontes de futuro. Poderá o país aceitar este desperdício de gente formada à
custa de muitos milhões? A fome das crianças já não está encapotada. Diminuiu
drasticamente o apoio aos alunos deficientes e aos grupos social e culturalmente
mais debilitados. Ampliou-se e prossegue o hediondo agrupamento de escolas,
contra tudo e contra todos, sobretudo contra os alunos. Quando o resultado deste
crime político for visível, daqui a anos, acontecerá aos protagonistas
responsáveis o mesmo que aconteceu aos que trouxeram o país às catacumbas em que
se encontra: nada.
3. A International Association for the
Evaluation of Educational Achievement realiza, cada quatro anos, dois
estudos conceituados internacionalmente: o TIMMS (Trends in International
Mathematics and Science Study) e o PIRLS (Progress in International
Reading Literacy Study). Portugal participou na edição de ambos de 1995,
tendo ficado nos últimos lugares do ranking. Ausente dos estudos de 1999, 2003 e
2007, voltou a ser cotado em 2011. Entre 50 países ficou no 15º lugar em
matemática e 19º em ciências. Entre 45 países, foi 19º no PIRLS. Em valor
absoluto, os resultados são positivamente relevantes. Mas em valor relativo
ainda são mais: de 1995 para 2011 foi Portugal o país que mais progrediu em
matemática e o segundo que mais avançou no ensino das ciências; se reduzirmos o
universo aos países da união europeia, estamos na 12ª posição em ciências,
sétima em matemática e oitava em leitura; se ponderarmos estes resultados face
ao estatuto económico e financeiro das famílias e dos estados com que nos
comparamos, o seu significado aumenta exponencialmente e deita por terra o
discurso dos que odeiam os professores. Há bem pouco, Gaspar, arauto da
econometria e vuvuzela dos indicadores internacionais, rotulava de ineficiente o
sistema de ensino. O seu amanuense Crato, outrora impante de PIMMS e PIRLS na
mão, ficou mudo agora. Relativizo os resultados e discuto os critérios e os
objectivos destes estudos. Não os valorizo como eles os valorizam. Mas é por
isso que denuncio o silêncio oficial. Porque estes resultados, valham o que
valerem, são, inequivocamente, fruto do trabalho dos professores portugueses.
Apesar de tudo, quantas vezes apesar das políticas. Obrigado,
professores!".
Santana Castilho
Público
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