"As escolas têm uma disciplina inútil e quase anedótica: a Área de Projecto. Nunca houve coragem para acabar com isto. Agora é o OE2011 que extingue burocraticamente aquilo que devia ter sido extinto de forma política.
I. A Área de Projecto é uma anedota que já vem do meu tempo do secundário (nos anos 90, chamava-se, se não estou em erro, Área Escola). A malta gozava com esta cadeira, porque, basicamente, era uma enorme e festiva perda de tempo (acho que nem sequer havia avaliação). Ali, naquela excelsa cadeira, a malta podia dar largas a toda a sua imaginação em "projectos" inenarráveis. Moral da história: perdiam-se horas que podiam ser utilizadas nas disciplinas de português ou matemática. Não por acaso, há uns meses, saiu um estudo que indicava o seguinte: os alunos portugueses são aqueles que têm menos horas de aulas em matemática e na língua materna. Brilhante. Os nossos alunos não sabem escrever e que acham que tabuada é um código alienígena, mas fazem "projectos" (Área de Projecto/Área Escola) que expressam toda a sua genial imaginação.
II. Portanto, ainda bem que acaba esta perda de tempo nas escolas . Mas é triste ver que, em Portugal, tudo funciona de forma burocrática e com a desculpa das finanças. A Área de Projecto deve acabar porque é uma perda de tempo. Mesmo que Portugal estivesse a nadar em dinheiro, a Área de Projecto devia ser extinta. Pais e alunos iriam perceber isso perfeitamente. Mas então por que razão o ministério não acabou com isto mais cedo? Porque tinha medo dos sindicatos de professores (não os professores considerados individualmente; os mais críticos da Área Escola costumavam ser os professores das cadeiras a sério). Mas, por muito estranho que isso possa parecer aos sindicatos, a escola existe para servir os alunos e não os professores. E parece-me que esta Área de Projecto serve apenas os professores. Vejamos: no meu tempo, se bem me lembro, a Área Escola era dada pelos professores normais. Ou seja, o professor de português ou de história perdiam tempo naquela brincadeira. Agora, e olhando para a notícia, parece que a situação mudou, parece que a Área de Projecto é usada para empregar os professores que não são colocados nos concursos . Estou errado?
III. Este é o exemplo típico do erro das últimas décadas: o Estado não separou o trigo do joio; os ministérios não separaram os 'indispensáveis' dos 'dispensáveis'. Se toda a gordura inútil das escolas (as Áreas de Projecto e afins) tivesse sido dispensada a tempo, talvez agora não fosse necessário cortar nos salários de todos os professores. Assim, como não há selecção, pagam os justos pelos pecadores. Nesse sentido, os professores a sério (os de português, matemática, línguas, história, etc.) não deviam reagir a isto de forma corporativa. Isso seria uma suprema hipocrisia. Eu sei o que estes professores pensam da Área de Projecto e demais bugigangas do eduquês. Os professores a sério deviam, isso sim, exigir mais horas de aulas nas cadeiras de português, matemática, ciências, línguas, etc. Porque são essas cadeiras que preparam as crianças para o futuro. Vamos lá acabar - responsavelmente e sem corporativismos cegos - com as palhaçadas do eduquês".
Henrique Raposo
Expresso Online
1 comentário:
não fales de assuntos que não são da tua área. se os teus pais tivessem passado pelo Método de Resolução de Problemas nem devias ter nascido. abre o olho
Enviar um comentário