domingo, setembro 02, 2012

A angústia dos professores

"É já uma banalidade: milhares e milhares de professores vivem em profunda angústia no período de verão. O seu futuro depende dos resultados do concurso nacional de colocação e o cenário de desemprego provoca-lhes insónias. Como que está institucionalizado um ritual de aflições tendencialmente agravado.
Este ano, para além de apenas terem sido contratados 7600 dos 51 209 docentes candidatos - menos 5147 do que no ano passado - há também 1872 professores do quadro sujeitos ao chamado horário-zero, uma fórmula castradora das suas vivências profissionais.
Um cenário assim, triste mas factual, tem naturalmente várias razões a ditá-lo.
Elemento influente e indesmentível: embora o Ensino se tenha massificado - e não só pela via da obrigatoriedade até ao 12.0 ano - Portugal dispõe de uma taxa de natalidade cada vez mais baixa. Logo, há menos meninos e meninas a caminho das escolas. Um elemento de todo preocupante para a globalidade do futuro de um país envelhecido e em contraponto à contínua saída para o mercado de trabalho de mais e mais professores habilitados pelas Escolas Superiores de Ensino.
A um raciocínio assim, básico mas indesmentível, juntam-se entretanto elementos instrumentais da política educativa agravantes da dispensa de um número elevadíssimo de professores. Não apenas ditado pelo menor número de alunos, o fecho de escolas e a constituição dos chamados mega-agrupamentos contribui, igualmente, para o aumento de professores excedentários. E a tornar o sistema menos necessitado de professores contribuem ainda, por um lado, as modificações curriculares - os métodos aplicados às novas disciplinas de Educação Visual e de Educação Tecnológica provocam uma razia nas necessidades - e, por outro lado, o aumento do número de alunos por turmas.
Há muito que se diagnosticavam dificuldades para o mercado de trabalho dos professores. E o engrossar das fileiras de desempregados agrava-se na sequência nefasta de novas políticas.
As ondas telúricas provocadas pelos resultados do concurso nacional de colocação acabam, enfim, por não ser propriamente novas. Embora mantenham dados inquinados de discussão.
Dois exemplos. A constituição dos mega-agrupamentos e o aumento do número de alunos por turma são, por norma, defendidos por quem os introduziu como valores seguros de eficácia e melhoria pedagógica. O contrário do que é cientificamente comprovado; toda uma base de argumentação engenhosa, encobrindo o essencial das alterações: redução drástica, por imperiosa necessidade de sobrevivência das contas públicas, dos custos do Ensino inscritos no Orçamento do Estado.
Uma verdade nua e crua vale bem mais do que uma mentira bem embrulhada".
 
Fernando Santos
JN

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