"É já uma banalidade: milhares e milhares de professores vivem
em profunda angústia no período de verão. O seu futuro depende dos resultados do
concurso nacional de colocação e o cenário de desemprego provoca-lhes insónias.
Como que está institucionalizado um ritual de aflições tendencialmente agravado.
Este ano, para além de apenas terem sido contratados 7600 dos 51 209 docentes
candidatos - menos 5147 do que no ano passado - há também 1872 professores do
quadro sujeitos ao chamado horário-zero, uma fórmula castradora das suas
vivências profissionais.
Um cenário assim, triste mas factual, tem naturalmente várias razões a
ditá-lo.
Elemento influente e indesmentível: embora o Ensino se tenha massificado - e
não só pela via da obrigatoriedade até ao 12.0 ano - Portugal dispõe de uma taxa
de natalidade cada vez mais baixa. Logo, há menos meninos e meninas a caminho
das escolas. Um elemento de todo preocupante para a globalidade do futuro de um
país envelhecido e em contraponto à contínua saída para o mercado de trabalho de
mais e mais professores habilitados pelas Escolas Superiores de Ensino.
A um raciocínio assim, básico mas indesmentível, juntam-se entretanto
elementos instrumentais da política educativa agravantes da dispensa de um
número elevadíssimo de professores. Não apenas ditado pelo menor número de
alunos, o fecho de escolas e a constituição dos chamados mega-agrupamentos
contribui, igualmente, para o aumento de professores excedentários. E a tornar o
sistema menos necessitado de professores contribuem ainda, por um lado, as
modificações curriculares - os métodos aplicados às novas disciplinas de
Educação Visual e de Educação Tecnológica provocam uma razia nas necessidades -
e, por outro lado, o aumento do número de alunos por turmas.
Há muito que se diagnosticavam dificuldades para o mercado de trabalho dos
professores. E o engrossar das fileiras de desempregados agrava-se na sequência
nefasta de novas políticas.
As ondas telúricas provocadas pelos resultados do concurso nacional de
colocação acabam, enfim, por não ser propriamente novas. Embora mantenham dados
inquinados de discussão.
Dois exemplos. A constituição dos mega-agrupamentos e o aumento do número de
alunos por turma são, por norma, defendidos por quem os introduziu como valores
seguros de eficácia e melhoria pedagógica. O contrário do que é cientificamente
comprovado; toda uma base de argumentação engenhosa, encobrindo o essencial das
alterações: redução drástica, por imperiosa necessidade de sobrevivência das
contas públicas, dos custos do Ensino inscritos no Orçamento do Estado.
Uma verdade nua e crua vale bem mais do que uma mentira bem
embrulhada".
Fernando Santos
JN
Sem comentários:
Enviar um comentário