segunda-feira, junho 10, 2013

O calvário dos professores


"A perseguição aos docentes começou com Sócrates; congelamento de salários durante dois anos e meio, aumento de horários, com inúmeros cargos de coordenação e outros de acompanhamento a alunos a passarem para a componente não letiva de estabelecimento, criada nesta altura, fazendo aumentar as turmas a lecionar e, consequentemente, o trabalho com a correção de testes e com a preparação de aulas. Aumento brutal do número de reuniões semanais a realizar para resolver as inúmeras responsabilidades educativas e sociais que entretanto foram chegando às escolas, na sequência da chamada escola a tempo inteiro. Entretanto, a maioria dos professores passou a trabalhar mais de 35 horas na escola e quase outro tanto em casa, se considerarmos os picos de trabalho nos períodos de avaliação e os dividirmos pelas várias semanas do período. A burocracia tem aumentado sempre desde então. O aumento da idade da reforma, que passou dos 36 anos de serviço, média dos 58 anos para os 65 frustrou as expectativas de muitos professores que, legitimamente, viam reconhecido o enorme desgaste da profissão. A campanha então encetada de desvalorização dos docentes aumentou brutalmente a indisciplina e o desrespeito pelos docentes dificultando muito o seu trabalho. Uma avaliação injusta foi implementada, destruindo o trabalho cooperativo, colocando docentes contra docentes.
Com este governo continuou o congelamento, o descongelamento entretanto operado não foi suficiente para a progressão dos docentes avaliados com excelente e muitos estão no mesmo escalão há mais de 10 anos. Vieram os cortes de salários até 10%, depois os cortes nos subsídios, entretanto os professores ganham hoje muito menos do que em 2005. A criação de agrupamentos eliminou muitos postos de trabalho e fez aumentar muito o trabalho burocrático dos docentes, que são cada vez menos nas escolas e vêm o seu trabalho aumentar atá ao impossível. A saída para a reforma de muitos docentes no limite, com forte penalização, retirou milhares de docentes das escolas nos últimos 2 anos. Para diminuírem o número de contratados, aumentaram o número de alunos por turma, mesmo nas turmas com alunos que necessitam de intervenção em educação especial. Eliminaram disciplinas do currículo e existência de par pedagógico em disciplinas de trabalho prático, onde é necessário acompanhar individualmente o trabalho dos alunos durante toda a aula. A despesa com educação em percentagem do PIB foi reduzida em dois pontos percentuais. Ainda tiveram a lata de dizer que os docentes deveriam aguentar isto tudo, porque manteriam o “privilégio” de não serem despedidos. Os do quadro evidentemente, porque há contratados com mais de 20 anos de serviço, que foram sumariamente dispensados no último ano, na ordem dos milhares. Porque ainda acham que não chega, e a conversa é sempre como se não tivesse havido corte nenhum até ao momento, vêm com a cereja; vamos aumentar ainda mais o horário de trabalho e os que ficarem sem horário letivo vão ter que se deslocar para uma qualquer escola do território, sem qualquer compensação, em alternativa terão o despedimento, perdão “a requalificação”. Acham que os professores são piegas? Os professores estão muito preocupados com os seus alunos, ao contrário dos governantes, são eles que nas escolas lhes matam a fome e que fora das aulas tentam arranjar roupa para distribuir por alunos de famílias que se viram desprovidas até da dignidade, nos últimos 2 anos. Os professores estão exaustos de tanta mentira, de tanta falsidade, de campanhas hediondas de despromoção de uma classe, que um país não pode desperdiçar. São o bode expiatório de um governo que, não conseguindo cortar onde devia, reduzirá a educação ao mínimo, não através de um amplo debate junto dos cidadãos sobre o tipo de educação que se pretende, mas humilhando os docentes todos os dias".

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