domingo, julho 29, 2007

Portugal dos pequenitos

"Tempos houve que mundos de ficção eram uma exclusividade do cinema. Relembro “The Truman Show”, o simpático filme em que um herói ingénuo era a personagem principal de um “reality show” televisivo. Tudo em volta era fachada: a cidade, a casa, os amigos. A mulher. E só ele, ali criado desde o berço desconhecia os contornos do engodo. A coisa termina mal, ou bem, com o herói em odisseia clássica, a descobrir a fantasia, a abandoná-la com coragem e a regressar à realidade.
Em Portugal, o movimento é o inverso. E só esta semana o Governo português resolveu abandonar a realidade, onde sobrevive a custo, para mergulhar na mais brilhante fantasia. Aconteceu na escola do futuro, com José Sócrates a saudar para as câmaras uma turma “atenta” e “preparada”, que dominava computadores, figuras geométricas e “quadros interactivos”. Tudo sob o olhar atento de professores cientificamente preparados e no meio de uma harmonia celestial. Claro que, lá pelo meio, alguém perguntou ao primeiro-ministro se ele não achava estranho a natureza irreal do cenário. Para começar, os “professores” eram funcionários do Ministério da Educação. E para acabar, os “alunos” eram, na verdade, figurantes de telenovelas que, a troco de 30 euros, foram para ali levados e, de preferência, calados. O primeiro-ministro não comentou o insulto e, com toda a legitimidade, regressou ao bosque encantado na companhia das fadas e dos duendes. Escusado será dizer que agiu como lhe competia.
Aliás, não é de excluir que esta experiência pedagógica inaugure um novo caminho para a educação nacional, que todos os anos dá sinais de afocinhar na miséria. Se o problema do sistema está na desmotivação dos docentes e na indisciplina e ignorância dos alunos, talvez não seja má ideia removê-los do espaço e contratar actores de telenovela capazes de desempenhar o papel. Uma atitude ousada, capaz de retocar a nossa imagem internacional e que pode ser aplicada a outra áreas de interesse pátrio. Um governo de fantasia merece um país ao seu nível. E só um Portugal sem portugueses estará à altura de um governo sem governantes".

João Pereira Coutinho
Expresso

1 comentário:

Anónimo disse...

Ganda João Coutinho, continua igual a si mesmo!