"O Governo quer trocar as velhas ardósias por quadros electrónicos interactivos, com terminais nas carteiras dos alunos, e atribuir um videoprojector e uma impressora a cada sala de aula. Outras inovações tecnológicas, como o cartão electrónico do aluno e vídeo-vigilância generalizada constam de um programa que vai custar 400 milhões de euros e que o primeiro-ministro anunciou na segunda-feira com o entusiasmo que põe em qualquer iniciativa que fale para o futuro e para a modernidade. Mas no melhor pano cai a nódoa e eis que se descobre, em plena cerimónia, que os alunos recrutados para o evento são, afinal, figurante pagos a 30 euros por cabeça. A festa fica estragada e os partidos vêm a terreiro, gritando cada um mais alto do que o outro contra o escândalo dos alunos a fingir. Sócrates, surpreendido, tem de se explicar duas vezes – logo no fim do discurso e, depois, na entrevista à SIC. Sobre o “kit sala de aula” ninguém mais diz uma palavra.
É estranho que um Governo com fama de saber gerir a sua imagem ao pormenor, tão rodeado de conselheiros, tão apoiado em agências de comunicação, não tenha verificado o que se passava ou, sabendo-o, não tenha evitado em tempo o que qualquer aprendiz de assessor teria percebido imediatamente: que os figurantes a soldo matavam a iniciativa e punham o primeiro-ministro em xeque. Não há dinheiro público mais mal gasto do que em conselheiros incapazes.
À parte o péssimo exemplo que o Governo dá ao contratar ou ao permitir que se contratem figurantes para as suas iniciativas – mais ainda quando se trata de crianças -, este episódio um tanto folclórico não desdoura a iniciativa de levar a tecnologia às salas de aulas. Sobra, porém, esta pergunta: antes da revolução tecnológica, não seria aconselhável substituir os barracões que ainda hoje fazem de escolas, inclusive no centro de Lisboa, e recuperar os velhos liceus degradados onde alunos, professores e funcionários suam as estopinhas no Verão e tiritam de frio no Inverno? Será que todos os alunos já têm acesso a uma cantina em condições?
Só por si, um quadro interactivo não faz uma escola moderna. E não há nada mais ridículo e despropositado do que um equipamento de luxo lá onde continua a faltar o essencial".
Fernando Madrinha
Expresso
É estranho que um Governo com fama de saber gerir a sua imagem ao pormenor, tão rodeado de conselheiros, tão apoiado em agências de comunicação, não tenha verificado o que se passava ou, sabendo-o, não tenha evitado em tempo o que qualquer aprendiz de assessor teria percebido imediatamente: que os figurantes a soldo matavam a iniciativa e punham o primeiro-ministro em xeque. Não há dinheiro público mais mal gasto do que em conselheiros incapazes.
À parte o péssimo exemplo que o Governo dá ao contratar ou ao permitir que se contratem figurantes para as suas iniciativas – mais ainda quando se trata de crianças -, este episódio um tanto folclórico não desdoura a iniciativa de levar a tecnologia às salas de aulas. Sobra, porém, esta pergunta: antes da revolução tecnológica, não seria aconselhável substituir os barracões que ainda hoje fazem de escolas, inclusive no centro de Lisboa, e recuperar os velhos liceus degradados onde alunos, professores e funcionários suam as estopinhas no Verão e tiritam de frio no Inverno? Será que todos os alunos já têm acesso a uma cantina em condições?
Só por si, um quadro interactivo não faz uma escola moderna. E não há nada mais ridículo e despropositado do que um equipamento de luxo lá onde continua a faltar o essencial".
Fernando Madrinha
Expresso
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