"Acho que está a fazer-se uma grande tempestade num copo de água a propósito do Estatuto do Aluno e da subsequente trapalhada que foi a votação do diploma no Parlamento. Na verdade, já estava previsto que tudo isto acontecesse. Os ministros da Educação, depois de resolverem os assuntos prementes da matéria administrativa da sua casa, raramente conseguem alterar o essencial; e o essencial é a qualidade do ensino; e combater pela qualidade do ensino é lutar pela elevação do grau de exigência e de rigor em todos os graus de frequência escolar. Os professores e os sindicatos estão fora dos corredores da 5 de Outubro, e acaba por ser fácil penalizar e humilhar professores. Já os pedagogos, os ideólogos do edifício escolar e os teóricos que se têm encarregado de embrulhar o suistema de ensino, esses, estão instalados no ministério.
Todos os conhecemos. Têm, antes de mais, um discurso muito próprio, cheio de metáforas e de ditirambos que nunca se referem a coisas práticas, que dificilmente estão relacionados com a escola e as suas dificuldades em existir e que, no fundo, vivem de experiências pedagógicas e vagamente científicas.
Maria de Lurdes Rodrigues encontrou o caminho facilitado; tratou de introduzir alguma racionalidade na administração escolar e na vida dos sindicatos, na "operacionalidade" e no mapa escolar. Mas, quando se esperava que essa coragem fosse transposta para a área fundamental, que é o ensino propriamente dito, entrámos no mundo do puro delírio.
Com as críticas ao processo de avaliação de professores a avolumar-se, aconteceu a polémica da TLEBS, terminologia linguística para o Básico e o Secundário. Depois de demonstrados os erros científicos metodológicos de grande parte da sua formulação, o ministério dividiu-se; um secretário de Estado prometeu (e comprometeu-se) suspender a TLEBS; um director-geral reconheceu erros mas defendeu que o ministério devia continuar a dá-los e a ampliá-los. Vendo bem como as coisas estão, verifica-se que continua tudo igual e que a política do ministério continua a aprofundar o ruinoso caminho aberto pelos delírios ideológicos que transformaram o ensino do Português numa banalidade e que vandalizaram o ensino da Matemática. Geralmente, o ministério acha que está munido de excelentes ideias. Um grupo cada vez mais numeroso (porque se acumulam as suas assinaturas ao longo dos anos) de técnicos e burocratas dessa ideologia passa incólume no meio da asneira. Eles acham que estão munidos de excelentes ideias. Mas, mesmo depois de se ter provado que essas ideias dão péssimos resultados, aqui ou no estrangeiro, mesmo depois de terem recebido críticas demolidoras, tudo continua na mesma, ou pior. O ensino - nomeadamente a ideologia que está por detrás de todas as decisões do ministério em matéria pedagógica e científica - está entregue a esse monstro corporativo que supõe ter toda a verdade do seu lado. O estatuto do aluno e o seu regime de faltas é apenas mais um episódio lamentável a acrescentar a tantos outros. É, geralmente, gente que não conhece a escola real, que não tem contacto com o dia-a-dia das escolas, que imagina os professores como meros instrumentos ao seu dispor para as experiências mais descabidas. As vítimas dessas experiências descabidas são os nossos filhos - e é o seu futuro. Por isso, o sinal dado pelo Ministério é definitivamente mau e constitui um erro grave, desculpabilizando os alunos faltosos, penalizando os alunos cumpridores e sobrecarregando os professores e as escolas com outra categoria de "desprotegidos" os que, deliberadamente, faltam às aulas. Tudo para adulterar e manipular as estatísticas, o que é grave demais".
Francisco José Viegas
Jornal de Notícias
6 comentários:
É mesmo muito grave.
Agora, até parece que os professores têm tido muita razão para vociferar contra as medidas destrambelhadas emanadas do ME... Pois, tal como diz o povo, "só sabe o que vai no convento quem lá está dentro"!!!
A hipocrisia varre muita gente que ocupa os cadeirões na 5 de Outubro (e não só!). Destruir a réstia de qualidade do ensino e vir dizer que os "meninos" que abandonam a escola não são simples números, mas que têm rostos e, por isso, devem ser captados (com redes ou algemas?) para a escola é de uma hipocrisia tremenda. Quem são os meninos que ainda estão a ter uma Educação inclusiva? São esses? A esses, a ME está a retirar-lhes toda e qualquer oportunidade... Onde é que esses meninos vão conseguir a inclusão no mercado de trabalho, com as pZeudo qualificações que a Escola lhes confere? São, isso sim, os meninos que têm pais mais esclarecidos (e estão bem relacionados) e que envidam todos os esforços para que os seus filhos recebam alguma Educação de facto!
Só que, permitam lembrar-lhes, numa sociedade consumista, os excluídos acham (poder-se-á condenar?) que têm direito aos mesmos bens que os meninos incluídos e... a violência vai disparar!
É desta forma que este ME - inZerido neste governo tão esforçado na destruição de emprego e na descida do poder de compra da grande maioria da população - está a promover a insegurança e o descalabro na sociedade portuguesa.
Se a ME soubesse um pouco mais, saberia que todo e qualquer fenómeno social é pluridimensional e que a Educação é uma matéria demasiado sacrossanta para ser tratada com tanta leviandade!!!
Tudo para agradar Bruxelas!!! Miséria!!!
Tudo para agradar Bruxelas!!! Miséria!!!
Tudo para agradar Bruxelas!!! Miséria!!!
Pois é, mas de uma forma enganosa e hipócrita! Os números não terão capacidade para promover o desenvolvimento do país e a luta pela sobrevivência não se compadecerá pela "tão grande filantropia" da ME. Quando a miséria bater à porta, muitos destes jovens usarão todas as suas "armas" para poderem sobreviver!
E se essas "armas" fossem aproveitadas para fins mais pacíficos e mais profícuos para os jovens e, em consequência, para a sociedade, impondo-lhes a submissão a uma determinada Ordem, socializando-os, incluindo-os?
Que valores é que a ME está a tentar inculcar aos jovens? O laxismo, a irresponsabilidade e o facilitismo? E como se encaixarão estes valores no mundo do trabalho?
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