sexta-feira, janeiro 25, 2008

Um Governo inimputável

“Em Anadia, um bebé morreu enquanto era socorrido à porta das “urgências” locais, as quais estavam fechadas desde o início do ano por decisão do ministro da Saúde. Alguns indivíduos relacionaram os factos de deixaram o eng. Sócrates irritadíssimo. Para o primeiro-ministro, “utilizar a morte como arma de arremesso político” é caso de “demagogia”, “mesquinhez” e “oportunismo”. Talvez seja. A bem da elevação democrática, convém é definir as condições em que a crítica ao Governo não incorra em tais baixezas e, sobretudo, não ofenda o eng. Sócrates.
Em primeiro lugar, e pelas razões acima, não se acusa o Governo em casos que envolvam falecimentos ou doenças terminais. Se meia dúzia de anónimos são mortos a tiro por um gangue que passeia metralhadoras ante a indiferença das autoridades, o Governo não tem culpa – e insinuar que tem é demagógico, mesquinho e oportunista. Se um canceroso vê o seu estado agravado após ser forçado a trabalhar pela Caixa Geral de Aposentações, o Governo não tem culpa – e insinuar que tem é demagógico, mesquinho e oportunista.
A contenção não se limita ao luto. Visto que o eng. Sócrates se irrita com praticamente tudo, é provável que praticamente nada possa ser utilizado como argumento contraditório sem merecer a imediata classificação de demagógico, mesquinho, etc. Na economia, nas finanças, na educação, nas polícias e no que calha, o Governo age sempre com suprema e comprovada sabedoria, pelo que os únicos comentários legítimos à acção governativa se resumem a louvores. Se a realidade tende para o torto, e tende com curiosa frequência, isso é fruto do acaso.
No fundo, trata-se de instaurar um regime levemente inimputável e metafísico, onde quem manda não pode ser responsabilizado pelas suas escolhas e quem obedece não deve pedir contas senão ao destino.
Se a impunidade desse para os dois lados, pelo menos os descontentes sentiam-se aliviados por terem eleito o eng. Sócrates. Mas não dá”.

Alberto Gonçalves
Sábado

1 comentário:

Anónimo disse...

Pois, tudo leva a crer que o Povo português "conseguiu" arregimentar um conselho de ministros inimputáveis... e não só!