quinta-feira, setembro 02, 2010

Regresso às aulas

"No fim das férias, a discussão política anda entre um candidato presidencial comunista que vai picar o ponto, uma proposta de revisão constitucional que não é totalmente conhecida, um Orçamento que ninguém quer assumir, umas nebulosas negociações do Bloco Central e um Estado Social que não funciona. Mas para além da ficção e do reino do faz de conta, há uma realidade: aquela em que as famílias se apressam para começar o novo ano com o regresso à escola.

Como de costume, discute-se o preço dos manuais, a factura que se paga, a colocação dos alunos nas escolas e, verdadeira novidade estival, o número de chumbos, ou retenções para os mais susceptíveis, nas escolas portuguesas. De facto, a senhora ministra, pessoa que admiro e que assume uma postura bem diferente da sua antecessora, decidiu trazer polémica para um mandato que se afigurava razoavelmente pacato.

Em entrevista a um jornal semanário, avançou com a necessidade de seguir o modelo finlandês - para alguns o novo alfa e ómega da política educativa é deixar os alunos transitarem de ano com o simples andar do relógio. Quem conhece a literatura sobre o modelo finlandês pode notar como é absurdo começar uma casa pelo telhado. A medida em causa corresponde a um fim de linha. Antes estão os apoios permanentes aos alunos em dificuldades, a aceitação dos diferentes graus de aprendizagem, as escolas com verdadeiras condições para o ensino, as cargas horárias ajustadas, os currículos adequados e os métodos de ensino direccionados para as necessidade baseado na exigência e no sucesso.

Falar em fim das retenções sem tudo isto ou é populismo, o que não acredito, ou é falta de noção de que sem as fundações adequadas qualquer edifício se desmorona. Como não acredito que essa possa ser a intenção da senhora ministra, o conselho que lhe deixo passa por arrepiar caminho e lembrar a necessidade de exames, de manuais e programas avaliados, ou, ainda, da possibilidade de existência do professor tutor, de apoios escolares alargados, e uma crescente autonomia para as escolas. Em suma, para a educação em Portugal, é necessário exigência, avaliação e salas de aula a funcionar. Se nada disto acontecer, é caso para dizer que em início de aulas há quem não aprenda nada".

Diogo Feio
JN

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