"Os alunos são os novos analfabetos, numa altura em que devíamos investir tudo para pôr os jovens à altura dos de outros países europeus
Desde há muito que o poder político no nosso país tem, relativamente ao corpo docente do ensino primário e secundário, um propósito claro. Considerações em tudo semelhantes se podem fazer para o ensino superior. É preciso aumentar a escolaridade e o "sucesso" escolar, seja a que preço for, de modo a colocar em termos estatísticos, não em qualidade, o país ao nível dos seus congéneres europeus.
Para tanto, delineou-se uma "estratégia" adequada. O raciocínio, longamente amadurecido nos gabinetes do Ministério da Educação, é elementar, como seria de esperar.
Havia duas soluções em alternativa; ou se optava pela excelência do ensino interessando o corpo docente na carreira pela criação de condições para a sua dedicação, formação e permanência, o que custa caro e requer muitos esforços, ou se opta pela solução mais simples, conhecendo a estrutura social portuguesa; proletariza-se o professorado.
Os sucessivos governos optaram obviamente pela segunda solução.
E, vai daí, paga-lhe mal, desinveste na sua formação, precariza o emprego, fiscaliza-o, retira-lhe toda autoridade dentro da escola, chantageia-o com ou sem lei, coloca-o de acordo com um critério que faria inveja na antiga União Soviética, faz-lhe exigências que roçam o sadismo, inventa cursos que não fazem sentido e não têm alunos, proíbe-o de reprovar, põe-no a fazer trabalho de secretaria para poupar nos ordenados de empregados e auxiliares e proíbe acumulações no sector privado com o pretexto de necessidades "funcionais". Sabendo-se que num país onde o emprego qualificado não abunda e vai sendo cada vez mais raro, o pobre do docente integra agora um novo "exército industrial de reserva" superabundante, mal pago e desgraçado.
O fenómeno começou no sector público mas o privado aprendeu depressa com o exemplo.
Assim se logram objectivos estatísticos, com relevância eleitoral, à custa da exploração dessa nova mão--de-obra abundante e cada vez mais desqualificada que são os professores. Não há exemplo em Portugal de mais clara exploração do homem pelo Estado. Quem recebe a mais--valia é o governo.
A consideração óbvia segundo a qual sem professores motivados, bem pagos e satisfeitos na sua carreira não pode haver bom ensino nem passou pela cabeça dos burocratas do Ministério da Educação.
O resultado está à vista, os alunos são os novos analfabetos, o Estado finge que paga e despromove os professores e estes fingem que trabalham.
O ensino vai, portanto, pelo bom caminho. Podemos estar satisfeitos. Com filhos e netos desinstruídos ou munidos de licenciaturas que na sua maioria não valem nada no mercado, podemos encarar o futuro com confiança".
Luís Cabral de Moncada
Professor universitário
Jornal i
Desde há muito que o poder político no nosso país tem, relativamente ao corpo docente do ensino primário e secundário, um propósito claro. Considerações em tudo semelhantes se podem fazer para o ensino superior. É preciso aumentar a escolaridade e o "sucesso" escolar, seja a que preço for, de modo a colocar em termos estatísticos, não em qualidade, o país ao nível dos seus congéneres europeus.
Para tanto, delineou-se uma "estratégia" adequada. O raciocínio, longamente amadurecido nos gabinetes do Ministério da Educação, é elementar, como seria de esperar.
Havia duas soluções em alternativa; ou se optava pela excelência do ensino interessando o corpo docente na carreira pela criação de condições para a sua dedicação, formação e permanência, o que custa caro e requer muitos esforços, ou se opta pela solução mais simples, conhecendo a estrutura social portuguesa; proletariza-se o professorado.
Os sucessivos governos optaram obviamente pela segunda solução.
E, vai daí, paga-lhe mal, desinveste na sua formação, precariza o emprego, fiscaliza-o, retira-lhe toda autoridade dentro da escola, chantageia-o com ou sem lei, coloca-o de acordo com um critério que faria inveja na antiga União Soviética, faz-lhe exigências que roçam o sadismo, inventa cursos que não fazem sentido e não têm alunos, proíbe-o de reprovar, põe-no a fazer trabalho de secretaria para poupar nos ordenados de empregados e auxiliares e proíbe acumulações no sector privado com o pretexto de necessidades "funcionais". Sabendo-se que num país onde o emprego qualificado não abunda e vai sendo cada vez mais raro, o pobre do docente integra agora um novo "exército industrial de reserva" superabundante, mal pago e desgraçado.
O fenómeno começou no sector público mas o privado aprendeu depressa com o exemplo.
Assim se logram objectivos estatísticos, com relevância eleitoral, à custa da exploração dessa nova mão--de-obra abundante e cada vez mais desqualificada que são os professores. Não há exemplo em Portugal de mais clara exploração do homem pelo Estado. Quem recebe a mais--valia é o governo.
A consideração óbvia segundo a qual sem professores motivados, bem pagos e satisfeitos na sua carreira não pode haver bom ensino nem passou pela cabeça dos burocratas do Ministério da Educação.
O resultado está à vista, os alunos são os novos analfabetos, o Estado finge que paga e despromove os professores e estes fingem que trabalham.
O ensino vai, portanto, pelo bom caminho. Podemos estar satisfeitos. Com filhos e netos desinstruídos ou munidos de licenciaturas que na sua maioria não valem nada no mercado, podemos encarar o futuro com confiança".
Luís Cabral de Moncada
Professor universitário
Jornal i
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