"No intervalo do Barcelona-Real Madrid de terça-feira, o primeiro-ministro revelou ao país que várias medidas não constavam do acordo que o Governo demissionário nesse dia assinara com FMI, CE e BCE, desmentindo assim o que alguns jornais tinham abundantemente anunciado nos dias anteriores: fim dos subsídios de férias e Natal ou a sua substituição por títulos do Tesouro, despedimentos maciços na Função Pública, cortes nos salários, cortes nas pensões acima de 600 euros, redução do salário mínimo...
As cachas com que, nos últimos dias, alguns jornais encheram as primeiras páginas, alegadamente baseados em "fontes próximas das negociações entre o Governo e a troika", criaram tal clima de medo que muitos portugueses terão suspirado de alívio no final da comunicação do primeiro-ministro.
Resta saber quem forneceu a esses jornais (se não foram cozinhadas por eles próprios) as falsas e apocalípticas cachas, que arrefeceram de tal modo as expectativas dos portugueses quanto ao que aí vinha que, quando finalmente meteram mãos na realidade, esta - aumentos de impostos, congelamento do salário mínimo, subidas da electricidade, do gás e dos transportes, despedimentos fáceis e baratos, encerramento de hospitais e de urgências, etc., etc. - acabou por lhes parecer quente e acolhedora.
Facto é que certos jornais mentiram descaradamente aos seus leitores. E que estão calados, como se isso fosse coisa normal".
Manuel António Pina
JN
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