"A afirmação do actual ministro da Educação de que o "princípio geral" que
presidirá à "sua" reforma curricular do ensino básico e secundário é o de que "é
necessário concentrar nas disciplinas essenciais" constitui todo um programa
ideológico.
Deixando de lado o obsessão de todo o bicho-careta que chega a ministro da
Educação em Portugal em "reformar" mais uma vez os curricula escolares, tornando
o ensino num laboratório de experiências educativas e os alunos em cobaias que
se usam e deitam fora na próxima "reforma", tudo com os resultados que se
conhecem, a opção por um ensino público limitado a "disciplinas essenciais"
segue fielmente a rota ideológica do "saber ler, escrever e contar" de
Salazar.
Falta apurar o que o ministro entenderá por "essencial", mas outras medidas
que tem tomado, como triplicar o valor dos cortes na Educação pública previsto
no acordo com a "troika" enquanto financiava generosamente os colégios privados,
levam a crer que o programa de empobrecimento anunciado por Passos Coelho é mais
vasto do que parece. E que, além do empobrecimento económico das classes médias
e mais desfavorecidas, está simultaneamente em curso o seu empobrecimento
educativo.
Para a imensa maioria que não tem meios para pôr os filhos em colégios
privados (que, no entanto, financia com os seus impostos), o "essencial" basta.
Mão-de-obra menos instruída é mão-de-obra mais barata. E menos problemática".
Manuel António Pina
JN
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