"A crer na OCDE, os portugueses, sobretudo os mais jovens e qualificados,
estão-se nas tintas para o apelo feito por Cavaco Silva em Sydney: "Fiquem em
Portugal". E é a debandada geral: todos os anos 70 000 de nós, a maior parte com
menos de 29 anos, abandonam o país que os abandonou.
Muitos são engenheiros, arquitectos, professores, cientistas, que levam na
bagagem conhecimento técnico, doutoramentos, mestrados, licenciaturas, e a
frustração por terem nascido num país que os enjeita, castigando-os por terem
perdido anos a estudar e qualificar-se em vez de, como outros, se arrebanharem
numa "jota" a colar cartazes e a aprender as florentinas artes da intriga, do
servilismo e da ausência de pensamento próprio. E, por cima de tudo isto, são
ainda alguns destes últimos, "emigrados" hoje nos cadeirões da AR ou do Governo
e amanhã nos de alguma empresa pública, quem lhes aponta a porta de saída:
"Deixem a vossa 'zona de conforto' e ponham-se a andar".
O "conforto" de que falam governantes e deputados da maioria é a humilhação
diária do desemprego ou de empregos precários (mais ou menos como o de Eduardo
Catroga) como aquele que recentemente oferecia o IEFP do ministro Álvaro a
arquitectos com, no mínimo, mestrado, domínio do inglês e francês e
conhecimentos de design de interiores, desenho 3d e autoCad: um horário de
trabalho das 9.30 às 19.30 e salário mensal de 500 euros".
Manuel António Pina
JN
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