1. A portaria nº292-A/2012 cria “cursos
vocacionais” no ensino básico. Formalmente, caiu a intenção arrepiante de
obrigar crianças de tenra idade a aprender um ofício. Mas tudo está ordenado
para produzir o mesmo efeito. O diploma está abaixo do medíocre: redigido em
Português pobre, tecnicamente deplorável quanto à substância, pejado de
intenções de parcerias e protocolos indefinidos, não passa de uma nova versão
dos Cursos de Educação e Formação, de má memória. O alvo confessado são os que
chumbam mais que duas vezes. A razão por que chumbam não interessa. O cinismo
não se disfarça quando se fala de crianças de 13 anos a “optarem” por um destino
de vida. O acto falhado radica na qualificação de “regular” para o outro ensino,
o intelectual, deixando a este, por antinomia óbvia, a condição de “irregular”.
Que diria Crato, do “Plano Inclinado”, dos disparates que Crato, ministro,
escreveu no artigo 9º da portaria? Que será “avaliação modular”? A que título,
quando estatui sobre avaliação, confunde com ela considerações metodológicas e
didácticas? Que brincadeira é aquela de quatro relatórios finais, a serem
redigidos por crianças do ensino básico, que chumbaram duas ou três vezes,
certamente a Português, como instrumento central de uma presumível
classificação, a que ministro chama avaliação? Onde fica o seu rigor, com a
trapalhada que consagra nos artigos 10º e 11º? Se o aluno se contentar em ficar
por ali, o que fez “habilita”. Se quiser ir para o tal ensino “regular”, o que
fez já não habilita?
Entendamo-nos, em seis linhas. A lei
estabelece um ensino básico. Quer isso dizer que é desígnio da sociedade que
todos os portugueses obtenham um conhecimento mínimo, básico. O que está fixado
e não outro. O ensino profissionalizante deve vir depois. Como ensino tão
“regular” como o outro. Com igual dignidade, livremente escolhido, quando a
maturidade o permita, com orientação vocacional séria e cooperante, sem marca
social de origem nem estigma de chumbos acumulados.
2. Mesmo num quadro bem visível e persistente
de desorientação e vacuidade de ideias úteis, surpreende a facilidade com que
Nuno Crato dá tiros no próprio pé. Mal os tribunais decidem sobre um atropelo à
lei, é vê-lo partir para outro, fora de tempo, qual cavaleiro de triste figura.
Quem, equilibrado, se lembraria de decidir, agora e contra uma prática
estabilizada desde 2007, que os exames do 12º ano passariam a versar as matérias
do 10º e 11º, também? Felizmente que, desta feita, a asneira foi engolida numa
semana. Mas deixou mais um estilhaço da credibilidade há muito
implodida.
3. Nuno Crato tutela a Parque Escolar, um
símbolo do desvario político que nos trouxe ao abismo. Tem uma dívida próxima
dos 2.000 milhões de euros. Em 2011, enquanto Crato despediu professores aos
milhares, essa empresa mais que duplicou o seu pessoal, aumentando a respectiva
despesa para 13 milhões de euros. Sem que nada tenha acontecido aos
responsáveis, ultrapassou em 70 por cento o orçamentado desempenho da sua
actividade e pagou 105 milhões de euros a arquitectos e 750 mil a advogados, sem
maçadores concursos públicos. E sem que o ministro pestaneje ou Gaspar fale mais
rápido que o costume, acaba de lançar um concurso público de 98 mil euros para
que, pasme-se, … lhe digam quanto valem as escolas que o casino do Estado lhe
colocou no regaço. Isto, mais os 61 mil pagos a Sérvulo Correia e Associados
(que se somam aos 32 mil de que não se fala, ajustados por boca logo que o
Governo tomou posse) é tão-só uma gota nas desvergonhas do
Estado.
4. Os detalhes precedentes, graves em si
mesmos, são mais graves na medida em que ilustram a incapacidade de um trio
patético de governantes para o ensino não superior, incapazes de fazer algo
planeado e sério, para além de complicarem inutilmente a vida dos professores e
dos alunos e criarem mais Estado, mas pior Estado. E são ainda mais graves na
medida em que não constituem excepção. Outrossim marcam um colectivo em
decomposição acelerada.
Como já todos entenderam, o aumento de impostos
é a prazo ineficaz. Por exaustão dos contribuintes, a quebra das receitas é a
resposta perversa, mas certa. Entrámos num vórtice de que só sairemos com outros
governantes, minimamente conhecedores da realidade nacional. A insolência destes
vai acabar incumprindo o incensado memorando. Pelo meio ficará um caminho
juncado de cadáveres, no dizer do novo bispo vermelho, fruto de uma governação
por catálogo, obsessiva e sem sentido, que recusou propostas e avisos de todos
os quadrantes, com o único argumento, democrática e socialmente terrorista, de
que não há alternativas. Este é o paradoxo de Passos. Queria menos Estado e
melhor Estado. Vai partir com mais Estado e pior Estado.
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2 comentários:
Este Castilho só sabe malhar no Crato. Uma autêntica obsessão doentia.
Pois deveria ser menos estado e melhor estado. Sobre falsos pretextos todos reclamam quando se tenta ter menos Estado. É mais fácil reclamar com o Estado do que com o patrão.
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