terça-feira, agosto 21, 2007

Novo ano, nova oportunidade...

"Estamos em vésperas do início de mais um novo ano lectivo. Eles repetem-se mas nunca são iguais. Às vezes, olhando para trás, até temos a sensação de que são sempre a mesma sensaboria, de que as coisas não saem do sítio, de que a Escola é uma engrenagem encravada em rotinas maçadoras, de que são incuráveis os males que atormentam o nosso sistema de ensino. Não é tanto assim. Têm-se produzido e desenvolvido mudanças, muitas mudanças, demasiadas mudanças… Tem mudado quase tudo!... Quase tudo!... A engrenagem, de tanta convulsão, até estremece e mexe… Quase tomba!... O problema, antigo, é que a engrenagem mexe, estremece, mas não avança… Trocam-lhe as peças, renovam-lhe os óleos, afinam-lhe os parafusos, enceram-lhe as pinturas, mas não lhe renovam o miolo, o motor, a essência, o turbo. No entretanto, nós, muito pacientemente, vamo-nos deixando iludir com as falsas aparências do muito que está a ser feito ou vamo-nos desiludindo com a verdade de que nada de realmente essencial está a mudar.
É tempo de dar uma volta à Escola. É sempre tempo. Há tanto tempo que já é tempo de dar uma volta à Escola!... O início de mais um ano lectivo é um excelente pretexto para que digamos que estamos na altura certa, que deve ser agora, que temos que agarrar a oportunidade. No fundo, não é mentira nenhuma. Vamos recomeçar, vamos mudar. De vez. A sério. É difícil? Temos que esperar pela iniciativa do Ministério? Que fazer? Como fazer?
Primeiro – O Ministério, por si, não é capaz de criar uma boa Escola.
Segundo – Não há boa Escola sem bons professores, sem professores profissionais, sem professores verdadeiramente comprometidos com o crescimento dos seus alunos.
Terceiro – Não há boa organização Escola sem capacidade de iniciativa, sem sentido de risco, sem capacidade de avaliação e de crítica, sem irreverência, sem independência, sem liberdade de acção, sem um relacionamento respeitoso e um envolvimento no trabalho colectivo de professores, alunos, pais e demais agentes educativos.
Quarto – Não há boa Escola quando ela vive refém das orientações e das autorizações do Ministério e das suas diferentes estruturas intermédias.
Quinto – Uma boa Escola é uma comunidade de trabalhadores, que se relacionam de forma saudável, que respeitam os diversos papéis que desempenham, que vivem uns para os outros, que vivem todos para a Escola e para o crescimento de todos. Numa Escola, não podem contar apenas os resultados dos alunos… Têm que contar, também, os resultados dos professores (no seu crescimento profissional), os resultados dos pais (no desenvolvimento harmonioso das famílias), os resultados dos demais intervenientes educativos.
Sexto – Não há boa Escola onde as aprendizagens se limitam aos conteúdos dos programas das disciplinas. O aprender a viver é muito mais do que isso!... E a Escola tem que ser um sítio onde, acima de tudo, se deve aprender a viver!... Com os outros. Respeitando os outros. Conhecendo-nos melhor. Autonomizando-nos para a vida profissional e social. Lidando com os nossos sentimentos e emoções. Analisando-os e aprimorando-os. Descobrindo e escolhendo a nossa tábua de valores. Olhando o mundo a partir do nosso bocadinho.
Sétimo – Uma boa Escola faz-se de três ou quatro pequenas coisas: de uma boa organização; de um bom relacionamento interpessoal entre toda a comunidade; de trabalho planificado e participado; de capacidade de iniciativa, de abertura ao mundo e de vontade de ser e de vencer.
A Escola, neste início de novo ano, se quer ganhar o futuro, não pode ligar ao Ministério. Não pode esperar pelas directrizes que chegam sempre tarde!... Não pode desanimar e desistir face às repetidas asneiras e injustiças que brotam dos Gabinetes do Ministério!... Não pode!…
Se os professores, os alunos e os demais agentes educativos continuarem à espera de sinais do Ministério, a Escola não vai longe!... Até podem estar cheios de razão e profundamente indignados com uns dirigentes que os desprezam, os maltratam e os dividem mas, o que está em causa, o que deve prevalecer, é o superior interesse dos alunos, ou seja, o futuro da Escola. Esse, não depende do Ministério. Só depende de Comunidades Escolares que o queiram ser de verdade, sem medo, ainda que contra as asneiras do poder".

José Fernando Rodrigues Alves Pinto
(*) Mestre em Estudos Económicos e Sociais

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