segunda-feira, agosto 03, 2009

A ministra deveria ler o livro "A Ministra"

"A actual ministra da educação, Maria de Lurdes Rodrigues, deveria ler o livro (bem como toda a gente ligada à área da educação, e não só) da autoria de Miguel Real, enviado há pouco tempo para os escaparates das livrarias do país.Porque nessa obra, e segundo a bitola do autor, é retratada:
1-“Uma mulher seca que nunca conheceu o amor, de passado trágico e futuro marcado pelo desejo de auto-afirmação”;
2- Uma mulher de mentalidade despótica, adversa à espiritualidade dos valores, crente de que a única dimensão do bem reside na sua utilidade social;
3- Uma mulher cuja especialização académica consiste na manipulação de estatísticas, moldando a realidade à medida dos seus interesses;
4- Uma mulher que usa o trabalho, não como forma de realização, mas como modo de exaltação do poder próprio, criando, não o respeito mas o medo em redor;
5- Uma mulher ensimesmada, arrogante (…) que ama a solidão e despreza os homens;
6- Uma mulher autoritária e severa consigo própria, imune ao princípio da tolerância;
7- Uma mulher que ambiciona ser ministra. Sê-lo-á?”
Quase que consegue mas não chega a atingir o desiderato devido a um volte-face imprevisível e inimaginável. Ao contrário de Maria de Lurdes Rodrigues, que chegou a ser ministra (ainda o é por enquanto) e não terá rigorosamente nada a ver com o romance ficcional de Miguel Real, como é óbvio. A verdade seja dita. Apesar desta irrefragável realidade, no livro de Miguel Real, na página 128, intrigantemente pode ler-se: “Tenho quatro anos para fazer boa figura, pôr a escola portuguesa na Europa, onde ninguém reprova e todos caminham para um mínimo de cultura geral, mais não é preciso, chega, para um vulgo suburbano basta, a pesquisa na Internet preenche as falhas educativas, gerando uma ilusão de sabedoria para o novo habitante urbano, moldado pelo facilitismo e a vulgaridade (…), é preciso revolucionar o ensino, dar ao povo o que o povo quer, um nico de cultura, umas palavritas de Inglês, muita informática, chega, basta, um canalizador ou uma recepcionista de balcão não precisa de mais, é preciso harmonizar o ensino com o povo bárbaro que temos (…), facilitar a vida aos mais novos, empurrando-os para a passagem de ano, todos os anos, criar uma segunda oportunidade aos mais velhos, fazer equivaler a experiência de vida destes aos graus de ensino, basta um dossier com toda a informação, mais uma entrevista, pronto, toda o povo passa a ter o 12º ano, ficam resolvidos os problemas da formação, acabar com o abandono escolar anulando os programas difíceis, no final dos meus quatro anos as estatísticas têm de ser iguais às da Alemanha (…); a todos farei ver que sem mim o povo não teria o que passará a ter, domínio da informática, conhecimentos de Inglês, agilidade mental para se safar na vida, para que precisa o povo de saber os sonetos de Antero ou a prosa do Eça?”
Depois de se ler isto – e muito mais haveria para mostrar -, onde acaba a ficção e começa a realidade? Duma coisa poderemos estar certos, a senhora que é retratada por Miguel Real nada a tem a ver com a talentosa e conspícua ministra da Educação do governo patriótico de Portugal".

António Cândido Miguéis
Público

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