quarta-feira, agosto 05, 2009

Os saldos do PS

"O programa e o comportamento eleitoral do PS são coisas de um homem só. De um homem que viveu quatro anos e meio mergulhado em fantasias e ódios. De um homem que, no estertor da morte política, se agarra, desesperado e sem norte, à lógica dos saldos, como se o Estado fosse feudo seu. Está tudo jogado no expositor, sem pudor, a qualquer preço e sem lógica ou coerência. A esperança derradeira é ver se há quem pegue. Os professores, excepção feita aos sádicos, se os houver, e aos que se serviram, que os há, não pegam e não vão votar PS, seja qual for a sua ideologia política. E o programa só reforça tal predisposição geral. Não contém um leve indício reconciliatório com os professores, outrossim a arrogante garantia de que, tanto no ensino básio como no secundário, a ordem é para consolidar e aprofundar. Nada diz sobre o estatuto do aluno, cuja mudança é imperiosa para que o rigor e o esforço retornem às escolas. O que subjaz ao linguarejar tecnocrático e neoconservador com que o programa se apresenta aos eleitores é um autismo surpreendente por parte de quem aí prova que não aprendeu nada em quatro anos e meio de poder. A retoma dos 12 anos de escolaridade obrigatória, num sistema que está bem longe de cumprir os nove já vigentes, é simples demagogia. O destaque dado ao esforço do ensino profissional confirma, tão só, a manipulação da opinião pública, à qual se tem dito que cresceu exponencialmente a frequência dos cursos profissionais quando a verdade é que, no cômputo de todas as suas variáveis, o número total até diminuiu (105.941 alunos em 1997/1998 contra 92.038 em 2007/2008, sendo números oficiais do Ministério da Educação).
Para ajustar ao desconjuntar de uma enorme cangalhada, o país conheceu nestes dias dois desenvolvimentos significativos: foi promulgado o diploma que consagra uma carreira única para os médicos e veio a público a confissão do primeiro-ministro, segundo a qual o braço de ferro com os professores foi (e continua a ser) uma consciente ilegalidade trapalhona. No primeiro caso, recorde-se, disse o governo que, sem divisão da carreira dos professores, soçobraria a excelência, o mérito e a qualidade da educação. Mas esta solução, incontornável para as certezas de Sócrates, não se aplica aos médicos. Se o homem tivesse razão, lá se ia a excelência, o mérito e a qualidade da saúde! No segundo caso, a propósito de um pedido de vários deputados para que o Tribunal Constitucional apreciasse a constitucionalidade da simplificação da avaliação do desempenho dos professores, viemos a constatar que, sim senhor, o primeiro-ministro sabia que o que estava a fazer era ilegal. Mas o tribunal revelaria porque era só por um bocadinho curto de tempo. Como pôde um país suportar um primeiro-ministro que pensa e actua assim?(…)"

Santana Castilho
Público

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