"Esqueçam a "entrevista" com os Gato Fedorento - de resto, o tipo de programa que se molda a e favorece bem mais uma personagem histriónica como José Sócrates, do que figuras mais genuínas como Manuela Ferreira Leite ou Jerónimo de Sousa (ou mesmo Louçã, até certo ponto). Se querem conhecer melhor o secretário-geral do Partido Sócrates2009, ouçam (sentados) esta entrevista exemplar que ele deu ontem a Maria Flor Pedroso, na Antena 1 (Sócrates não quis que as imagens filmadas ficassem on line - já perceberão porquê):
Na entrevista, Sócrates é, por assim dizer, captado in vivo. Não há guião que lhe valha, porque é confrontado com alguém que, efectivamente, lhe faz as perguntas que se espera sejam feitas a um político. E é precisamente por isso que ele reage tão mal. Pessimamente. Ouça-se, ao longo de quase toda a entrevista, o tom impaciente, duma insolência insuportável, contrariado, que atinge a má-criação para com a jornalista. (Logo nos primeiros minutos, quando ela, como é natural, lhe vai cortando as suas intermináveis melopeias entoadas de cor.)
Para o primeiro-ministro, reconhecer erros políticos é "ridículo" [sic] e um "exercício académico" [sic] (isto quando Flor Pedroso citava anteriores entrevistas - as da fase da "delicadeza", post-eleições europeias...). Praticamente, chama estúpida à interlocutora (ela nem compreende o que lhe parece óbvio, diz, jocoso), a propósito das recusas continuadas em dar entrevistas (suas e dos seus ministros) à TVI. Ridiculariza-a, imitando-lhe a voz - tudo num registo de bobo, dir-se-ia de estrebaria, não de corte. Sempre que a entrevistadora toca em pontos politicamente relevantes (demissão de Correia de Campos, consequências das políticas na Educação, etc), impedindo-o de se estender nas suas divagações (aquilo que Sócrates, na sua semântica peculiar, entende por 'respostas'), acusa-a de "só querer falar desses pequenos nadas [sic] e não dos problemas do país [sic]". Nem sei o que poderia ter acontecido naquele estúdio, caso Flor Pedroso se desse ao atrevimento de fazer alguma perguntinha sobre o assunto Fripor, esse "pequeno nada".
A pura agressividade do entrevistado chega a tal ponto, que a jornalista tem de dizer, como desculpando-se: 'Estou só a perguntar-lhe...' Tudo se passa como se, diante dela (e de nós), não estivesse um responsável político, mas antes uma criatura intratável. É o velho Sócrates, que desconsiderava insultuosamente os deputados das oposições com troças, momices e impropérios.
Sem responder às perguntas, lá se entreteve com as suas habituais falácias e analogias coxas a respeito da "avaliação dos professores" e disse, sem se rir, que "foi humilde" e "estendeu a mão". Depois, sobre tudo e sobre nada, como é seu costume, falou muito acima dos problemas, com as suas generalidades rarefeitas: o "combater os privilégios", o ser "corajoso", a "facilidade", o "interesse geral", o "escolher o melhor para o meu país", os "interesses corporativos", etc. Enfim, toda aquela litania mitológica que o homem imagina justificar alguma coisa.
Chega a ser divertido ouvir-se alguém que não produz um discurso (só reproduz) vir, sentencioso, discorrer sobre a "substância da política". Um dos momentos mais interessantes, porque esclarecedores, a respeito do "pensamento" objectivo do primeiro-ministro, ocorre quando apresenta, como pólos mutuamente exclusivos, o "pretender ganhar uns votos [sic]" e o "defender os interesses do país" - isto vindo do homem que, esbracejando nas suas arengas em sessão contínua, não faz mais nada do que insinuar a "reacção" nos outros e "citar" a famosa "suspensão da democracia".
O tom azedo e malcriado do primeiro-ministro na entrevista é compreensível. Como não, se ele nunca está preparado para manter uma conversa, responder efectivamente a perguntas, mas só para descarregar frases decoradas, chavões, inanidades – tudo imerso num imenso e enjoativo discurso auto-elogioso e de auto-comiseração? O primeiro-ministro detesta que lhe façam perguntas. Ele apenas deseja que lhe ponham à frente pretextos para se espraiar nas suas vacuidades.
Esta é uma entrevista recomendada para o conhecimento político da personagem que nos tem governado estes quatro anos e meio. E pretende reincidir".
Na entrevista, Sócrates é, por assim dizer, captado in vivo. Não há guião que lhe valha, porque é confrontado com alguém que, efectivamente, lhe faz as perguntas que se espera sejam feitas a um político. E é precisamente por isso que ele reage tão mal. Pessimamente. Ouça-se, ao longo de quase toda a entrevista, o tom impaciente, duma insolência insuportável, contrariado, que atinge a má-criação para com a jornalista. (Logo nos primeiros minutos, quando ela, como é natural, lhe vai cortando as suas intermináveis melopeias entoadas de cor.)
Para o primeiro-ministro, reconhecer erros políticos é "ridículo" [sic] e um "exercício académico" [sic] (isto quando Flor Pedroso citava anteriores entrevistas - as da fase da "delicadeza", post-eleições europeias...). Praticamente, chama estúpida à interlocutora (ela nem compreende o que lhe parece óbvio, diz, jocoso), a propósito das recusas continuadas em dar entrevistas (suas e dos seus ministros) à TVI. Ridiculariza-a, imitando-lhe a voz - tudo num registo de bobo, dir-se-ia de estrebaria, não de corte. Sempre que a entrevistadora toca em pontos politicamente relevantes (demissão de Correia de Campos, consequências das políticas na Educação, etc), impedindo-o de se estender nas suas divagações (aquilo que Sócrates, na sua semântica peculiar, entende por 'respostas'), acusa-a de "só querer falar desses pequenos nadas [sic] e não dos problemas do país [sic]". Nem sei o que poderia ter acontecido naquele estúdio, caso Flor Pedroso se desse ao atrevimento de fazer alguma perguntinha sobre o assunto Fripor, esse "pequeno nada".
A pura agressividade do entrevistado chega a tal ponto, que a jornalista tem de dizer, como desculpando-se: 'Estou só a perguntar-lhe...' Tudo se passa como se, diante dela (e de nós), não estivesse um responsável político, mas antes uma criatura intratável. É o velho Sócrates, que desconsiderava insultuosamente os deputados das oposições com troças, momices e impropérios.
Sem responder às perguntas, lá se entreteve com as suas habituais falácias e analogias coxas a respeito da "avaliação dos professores" e disse, sem se rir, que "foi humilde" e "estendeu a mão". Depois, sobre tudo e sobre nada, como é seu costume, falou muito acima dos problemas, com as suas generalidades rarefeitas: o "combater os privilégios", o ser "corajoso", a "facilidade", o "interesse geral", o "escolher o melhor para o meu país", os "interesses corporativos", etc. Enfim, toda aquela litania mitológica que o homem imagina justificar alguma coisa.
Chega a ser divertido ouvir-se alguém que não produz um discurso (só reproduz) vir, sentencioso, discorrer sobre a "substância da política". Um dos momentos mais interessantes, porque esclarecedores, a respeito do "pensamento" objectivo do primeiro-ministro, ocorre quando apresenta, como pólos mutuamente exclusivos, o "pretender ganhar uns votos [sic]" e o "defender os interesses do país" - isto vindo do homem que, esbracejando nas suas arengas em sessão contínua, não faz mais nada do que insinuar a "reacção" nos outros e "citar" a famosa "suspensão da democracia".
O tom azedo e malcriado do primeiro-ministro na entrevista é compreensível. Como não, se ele nunca está preparado para manter uma conversa, responder efectivamente a perguntas, mas só para descarregar frases decoradas, chavões, inanidades – tudo imerso num imenso e enjoativo discurso auto-elogioso e de auto-comiseração? O primeiro-ministro detesta que lhe façam perguntas. Ele apenas deseja que lhe ponham à frente pretextos para se espraiar nas suas vacuidades.
Esta é uma entrevista recomendada para o conhecimento político da personagem que nos tem governado estes quatro anos e meio. E pretende reincidir".
Carlos Botelho
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