Nos últimos meses, desde que a crise do euro colocou em causa a posição de Portugal, muitos economistas, nacionais ou estrangeiros, propuseram uma magnífica cura para todos os nossos males: descer os salários nacionais.
Alguns falam em 10 por cento, outros em 15, e outros, mais afoitos, chegam a falar em 20 ou mesmo 30 por cento. A lógica desta "medida" é de uma simplicidade encantadora: como a produtividade dos portugueses não cresce, e já não é possível desvalorizar a moeda, então a única forma de sermos competitivos é uma descida geral dos salários, para tornar toda a nossa economia, mais… ups, está-me a faltar a palavra, é isso, "competitiva"!
Quando ouço essas luminárias a propor semelhante remédio para a nossa doença, desconfio logo de que se trata, certamente, de pessoas bem pagas. Se eu ganhar 20 ou 30 mil euros, descer os salários em 2 ou 3 mil euritos não vai mudar muito a minha vida. Contudo, se eu ganhar mil euros, ou seiscentos, perder 20 por cento do meu salário é capaz de já me fazer muita diferença, não é verdade?
Mas, esqueçamos por uns segundos os rendimentos das luminárias, e examinemos o que cada um de nós faria com menos 20 por cento do salário. A maioria dos portugueses, além de vir para a rua furioso em manifestações (o que até podia ser divertido), só tinha uma coisa a fazer: cortava nas suas despesas. Fazia menos compras nos supermercados, em gasolina, em despesas domésticas e familiares, etc., etc. Ou seja, o efeito combinado de milhões de portugueses a baixarem as suas despesas provocava uma tremenda recessão no consumo. E, como se tratava de uma medida permanente, na verdade descíamos todos para um patamar abaixo, para sempre. Para agravar ainda mais o cenário, convém lembrar que as nossas dívidas não baixavam 20 por cento, e teríamos de continuar a pagá-las, desse por onde desse.
Exportaríamos mais, com essa queda nos salários? É duvidoso, pois não é garantido que os preços das exportações descessem 20 por cento, nem que os estrangeiros nos comprassem mais só por causa disso. Os saldos salariais são pois uma ideia idiota, saída de cérebros desprovidos de qualquer preocupação social. São uma ideia desesperada, de quem se recusa a reconhecer a evidência de que o euro, com as regras que tem, teve efeitos nefastos em Portugal. Infelizmente, é sempre mais fácil negar a realidade com truques de ilusionistas do que enfrentá-la.
Alguns falam em 10 por cento, outros em 15, e outros, mais afoitos, chegam a falar em 20 ou mesmo 30 por cento. A lógica desta "medida" é de uma simplicidade encantadora: como a produtividade dos portugueses não cresce, e já não é possível desvalorizar a moeda, então a única forma de sermos competitivos é uma descida geral dos salários, para tornar toda a nossa economia, mais… ups, está-me a faltar a palavra, é isso, "competitiva"!
Quando ouço essas luminárias a propor semelhante remédio para a nossa doença, desconfio logo de que se trata, certamente, de pessoas bem pagas. Se eu ganhar 20 ou 30 mil euros, descer os salários em 2 ou 3 mil euritos não vai mudar muito a minha vida. Contudo, se eu ganhar mil euros, ou seiscentos, perder 20 por cento do meu salário é capaz de já me fazer muita diferença, não é verdade?
Mas, esqueçamos por uns segundos os rendimentos das luminárias, e examinemos o que cada um de nós faria com menos 20 por cento do salário. A maioria dos portugueses, além de vir para a rua furioso em manifestações (o que até podia ser divertido), só tinha uma coisa a fazer: cortava nas suas despesas. Fazia menos compras nos supermercados, em gasolina, em despesas domésticas e familiares, etc., etc. Ou seja, o efeito combinado de milhões de portugueses a baixarem as suas despesas provocava uma tremenda recessão no consumo. E, como se tratava de uma medida permanente, na verdade descíamos todos para um patamar abaixo, para sempre. Para agravar ainda mais o cenário, convém lembrar que as nossas dívidas não baixavam 20 por cento, e teríamos de continuar a pagá-las, desse por onde desse.
Exportaríamos mais, com essa queda nos salários? É duvidoso, pois não é garantido que os preços das exportações descessem 20 por cento, nem que os estrangeiros nos comprassem mais só por causa disso. Os saldos salariais são pois uma ideia idiota, saída de cérebros desprovidos de qualquer preocupação social. São uma ideia desesperada, de quem se recusa a reconhecer a evidência de que o euro, com as regras que tem, teve efeitos nefastos em Portugal. Infelizmente, é sempre mais fácil negar a realidade com truques de ilusionistas do que enfrentá-la.
Domingos Amaral, director do "GQ"
CM
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