"A prestimosa Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), que de
vez em quando promete processar-me mas que, decerto por deficiências
organizativas, nunca cumpre a promessa, anda aflita com o lixo que as escolas
servem às crianças. Naturalmente, o lixo em causa não é o curricular. Aliás,
ainda estou para ver o dia em que essa seja uma batalha dos senhores que dirigem
a Confap, os quais se preocupam imenso com a segurança dos meninos na escola
(querem mais), com o tabaco e o álcool que os meninos consomem na escola (querem
menos), com o tempo que os meninos passam na escola (querem mais), com a
exigência dos testes que os meninos fazem na escola (querem menos), com os
transportes que levam os meninos à escola (querem mais), com as leis retrógradas
que permitem que os meninos reprovem na escola (querem menos) e com a
participação das famílias dos meninos nas actividades da escola (querem mais).
Os senhores da Confap preocupam-se com tudo, excepto com o português e a
matemática que, definitivamente, os meninos não aprendem na escola.
Esta semana, a preocupação dos sujeitos prende-se com a comida. Na semana
passada, também se prendia, embora aí o problema fossem os pais sem dinheiro
para pagar as refeições escolares dos filhos. Agora, o drama são os preços das
ditas refeições, demasiado baratos segundo os desconfiados padrões da Confap. O
presidente da dita, Albino Almeida de sua graça (e tem bastante), não só julga
falar por todos os progenitores do país como pelos vistos se convenceu de que
possui o paladar de um gourmet. Vai daí, toca de desconfiar do mérito dos
alimentos e apresentar aos media dois exemplos colhidos em estabelecimentos de
ensino não identificados: o de uma sopa "sem qualidade" e o de um prato em que
"as doses da carne eram manifestamente insuficientes". Em ambos os casos, o sr.
Almeida afirma guardar fotografias destas autênticas machadadas na educação e na
gastronomia. Assim de repente, ocorre-me um sítio onde poderíamos guardar o
próprio sr. Almeida. Porém, não quero voltar a incomodar os advogados da
criatura.
De resto, o pior nem são as preocupações com o dumping dos fornecedores das
cantinas reveladas pela Confap, por definição representativa de um universo
infantil. O pior é que a infantilidade e o pavor do dumping infectaram o mundo
real e a ASAE já invade supermercados suspeitos de praticar preços baixos,
hediono crime que justifica apreensão imediata do produto, por enquanto o leite,
em breve qualquer coisa de que lóbis interessados, partidos ao serviço de
clientelas ou simples malucos se lembrem. Aparentemente, o país reage ao custo
de vida mediante o massacre daqueles a quem a vida custa mais. Grave, grave é o
dumping mental".
Alberto Gonçalves
DN
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