sábado, agosto 07, 2010

A ministra vendedora de ilusões

"A ministra da Educação, antes de voltar atrás e se desmentir, como aliás é frequente entre os ministros socialistas, anunciou que quer alterar as regras de avaliação e acabar com os chumbos, a que hoje pomposamente se chama "retenções". A ideia nada tem de inovadora ou de surpreendente. Não é, desde logo, inovadora, porque se inscreve na política demagógica do Governo de agradar a toda a gente sem olhar a meios ou a consequências. A mera hipótese de um decreto a acabar com os chumbos já foi aplaudida pelas associações de pais, através da sua confederação que representa todos os que apenas querem que os seus rebentos adquiram um canudo grátis e fácil, e cujo visionário presidente já declarou que a medida "seria a maior reforma educativa depois do 25 de Abril", e não deixará decerto de agradar aqueles alunos que pretendem estudar e trabalhar o menos possível. Não consegue ser, de igual forma, surpreendente, porque coincide com os princípios ideológicos do socratismo, que tem a fobia do mérito e a tolerância para com a impunidade como dois dos seus principais alicerces, e que utiliza a manipulação das estatísticas e o facilitismo como forma de se perpetuar no poder.

Isabel Alçada é mais simpática e sedutora que a sua antecessora. E, como se sabe, teve a sorte de chegar ao Ministério com o apoio pessoal do primeiro-ministro, que lhe permitiu selar um acordo perdulário com os professores que reduziu a conflitualidade no sector à custa de muitos milhões que estão já a ser pagos pelo erário público, o que aliás explica porque razão a despesa primária do Estado continua a crescer de forma incontrolada. Mas, no restante, Alçada nada trouxe de novo.

O facilitismo constitui já, no presente estado de coisas, um dos maiores problemas da escola. Afecta os processos de avaliação dos professores que são prejudicados por atribuírem notas justas e beneficiados por inflacionarem as classificações dos seus alunos, impede que os bons professores desempenhem a sua missão de ensinar, desincentiva e prejudica os melhores alunos, impregna todo o sistema de uma áurea de desresponsabilização. É lamentável que haja quem consiga aceder a cursos universitários com negativas, e é inacreditável que não se chumbe por faltas de presença, de material ou de ordem disciplinar.

A tentativa ministerial de invocar o exemplo nórdico para sustentar esta medida roça mesmo a desonestidade intelectual porque Portugal não tem um sistema de ensino igual ao desses países, onde a realidade sociocultural é muito diferente na disciplina, no civismo, nos meios, e na forma como o trabalho intelectual é avaliado.

Mas, como me assinalou uma pessoa amiga e bem informada mal a ideia da Ministra foi conhecida, o momento escolhido não foi inocente, porque coincidiu com o dia em que se conheceram os resultados desastrosos dos exames nacionais.

Como a ministra não tinha vontade de ver o assunto discutido, nem lhe interessava que fossem avaliadas as razões do fracasso ou ponderadas as formas de evitar a repetição ou o agravamento da situação no próximo ano, lançou esta ideia descabida de acordo com a seguinte lógica, ou conselho: "dentro de duas semanas, se tanto, a senhora virá dizer que não era bem isso, era acompanhar os alunos em dificuldades, e do desaire dos exames nacionais já toda a gente se esqueceu". Pois bem, essa pessoa minha amiga tinha razão, porque ainda não passaram duas semanas e a ministra já deu o dito por não dito, sem que alguém falasse dos exames nacionais… E é assim o paraíso cor-de-rosa em que vivemos".

Rui Moreira
JN

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