"A ministra da Educação defendeu recentemente a discussão sobre a hipótese de não haver reprovações no ensino secundário, propondo-se aos alunos um “percurso alternativo”.
Quando ouvi a notícia desabafei com a Isabel, a minha mulher, que se eu fosse primeiro-ministro e tivesse ouvido uma tirada destas, mandaria de imediato o ministro passar pela tesouraria em direcção à porta da rua...
A Isabel, mais sensata do que eu, respondeu-me de imediato que nenhum ministro da educação teria a coragem de uma atoarda destas se não tivesse as "costas bem quentes" e que o senhor primeiro-ministro deve estar completamente ao corrente e até estimular ideias destas para serem palco de debate público.
A Isabel sabe que não há melhor para animar a ‘silly season' do que ‘silly ideas'. Além do mais desfoca a atenção para o descalabro da execução orçamental e para o imparável aumento do saldo da dívida pública (que cresce este ano à razão de 2,2 milhões de euros à hora!). Acresce que a proposta provoca sempre o apoio massivo dos estudantes numa altura em que se lhes vai exigir levantar mais cedo para andar mais a pé até à sua escola (porque a da aldeia mais perto vai fechar), ou pedir para se enlatarem mais em turmas mais apinhadas porque não há dinheiro para pagar a mais professores e manter assim os actuais rácios de alunos por turma.
Isto é, como se prevêem dificuldades orçamentais com impacto na qualidade do serviço prestado usa-se o caminho mais fácil, isto é, promete-se o céu dos cábulas (o que não impede que os bons alunos aproveitem).
Confesso que a ideia de reprovar é má. Os meninos podem até ficar traumatizados e nunca mais fazerem nada na vida... Eu chumbei no exame do Código da Estrada. Xi!... Fiquei tão traumatizado!... Paguei nova inscrição em exame à custa de mais explicações que tive de dar e de uma cervejas a menos com os amigos, fiquei umas dezenas de horas a mais em casa, sozinho, a decorar as regras de trânsito e os sinais, e voltei, teimosamente a exame. Resultado: passei! Mas que ideia esta tão bizarra de "chumbar" alguém e de o fazer rever as matérias que não percebeu ou que não teve paciência para estudar...
Se hoje, apesar de haver reprovações, os meninos que chegam às universidades têm enormes dificuldades em escrever duas ideias seguidas, argumentando sem erros gramaticais, não sabendo a tabuada, não conseguindo em muitos casos ter a noção de conceitos abstractos como os de dízima infinita e respondendo nos exames como se estivessem a escrever um SMS, como será quando não tivermos reprovações?
E não sei se a ideia de um percurso alternativo com a legião dos "ex-reprovados" é melhor do que ir integrando alunos repetentes nas turmas de andamento normal. Mas afinal os meninos são retardados, ou carentes de métodos de trabalho?
Quando ouvi a notícia desabafei com a Isabel, a minha mulher, que se eu fosse primeiro-ministro e tivesse ouvido uma tirada destas, mandaria de imediato o ministro passar pela tesouraria em direcção à porta da rua...
A Isabel, mais sensata do que eu, respondeu-me de imediato que nenhum ministro da educação teria a coragem de uma atoarda destas se não tivesse as "costas bem quentes" e que o senhor primeiro-ministro deve estar completamente ao corrente e até estimular ideias destas para serem palco de debate público.
A Isabel sabe que não há melhor para animar a ‘silly season' do que ‘silly ideas'. Além do mais desfoca a atenção para o descalabro da execução orçamental e para o imparável aumento do saldo da dívida pública (que cresce este ano à razão de 2,2 milhões de euros à hora!). Acresce que a proposta provoca sempre o apoio massivo dos estudantes numa altura em que se lhes vai exigir levantar mais cedo para andar mais a pé até à sua escola (porque a da aldeia mais perto vai fechar), ou pedir para se enlatarem mais em turmas mais apinhadas porque não há dinheiro para pagar a mais professores e manter assim os actuais rácios de alunos por turma.
Isto é, como se prevêem dificuldades orçamentais com impacto na qualidade do serviço prestado usa-se o caminho mais fácil, isto é, promete-se o céu dos cábulas (o que não impede que os bons alunos aproveitem).
Confesso que a ideia de reprovar é má. Os meninos podem até ficar traumatizados e nunca mais fazerem nada na vida... Eu chumbei no exame do Código da Estrada. Xi!... Fiquei tão traumatizado!... Paguei nova inscrição em exame à custa de mais explicações que tive de dar e de uma cervejas a menos com os amigos, fiquei umas dezenas de horas a mais em casa, sozinho, a decorar as regras de trânsito e os sinais, e voltei, teimosamente a exame. Resultado: passei! Mas que ideia esta tão bizarra de "chumbar" alguém e de o fazer rever as matérias que não percebeu ou que não teve paciência para estudar...
Se hoje, apesar de haver reprovações, os meninos que chegam às universidades têm enormes dificuldades em escrever duas ideias seguidas, argumentando sem erros gramaticais, não sabendo a tabuada, não conseguindo em muitos casos ter a noção de conceitos abstractos como os de dízima infinita e respondendo nos exames como se estivessem a escrever um SMS, como será quando não tivermos reprovações?
E não sei se a ideia de um percurso alternativo com a legião dos "ex-reprovados" é melhor do que ir integrando alunos repetentes nas turmas de andamento normal. Mas afinal os meninos são retardados, ou carentes de métodos de trabalho?
A menos que o "percurso alternativo" seja uma questão de semântica, apenas para iludir o pagode não passando de um "chumbo alternativo"".
João Duque
Diário Económico
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