quinta-feira, setembro 22, 2011

Entrevista da secretária de estado do ensino básico e secundário

"O Ministério introduziu o exame de 6.º ano. Quanto vai valer na nota final?
Para já vai ter um peso de 25 por cento para a nota final, durante um período inicial, enquanto a medida e o seu impacto estiver sob análise. Quando se introduziu exames no 9.º também começaram por valer 25%. Para avaliar a resposta dos alunos, dos professores, o impacto que tem na avaliação e aprendizagem dos alunos. É o primeiro ano e vamos começar com peso mais moderado e depois teremos possibilidade de incrementar ou não essa ponderação para a nota final.

Esse peso na nota final não dá para passar ou chumbar de ano...
 Não introduz diferenças, mas ajuda que professores e alunos trabalhem para uma meta clara, tendo consciência que, mesmo que a nota final não seja determinada pela prova de avaliação externa, para todos os efeitos tem o seu peso. Já existe aqui um elemento de avaliação externa comum todas as escolas. O segundo aspecto é que, mesmo não contando, estamos a habituar os alunos a trabalhar sendo avaliados. A ideia de que o nosso trabalho é submetido a avaliação e que nos devolve, sob a forma de resultados, quais as áreas em que o aluno está a aprender o que é suposto ou onde apresenta dificuldades, é também muito importante. É um excelente momento para detectar a nivel nacional quais as áreas em que há mais dificuldades. É bom para o professor, para determinar o plano de trabalho mais adequado àquela turma, como é útil para o sistema educativo.
Também vai haver exames no final do 4.º ano?
É nossa intenção introduzir exames nos 4.º ano. Julgo que não será difícil, tal como não foi difícil passar das provas de aferição para exames.

O Acordo Ortográfico entra em vigor nas escolas este ano lectivo. Os alunos serão penalizados se escreverem com a grafia antiga ou podem escrever das duas maneiras?
Para já, podem escrever das duas maneiras. Nenhum aluno será penalizado pela utilização da anterior grafia. E isto porque existe um período de transição óbvio. Tem de haver um período em que estejam expostos de forma sistemática à nova ortografia. A segunda razão é que os manuais têm um período de vigência e está acordado com as editoras quando vão ser substituídos. A nova grafia só será exigida aos alunos depois de todos os manuais estarem adaptados e depois de os alunos estarem expostos aos novos manuais por um período de dois anos. Não haverá nenhuma penalização a um aluno que escreva com a anterior grafia. A excepção são os alunos que entram agora para o 1º ano que vão começar a aprender com a nova grafia.
Nos exames, quando será obrigatória a nova grafia?
Só a partrir de 2014/2015 é que os alunos serão todos obrigados a dominar a nova grafia nos exames.
Então, nos testes ao longo do ano os professores não devem penalizar os alunos? Não devem ser penalizados na avaliação externa e interna. Isto não significa que os alunos não devam introduzir já a nova grafia. Devem-no fazer nos documentos, nos diapositivos, no que escrevem no quadro e nos enunciados nos testes. Mas se um aluno escrever com a anterior grafia nao pode ser penalizado.
Que alterações curriculares estão previstas?
É nossa intenção fazer a restruturação profunda de toda a organização curricular. Demos um primeiro passo com o reforço do ensino do Português e da Matemática no Básico.
É nossa intenção universalizar o ensino pré-escolar e alargar a idades mais precoces. Isto porque a educação pré-escolar é um nível de educação que se tem mostrado importantíssimo para o sucesso escolar. As crianças que frequentaram o pré-escolar estão mais habituadas ao contexto de sala de aula, mais autónomas, mais desenvolvidas do ponto de vista cognitivo e da motricidade, e mais preparadas para as aprendizagens escolares. Queremos estabelecer metas muito claras, que aprendizagens devem ser feitas: o que é que uma criança de 5 anos deve ter aprendido no final do pré-escolar. Outra área que gostaríamos de reforçar é o ensino da língua estrangeira desde o primeiro ciclo, para permitir que no final do percurso escolar os alunos tenham bons conhecimentos a português, matemática e uma língua estrangeira.É fundamental para qualquer área.

Isso implica que o inglês ensinado nas AEC passasse para o curriculo?
Pelo menos que ficasse disponível a todas as crianças de forma obrigatória. Estamos a equacionar essa possbilidade.

Quais os objectivos?
O nosso objectivo é reforçar as disciplinas estruturantes e elevar a qualidade, reforçando a carga lectiva e redefinindo as metas de aprendizagem. Temos de ter metas de aprendizagem por ciclo educativo que digam de forma muito clara para professores, alunos e pais, o que deve saber o aluno no final do 1.º ciclo. Como deve saber ler, que tipo de palavras e textos, com que ritmo, que velocidade. Na matemática, que tipo de operações de raciocínio, cálculos, deve ser capaz de fazer. Isto deve estar feito de forma muito objectiva e cientificamente rigorosa. Se vamos redefinir metas, os programas também terão de ser revistos. Alguns conteúdos provavelmente manter-se-ão, outros terão de ter a revisão de um ou outro aspecto.
A fusão dos 1.º e 2.º ciclos é uma hipótese?
Durante este ano lectivo vamos colocar em cima da mesa várias possibilidades, fazer o levantamento das vantagens pedagógicas e científicas de cada proposta e será levado a debate com os diferentes parceiros.
O fim do par pedagógico em Educação Visual e Tecnológica é para avançar?
Talvez. Essa questão tem de ser analisada tendo em conta o programa de EVT e as necessidades das outras disciplinas. Em função da revisão do seu programa, se tomará uma posição em relação à necessidade de haver par pedagógico ou não.
Tem sido muito criticado o facto de a nota de Educação Física no Secundário contar para a média de acesso ao ensino superior. Pondera alterar isto?
Acho que tem de ser reanalisado. Se pensarmos num aluno que quer prossguir estudos numa área como medicina, economia ou engenharia, temos de considerar se é justo, correcto e se faz sentido. É importante ter prática desportiva para quem quer seguir essa via e para criar hábitos de vida saudáveis, o desporto deve fazer parte do nosso quotidiano. Se deve ou não determinar o nosso futuro, do ponto de vista do percurso escolar, acho que tem de ser pensado.
Estão previstas alterações ao Estatuto do Aluno, de modo a aumentar a disciplina?
Queremos processos mais rápidos, maior responsabilidade dos alunos e das famílias quando os comportamentos não são adequados, maior capacidade de resposta dos professores e escolas, maior optimização do gabinete de segurança escolar e dos seus recursos para escolas com índices de ocorrências mais elevados. A maioria das escolas tem bom ambiente e temos de nos centrar nas escolas que apresentam maior risco de ocorrências, dar mais meios a essas escolas.
Os alunos vão voltar a chumbar por faltas?
Neste momento estamos precisamente a trabalhar, e em breve daremos conhecimento dos resultados, sobre como é feita a avaliação dos alunos, quer a sumativa interna quer a externa, de como estes dois elementos se conjugam para determinar aprovação ou retenção. Ninguém nesta equipa ministerial defende uma ideia de facilitismo. Se os alunos não cumprirem com a sua presença e não cumprirem as suas metas de aprendizagem, se não tiverem o desempenho escolar que permita ter notas positivas, não será facilitada a sua aprovação. As regras são claras. Vão continuar a existir planos de recuperação, com o objectivo, na verdadeira acepção do termo, de recuperar os alunos, identificar as áreas em que têm mais fragilidades.
O discurso da exigência é recorrente nesta equipa. Vamos ter exames mais exigentes?
Vamos ter exames exigentes sempre, neste e nos próximos anos, exames que mostrem de forma real aquilo que os alunos aprenderam face aos programas, é isso que vai ser avaliado. Não vamos facilitar, utilizando provas mais acessíveis, onde mais alunos alcançam melhores resultados. O objectivo é que a prova avalie se o aluno adquiriu os conhecimentos que estavam no programa. E se não adquiriu, a estrutura da prova deve permitir identificar as áreas onde fez boas aprendizagens e onde apresenta dificuldades. Só esta forma de avaliar exigente e que permita decompor os conhecimentos é que nos vai permitir actuar de forma eficaz".

CM

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