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JOSÉ CANAVARRO, ex-secretário de Estado da Educação
Que razões explicam a elevada e persistente taxa de abandono escolar, que é mais do dobro da média da UE?
Haverá condições socioeconómicas que podem explicar o fenómeno, combinadas com falhas de orientação profissional por parte do sistema de ensino. Mas a investigação internacional que existe sobre o assunto demonstra que não são os períodos de crise económica que são responsáveis pelo aumento do abandono escolar. Porque quando há recessão há menos emprego e alternativas para os jovens no mercado de trabalho.
Se a crise económica está afastada, que outras razões?
O Governo está a fazer uma aposta meritória nos cursos profissionalizantes, embora os resultados só devam começar a aparecer em 2009 ou 2010. Ainda não se conhecem os resultados dessas apostas, que foram introduzidas no último ano lectivo. Mas o essencial é que a orientação escolar e profissional tem falhado. É preciso repensar toda a oferta profissionalizante a partir do 3.º ciclo do ensino básico. Ou seja, ao contrário do que acontece agora, a oferta profissionalizante deveria começar logo no 7.º ano e não no 9.º. Porque desde relativamente cedo se conseguem perceber as capacidades cognitivas dos alunos e os seus níveis de interesse.
O Ministério da Educação deve apostar mais na orientação profissional?
É crucial que o ministério contrate mais pessoal especializado na orientação profissional, porque actuar num aluno em risco só a partir dos 15 anos já é muito tarde. Esse trabalho deve ser feito em articulação com as famílias dos alunos em risco.
Não deveríamos estar já a convergir de forma muito mais rápida com a média da União Europeia?
Absolutamente. Penso que as prioridades do Governo têm estado mais centradas na qualificação de adultos, através dos centros de novas oportunidades, do que nos jovens, que permitem uma qualificação muito rápida, a meu ver, rápida demais. Isso permite mudar mais rapidamente as estatísticas comparativas da população em geral e melhorar a imagem de Portugal. Mas a qualificação dos adultos não se reflecte na estatística do abandono escolar.
Porque há uma tão grande disparidade (15 pontos) entre a taxa de abandono escolar dos rapazes e das raparigas? E em Portugal é três vezes maior do que na UE...
Os estudos dizem que desde os quatro anos de idade, as meninas pontuam 10% acima dos rapazes em capacidades cognitivas e de memória, sendo os rapazes mais indisciplinados. Isto é a regra. Mas num país como o nosso, em que ainda é possível sair da escola para ir trabalhar nas obras e noutro tipo de trabalho desqualificado, as condições para o abandono escolar são facilitadas".
Que razões explicam a elevada e persistente taxa de abandono escolar, que é mais do dobro da média da UE?
Haverá condições socioeconómicas que podem explicar o fenómeno, combinadas com falhas de orientação profissional por parte do sistema de ensino. Mas a investigação internacional que existe sobre o assunto demonstra que não são os períodos de crise económica que são responsáveis pelo aumento do abandono escolar. Porque quando há recessão há menos emprego e alternativas para os jovens no mercado de trabalho.
Se a crise económica está afastada, que outras razões?
O Governo está a fazer uma aposta meritória nos cursos profissionalizantes, embora os resultados só devam começar a aparecer em 2009 ou 2010. Ainda não se conhecem os resultados dessas apostas, que foram introduzidas no último ano lectivo. Mas o essencial é que a orientação escolar e profissional tem falhado. É preciso repensar toda a oferta profissionalizante a partir do 3.º ciclo do ensino básico. Ou seja, ao contrário do que acontece agora, a oferta profissionalizante deveria começar logo no 7.º ano e não no 9.º. Porque desde relativamente cedo se conseguem perceber as capacidades cognitivas dos alunos e os seus níveis de interesse.
O Ministério da Educação deve apostar mais na orientação profissional?
É crucial que o ministério contrate mais pessoal especializado na orientação profissional, porque actuar num aluno em risco só a partir dos 15 anos já é muito tarde. Esse trabalho deve ser feito em articulação com as famílias dos alunos em risco.
Não deveríamos estar já a convergir de forma muito mais rápida com a média da União Europeia?
Absolutamente. Penso que as prioridades do Governo têm estado mais centradas na qualificação de adultos, através dos centros de novas oportunidades, do que nos jovens, que permitem uma qualificação muito rápida, a meu ver, rápida demais. Isso permite mudar mais rapidamente as estatísticas comparativas da população em geral e melhorar a imagem de Portugal. Mas a qualificação dos adultos não se reflecte na estatística do abandono escolar.
Porque há uma tão grande disparidade (15 pontos) entre a taxa de abandono escolar dos rapazes e das raparigas? E em Portugal é três vezes maior do que na UE...
Os estudos dizem que desde os quatro anos de idade, as meninas pontuam 10% acima dos rapazes em capacidades cognitivas e de memória, sendo os rapazes mais indisciplinados. Isto é a regra. Mas num país como o nosso, em que ainda é possível sair da escola para ir trabalhar nas obras e noutro tipo de trabalho desqualificado, as condições para o abandono escolar são facilitadas".
Entrevista publicada no
Diário de Notícias
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