segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Que avaliação de docentes?

"O actual diploma sobre a avaliação de docentes contém uma série de omissões e arbitrariedades e levará, na sua aplicação concreta, a situações graves, considerando que estamos a falar da vida pessoal e profissional de milhares de professores, com reflexos imediatos na qualidade do ensino futuro do país.
Na prática (e falo de casos concretos e reais que conheço), teremos professores de Educação Visual a avaliar a competência técnica e pedagógica de professores de Educação Física. Um professor de Geografia, do 8º escalão, a aferir a qualidade de ensino de um professor titular do 10º escalão, coordenador na escola, do agrupamento de Economia ou Contabilidade. Um professor de Biologia a verificar a justeza do planeamento de Matemática e da adequação dos seus testes escritos aos alunos de cada turma. Etc.
A propalada justificação de que nem todos os militares poderão chegar a generais, como gostavam de dizer os responsáveis pela política educativa, passa então, no nosso insólito sistema de ensino, por esta via: um sargento da Marinha, a quem nunca foi exigido sequer se sabe nadar, irá aferir da competência de um general aviador certificando que está em condições de voar. E ambos foram “encartados” pelo sistema de pontos do tal concurso de titulares.
A necessidade de ultrapassar os “indicadores de medida” levará os professores a “puxar” cada vez mais as classificações dos seus alunos, que em breve atingirão os vinte valores. Só que, com uma diferença: o professor que tiver exames finais será confrontado, com a diferença entre a sua classificação e a dos exames. Os professores sem exames finais…nem por isso.
Teremos professores beneficiados na avaliação porque, de antemão, têm cargos atribuídos nos horários ou integram actividades diversas (e isto dependeu, em larga medida, das necessidades do preenchimento de horários). Teremos professores beneficiados à partida na avaliação do item da “relação com a comunidade”, em função da presença dos pais nas reuniões das turmas dos centros mais urbanos ou dos cursos que leccionam (vejam-se os cursos técnicos ligados à Acção Social, por exemplo).
E onde está o tempo para preencher fichas atrás de fichas, proposta do avaliado, planos, autoavaliações, instrumentos de registo, planos de aulas… E as aulas? E os testes? E as aulas de substituição? E as reuniões que, para resolver estes problemas, já duram seis e sete horas? E as reuniões entre coordenadores e professores a avaliar, nalguns casos em números bem elevados? E as acções de formação que continuam obrigatórias? E como se avaliam os professores sem funções docentes? Ah, diz o diploma que “pelo serviço que lhes tiver sido distribuído pelo Órgão Executivo” e ponto final. Uma avaliação equitativa, objectiva, rigorosa. Não é?
Pede-se uma intervenção urgente do Presidente da República. Hoje, há revolta, humilhação, desmotivação, cansaço entre os docentes".

F.A.
Professor do 10º escalão
Jornal Sol

2 comentários:

Anónimo disse...

"Cansaço entre os docentes", concordo plenamente!
E o Presidente da República, de facto, além de discursos e discursos, pouco ou nada faz para impedir estas atrucidades ministeriais.
Ainda bem que existem estes blogs e estes jornais que ainda não se cansaram das denúncias!

Anónimo disse...

A verdade começa a vir ao de cima... Estou para ver como é que o Ministério se vai desenrascar desta burocratização da Educação!!! Quando bater bem lá no fundo...