"Tenho a fundada convicção que Nuno Crato é o pior ministro da educação de
Portugal, desde o 25 de abril, pois consegue juntar o pior de dois males para
quem ocupa aquelas funções: a sua ação é condicionada pelo preconceito
ideológico em relação ao passado recente da nossa escola pública e as medidas
que emanam da sua equipa revelam um profundo desconhecimento da realidade do
nosso sistema de educativo. Sublinho que esta minha apreciação não decorre de
leituras partidárias, já que considero que outros ministros do PSD, como David
Justino e até Roberto Carneiro, tiveram desempenhos competentes e inovadores.
Crato deslumbra-se consigo mesmo, parecendo crer que a história começou há pouco
mais de um ano e, como tal, pretende fazer tábua-rasa de tudo o que foi sendo
feito pelos seus predecessores. As suas palavras brandas embrulhadas em retórica
sedutora são contraditas pela sua própria prática como, por exemplo, quando
anuncia que o próximo ano letivo será dedicado à ciência, mas simultaneamente,
retira horas curriculares a Biologia e Química no 12º ano, dificulta a gestão
horária do ensino experimental nos 2º e 3º ciclos ou sufoca financeiramente a
Fundação de Ciência e Tecnologia que apoia a investigação científica. Assegura
que pretende reforçar a disciplina nas escolas através de um novo e polémico
estatuto do aluno, mas ao impor a formação de mega-agrupamentos e a redução de
horas das equipas das direções escolares, induz maiores dificuldades de gestão
de proximidade e de atuação pronta em eventuais casos de indisciplina. Anuncia
com pompa e gaudio o reforço da autonomia das escolas, mas nunca se viu tanta
regulamentação espartilhante, inútil ou e de difícil aplicação como a que,
recentemente, tem sido publicada. Diz querer uma escola pública eficaz e
relevante, mas coloca obstáculos à abertura dos cursos profissionais,
desqualifica disciplinas consideradas “ menos académicas” e enreda-se na sua
própria armadilha dos mil e um exames como certificação definitiva de qualidade.
Faz aprovar a lei do alargamento da escolaridade obrigatória para os 12 anos,
mas não dá os necessários passos no enquadramento estrutural, humano e material
desse objetivo. Com Nuno Crato e a sua equipa de secretários de estado, a escola
pública portuguesa corre, de facto, o perigo de se tornar uma “escola pobre para
pobres”, minimalista nas condições de eficiência e maximalista no controlo de
resultados, acentuando, pelo caminho, as diferenças entre escolas, sem olhar ao
seu contexto.
O que é dramático é que a opinião pública, compreensivelmente
mais preocupada com as dificuldades crescentes da vida, ainda não deu conta
deste meticuloso e brutal ataque que o sistema educativo está a ser alvo. É
preciso fazer passar a mensagem, com caráter de urgência!"
Pedro Biscaia
Sem comentários:
Enviar um comentário