"Bateu-me à porta do e-mail, leve, levemente, uma mensagem de uma professora.
Fui ver e, realmente, a neve caía. Abri e deparei-me com um comentário a um
documento do Ministério da Educação a definir as metas que os professores do
ensino básico têm de cumprir .
Queixa-se a assinante do e-mail que, na prática, se introduzem tantas
alterações ao programa - já de si novo - que vai ser uma confusão para os
docentes entenderem o que devem fazer. Isso não me comoveu muito. Mas a
descrição seguinte levou-me às lágrimas.
Por exemplo, no ano que corresponde à minha 3.ª classe de há muito tempo os
alunos têm de aprender a contar até um milhão. Muito bem, está certíssimo. Mas
nesse mesmo ano letivo em que têm de perceber uma coisa tão básica também têm, e
passo a citar, de "identificar uma esfera como a reunião de uma superfície
esférica com a respetiva parte interna".
Uaau! Será que algum professor vai conseguir meter aquilo na cabeça dos
meninos? E na sua própria cabeça? Bendita tabuada recitada de cor e benditos
percursos dos caminhos de ferro das então colónias dos meus oito anos!
Mas há mais. Também no primeiro ciclo os miúdos até aos 10 anos têm de
"reconhecer o plano determinado por três pontos A, B e C, não colineares como a
união de seis ângulos convexos: os três ângulos convexos por eles determinados e
os respetivos ângulos verticalmente opostos". Para quem está em idade de pegar
num transferidor pela primeira vez, não está nada mal.
No mesmo e-mail são apresentados exemplos de tratos semelhantes no 2.º ciclo.
Achei graça àquele que pede aos alunos do 6.º ano para partirem do algoritmo de
Euclides para deduzirem o "Teorema Fundamental da Aritmética". Para quem não
saiba, a sua definição é esta: "Todos os números inteiros positivos maiores que
um podem ser decompostos num produto de números primos, sendo esta decomposição
única a menos que haja permutações dos fatores." É simples não é?... Espero que
esteja certo, pois roubei isto na Wikipédia. E obrigar uma plateia a "deduzir"
tal matéria em salas com 30 alunos de 12 anos é mesmo uma brincadeira de
crianças, não é para levar a sério.
Claro que estamos todos de acordo que o nível de exigência no ensino básico
deve ser elevado, que não podemos pactuar com o laxismo, mas parece-me que
alguém no ministério de Nuno Crato, não sei se o próprio ministro, com tanto
corte de orçamento, tanto professor a despedir e tanta reforma curricular
congeminada em gabinetes secretos, acabou a perder o sentido da
realidade".
Pedro Tadeu
DN
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