terça-feira, julho 03, 2012

Nuno Crato vai criar uma data de génios

"Bateu-me à porta do e-mail, leve, levemente, uma mensagem de uma professora. Fui ver e, realmente, a neve caía. Abri e deparei-me com um comentário a um documento do Ministério da Educação a definir as metas que os professores do ensino básico têm de cumprir .
Queixa-se a assinante do e-mail que, na prática, se introduzem tantas alterações ao programa - já de si novo - que vai ser uma confusão para os docentes entenderem o que devem fazer. Isso não me comoveu muito. Mas a descrição seguinte levou-me às lágrimas.
Por exemplo, no ano que corresponde à minha 3.ª classe de há muito tempo os alunos têm de aprender a contar até um milhão. Muito bem, está certíssimo. Mas nesse mesmo ano letivo em que têm de perceber uma coisa tão básica também têm, e passo a citar, de "identificar uma esfera como a reunião de uma superfície esférica com a respetiva parte interna".
Uaau! Será que algum professor vai conseguir meter aquilo na cabeça dos meninos? E na sua própria cabeça? Bendita tabuada recitada de cor e benditos percursos dos caminhos de ferro das então colónias dos meus oito anos!
Mas há mais. Também no primeiro ciclo os miúdos até aos 10 anos têm de "reconhecer o plano determinado por três pontos A, B e C, não colineares como a união de seis ângulos convexos: os três ângulos convexos por eles determinados e os respetivos ângulos verticalmente opostos". Para quem está em idade de pegar num transferidor pela primeira vez, não está nada mal.
No mesmo e-mail são apresentados exemplos de tratos semelhantes no 2.º ciclo. Achei graça àquele que pede aos alunos do 6.º ano para partirem do algoritmo de Euclides para deduzirem o "Teorema Fundamental da Aritmética". Para quem não saiba, a sua definição é esta: "Todos os números inteiros positivos maiores que um podem ser decompostos num produto de números primos, sendo esta decomposição única a menos que haja permutações dos fatores." É simples não é?... Espero que esteja certo, pois roubei isto na Wikipédia. E obrigar uma plateia a "deduzir" tal matéria em salas com 30 alunos de 12 anos é mesmo uma brincadeira de crianças, não é para levar a sério.
Claro que estamos todos de acordo que o nível de exigência no ensino básico deve ser elevado, que não podemos pactuar com o laxismo, mas parece-me que alguém no ministério de Nuno Crato, não sei se o próprio ministro, com tanto corte de orçamento, tanto professor a despedir e tanta reforma curricular congeminada em gabinetes secretos, acabou a perder o sentido da realidade".

Pedro Tadeu
DN

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