terça-feira, novembro 24, 2009

Nem todos os professores se sentem preparados para dar Educação Sexual

"A educação sexual nas escolas devia passar por um gabinete multidisciplinar de apoio ao aluno, defendem professores de Bragança que frequentaram uma formação nesta área e que alertam que nem todos os docentes estão preparados para abordar o tema.
Um grupo de 18 docentes de Filosofia e Ciências frequentou, nos últimos meses, formação sobre educação sexual, no âmbito da formação contínua de professores. Porém, mesmo com formação, a maioria manifesta reservas em relação ao modelo e questiona mesmo a "utilidade" da educação sexual nas aulas.
"O problema é a falta de conhecimento nos domínios todos para responder a miúdos com 16 ou 17 anos. Não me vejo capacitado para responder com algum rigor a todos os problemas que eles têm", disse à Lusa Valdemar Roca, professor de Filosofia.
Os docentes das áreas das ciências conseguem abordar a questão com mais "objectividade", porém torna-se "complicado quando ultrapassa a dimensão biológica e entra nos afectos", o que acontece com os professores de Filosofia, na opinião de Berta Alves.

Receios do que acontecerá à comunidade escolar

Acresce ainda, segundo outro docente, Sérgio Barros, que "muitos conselhos executivos não estão preparados para lidar com esta temática, têm receio daquilo que vai acontecer com a comunidade escolar, qual vai ser a reacção dos pais".
Todos concordam que "muito mais do que aulas de educação sexual devia haver uma equipa com todos os técnicos para estar a tempo inteiro [disponível], não só uma hora ou duas por semana, para responder aos problemas que surgem todos os dias".
A formadora Tânia Pires foi confrontada com "os constrangimentos e resistências" nesta acção incluída no plano de formação contínua de professores do Centro Bragança Norte.
"Há muita resistência e não significa que seja por não terem conhecimento e não terem formação, é mais "como é que eu transmito esta informação", disse à Lusa.
Segundo explicou, os docentes "têm receio de ser mal interpretados e é muito difícil para pessoas habituadas a dar respostas objectivas, do que é certo e do que é errado, numa temática destas não o puderem fazer".

"Porque é que ainda estamos sem educação sexual?"

A formação, que se prolongou de Julho ao final de Outubro, serviu para "dar ferramentas para dar respostas que levem as pessoas [os alunos] a reflectir e adaptar as abordagens ao nível de desenvolvimento dos alunos".
O professor Valdemar Roca tem ainda "reservas sobre a importância para os jovens": "Nós temos uma fartura de despachos, de diplomas, de estudos, de trabalhos e eu pergunto-me: se o poder político desde 1971 até hoje anda a falar tanto disto e isto é tão importante porque é que ainda estamos sem educação sexual?".
Uma resposta a esta pergunta, na opinião do docente, está na lei que dedica seis ou 12 horas ao tema na carga lectiva e "está no último diploma publicado em Agosto".
"Saiu uma lei que devia ser regulamentada no prazo de sessenta dias, acabou o período de regulamentação e nós ficámos na mesma. Ou seja, será que há mesmo necessidade?", sustentou.
Os docentes perguntam ainda como é que vão "definir objectivos concretos e universais" sobre o tema, no âmbito dos objectivos que têm de apresentar no processo de avaliação".

Expresso

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