domingo, março 14, 2010

IlÍdio Trindade em entrevista ao DN

"Um professor em Sintra terse-á suicidado por não conseguir lidar com os graves problemas de disciplina numa das turmas. É um caso único em Portugal?

Não é caso único. O que posso dizer--lhe é que conheço um caso de um professor que tem intenções semelhantes. Tenho tentado ajudar e creio que o problema está quase ultrapassado. Mas é muito complicado.

Como se chega a uma situação-limite como esta?

O exercício da função docente, sobretudo no 3.º ciclo do ensino básico e no secundário, não é nem nunca foi fácil. Mas é cada vez mais difícil. E o actual Estatuto do Aluno veio complicar ainda mais. Depois, toda a exigência burocrática também não ajuda.

É muito difícil ser professor em Portugal?

O exercício profissional pede um suporte emocional e psicológico muito exigente. A percepção que tenho é que cada vez há mais colegas com baixas psicológicas e psiquiátricas. É preciso ter em conta que muitas expectativas de vida foram goradas. Muitos professores gostam de ensinar, e é preciso que se diga isto, mas já não sentem o mesmo prazer que sentiam há alguns anos.

Mais de nove mil professores aposentaram-se em 2008 e 2009...

E muitos dos que se aposentaram não foi só por uma questão monetária, muitos até perderam muito dinheiro. Foi sobretudo pela desmotivação profissional.

As provocações e os insultos ao professor terão sido testemunhados por outros professores, que nada terão feito. Como se explica este isolamento?

A rede de apoio social entre os colegas varia e é bilateral. Há situações em que, por natureza, a pessoa tende a isolar-se e perante isso não se pode fazer muito. Depois, a percepção que tenho, e que não é baseada em dados científicos, é que muitas vezes os professores homens têm maior dificuldade em lidar com estas situações e em pedir ajuda aos colegas.

E é algo que acontece sobretudo com os docentes mais velhos?

Creio que é um problema transversal a toda a classe. Mas os professores mais velhos, porque têm uma consciência mais apurada e vários anos de profissão, tendem a ser mais afectados. E também estão mais desgastados pela carreira.

O sistema de ensino público piorou ou melhorou nos últimos anos?

Estou no ensino há 26 anos e o que tenho a dizer é que a reforma seguinte é sempre pior do que a actual. Em termos de educação, tem-se andado para trás. A todos os níveis. Há coisas aberrantes nas escolas.

É preciso uma grande mudança?

Cada vez mais tenho a certeza de que estamos perante uma manta de retalhos cada vez mais complexa, em que se destapam os pés para tapar a cabeça. É preciso parar, fazer um reset ao sistema e começar do zero".

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