"Passámos de uma ministra de voz grossa, detestada pelos sindicatos de professores e apreciada pelos portugueses, para uma ministra de falinhas mansas, detestada pelos sindicatos e que não é apreciada por ninguém.
Esteve em Portugal, por estes dias, Eric Hanushek, professor da Universidade de Stanford, fundador da Economia da Educação [Nova disciplina que usa os métodos da análise económica e as técnicas da estatística para estudar os problemas educativos, segundo a explicação do matemático Nuno Crato]. Hanushek veio dizer-nos, e tentar provar, que o factor mais importante para o crescimento económico é a educação. Ou seja, que cada euro investido na educação de um aluno transforma-se, uns anos depois, numa mão-cheia de euros de riqueza para o país. O professor fez, aliás, jus à nova disciplina e avançou alguns números: "Se, em 20 anos, todos os alunos portugueses chegassem ao nível dos alunos da Finlândia nos resultados do PISA [estudo promovido pela OCDE], o valor do PIB aumentaria 2,1 mil milhões de euros".
Em proveito dos mais cépticos, desconfio que nunca seremos capazes de confirmar as teses e as contas de Hanushek. Pela simples razão de que o nosso Governo decidiu, também por estes dias, que será outro o caminho. Anunciou a intenção de cortar no número de horas para actividades não lectivas nas escolas. O objectivo é, evidentemente, diminuir o número de professores, e com isso poupar uns milhões em salários. O problema é que essa (e já não seria pequena) não será a única consequência.
Por esse país fora, muitas escolas públicas, sobretudo as mais dinâmicas, as que perceberam que uma escola é muito mais do que um mínimo denominador comum, vão ter de acabar com o desporto escolar, com os clubes (sejam eles de matemática, de teatro, de espanhol, de leitura ou de ciências), com as aulas de substituição e mais uma série de tarefas invisíveis, mas fundamentais. A isto soma-se o anúncio anterior de que também terminam, no final deste ano lectivo, disciplinas como a Área Projecto ou o Estudo Acompanhado.
Para citar o director de uma dessas escolas públicas que não se conforma em fazer apenas o mínimo - no caso José Ramos, da Escola Gonçalves Zarco, em Matosinhos - as nossas melhores escolas vão "recuar dez anos". Nada que impressione quem manda no Governo. Como o dinheiro não chega para tudo, estabeleceu prioridades. Os alunos terão escolas piores, mas visitarão Madrid de TGV [dizem que é um projecto que puxa pelo nosso PIB] e verão os nossos mares convenientemente vigiados por dois submarinos [o que puxa pelo PIB dos alemães, que os construíram].
Nota final para falar da evolução do perfil da ministra da Educação. Continua a ser uma mulher, mas passámos de uma ministra de voz grossa, detestada pelos sindicatos de professores e apreciada pelos portugueses, para uma ministra de falinhas mansas, detestada pelos sindicatos dos professores, que não é apreciada por ninguém e cujo único objectivo parece ser desmantelar tudo o que de bom se construiu até aqui".
Esteve em Portugal, por estes dias, Eric Hanushek, professor da Universidade de Stanford, fundador da Economia da Educação [Nova disciplina que usa os métodos da análise económica e as técnicas da estatística para estudar os problemas educativos, segundo a explicação do matemático Nuno Crato]. Hanushek veio dizer-nos, e tentar provar, que o factor mais importante para o crescimento económico é a educação. Ou seja, que cada euro investido na educação de um aluno transforma-se, uns anos depois, numa mão-cheia de euros de riqueza para o país. O professor fez, aliás, jus à nova disciplina e avançou alguns números: "Se, em 20 anos, todos os alunos portugueses chegassem ao nível dos alunos da Finlândia nos resultados do PISA [estudo promovido pela OCDE], o valor do PIB aumentaria 2,1 mil milhões de euros".
Em proveito dos mais cépticos, desconfio que nunca seremos capazes de confirmar as teses e as contas de Hanushek. Pela simples razão de que o nosso Governo decidiu, também por estes dias, que será outro o caminho. Anunciou a intenção de cortar no número de horas para actividades não lectivas nas escolas. O objectivo é, evidentemente, diminuir o número de professores, e com isso poupar uns milhões em salários. O problema é que essa (e já não seria pequena) não será a única consequência.
Por esse país fora, muitas escolas públicas, sobretudo as mais dinâmicas, as que perceberam que uma escola é muito mais do que um mínimo denominador comum, vão ter de acabar com o desporto escolar, com os clubes (sejam eles de matemática, de teatro, de espanhol, de leitura ou de ciências), com as aulas de substituição e mais uma série de tarefas invisíveis, mas fundamentais. A isto soma-se o anúncio anterior de que também terminam, no final deste ano lectivo, disciplinas como a Área Projecto ou o Estudo Acompanhado.
Para citar o director de uma dessas escolas públicas que não se conforma em fazer apenas o mínimo - no caso José Ramos, da Escola Gonçalves Zarco, em Matosinhos - as nossas melhores escolas vão "recuar dez anos". Nada que impressione quem manda no Governo. Como o dinheiro não chega para tudo, estabeleceu prioridades. Os alunos terão escolas piores, mas visitarão Madrid de TGV [dizem que é um projecto que puxa pelo nosso PIB] e verão os nossos mares convenientemente vigiados por dois submarinos [o que puxa pelo PIB dos alemães, que os construíram].
Nota final para falar da evolução do perfil da ministra da Educação. Continua a ser uma mulher, mas passámos de uma ministra de voz grossa, detestada pelos sindicatos de professores e apreciada pelos portugueses, para uma ministra de falinhas mansas, detestada pelos sindicatos dos professores, que não é apreciada por ninguém e cujo único objectivo parece ser desmantelar tudo o que de bom se construiu até aqui".
Rafael Barbosa
JN
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