"A presidente do Conselho Executivo da Escola Básica do 2.º e 3.º ciclos de Pinhal Novo, Palmela, não gosta de ver as raparigas do "seu" estabelecimento de ensino com decotes exagerados e saias muito curtas e os rapazes com boxers fora das calças. Vai daí decidiu proibir tais indumentárias na "sua" escola. São gostos - e os gostos, como se sabe, não se discutem. O que se pode (e deve) discutir é a imposição do gosto. Porque, neste caso, é disso que se trata. Palavras de Natividade Azevedo, a presidente: "A sociedade em que vivemos perverte alguns valores. Enquanto cá estiver vou defender os meus valores".
Coisa extraordinária: a senhora presidente acha que a Escola de Pinhal Novo é uma espécie de coutada que lhe cumpre defender, mas defender de acordo com a sua intransigente escala de valores. Se, por exemplo, a senhora presidente entender que o dia será mais profícuo se os alunos e as alunas rezarem uma avé-maria e dois pais-nossos na primeira aula da manhã, não hesitará em impor a regra…
Posições - ou melhor: imposições - como esta não são novas. Lembro-me de, há uns tempos, o director-geral de Saúde ter decidido que, por estarmos num país modernaço, "todos os serviços dependentes do Ministério da Saúde" não poderiam servir em "coffee-breaks" porcarias daquelas que engordam. Só se aceitariam coisas limpinhas como "leite magro ou meio- gordo, iogurte e outros leites fermentados com um teor de hidratos de carbono nunca superior a 10 gramas por cada 100 gramas" (sic).
Estes novos vigilantes da(s) nossa(s) liberdade(s) são um paradoxal produto da (pós) modernidade: à medida que o indivíduo acrescenta autonomia à sua vida, pululam os agentes apostados em mostrar-lhe o caminho da felicidade asséptica, o caminho da virtude sem ponta de pecado. Gente aborrecida, esta.
O caso da escola merece uma reflexão acrescida. Aos poucos - e por variadíssimas razões, entre elas o desinteresse (propositado ou não) dos pais em relação ao que se passa nos estabelecimentos de ensino em que os seus filhos estudam -, a escola foi-se substituindo à família. Hoje cumpre-lhe não apenas ensinar e instruir, mas também educar, no sentido mais amplo do termo. O rápido crescimento dos jovens, a panóplia de instrumentos que, estando à sua disposição mais cedo, lhes aumentam os conhecimentos, a mudança do conceito de poder paternal, a perda (em muitos casos acentuada) de autoridade dos pais, tudo concorre para que se coloque hoje um conjunto de novos e sérios problemas à escola e aos pais.
O pior que pode acontecer é surgirem neste caminho muitas Natividade Azevedo. Pensar em soluções para estas delicadas matérias a partir de uma fechada escala de valores que vê nas saias curtas e decotes a porta para o pecado é triste, lamentável e perigoso".
Coisa extraordinária: a senhora presidente acha que a Escola de Pinhal Novo é uma espécie de coutada que lhe cumpre defender, mas defender de acordo com a sua intransigente escala de valores. Se, por exemplo, a senhora presidente entender que o dia será mais profícuo se os alunos e as alunas rezarem uma avé-maria e dois pais-nossos na primeira aula da manhã, não hesitará em impor a regra…
Posições - ou melhor: imposições - como esta não são novas. Lembro-me de, há uns tempos, o director-geral de Saúde ter decidido que, por estarmos num país modernaço, "todos os serviços dependentes do Ministério da Saúde" não poderiam servir em "coffee-breaks" porcarias daquelas que engordam. Só se aceitariam coisas limpinhas como "leite magro ou meio- gordo, iogurte e outros leites fermentados com um teor de hidratos de carbono nunca superior a 10 gramas por cada 100 gramas" (sic).
Estes novos vigilantes da(s) nossa(s) liberdade(s) são um paradoxal produto da (pós) modernidade: à medida que o indivíduo acrescenta autonomia à sua vida, pululam os agentes apostados em mostrar-lhe o caminho da felicidade asséptica, o caminho da virtude sem ponta de pecado. Gente aborrecida, esta.
O caso da escola merece uma reflexão acrescida. Aos poucos - e por variadíssimas razões, entre elas o desinteresse (propositado ou não) dos pais em relação ao que se passa nos estabelecimentos de ensino em que os seus filhos estudam -, a escola foi-se substituindo à família. Hoje cumpre-lhe não apenas ensinar e instruir, mas também educar, no sentido mais amplo do termo. O rápido crescimento dos jovens, a panóplia de instrumentos que, estando à sua disposição mais cedo, lhes aumentam os conhecimentos, a mudança do conceito de poder paternal, a perda (em muitos casos acentuada) de autoridade dos pais, tudo concorre para que se coloque hoje um conjunto de novos e sérios problemas à escola e aos pais.
O pior que pode acontecer é surgirem neste caminho muitas Natividade Azevedo. Pensar em soluções para estas delicadas matérias a partir de uma fechada escala de valores que vê nas saias curtas e decotes a porta para o pecado é triste, lamentável e perigoso".
Paulo Ferreira
JN
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