"A educação sexual não me suscita nenhum sentimento particular, excepto incompreensão pelos seus mais vigorosos opositores, que olham o sexo descomprometido pelo lado pecaminoso, e compaixão pelos seus mais ardentes apoiantes, que terão sofrido imenso na juventude graças a lacunas informativas na matéria. No site do Bloco de Esquerda, por exemplo, um rapaz com idade para ter juízo (e experiência) ainda acha que o preservativo deve ser "uma parte excitante e divertida do jogo sexual". O rapaz excita-se (e diverte-se) com pouco, mas adiante.
Contas feitas, visto que os programas curriculares desistiram de ensinar matemática e português, arece-me inócuo que ex-pliquem às criancinhasas doenças sexualmente transmissíveis e o aparelho reprodutor, embora, na generalidade das situações, o que as criancinhas reproduzem são os ensinamentos que adquirem (ou não adquirem) em casa, na vizinhança, na televisão e na Internet.
O que me escapa é a necessidade urgente da distribuição de contraceptivos nos liceus. Para mim, espero que evidentemente, o problema é logístico e não moral, e prende-se com a seguinte questão: porquê? Além da vontade de irritar a Igreja e da eventual comissão da Durex, não faço ideia. Como lembram os próprios defensores da "causa", os preservativos estão disponíveis gratuitamente nos centros de saúde e, para os remediados, nas lojas de conveniência, farmácias, supermercados, etc.
Mesmo admitindo que são essenciais à vida sexual das crianças, em si uma questão polémica (se formos rigorosos, o único utensílio decisivo para a vida sexual de meninos e meninas é um parceiro do sexo oposto ou, consoante os gostos, de sexo idêntico - o resto é adereço), o facto é que os contraceptivos se encontram ao alcance de qualquer um. Dá-los na escola faz tanto sentido quanto doar no recreio cartões de telemóvel pré-pagos, para citar outro pechisbeque que a petizada apreciará.
Isto é, não faz sentido nenhum, especialmente se os estabelecimentos de ensino apelarem às relações seguras e não fornecerem os meios para as relações em geral. Uma proposta verdadeiramente "fracturante" não promoveria a contracepção sem promover, também no espaço escolar, a edificação de motéis suportados pelo erário público. Aí, sob espelhos no tecto e sobre camas de água no chão, a escola, que abdicou de instruir, cumpriria plenamente as funções que a contemporaneidade lhe exige: manter as crianças ocupadas, protegidas e, reza o jargão em voga, realizadas. Em princípio, o sexo ocupa e o preservativo, se não acabar vendido nas feiras à semelhança do Magalhães, protege. Já a realização depende de cada um".
Alberto Gonçalves, DN
2 comentários:
Afinal, em que ficamos? Falar de sexo nas aulas é ou não um crime que lesa magestade?
Ah! Não se deve falar de sexo, sob que pretexto for, mesmo que os programas abarquem semelhante "pouca vergonha", mas deve-se distribuir preservativos pela criançada que aprenderá, não na escola, a utilizá-los em casa, vendo determinados filmes nos seus quartinhos ou investigando na internet...
Tanta hipocrisia já chateia.
Umas pessoas "muito bem formadas" - que ensinam aos filhinhos as técnicas da delação, da hipocrisia e da infracção à lei - dão-se ao luxo de fazer a cama a uma professora e tásse bem?! São estes os valores que advogam para a educação dos seus rebentos?
E a ministra, arvorada em psiquiatra, ainda diz que a professora está louca? Esquece-se, esta senhora, que com a rebaldaria que implantou nas escolas - retirando o restinho de autoridade que sobejava aos professores - vão aparecer muitíssimos casos de "loucura" por parte dos professores?
A partir de agora, os meninos - acobertados pelos seus progenitores - é que vão escolher a música para fazer dançar os professores.
É melhor continuar a não acreditar nas teorias da conspiração...
Só quero acrescentar que nos dias de hoje não tenho inveja nenhuma dos professores e ainda bem que não sou professor, não teria estômago para digerir certas e determinadas coisas.
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