"Colégios a pedir empréstimos bancários para poder gerir as dívidas contraídas pelos pais que não pagam as propinas dos filhos ou externatos a enfrentar prejuízos de milhares de euros por causa dos atrasos sistemáticos nos pagamentos das mensalidades. Estes são os efeitos da crise a atingir os casais com filhos no ensino privado que, mesmo assim, tentam evitar a todo o custo transferir as crianças para as escolas públicas.
"São as instituições afastadas dos grandes centros urbanos que mais têm sido prejudicados com esta recessão económica", diz João Alvarenga, presidente da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo (AEEP). No colégio de São Mamede, no concelho de Batalha, as dificuldades já se arrastam desde 2008, mas foi sobretudo neste ano lectivo que se agudizaram. "Neste momento, cerca de 30% das famílias não conseguem pagar as propinas ou atrasam os pagamentos", explica Manuel António Madama, director da instituição que acolhe 355 alunos do pré-escolar e do primeiro ciclo do ensino básico. Mudar o estilo de vida e reorganizar os hábitos de consumo - as famílias fazem tudo menos poupar na educação das crianças. Desemprego ou quebra de rendimentos, nada disso tem força suficiente para os pais tirarem os filhos do ensino privado. É opção para levar até ao fim, mesmo que implique esticar ao limite o esforço financeiro que é feito tanto pelas famílias como pelas instituições particulares.
O Colégio de São Mamede manteve o valor das propinas em 250 euros, mas a medida continua insuficiente para ajudar os encarregados de educação com dificuldades económicas: "Fazemos tudo para as crianças continuarem no instituto pois seria muito doloroso dizer aos pais que os seus filhos teriam de deixar o colégio por eles não terem dinheiro." Fazer tudo, neste caso, passa por recorrer à banca para pagar salários e despesas com a manutenção do estabelecimento de ensino: "Há casos em que as dívidas ultrapassam os quatro mil euros e sabemos que, em algumas destas situações, os encarregados de educação não irão nunca saldar essa dívida.
"As famílias tentam manter o sigilo sobre a sua situação financeira, até porque é uma experiência recente que esperam poder vir a ultrapassar num curto espaço de tempo: "Estamos a falar de casais que não tinham dificuldades económicas, mas foram surpreendidas pelo desemprego e que, mesmo assim, estão dispostos a fazer enormes sacrifícios para não retirar as crianças da instituição", conta Ana Maria Costa, directora do externato Santa Margarida, em Gondomar. As dificuldades estendem-se a 12 famílias, que deixaram de pagar as propinas, enquanto que em 30% dos casos há atrasos sistemáticos no pagamento das mensalidades de um estabelecimento de ensino que conta com 200 crianças.
No Colégio Cinco Dias Felizes, em Azeitão, os casos de incumprimento não ultrapassam os 10% e devem-se mais à dificuldade das famílias em gerir as finanças pessoais do que ao desemprego: "Boa parte dos pais são empresários habituados a um estilo de vida bastante razoável mas que tiveram também eles de lidar com os atrasos no pagamento dos seus fornecedores, diz a directora do colégio Vera Borges, acrescentado que a solução passou por renegociar os planos de pagamento mais faseados.
O Externato AEIOU, em Chaves, o Jardim de Infância de Santo António, em Caminha, ou o Externato Maria Droste, em Ermesinde são outros exemplos no ensino privado que atravessam dificuldades semelhantes. Os pais optam por cortar nas actividades extracurriculares, por estender os prazos de pagamento das propinas, mas sair do ensino privado está fora de questão. "Há muita vontade em querer ter as crianças no ensino privado e muita dificuldade em conseguir arcar com as despesas que uma decisão destas implica", remata Olinda Magalhães, directora do Jardim-de-infância de Santo António".
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