sexta-feira, fevereiro 19, 2010

Ensino profissional não é a solução para o sucesso escolar, avisam professores, pais e educadores

"Um ensino profissional misto que começa a preparar os alunos logo aos 12 anos para o mercado de trabalho é a solução que Paulo Rangel, candidato à liderança do PSD, defende como instrumento de combate ao insucesso nas escolas públicas portuguesas. É a "ruptura" nas políticas de educação que o eurodeputado defendeu em entrevista concedida ontem ao i, desencadeando as censuras mais acesas de especialistas, pais e associações de professores, que rejeitaram a sua proposta de uma assentada.

Luís Capucha, presidente da Agência Nacional para a Qualificação (ANQ), tutelada pelo Ministério da Educação, acusa Paulo Rangel de promover o "regresso ao passado". Albino Almeida, Confederação Nacional das Associações de Pais, não quer que o ensino profissional seja encarado como um "castigo" para os alunos que não têm rendimento escolar e Jaime Pinho, do Movimento Escola Pública, defende que a alternativa apresentada pelo candidato à presidência do PSD retira o "direito básico que todas as crianças têm a um ensino universal".

Paulo Rangel, por seu turno, justifica as "reacções adversas" como o resultado de uma "interpretação errada" da sua proposta para combater o insucesso escolar: "Falei numa via mista. Como é possível ter alunos com 14 anos no 7.o e com 15 no 8.o ano? Temos de lhes dar uma saída", argumenta ao i o eurodeputado do PSD, defendendo que as escolas têm de apresentar estratégias para evitar o abandono escolar precoce: "O que me espanta é que alguém venha defender que os adolescentes tenham de fazer 12 anos de escolaridade, ou então tenham de ficar eternamente no 9.o ano."

Mas a via profissional "por si só" é insuficiente para combater o abandono escolar, defende Luís Capucha: "É a diversidade de cursos tecnológicos, humanísticos ou científicos que deve constituir o principal trunfo para promover o sucesso escolar", explica o presidente da Agência Nacional para a Qualificação, esclarecendo que o ensino profissional não pode ser "entendido como uma alternativa para os alunos menos capazes".

Mais que diversificar a oferta de cursos, as escolas devem ter autonomia para adaptar o currículo nacional ao seu próprio contexto, adverte Joaquim Azevedo, membro do Conselho Nacional de Educação. "Os estabelecimentos de ensino é que têm de decidir quando os seus alunos estão em condições de seguir a via geral ou a via profissional", diz o professor da Universidade Católica, que durante o governo de Cavaco Silva assumiu a secretaria de Estado do Ensino. Oferecer percursos escolares diferenciados, no entanto, é uma tarefa que as escolas só podem desempenhar se tiverem poder de decisão: "Os sucessivos governos têm impedido esse modelo de gestão, preferindo empurrar os alunos para o ensino profissional e para o mercado de trabalho."

Decidir o futuro profissional é um "peso enorme" para um aluno de 12 anos, alerta Luís Presa, dirigente da Associação Nacional do Ensino Profissional: "Essa é a idade em que professores, psicólogos e pais devem ajudar as crianças a descobrir as suas tendências vocacionais." E esse trabalho deve ser assegurado pelo Estado, esclarece o responsável, defendendo equipas fora das escolas para ajudar os alunos a tomar decisões sobre o seu futuro: "Penso que esta é uma tarefa que deve ser feita a partir do 7.o ano para que as crianças cheguem ao 9.o ano de escolaridade com ideias mais claras sobre as suas vocações profissionais."

O insucesso escolar não se combate com cursos profissionais, mas com alternativas adequadas ao perfil de cada aluno, conclui Luís Presa: "Se as crianças se sentirem bem na escola, não vão querer abandonar o ensino."

A via profissional não deve ser nem um "castigo" para os alunos com menor rendimento, nem a solução para resolver o problema do abandono escolar, diz Albino Almeida, da Confederação Nacional das Associações de Pais: "No 3.o ciclo, as crianças não sabem fazer as escolhas para o futuro e é por isso que a obrigação das escolas é assegurar essa orientação." Mas até ao 9.o ano todos os alunos devem adquirir os conhecimentos "básicos e fundamentais" a qualquer área profissional, defende Albino Almeida.

Jaime Pinho, coordenador do Movimento Escola Pública, diz que a aposta para diminuir a taxa de insucesso escolar não está nos cursos profissionais mas no ensino pré-escolar gratuito e universal: "Dou aulas ao 7.o ano e consigo distinguir os alunos que tiveram acesso ao ensino pré-escolar, porque têm padrões de aprendizagem distintos".

Ana Sá Lopes
Jornal i

1 comentário:

Anónimo disse...

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