quarta-feira, novembro 30, 2005

O flagelo que constituem os TPC's

Faz hoje sensivelmente um ano que um estudo nos veio revelar que os alunos portugueses passam mais horas a fazer TPC's do que a média dos países da OCDE. Motivo mais que suficiente para que, na altura, alguns pedagogos de algibeira, tivessem vindo a terreiro mostrar a sua indignação. Segundo eles, esta é uma tortura diária que deve ser erradicada de vez. Já não chega o cansaço provocado pelo extenuante dia de aulas, as coitadinhas das crianças ainda são obrigadas a levar a escola para casa, por força de uns quantos desgraçados professores que os obrigam a executar mais umas quantas tarefas escolares. Realmente é inadmíssivel tamanha desumanidade. Provavelmente, está encontrada uma das razões que justificam as altas taxas de insucesso escolar no nosso País: trabalho em excesso. Todos nós, professores, somos testemunhas, do grande empenhamento e dedicação que a maioria dos nossos alunos demonstra no cumprimento das suas obrigações escolares. Digam lá colegas, se esta evidência é ou não é verdadeira?

quinta-feira, novembro 24, 2005

O exemplo britânico

Os pais dos alunos com comportamentos violentos nas escolas britânicas vão passar a ser multados num valor que pode ir até aos 1450 euros. "As intimidações verbais e físicas não podem continuar a ser toleradas nas nossas escolas, seja quais forem as motivações" sublinhou a Secretária de Estado para as Escolas. Disse também que " as crianças têm de distinguir o bem e o mal e saber que haverá consequências se ultrapassarem a fronteira". Acrescentou ainda que "vão reforçar a autoridade dos professores, dando-lhes confiança e apoio para que tomem atitudes firmes face a todas formas de má conduta por parte dos alunos". A governante garantiu que "as novas regras transmitem aos pais uma mensagem bem clara para que percebam que a escola não vai tolerar que eles não assumam as suas responsabilidades em caso de comportamento violento dos seus filhos. Estas medidas serão sustentadas em ordens judiciais para que assumam os seus deveres de pais e em cursos de educação para os pais, com multas que podem chegar às mil libras se não cumprirem as decisões dos tribunais". O Livro Branco dá ainda aos professores um direito "claro" de submeter os alunos à disciplina e de usar a força de modo razoável para a obter, se necessário.
Em Portugal, como todos sabemos, o panorama é radicalmente diferente. Por cá, continua a vingar a teoria do coitadinho: há que desculpabilizar as crianças até ao limite do possível, pois considera-se que o aluno é intrinsecamente bem formado, o que o leva a assumir comportamentos desviantes são factores externos (contexto social e familiar) que ele coitado não consegue superar. Temos assim que o aluno raramente é penalizado e quando o é, os castigos ficam-se na sua maioria por penas ligeiras, não vá correr-se o risco de o menino/a sofrer traumas que o podem marcar para o resto da vida. As notícias sobre actos de vandalismo, de agressão, de indisciplina e de violência praticados em contexto escolar que, com progressiva frequência vamos conhecendo, deviam merecer da parte de quem tutela a educação, medidas mais enérgicas que infelizmente tardam em chegar. Porque não seguir o exemplo britânico?

segunda-feira, novembro 21, 2005

Os mal amados dos professores

Um texto de Miguel Beleza, esta semana no "Independente", que atesta bem o quão degradante é actualmente a imagem dos professores deste País:
" A ministra da Educação não gosta dos professores. Há pouco violentou-os, obrigando-os a fazer exames. Não é justo. O facto de os alunos e os pais poderem perder um ano não tem qualquer importância face às legítimas e nada corporativas razões dos professores. Segundo li, vi e ouvi, a ministra prepara-se agora para aumentar o horário de trabalho dos professores para 29 (!) horas por semana e substituir professores que faltam. É injusto. Vinte e nove horas é pouco menos do que eu próprio trabalho durante dois ou três dias e é claramente preferível que os alunos aproveitem para descansar durante as inúmeras horas de aula em que o professor titular é obrigado a faltar por razões totalmente legítimas.
Mas há pior. A ministra quer que os professores se fixem nas escolas por três ou quatro anos. Além da monotonia que para eles significa vários anos na mesma escola, retira aos professores o prazer de ter de mudar de alojamento com tanta frequência. Por outro lado, é sabido que há toda a vantagem em que os alunos sejam sujeitos a diferentes professores todos os anos. Evita-se assim, por exemplo, a permanência de professores mais aborrecidos ou piores pedagogos durante mais de um ano. Além disso, mudar todos os anos de professor aumenta a capacidade dos alunos de se adaptarem a situações novas.
Finalmente, e ao que parece, a ministra prepara-se para copiar o que acontece à generalidade dos trabalhadores portugueses. Quando um dos cônjuges ou equivalente é colocado noutro local, têm que resolver o problema. É uma medida de combate à família, ao arrepio das anunciadas intenções governamentais.
Há que apoiar a greve."

sexta-feira, novembro 18, 2005

Simplesmente vergonhoso!

O Ministério da Educação teve hoje uma atitude inqualificável ao lançar cá para fora, no dia da greve, um estudo sobre o absentismo dos professores. É inadmissível do ponto de vista da ética política e tem como objectivo passar, mais uma vez a mensagem, de que os professores são uma classe de gente irresponsável que não cumpre as suas obrigações. Esta imagem é falsa, não corresponde minimamente à verdade e não se compreende o porquê desta perseguição sistemática aos professores. Querem fazer crer à opinião pública de que tudo o que vai mal no ensino se deve à incúria e à incompetência da classe docente. Uma vergonha!

quarta-feira, novembro 16, 2005

A nova legislação sobre a avaliação no ensino básico

O recente Despacho Normativo nº50/2005 que define os princípios de actuação e normas, com vista ao sucesso educativo no ensino básico, vem-nos dizer que "atendendo às dimensões formativa e sumativa da avaliação, a retenção deve constituir uma medida pedagógica de última instância, numa lógica de ciclo e de nível de ensino, depois de esgotado o recurso a actividades de recuperação desenvolvidas ao nível da turma e da escola". Lendo com atenção o supracitado despacho, ficamos convictos de que se até aqui o nível de exigência no ensino básico era aquele que todos sabemos, a partir de agora vai ser um salve-se quem puder. Todos os alunos que no final do 1º período ou até à interrupção das aulas no Carnaval tenham três ou mais níveis inferiores a 3, serão submetidos a um plano de recuperação elaborado pelo Conselho de Turma (algo que já acontecia até agora com a avaliação sumativa extraordinária). Estes planos de recuperação vão sofrer a fiscalização do Conselho Pedagógico e no final do ano lectivo, da própria direcção regional de educação. Este último pormenor não é nada inocente: não basta reter um aluno; é preciso que esta seja muito bem fundamentada (nomeadamente: explicar porque é que alguns planos de recuperação não tiveram o sucesso desejado), sob pena da responsabilidade da retenção recair sobre os professores. Percebe-se a intenção: esta burocratização da avaliação tem como objectivo desencorajar os professores na reprovação dos seus alunos. É uma forma administrativa de combater as estatísticas que nos colocam na cauda da Europa, no que toca ao sucesso e abandono escolar. Vai-se deste modo agravar a situação de alunos que chegam ao Secundário, sem saber ler, escrever e contar. Nada que tire o sono aos nossos governantes. O importante é chegarmos aos Conselhos Europeus e dizermos aos nossos parceiros que o combate ao insucesso é um êxito no nosso país.

sexta-feira, novembro 11, 2005

Ainda as aulas de substituição

De entre as novidades com que os professores se confrontaram no início do ano lectivo, a aula de substituição é aquela que mais polémica tem gerado e que tem deixado a maioria da classe docente, à beira de um ataque de nervos. Dois meses passados sobre a sua implementação, pode-se dizer que as ditas aulas são uma completa aberração e que em nenhum momento contribuem para a melhoria da qualidade de ensino. E não são só os professores a mostrar a sua insatisfação. O desagrado já alastrou aos pais/encarregados de educação e aos próprios alunos. Sobre esta matéria, alguns dos episódios que se vão relatando por todo o País são absolutamente risíveis e atentatórios da dignidade profissional dos professores. Só o Ministério da Educação tarda em reconhecer o erro que cometeu. O próprio Secretário de Estado, tem o descaramento de vir a público dizer que estas aulas estão a correr bem e que os professores já se habituaram a elas, querendo, com isso, passar a mensagem de que não há qualquer tipo de contestação e que tudo decorre dentro da maior das normalidades. Como se tal correspondesse à verdade. É a política da avestruz no seu melhor.