quarta-feira, julho 30, 2008

Quem vier atrás...

"Porque a clareza se tornou, em tempos em que as palavras caíram nas mãos dos usurários, a mais rara das matérias-primas, vale a pena ler a entrevista que o presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática deu ao "Jornal de Negócios" sobre a situação de desastre do ensino em Portugal.
Maria de Lurdes Rodrigues realizou, de facto, o milagre grouchiano de partir do nada e conseguir chegar à mais extrema miséria. Diz Nuno Crato, a propósito da política dos exames fáceis de Matemática, que "daqui a dez anos somos capazes de olhar para o que se passou nos exames este ano e pensar que foi das coisas mais negativas que aconteceram na educação nas últimas décadas". Daqui a dez anos, os jovens formados na pedagogia da não exigência terão descoberto que, ao contrário do ME, "la vie ne fait pas de cadeaux" e deveriam poder pedir responsabilidades a alguém. Mas daqui a dez anos a ministra terá regressado às profundezas do ISCTE e os seus secretários de Estado ao anonimato, e não é provável que saiam da obscuridade para assumir qualquer responsabilidade. Como sempre, quem vier atrás que feche a porta".

Manuel António Pina
JN

Uma machadada na propaganda política

Os resultados dos exames em Matemática A passaram de uma média de 12,5 na 1ª fase para 8,9 na 2ª fase. Se bem nos lembramos, para o Ministério da Educação, os bons resultados da 1ª fase deveram-se às medidas por si implementadas, nomeadamente o Plano de Acção para a Matemática. Pelos vistos este Plano já não funcionou nesta 2ª fase, o que não deixa de ser estranho. Conviria que Maria de Lurdes explicasse o porquê deste falhanço.

terça-feira, julho 29, 2008

Resultados da 2ª fase dos exames do secundário

"A média da segunda fase do exame nacional de Matemática A do 12º ano não atingiu os nove valores, registando um resultado pior que o do ano passado (9,3) e contrariando, assim, a tendência positiva da primeira época em que a média foi de 12,5 valores – a melhor dos últimos anos. Nas restantes disciplinas registou-se uma melhoria global dos resultados, ainda que sejam inferiores aos da primeira chamada, com 16 a subirem a sua média e 70 por cento a terem resultados positivos.
Matemática A obteve piores resultados que no ano anterior, passando de 9,3 para 8,9 valores, o que significa que 24 por cento dos estudantes chumbaram, face aos 18 por cento de 2007. No exame de Português, a média subiu de 10,4 para 11,3, ou seja, quatro por cento dos alunos chumbaram, contra os oito do ano anterior. No de Física e Química A a progressão foi mínima e insuficiente para abandonar o terreno negativo, ao passar de 9,2 para 9,3. Pelo contrário Biologia e Geologia conseguiram ultrapassar a barreira do dez, ao melhorar de 9,0 para 11,4".

Público

A escandalosa mentira de que os professores portugueses são dos mais bem pagos do espaço europeu

O último número da revista Visão apresenta-nos um casal de professores noruegueses, ambos com trinta e poucos anos, que ganham 7800 euros por mês, depois de descontados 35% de impostos e segurança social que lhes asseguram a gratuitidade da saúde e da educação dos três filhos. Em Portugal, um casal de professores da mesma faixa etária não leva sequer 2500 euros no final do mês e ainda tem de suportar os cuidados médicos e a educação dos seus filhos. Para quem diz que os professores portugueses têm ordenados acima da maioria dos outros países europeus tem aqui uma boa oportunidade de verificar que se está perante uma escandalosa mentira. No caso concreto, a diferença é superior a 5000 euros o que não deixa de ser uma diferença considerável. Se a isto juntarmos os gastos com a saúde e a educação dos filhos então a diferença é abissal.

domingo, julho 27, 2008

Ministra assegura que novas regras para o 2º ciclo vão ser aplicadas sem problemas

"A ministra da Educação garantiu hoje que está tudo preparado para as novas regras que definem a distribuição de serviços aos docentes do 2º ciclo.
Segundo foi divulgado no início da semana, a partir de Setembro, em média, cada turma do 2º ciclo passa a ter menos dois professores.
De acordo com as orientações do Ministério da Educação, cada professor deve leccionar mais do que uma disciplina na mesma turma.
A Fenprof considera precipitada a entrada em vigor destas novas regras já no próximo ano lectivo, argumentando que o novo ano lectivo começou a ser preparado sem que as escolas tivessem conhecimento da alteração.
No entanto, esta tarde, Maria de Lurdes Rodrigues afirmou desconhecer as críticas dos sindicatos, garantindo que «as escolas e os professores têm todas as condições para trabalhar».
TSF

sexta-feira, julho 18, 2008

Pobre justiça!

Em Portugal a justiça tem duas caras: frouxa e permissiva para os ricos e poderosos; cega e implacável para os pobres e descamisados. Qualquer semelhança com um país sul-americano é pura coincidência!

terça-feira, julho 15, 2008

Ensino elitista

"O ensino público português não está a cumprir o seu papel social de dar oportunidades aos estudantes oriundos de famílias culturalmente carenciadas. Isto acontece porque as políticas do Ministério da Educação têm tido o efeito de dificultar cada vez mais a aprendizagem desses estudantes. Vejamos porquê.
A convicção que tem orientado as políticas educativas dos últimos anos é a seguinte: os estudantes culturalmente carenciados não são realmente ensináveis, nem podem ter qualquer interesse em física, medicina ou geografia, porque são cognitivamente deficientes: só os filhos das famílias culturalmente privilegiadas são ensináveis, porque não são cognitivamente deficientes, e por isso só eles podem ter interesse nas matérias “elitistas”. Esta convicção não só é uma aberração biológica, como põe o mundo de pernas para o ar: o elitismo é precisamente a crença de que a física quântica, por exemplo, ou o piano, é só para certos estudantes privilegiados, ao passo que para aos outros só pode interessar o surf. Esta atitude é parecida ao racismo, porque em vez de ver os estudantes individualmente como seres humanos, vê os estudantes apenas como membros de classes sociais, e presume que os estudantes culturalmente carenciados o são não por serem vítimas da falta de oportunidades, mas por incapacidade cognitiva.
Ao eliminar as disciplinas centrais das diversas áreas académicas que constituem o legado da humanidade, substituindo-as por vacuidades escolares que visam aparentemente a integração social ou a educação para a cidadania, a escola pública faz precisamente o oposto: não permite que um estudante culturalmente carenciado possa tornar-se um cidadão pleno porque não lhe dá as competências cognitivas relevantes, nem lhe ensina os conteúdos sem os quais só poderá ser um consumidor passivo de Coca-Cola, telenovelas e futebol. Ao tornar os exames cada vez mais fáceis, a escola pública prejudica exclusivamente os estudantes mais carenciados, pois está efectivamente a dizer-lhes que não precisam de estudar, ao mesmo tempo que aprofunda o fosso entre eles e os mais privilegiados, pois estes estudam em qualquer caso, com exames fáceis ou difíceis.
O Ministério da Educação não consegue persuadir os estudantes mais carenciados do valor intrínseco do conhecimento, do estudo e consequentemente da escola, porque considera que estes estudantes não têm capacidade cognitiva para valorizar tais coisas. Mas qualquer agência de publicidade conhece as técnicas básicas para criar nas pessoas apetência pelo que elas antes não valorizavam. Proponho por isso que se substitua o Ministério da Educação por uma agência de publicidade. Se é possível convencer os estudantes mais carenciados a valorizar inanidades como a Coca-Cola, os ténis Nike e os bonés americanos de basebol, tanto mais fácil será ensinar-lhes a valorizar o que realmente tem valor intrínseco: o legado cognitivo da humanidade, codificado em coisas como a matemática, a física ou a história".

domingo, julho 13, 2008

O diagnóstico da SEDES

A Sedes - Associação Cívica para o Desenvolvimento Económico e Social - lançou o debate sobre o Estado da Nação e, mais uma vez, a Educação levou que contar. "Uma catástrofe. Nunca se desceu tão baixo" disse Maria Filomena Mónica. Por sua vez, Vitor Bento considerou a Educação como "o grande fracasso deste regime, não deste Governo". Considerou ainda que "as políticas sociais de apoios aliviam a pobreza, mas não retiram ninguém dela. A falha da Educação é tanto mais grave quanto expropria os pobres do direito de libertação da situação em que se encontram". Maria de Lurdes Rodrigues ouviu e não deve ter gostado.

sábado, julho 12, 2008

A ministra ri de quê?

"No Expresso da semana passada, os entrevistadores de Maria de Lurdes Rodrigues notaram que "a ministra nunca se ri" sofreu uma mutação ao longo da conversa, descontraindo-se progressivamente, de modo que o ar grave foi dando lugar a um sorriso aberto e - vê-se nas fotos - chegou mesmo à gargalhada. A evolução do estado emocional da ministra da Educação ao longo da entrevista do Expresso vale como representação simbólica do seu mandato. Começou tensa e de rosto fechado, ma cheia de iniciativa e coragem política; vai acabar sorridente e descontraída, mas deixando pelo caminho a promessa de exigência contra o chamado "facilitismo", uma palavra que é todo um programa político (foi inventada pelo engenheiro Couto dos Santos, que também tem uma fotografia na galeria dos ex-ministros da Educação inaugurada há duas semanas por Maria de Lurdes Rodrigues).
A actual ministra tinha todas as condições políyicas - ou teve, até certo momento - para ficar na história como a grande modernizadora, não só do funcionamento das escolas, mas da própria escola e do ensino em Portugal. Tudo indica, porém, que, em relação ao essencial, deixará pouco mais do que a sua fotografia, talvez sorridente, na tal galeria dos ex-ministros. Quando chegamos ao ponto de o país também sorrir dos extraordinários resultados dos exames de Matemática, agora do 9º ano - com menos 40% de negativas do que no ano passado - é difícil conceber situação mais trágica".

Fernando Madrinha
Expresso

sexta-feira, julho 11, 2008

Negativas na prova de Matemática do 9º ano caem quase 40 por cento num ano

Depois do sucesso no exame nacional de Matemática do 12.º ano, com a média nacional dos alunos internos a disparar para os 14 valores (em 20), agora foram os alunos do 9.º que revelaram uma melhoria muito significativa em relação à prova de 2007. A percentagem de negativas caiu de 72,8 por cento para 44,9 por cento, o que significa que há menos 38,3 por cento de notas negativas face à prova de 2007.
Para o Ministério estes resultados devem-se: ao esforço de professores e alunos e aos instrumentos de apoio (leia-se Plano de Acção para a Matemática). Curiosamente este mesmo programa não havia dado resultados o ano passado, tendo-se verificado inclusive os piores resultados de sempre em que quase três em cada quatro alunos havia reprovado na disciplina.
Para a Sociedade de Professores de Matemática bem como a Associação de Professores de Matemática a razão principal para estes resultados reside na facilidade da prova.
O ministério bem queria que os portugueses exultassem com esta performance, mas estes já perceberam que tudo isto foi uma fraude revoltante com o mero objectivo de melhorar as estatísticas. A certificação em massa está em marcha em Portugal. Teremos um país mais analfabeto mas "escolarizado". Perfeito.

quinta-feira, julho 10, 2008

Algo nunca visto

Ao examinar na minha escola as pautas dos exames nacionais do Secundário, fiquei absolutamente deliciado com as classificações a Matemática. Fiquei eu e ficaram os alunos, como é óbvio. Os miúdos nem queriam acreditar no que lhes estava a acontecer já que, em momento algum, pensaram que lhes calhasse em sorte um exame tão fácil. Em consequência deste facilitismo criado pelo Ministério da Educação, os 20s e 19s foram mais que muitos e geraram um clima de grande satisfação entre alunos e encarregados de educação, pois não é todos os dias que se consegue um feito destes, numa disciplina que por norma apresenta os piores resultados em exames nacionais. Muitos mostraram-se arrependidos de não terem anulado a matrícula na disciplina já que a nota do exame foi, na maioria dos casos, bem superior à nota da frequência (não me admiraria que no próximo ano, alguns dos melhores alunos venham a usar este expediente para assim poderem ter uma média final mais elevada). Mas não se pense que foram apenas os melhores alunos a terem motivos de satisfação: muitos dos que há anos tentavam, em vão, fazer a disciplina, não perderam esta oportunidade caída dos céus e finalmente conseguiram chegar à positiva. Quem diria que algum dia iríamos viver uma situação destas a Matemática?! E tudo isto graças à boa vontade da ministra e à sua obsessão pelas estatísticas.

quarta-feira, julho 09, 2008

Ordem dos engenheiros critica facilitismo para entrar nalguns cursos

Ordem dos engenheiros critica facilitismo para entrar nalguns cursos
"O sistema alimenta-se de números. Como repetia o ministro Gago, ao longo do dia, temos poucos licenciados. Por outras palavras temos que ter mais, custe o que custar. Ora o Governo já mostrou que não é gago a arranjar maneiras.Não sabem nada de matemática? Não sabem nada de Física? Quem sabe se não estamos perante futuros excelentes engenheiros. Tudo pode acontecer num país tão dado aos milagres, acredite o Bastonário ou não.Se um rapaz pouco dado ao estudo ao longo da vida, que nunca acabou o 8º ano, consegue, via Novas Oportunidades, obter em poucos dias o 12º ano e de seguida ingressar numa licenciatura, numa instituição privada, que lhe dará em três anos o grau de "licenciado", o que será que não conseguimos fazer neste país? Claro que tudo tratado pela instituição que lhe fornecerá a "licenciatura" e lhe cobrará as indispensáveis propinas.
Estamos a produzir os licenciados mais rápidos e mais ignorantes da nossa história. E estamos a ensinar às novas gerações que não vale muito a pena estudar afincadamente porque mais tarde podemos fazer como vizinho que nunca acabou o 12º ano, não sabe nada de matemática, não fala nenhuma língua, além da materna, e está a acabar a "licenciatura".
http://pedradohomem.blogspot.com/

As Escolas Superiores de Educação deviam ser encerradas

"A socióloga Maria Filomena Mónica apontou baterias à educação, considerando que «as faculdades de Ciências da Educação deviam ser encerradas imediatamente. Não servem para nada e fazem muito mal». Explicando que o «linguajar pedagógico» - “é preciso aprender a brincar” ou “os alunos não devem ser avaliados” - é um flagelo do nosso sistema de ensino actual, Maria Filomena Mónica afirmou que «a doutrina começou na esquerda, mas é agora transversal».

Luís Campos e Cunha não tem dúvidas desta premissa e sublinha que «o nosso ensino estaria hoje muito melhor» se «as escolas de educação» não existissem. «Deveriam ser todas fechadas». O tema dá pano para mangas e foi voltando ao debate. O economista Vítor Bento considera mesmo que a «educação é o grande fracasso deste regime porque ela própria tem promovido um rebaixamento de qualidade, com excessiva complacência com a mediocridade».

segunda-feira, julho 07, 2008

Margarida Moreira

"Portugal já se inquietava com o desaparecimento de Margarida Moreira, directora regional de Educação do Norte. Mas é com grata satisfação que saudamos o seu regresso de acordo com o relato de um professor, registado em acta, a dra. Margarida pediu aos Conselhos Executivos das escolas para terem cuidado na escolha dos docentes que vão corrigir os exames nacionais. Para a dra. Margarida, existem por aí professores que têm o hábito desagradável de "atribuir classificações muito distantes da média". Isto, para a dra. Margarida, é um abuso e uma violência porque "os alunos têm direito a ter sucesso".
Eu, com a devida vénia, iria mais longe e acabava simplesmente com os exames. Para que servem eles afinal? Obviamente, para dar mau nome à casa. Se são demasiado difíceis, a casa afunda nas estatísticas internacionais. Se são demasiado fáceis, ninguém se cala com o facilitismo da coisa: oposição, cientistas, pais, professores. E, até alunos, que deviam calar o bico e agradecer aos céus. Razão têm o PCP e o Bloco, que consideram o exercíco "injusto" e "elitista". Absolutamente de acordo. Uma medida igualitária no sentido pleno da palavra, permitiria atribuir a cada cidadão, nascido em território nacional, uma licenciatura logo nos primeiros dias de vida. E à escolha dos progenitores. Se os pais escolhem o nome dos filhos, por que motivo não podem escolher também o "dr." ou o "eng." que precede o "Manel" e o "Joaquim"?
O gesto permitiria duas coisas: primeiro, colocar Portugal no topo das classificações internacionais, com dez milhões de doutores e engenheiros, uma proeza em todo o Ocidente letrado; e, em segundo lugar, uma vez despachado o canudo para a maioria, existiria uma ridícula minoria que frequentaria voluntariamente as escolas e as universidades com o intuito simples de "aprender" qualquer coisa. Seria, no fundo, um retorno à Idade Média e à excelência do monaquismo ocidental: depois da passagem dos bárbaros, é sempre preciso apanhar os cacos e começar, seriamente, outra vez".

João Pereira Coutinho
Expresso

sábado, julho 05, 2008

Galeria

"ANTES DE MAIS, porquê Dezembro de 1962? Para excluir o ministro da crise académica de 1962 e marcar uma fase “democrática” do salazarismo e marcelismo, com os ministros Galvão Teles, José Hermano Saraiva e Veiga Simão? Ou será porque, contando com o ministro Manuel Lopes de Almeida se tornaria mais difícil à actual titular da pasta bater o recorde da permanência à frente dos destinos da educação nacional? Talvez sim, porque já antes se suspeitava que a ministra, particularmente com os novos e altamente tolerantes critérios de avaliação, andava a trabalhar para as galerias.
De qualquer forma, o singular passadiço do Ministério tem uma vantagem. De agora para o futuro, se alguma instituição ou alguém quiser saber dos regentes pelos dramáticos resultados da educação em Portugal tem o cadastro dos responsáveis relativamente à mão. Alvíssaras! Procura-se! Estão ali. E, tirando muito raras excepções, ali estão os homens e mulheres que deveriam responder pelo abandono e insucesso escolar, pelo baixo desempenho e competência dos jovens portugueses, pela péssima média das habilitações da população, pela insatisfação generalizada com o sistema de educação, por tudo o que faz da educação o maior caso de insucesso de Portugal na Europa.
Ali estão: de um fugaz ministro por um mês ao ministro da Educação que “interviu”, do ministro dos “vigilantes” nas Faculdades à ministra contestada na rua pela “geração rasca”. Todos juntos formam a galeria de um dramático insucesso".

João Paulo Guerra

Milagre na Matemática

"Num ano, num simples ano, os jovens portugueses do secundário resolveram milagrosamente os seus problemas com a Matemática e passaram de uma média de 9,4 para 12,5. Em sentido inverso, mas ainda mais positivo, as próprias reprovações, que eram de 18%, baixaram para 7%. Um duplo êxito? Não! A Associação Portuguesa de Matemática, obviamente, desconfia; o ministério, incomodado, admite que "não se podem fazer comparações seguras" com o ano anterior; e, perante este quadro, nada impede um cidadão de temer que tal fenómeno se deva apenas a uma mudança de critérios, agora mais "amigos" na avaliação da ignorância.
Seja como for, esta situação ilustra o que nos últimos anos se tem passado na sociedade portuguesa e a todos os níveis.
Esmagado pela estatística, sobretudo no ensino e na saúde, o País interiorizou, com os governantes à cabeça, que a convergência com a Europa é um simples exercício numérico. Tudo estará bem se as estatísticas, ratificadas na Europa, forem melhores.
Fosse assim tão simples tratar da realidade".

João Marcelino
Diário de Notícias

sexta-feira, julho 04, 2008

Ministério da Educação faz a leitura dos resultados dos exames nacionais do secundário

Os resultados da 1.ª fase dos exames do Ensino Secundário revelam uma melhoria global, verificando-se o aumento do número de disciplinas com média positiva, a subida das médias e a diminuição das reprovações.
O número de exames com médias de resultado abaixo dos 10 valores continua a descer: enquanto neste ano lectivo houve seis exames com médias abaixo dos 10 valores, no ano anterior foram sete e em 2006 treze.

Considerando apenas disciplinas homólogas, este ano a média mais baixa foi de 9,2 valores em História B, enquanto em 2007 foi de 7,1 em Física e Química.

Registam-se oito disciplinas com mais de 10 por cento de reprovações, enquanto em 2007 esta situação se verificou em 12 disciplinas. Particularmente, na disciplina de Físico Química a percentagem de reprovações desceu de 31 por cento para 22 por cento no mesmo período de tempo.

Matemática

Apesar do decréscimo na média da Matemática Aplicada às Ciências Sociais (passa de 11,3 valores para 9,6 valores), regista-se uma melhoria global de resultados, em particular na Matemática A (cuja média passa de 9,4 valores para 12,5 valores) e na Matemática B (cuja média passa de 7,5 valores para 11,4 valores), tendo diminuído a percentagem de reprovações.

Esta melhoria, que se verifica, pelo terceiro ano consecutivo, é seguramente o efeito combinado de três factores:

. mais tempo de trabalho e de estudo por parte dos alunos, acompanhado pelos professores, no quadro das actividades das escolas no âmbito do Plano de Acção para a Matemática;

. provas de exame correctamente elaboradas, sem erros e com mais tempo para a sua realização;

. maior alinhamento entre o exame, o programa e o trabalho desenvolvido pelos professores, designadamente através dos vários testes intermédios realizados nas escolas e da utilização do banco de itens disponibilizado pelo Gabinete de Avaliação Educacional por alunos e professores.

De salientar a elevada correlação (0,71) entre as classificações internas e as do exame nacional.

Português

Regista-se um decréscimo nos resultados do exame de Português (cuja média passa de 10,8 para 9,7), aumentando ligeiramente o número de reprovações na disciplina, que passa de 5 por cento para 8 por cento, não obstante o acréscimo de tempo para a realização da prova.

Este é o exame que abrange o maior número de alunos, sendo realizado pela quase totalidade dos estudantes que terminam o ensino secundário nos cursos científico-humanísticos.

Importa equacionar medidas de reforço do trabalho dos alunos nesta disciplina, designadamente estendendo ao ensino secundário as dinâmicas do Plano Nacional de Leitura.


Disciplinas de Ciências

Verificou-se uma melhoria nas disciplinas de Biologia e Geologia (cuja média passa de 9,1 valores para 10,5 valores) e de Física e Química (cuja média passa de 7,2 valores para 9,3 valores).

É de salientar que em Biologia e Geologia a média atingiu valores positivos, enquanto em Física e Química, apesar da melhoria registada, ainda apresenta um valor ligeiramente negativo.

Estas duas disciplinas são as que apresentam as mais elevadas correlações entre as classificações internas e externas (respectivamente 0,75 e 0,76).

Também nestas disciplinas se concretizou um esforço de alinhamento do exame com o programa e o trabalho dos professores, através dos testes intermédios, bem como do aumento do tempo para a realização da prova.

Registou-se, ainda, durante o ano lectivo que agora termina, um reforço dos tempos de leccionação destas disciplinas e das condições para a realização do trabalho experimental.

Os resultados indicam a necessidade de continuar o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelos professores e pelas escolas, com vista a consolidar esta tendência de melhoria.

Nota - As justificações para os resultados de Matemática são de chorar a rir. Em dois anos os nossos alunos tornaram-se barras em Matemática. Inacreditável. A ministra rejubila conforme se pode ouvir em entrevista dada à RTP1. Nuno Crato diz que estamos perante "o milagre da multiplicação das notas". Ganda Ministério!!

Resultados dos exames nacionais do 12º ano


Os testes de Português podiam ser substituídos por uns papeluchos como os do Totobola

Imperdível este texto de Maria Filomena Mónica, sobre os exames de Português, no jornal Público.

quarta-feira, julho 02, 2008

Galeria dos horrores

O Ministério da Educação inaugurou hoje uma galeria de retratos de todos os detentores da pasta da Educação nos últimos 40 anos, homenageando desta forma os cerca de 100 ministros que ocuparam o lugar durante este período. Não importa se desempenharam bem o lugar, não importa saber que há décadas que a Educação se encontra num estado calamitoso. Não, nada disso é relevante. Toda esta gente é responsável pelo descalabro, mas mesmo assim merece ser distinguida. A lata desta gente não tem limites. Só neste País!

O Novo Código do Trabalho

"O que me espanta é que ainda se debata o Código do Trabalho. Pergunto: nos últimos 30 anos, a ideia de se alterar a lei laboral não foi sempre no sentido de retirar direitos a quem trabalha e procurar “salvar a economia nacional” (isto é, injectar oxigénio no chamado “tecido empresarial”, em geral pobre e medíocre, para que não sucumba à competência internacional...)? Alguma vez se deixou de falar em crise, mesmo quando não havia crise? Alguma vez se pretendeu outra coisa que não a dignificação do estatuto do gestor por conta do desprezo pelo estatuto do trabalhador? Há memória (depois de 1976...) de uma reforma na legislação laboral que atribuísse mais direitos a quem trabalha, melhores condições de acesso ao trabalho, mais garantias em tempo de crise ou de expansão?
Cada vez que se sentam à mesa das negociações, o que está em causa é sempre o mesmo: como liberalizar e flexibilizar mais o mercado (querem os patrões, e sabem que vão conseguir), como tentar o equilíbrio do impossível (quer o Governo, o PC fere-lhe sempre o desígnio), como perder o mínimo possível sendo certo que se perde sempre mais do que se ganha (é o máximo que podem querer os representantes do mundo do trabalho).
Isto não muda. Persistir em confiar no consenso, na concertação e no equilíbrio social é mais ou menos como acreditar no Pai Natal: basta crescer para perceber que não existe".

terça-feira, julho 01, 2008

Exames de Matemática: Um Caminho Trágico

"(...) É sabido que a Matemática é, para a maior parte da população portuguesa, incluindo os actuais estudantes, uma espécie de "bicho papão", uma "dor de cabeça" que (quase) todos bem dispensavam. E que se reflecte num preocupante nível de ileteracia que os resultados do Programa Internacional para a Avaliação de Alunos (PISA), publicado pela OCDE de três em três anos confirmam: na última edição, a de 2006, a média de conhecimentos a Matemática dos nossos alunos de 15 e 16 anos era de 466 pontos (média da OCDE: 498pontos), e Portugal ocupava o 26º lugar do ranking (em 30 países), deixando atrás de si apenas a Itália, a Grécia, a Turquia e o México. Pior: o valor de 2006 era o mesmo de 2003, provando não ter existido qualquer progresso nesta matéria desde então.
Ora, quando, à saída do referido exame nacional de Matemática, as opiniões mais ouvidas entre os estudantes sobre a prova que tinham acabado de realizar eram "fácil", "acessível", "sem problemas de maior", nem queria acreditar. Pior: os mesmos comentários eram semelhantes aos obtidos no fim de outras anteriormente realizadas - e a opinião dos alunos quanto à facilidade da prova era partilhada por professores e especialistas na matéria. Finalmente, a tendência dos resultados dos exames nacionais dos exames nacionais do 12º ano de Matemática nos últimos 3 anos é claramente ascendente: uma média de 6,9 valores em 2005; 7,3 em 2006; 9,6 em 2007...e, quase apostaria que será registada uma forte subida em 2008. Assim, o que parece é que os conhecimentos de Matemática dos nossos estudantes do 12º ano estão a melhorar ano após ano. O que, claro, se reflectirá nos rankings internacionais. Mas que, infelizmente, não corresponde à verdade - como mostra a coincidência entre a melhoria das classificações e a "facilidade" que alunos, professores e especialistas encontraram nos exames.
Em Portugal passou-se, pois, a trabalhar para os rankings - o que é inaceitável, porque revela uma tentação de mascarar a qualidade do nosso ensino, bem como a qualificação dos nossos estudantes. Resultados melhores com exames reconhecidos como mais fáceis por todos não indiciam qualquer melhoria na qualificação e na competência futura dos recursos humanos - ainda que os rankings possam (erroneamente, já se vê) apontar para isso. Ora, mesmo tendo um sistema fiscal mais atractivo e competitivo (área que considero fundamental para progredirmos economicamente), uma legislação laboral mais flexível, uma justiça mais rápida, e uma Administração Pública mais desburocratizada em todas as vertentes, nunca conseguiremos atingir um elevado nível de desenvolvimento sustentável se a qualificação dos nossos recursos humanos não melhorar... e muito. O que, a avaliar pelo caminho escolhido, de facilidade e de aparência, não irá suceder".
Queremos ter melhores resultados? Pois baixe-se o nível de exigência e torne-se os exames mais fáceis...e eis-nos a subir nos rankings! Mais exigência e rigor no ensino e nas provas? Não, isso nem pensar!
Desgraçado do país que tem um Governo que aposta nas aparências para mascarar a realidade!
Uma verdadeira tragédia".

Miguel Frasquilho
Sol