quinta-feira, dezembro 27, 2007

Uma primeira avaliação ao Plano Tecnológico, ao Simplex e às Novas Oportunidades

“ Três programas emblemáticos caracterizaram este Governo: o Plano Tecnológico, o Simplex e as Novas Oportunidades. O que de melhor o Governo Sócrates fez, passou por aqui. Talvez, de todos, o Simplex tenha sido o que melhores resultados trouxe. Ainda é cedo para se fazer uma avaliação global, mas a simplificação burocrática conheceu um impulso sério.

O Plano Tecnológico traduz muito do deslumbramento de Sócrates e da sua geração pelo poder das tecnologias, e pela crença de que as tecnologias têm efeitos sociais de per se. Não têm. São instrumentos que só actuam em contextos sociais próprios e muitos milhares de euros de material avariado, computadores, gadgets estão por essas escolas e instituições públicas onde, depois de belas sessões públicas de ofertas e inaugurações, não se cuidou, por exemplo, da manutenção. Para além disso, ter banda larga em Ferreira do Alentejo é excelente se ela servir para alguma coisa, se as literacias para a usar existirem para além da ida à Internet para ver os sítios de futebol, pornografia e as fotografias da turma no hi5.
Terá ainda que se esperar para ver outros resultados do Plano Tecnológico, mas este perdeu dinâmica no último ano.

Quanto às Novas Oportunidades, foram no seu início um sucesso naquilo que era mais difícil: revalorizar o papel do ensino, da educação, da aprendizagem, do saber, em sectores da população que na sua vida tinham voltado as costas a esses valores, por necessidade ou por facilidade. Porém, o programa entra agora numa fase crucial: após os momentos de arranque inicial, é suposto que se comece agora a aprender e a ser avaliado. Essa é a parte mais difícil, mas a que justifica o projecto. E aqui as intenções iniciais começam a esmorecer, os atrasos a somarem-se, a perplexidade dos formadores a aumentar e o anúncio regular pelo Governo da outorga de mais uns milhares de diplomas faz suspeitar de facilitismo. Vamos ver”.

Pacheco Pereira
Revista Sábado

quinta-feira, dezembro 20, 2007

A Escola e o mundo perfeito

"O presidente da República sonha, como todos nós, com um mundo perfeito. Por isso, neste fim-de-semana, não só defendeu que os governantes devem ouvir o povo (está em causa a relação entre o Ministério da Educação e os professores), como insistiu que os problemas da educação não se resolvem com a baixa dos critérios de exigência e rigor na avaliação. O exemplo da matemática serviu-lhe que nem uma luva "A resposta a esse problema não pode ser a desculpabilização do insucesso nem tão pouco dizer que a matemática é fácil e divertida."
Em linhas gerais, é esse o caminho que tem sido seguido ou se alargam as estatísticas para servir os propósitos de "inclusão", ou se alargam os métodos para que todos brinquem na sala de aula e ninguém se aborreça. É um método conhecido de todos os que se interessam pelas coisas da educação. Se as notas andam muito baixas, levantam-se as médias; se os alunos não se interessam, aligeiram-se os conteúdos e introduz-se a variante "divertimento na sala de aula". E o mundo ficaria muito mais perfeito.
O governo tem, como todos os outros, os anteriores e os que lhe seguirão (lamento informar o senhor primeiro-ministro, mas haverá mais governos depois deste), um problema com as estatísticas. Geralmente, e muito surpreendentemente, as estatísticas atrapalham os números e, sobretudo, os bons números. Um dos processos para contrariar esta desobediência das estatísticas é o de impedir que elas "excluam"; pelo contrário, devem "incluir". Se há notas muito negativas a matemática, ou a, digamos, física-química, um dos processos que pode ser usado é o de subir as notas ou moderar os critérios de classificação. Logo, fica muito mais gente "incluída" e as estatísticas melhoram. Se há "abandono escolar", acabar-se com os chumbos por faltas pode ser um processo "facilitador". Acontece que o papel das autoridades não é o de serem "facilitadores" de coisas que não podem ser facilitadas, sobretudo quando são exaradas lá do alto, dos corredores do Ministério da Educação. Uso a palavra "corredores" porque qualquer responsável do ME sabe que se trata de um labirinto onde tudo se perde. Os pais sabem, às vezes tardiamente, os bons professores sabem, por muitos anos de experiência, que "facilitar as coisas" pode mostrar um mundo perfeito. Mas o mundo perfeito não existe. Eu entendo bem os pedagogos visionários e utópicos, que prevêm que com divertimento e tolerância tudo se arranja e o mundo ficará melhor. Mas não fica. Não vai ser. Pensamos que basta dar o exemplo, ler, ouvir música, usarmos computadores, sermos tolerantes - e generosos, educados, prestáveis, interessados. Com isso o mundo seria melhor. Mas não basta, infelizmente não basta. Com isso, os adolescentes das escolas seriam pessoas melhores, não usariam aquela gramática de grunhos, não faltariam às aulas, não desdenhariam dos professores que se esforçam e lhes ensinam a diferença entre o culto e o inculto, o cru e o cozido, o bem e o mal. O mundo seria perfeito. As famílias seriam honradas, pacíficas, passeariam ao domingo, fariam piqueniques, todos ajudariam a arrumar a cozinha e dormiriam a horas. Os nossos filhos leriam Dickens e Eça - ou, na pior das hipóteses, arrumariam os livros nas estantes. Interessar-se-iam por ciência e por política. Eu bem os entendo - mas não basta. É muitas vezes necessário ser cruel, usar a autoridade quando não se quer, dizer "não" quando até poderíamos dizer "sim", pensar no que significa, de facto, a palavra exigência. A vida não é fácil. Não nos basta sermos o que somos. É preciso pensarmos nisso - que a vida não é fácil e que aprender exige esforço. A democracia, que transformou as escolas em "estabelecimentos de ensino", como se fossem "lojas do cidadão", tem de resolver esse problema. Para ver se a escola volta a ser escola".

Francisco José Viegas
JN

segunda-feira, dezembro 17, 2007

segunda-feira, dezembro 10, 2007

Doutores e Engenheiros

"É com tristeza que comunico ao auditório o nosso 37º lugar no PISA. O programa da OCDE que permite enxovalhar-nos não ficou impressionado com os nossos conhecimentos científicos, linguísticos e matemáticos. Entre 57 países, ocupamos a terceira parte da lista, abaixo da média e muito atrás da Finlândia, que continua a liderar o barco. Como explicar esta sazonal vergonha? O Ministério da Educação, em atitude que se aplaude, não cede ao populismo fácil de quem aconselha mais estudo nas referidas matérias. Para o Ministério, o problema está na "disfunção" do sistema, que persiste em "reter" os nossos jovens quando a atitude mais sensata seria aprová-los com distinção. Nas palavras corajosas de Jorge Pedreira, secretário de Estado-adjunto, "a retenção não é normal" (Freud, naturalmente, discordaria). Espera-se que o Ministério aprenda a lição e, a partir do próximo ano, faça o que lhe compete: no início da escolaridade obrigatória, entregar a cada criança um diploma universitário. E depois enviar o retrato para a OCDE. Se o PISA não se espanta com um país de poetas, talvez respeite um Portugal precocemente coberto por doutores e engenheiros".

João Pereira Coutinho
Expresso

domingo, dezembro 09, 2007

Violência nas escolas

"Li num jornal que a senhora ministra da Educação está contente. E, quando os nossos governantes estão contentes, é como se um sol raiasse nas nossas vidas.
E está contente porque, segundo afirmou, a violência nas escolas portuguesas, afinal, não existe.
Ao que parece, andamos todos numa de paz e amor, lá fora é que as coisas tomam proporções assustadoras, os nossos brandos costumes continuam a vingar nos corredores de todas as EB, 2/3, ou como é que as escolas se chamam agora. Tenho muita pena de que os nossos governantes só entrem nas escolas quando previamente se fazem anunciar, com todas as televisões atrás, para que o momento fique na História. É claro que, assim, obrigada, também eu, anda ali tudo alinhado que dá gosto ver, porque o respeitinho pelo Poder é coisa que cai sempre bem no coração de quem nos governa, e que as pessoas gostam de ver em qualquer telejornal.
Mas bastaria a senhora ministra entrar incógnita em qualquer escola deste país para ver como a realidade é bem diferente daquela que lhe pintaram ou que os estudos (adorava saber como se fazem alguns dos estudos com que diariamente se enchem as páginas dos jornais) proclamam. É claro que não falo daquela violência bruta e directa, estilo filme americano, com tiros, naifadas e o mais que houver.
Falo de uma violência muito mais perigosa porque mais subtil, mais pela calada, mais insidiosa. Uma violência mais "normal". E não há nada pior do que a normalização, do que a banalização da violência.
Violência é não saberem viver em comunidade, é o safanão, o pontapé e a bofetada como resposta habitual, o palavrão (dos pesados) como linguagem única, a ameaça constante, o nenhum interesse pelo que se passa dentro da sala, a provocação gratuita ("bata-me, vá lá, não me diga que não é capaz de me bater? Ai que medinho que eu tenho de si", isto ouvi eu de um aluno quando a pobre da professora apenas lhe perguntou por que tinha chegado tarde).
Violência é a demissão dos pais do seu papel de educadores - e depois queixam-se nas reuniões de que "os professores não ensinam nada". Porque, evidentemente, a culpa de tudo é sempre dos professores - que não ensinam, que não trabalham, que não sabem nada, que fazem greves, qualquer dia - querem lá ver? - até fumam.
Os seus filhos são todos uns anjos de asas brancas e uns génios incompreendidos.
Cada vez os pais têm menos tempo para os filhos e, por isso, cada vez mais os filhos são educados pelos colegas e pela televisão (pelos jogos, pelos filmes, etc.). Não têm regras, não conhecem limites, simples palavras como "obrigada", "desculpe", "se faz favor" são-lhes mais estranhas do que um discurso em Chinês - e há quem chame a isto liberdade.
Mas a isto chama-se violência. Aquela que não conta para os estudos "científicos", mas aquela da qual um dia, de repente, rompe a violência a sério. E então em estilo filme americano. Com tiros, naifadas e o mais que houver".

Alice Vieira
Jornal de Notícias

sábado, dezembro 08, 2007

Professor denuncia ruína do ensino profissional

Entrevista ao "Expresso" de um professor aposentado que, há semanas atrás, em carta enviada ao Presidente da República, denunciava a fraude que constituem os cursos do CEF (cursos de Educação e Formação).

"Qual o motivo que o levou a recorrer ao Presidente?
Recorri ao Presidente da República por ser quem nos representa e quem deve saber tudo o que se passa no país. E é preciso que o país saiba que tipo de filhos estão as famílias portuguesas a criar e que os professores estão cansados, desanimados, desautorizados e com vontade de arranjar outra ocupação. Os professores estão transformados em amanuenses, obrigados a preencher papelada e mais papelada, e dentro da sala de aula a sua “luta” não é ensinar mas manter os alunos quietos, calados e se possível atentos. O PR tem o direito, o dever e a obrigação de perguntar ao Governo que sucesso é esse tão apregoado no ensino. Escrevi-lhe, também, em nome dos que não podem falar, porque é preciso que se saiba que as escolas estão preocupadas não com a transmissão de conhecimentos mas em “levar” os alunos até ao mês de Junho, de modo a poderem ter um diploma. Transformaram-se em “carimbadoras” de certificados, servindo-se das assinaturas dos professores para dar cobertura legal a esta mentira e a este engano que são os Cursos de Educação e Formação (CEF). Parece estar toda a gente muito feliz e contente a ver passar o cortejo onde o rei vai rotunda e adiposamente nu.

Porque só agora escreveu?
Tive, no ano passado, e pela primeira vez, turmas dos Cursos de Educação e Formação (CEF). Foi um grande choque ver a indiferença com que estes frequentadores da escola encaravam a sua actividade de estudantes (não lhes fica bem o nome de “alunos”, porque um aluno tem um compromisso com a escola e o objectivo de aprender). Estes frequentadores da escola aparecem nas aulas sem trazer uma esferográfica ou uma folha de papel. Trazem o boné, o telemóvel, os “headphones” e uma vontade incrível de não aprender nem deixar aprender.

Admite que a situação que viveu possa ser um problema localizado a esse ano ou a esse grupo de alunos?
Dos perto de 500 “mails”, chamadas telefónicas e mensagens de telemóvel que recebi, fiquei com a informação de que esta informação é geral. O comentário mais comum é de admiração por eu ter descrito exactamente o que se passa nas suas turmas. Muitos dizem-me que pensavam que isto só acontecia com eles e agradecem-me por tê-los ajudado a verificar que, afinal, não estão loucos. Eu mesmo senti, numa aula, que devia ter desembarcado num outro planeta, ao ver os alunos numa grande algazarra, como se a sala de aula fosse uma extensão do recreio. Apenas uma professora me diz que os cursos de jardinagem funcionam bem numa escola de Loures.

Na sua opinião, qual o nível de conhecimentos com que os alunos saem dos CEF?
Não sei qual o nível de aprendizagem noutras componentes, mas em Física e Química mostram um desconhecimento atroz de assuntos básicos. Não sabem que um livro corresponde a um decímetro cúbico, não sabem converter centímetros em metros e vice-versa. Pensam que se passa de minutos para horas andando com a vírgula para a esquerda. Se lhes der a velocidade de um móvel não sabem calcular a distância percorrida ao fim de um certo período de tempo. E o mal não é o desconhecimento, pois a minha função era eliminá-lo. O mal residia no facto de esses conhecimentos não serem assimilados por maior que fosse o meu esforço. Como se consegue ensinar alguém que está sempre a enviar mensagens de telemóvel? Mas o espírito dos CEF é este: se o aluno não aprende “a+b”, basta que aprenda apenas “a”. Se não aprende “a”, basta que aprenda metade de “a”, e se não aprender “metade de a”, basta que aprenda a milésima parte. É por isto que um diploma destes cursos é um atestado de ignorância e incompetência. E quando um empregador perguntar: “Quem foram os professores que disseram que tu sabias, quem foi que te deixou passar?” estará em causa o prestígio de toda uma classe e todos deveremos sentir vergonha.

O seu pedido de passagem à reforma está relacionado com esta experiência nos CEF?
A minha aposentação resultou da reunião das condições de tempo de serviço e de idade necessárias para o efeito. Mas há muitos professores que se querem reformar antecipadamente por que não aguentaram mais.

Estava à espera do impacto que teve a sua carta?
Sinceramente, não!. Escreveram-no contando histórias de arrepiar: desde o professor que aos 52 anos se vê obrigado a ir pela primeira vez ao psiquiatra, sabendo perfeitamente que o seu mal é a escola, até à professora que tentou suicidar-se não sabe se terá forças para tornar a entrar numa sala de aula. Lembro-me, também, de uma senhora me ter dito que tão ou mais grave do que as alterações do clima são as alterações de comportamento e a perda de valores por parte de uma geração que não está preparada para o futuro".

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Relatório do PISA 2006

Os resultados do PISA foram conhecidos e com eles vieram as más notícias para Portugal: continuamos na cauda da Europa e por lá devemos permanecer nos próximos anos. Tudo normal. Nada que nos espante. Tem sido sempre assim, pelo que, outro cenário que não este, é que seria motivo para nos deixar surpreendidos.
Quem parece ter ficado bastante desiludido foi o sub-secretário de Estado adjunto da Educação, Jorge Pedreira, para quem esta má performance dos alunos portugueses se deve às reprovações inúteis e injustas que vão acontecendo com demasiada frequência, por força da irredutibilidade de muitos professores que tardam em perceber a mensagem de que os “chumbos” devem ser encarados como uma solução extrema e de último recurso e não como uma prática corrente. Ora se no entender do digníssimo sub-secretário de Estado adjunto, a melhoria dos resultados nas provas internacionais passa por acabar com as reprovações, é de prever que, no sentido de reforço desta tese, as escolas venham a ser invadidas, muito proximamente, com despachos normativos a impedir as retenções. A bem ou a mal, urge que os professores aprendam, de uma vez por todas, quem é a voz da razão. A bem da nação!

terça-feira, novembro 27, 2007

Livrai-nos Senhor de tão funesta criatura!

Albino Maia, presidente da Confederação das Associações de Pais, tem-nos habituado a sempre que abre a boca dizer asneira. Hoje, no Jornal de Notícias, resolveu brindar-nos com mais uma ideia perfeitamente espatafúrdia. Defende, esta eminência parda, que os alunos devem sempre transitar de ano, recebendo apoios acrescidos, no ano seguinte, às disciplinas onde tiveram dificuldades. Sempre gostava de saber onde é que este sujeito se inspira para dizer tamanhas barbaridades. E o mais grave de tudo isto é o estatuto que ele vem adquirindo, graças à notoriedade que os órgãos de comunicação social lhe vão concedendo. Sendo um acérrimo defensor das políticas da tutela não tarda ainda o veremos num lugar de destaque no Ministério da Educação. Os devotos deste governo costumam ser premiados e Albino Maia parece andar à cata de alguma migalha. A ver vamos.

sexta-feira, novembro 23, 2007

rolling stones - you can't always get what you want

Conselhos executivos pressionam professores para evitarem negativas no 1º Período

"Parece que as notas dos alunos vão contar para a classificação profissional dos professores. O Ministério da Educação deve considerar, assim, que um bom professor é o que dá boas notas e não necessariamente o que se preocupa em ensinar aos alunos com rigor e que tenha um elevado grau de exigência. O bom professor não será o excelente pedagogo mas um ‘stor porreiro’ para os alunos mais cábulas.
Há, efectivamente, uma campanha para melhorar as estatísticas com o ensino. O problema é que este objectivo não é conseguido com uma melhoria efectiva da aprendizagem mas com subida artificial das notas. O CM publicou, na terça-feira passada, uma manchete com o título “Professores obrigados a dar boas notas”, onde revelava pressões em várias escolas para os docentes evitarem dar negativas. O Ministério da Educação desmentiu a notícia mas a realidade desmente o Ministério. O CM sabe que, em pelo menos sete escolas de diferentes regiões do País, foram convocadas pelos conselhos executivos reuniões gerais, onde a mensagem dominante passava pelo aconselhamento aos docentes para evitarem as negativas. Ao contrário do que o Ministério alega, não se trata de suspeições de dirigentes sindicais, o que se passa é que, na prática, só os dirigentes sindicais podem falar. Os outros professores temem processos disciplinares se contarem o que se passa nas escolas".

Armando Esteves Pereira
Director Adjunto do "Correio da Manhã"

domingo, novembro 18, 2007

Fantasiando

"Fantasiar - se é que o verbo existe - é divertido e não constitui crime. Por exemplo, a minha mãe, professora reformada do ensino básico, fantasia com a ministra da Educação. Calma. É um delírio simples, em que Maria de Lurdes Rodrigues acaba vítma de rapto e invariavelmente abadonada num dos grandes desertos do planeta. Em plena fantasia surge apena um pequeno temor: que a ministra, sem jamais perder aquela expressão de que uma Era Glacial está iminente, encontre um óasis. Ou ainda outro, quiçá mais improvável, de que o frio emanado por Maria de Lurdes acabe por congelar o Sahara.
Creio que não se podem levar a mal os professores porterem este tipo de sentimentos para com a titular da pasta. Não há nada que um professor mais estime do que um bom aluno. O prazer de ajudar alguém a crescer. Deve ser parecido com o que Camacho sente quando o Freddy Adu salva o Benfas.
E a verdade é que parecem estar a ser criadas cada vez mais condições para levar os bons alunos à extinção. Baixando as exigências, baixam os resultados. Usando mais uma analogia futebolística, é como se o treinador dissesse aos jogadores: não precisam de vir treinar. Apareçam só no domingo, para o jogo, ou então não - e tragam-me um atestado médico na segunda.
Desconfio que a insensibilidade revelada pela ministra está se calhar relacionada com a ausência de um professor emblemático no seu passado. Sim, brinquemos aos psicanalistas. Deite-se no divã, ó faz favor, sôtora. Temos uma hora. Conte-me tudo. Foi o papá ou a mamã? Quer experimentar hipnose regressiva? Costuma acordar a meio da noite com suores frios e uma manif da FENPROF na sala-de-estar?
O meu professor foi António de apelido Bulcão, uma reminiscência da palavra flamenga para "vulcão". Um açoreano ao quadrado, portanto. Advogado de formação, foi meu professor de Economia quando tinha 14 anos. Não aprendi nada sobre contas, a Bolsa ou as leis do mercado, mas nunca me esqueci das duas primeiras palavras que escreveu no quadro: "Jubiabá" e "Steinbeck".
Bulcão ensinou - ou melhor, incitou - uma pequena geração de adolescentes a ler, a escrever, a saber poesia de cor, a fazer teatro, a aprender música. Falta-me a última mas ainda não perdi a esperança. O professor Bulcão repetia-nos sempre que tinha demorado nove anos a concluir Direito mas não se arrependia de nenhum chumbo. Porque nesses anos "perdidos" tinha lido, escrito, seduzido, viajado, cantado, trabalhado noutras áreas e noutros sítios. Tudo aquilo que, sempre com apartes bem-humorados, nos inspirava igualmente a fazer. Perder um ano escolar não é necessariamente mau, péssimo é perder um ano das nossas vidas. Carpe Diem.
É por isso que este vosso escriba, acha que só tem 16 anos. Nasceu em 91, nas aulas em que a Economia servia só de pretexto quando começou a ler Jorge Amado e John Steinbeck, a escrever poemas para amarrotar; a subir a palcos escolares para cantar versos de Natália Correia musicados pelo professor ou a viver paixões assolapadas mais por raparigas e menos pelo Benfica.
Noestado actual da Educação em Portugal, temo que os alunos deixem de ter os seus professores emblemáticos. Uns porque nem sentem necessidade ou obrigação de ir às aulas e os resistentes porque, quando se sentam nas cadeiras, só vêem um professor desanimado à sua frente e um quadro sem quaisquer palavras misteriosas inscritas a giz.
Levante-se do divã, senhora ministra, o nosso tempo acabou...mas escute: e a sua vida, já começou?"

Luís Filipe Borges
"Sol"

sábado, novembro 17, 2007

Aumenta a escalada de violência nas escolas portuguesas

A ministra da Educação tem dito repetidas vezes que a escola é o local mais seguro para as crianças estarem. Ainda recentemente, revelou que a questão da violência nas nossas escolas não suscita grandes preocupações dado o reduzido número de participações de ocorrências graves. Factos vindos hoje a público, vêem contrariar as afirmações da ministra. Afinal parece que há motivo para estarmos alarmados. Segundo notícia do Expresso de hoje, “um ano depois de ter lançado apoios especiais para 33 escolas violentas, o Governo concluiu que tem de abranger o triplo”. Por outro lado, a linha SOS professor, desde o início do ano lectivo, já recebeu 35 denúncias de agressões de alunos e encarregados de educação contra professores. Ou seja, a escola de hoje não só não é segura para os alunos como também o deixou de ser para os professores. Estes últimos, aliás, têm razões mais do que suficientes para começarem a zelar pela sua segurança tão frequentes são as agressões de que têm sido alvo. Face a tudo isto, seria bom que a ministra se mostrasse mais atenta ao que se passa nas nossas escolas e escutasse as palavras do Procurador Geral da República, quando este alerta para a necessidade de urgentemente se acabar com a impunidade nas escolas. É que amanhã pode ser demasiado tarde.

quarta-feira, novembro 07, 2007

Contradições

"A senhora Ministra da Educação quando em 2005 justificou a necessidade de aulas de substituição, fê-lo alegando e cito de cor,que:"a Escola deve ocupar sempre os alunos do básico e do secundário para que não vão para o café,para o tabaco e pior".Ora acontece que agora em 2007, ao pretender justificar um novo Estatuto do Aluno em que se acaba com a distinção entre faltas justificadas e injustificadas , afirmou em entrevista televisiva e volto a citar de cor:"o que é relevante não são as faltas, mas sim se o aluno sabe ou não sabe". Desta feita parece ter deixado de se preocupar se o aluno que falta vai "para o café, para o tabaco ou pior". Então em que ficamos?!"

António José Ferreira
Abrupto

segunda-feira, novembro 05, 2007

É mau de mais para ser verdade

"Acho que está a fazer-se uma grande tempestade num copo de água a propósito do Estatuto do Aluno e da subsequente trapalhada que foi a votação do diploma no Parlamento. Na verdade, já estava previsto que tudo isto acontecesse. Os ministros da Educação, depois de resolverem os assuntos prementes da matéria administrativa da sua casa, raramente conseguem alterar o essencial; e o essencial é a qualidade do ensino; e combater pela qualidade do ensino é lutar pela elevação do grau de exigência e de rigor em todos os graus de frequência escolar. Os professores e os sindicatos estão fora dos corredores da 5 de Outubro, e acaba por ser fácil penalizar e humilhar professores. Já os pedagogos, os ideólogos do edifício escolar e os teóricos que se têm encarregado de embrulhar o suistema de ensino, esses, estão instalados no ministério.
Todos os conhecemos. Têm, antes de mais, um discurso muito próprio, cheio de metáforas e de ditirambos que nunca se referem a coisas práticas, que dificilmente estão relacionados com a escola e as suas dificuldades em existir e que, no fundo, vivem de experiências pedagógicas e vagamente científicas.
Maria de Lurdes Rodrigues encontrou o caminho facilitado; tratou de introduzir alguma racionalidade na administração escolar e na vida dos sindicatos, na "operacionalidade" e no mapa escolar. Mas, quando se esperava que essa coragem fosse transposta para a área fundamental, que é o ensino propriamente dito, entrámos no mundo do puro delírio.
Com as críticas ao processo de avaliação de professores a avolumar-se, aconteceu a polémica da TLEBS, terminologia linguística para o Básico e o Secundário. Depois de demonstrados os erros científicos metodológicos de grande parte da sua formulação, o ministério dividiu-se; um secretário de Estado prometeu (e comprometeu-se) suspender a TLEBS; um director-geral reconheceu erros mas defendeu que o ministério devia continuar a dá-los e a ampliá-los. Vendo bem como as coisas estão, verifica-se que continua tudo igual e que a política do ministério continua a aprofundar o ruinoso caminho aberto pelos delírios ideológicos que transformaram o ensino do Português numa banalidade e que vandalizaram o ensino da Matemática. Geralmente, o ministério acha que está munido de excelentes ideias. Um grupo cada vez mais numeroso (porque se acumulam as suas assinaturas ao longo dos anos) de técnicos e burocratas dessa ideologia passa incólume no meio da asneira. Eles acham que estão munidos de excelentes ideias. Mas, mesmo depois de se ter provado que essas ideias dão péssimos resultados, aqui ou no estrangeiro, mesmo depois de terem recebido críticas demolidoras, tudo continua na mesma, ou pior. O ensino - nomeadamente a ideologia que está por detrás de todas as decisões do ministério em matéria pedagógica e científica - está entregue a esse monstro corporativo que supõe ter toda a verdade do seu lado. O estatuto do aluno e o seu regime de faltas é apenas mais um episódio lamentável a acrescentar a tantos outros. É, geralmente, gente que não conhece a escola real, que não tem contacto com o dia-a-dia das escolas, que imagina os professores como meros instrumentos ao seu dispor para as experiências mais descabidas. As vítimas dessas experiências descabidas são os nossos filhos - e é o seu futuro. Por isso, o sinal dado pelo Ministério é definitivamente mau e constitui um erro grave, desculpabilizando os alunos faltosos, penalizando os alunos cumpridores e sobrecarregando os professores e as escolas com outra categoria de "desprotegidos" os que, deliberadamente, faltam às aulas. Tudo para adulterar e manipular as estatísticas, o que é grave demais".

Francisco José Viegas
Jornal de Notícias

domingo, novembro 04, 2007

A escola e os números

"Há mais 7% de alunos inscritos no secundário, há mais 35% na via profissionalizante, a taxa de insucesso escolar nos 10º, 11º e 12º anos baixou de 32% para 25%, os chumbos no 12º passaram de mais de 50% em 2004-2005 para 38% no último ano lectivo. Estas estatísticas foram divulgadas esta semana pela ministra da Educação e levaram o primeiro ministro a concluir: “Com o mesmo dinheiro, menos professores e menos escolas, conseguimos ter mais alunos e melhores resultados”.
Conseguimos mesmo?
Os números, aqueles, assim apresentados, poderiam levar a crer que sim. Mas nem os números, aqueles, são suficientes para permitir tal conclusão, nem pode quem quer que seja concluir pela melhoria do ensino apenas e só por uma análise quantitativa.
“Provavelmente nenhum aluno chumbou por faltas no último ano”, disse a ministra em entrevista ao DN. Provavelmente? Como provavelmente? Então o Ministério da Educação, que divulga números exactos e se vangloria com eles, não sabe quantos alunos chumbaram por faltas no último ano?
Claro que houve alunos que chumbaram por faltas no último ano – basta telefonar para uma escola secundária, aleatoriamente, e perguntar.
E, “provavelmente”, não foram tão poucos que não justifiquem estudo estatístico. E, “provavelmente”, seriam muitos mais se para essa estatística contassem também os alunos que, no final do 2º período, foram convidados pelos estabelecimentos de ensino a anularem as matrículas em vez de se sujeitarem ao inevitável chumbo no final do ano.
Maria de Lurdes Rodrigues socorreu-se daquele “provavelmente” para vir a público defender com unhas e dentes o ex-novo Estatuto do Aluno, que previa a retenção dos estudantes por excesso de faltas e a impossibilidade de expulsão da escola. “Ex-novo Estatuto do Aluno” porque o diploma aprovado no Parlamento acabou por consagrar o contrário – prevendo a retenção dos alunos que ultrapassem o limite admissível de absentismo e admitindo também a possibilidade de expulsão.
Alterado o Estatuto, a ministra foi à RTP afirmar que, afinal, o que acabou por ser aprovado foi o que ela sempre defendeu e que, aliás, constava da proposta que, em Abril, foi aprovado em Conselho de Ministros. Sim, senhora. Se todos os que leram a entrevista ao DN entenderam o contrário foi porque não o souberam ler. Ou leram o que ela não disse. Ou seja, deviam era todos voltar aos bancos da escola, mesmo que depois faltassem.
Quanto ao abzentismo (sic), a ministra disse à RTP que acredita que se um professor chamar um jovem que falta uma vez às aulas, e o castigue ou advirta para as consequências de um comportamento abzentista (sic), o aluno entende e corrige o seu comportamento.
COMO? QUEM? ONDE?
Talvez no mesmo país em que não se justifica qualquer preocupação especial com os fenómenos de violência e de criminalidade vária que se passam nas escolas e que a ministra reduz a actos de mera indisciplina.
As teorias da ministra são, aliás, as mesmas que estiveram na base do Programa Integrado de Educação e Formação (PIEF). Bem intencionado, é certo. Mas com os resultados que estão à vista e que “provavelmente” a ministra já tem na sua posse. Divulgue-os! A ver se tem razão e se todos os velhos do Restelo que há gerações e gerações repetem o discurso catastrofista sobre o ensino.
Maria de Lurdes Rodrigues diz as coisas com ar tão determinado que não pode viver no mesmo mundo do procurador-geral da República e dos milhares de professores que diariamente lidam com sérios problemas sociais e educacionais nas escolas de todo o país.
“Provavelmente”, Maria de Lurdes Rodrigues não vive neste mundo".

Mário Ramires
"Sol"

sexta-feira, novembro 02, 2007

A Sinistra continua em grande estilo

Maria de Lurdes, na entrevista ontem dada à RTP, desvalorizou a assiduidade dos alunos. Para ela o importante é que os meninos cheguem ao final do ano lectivo e mostrem que adquiriram conhecimentos. Se faltam ou não isso é uma questão de somenos. Está deste modo legitimada a possibilidade de um aluno ir à escola apenas nos momentos dos exames. Compreende-se: se José Sócrates, conseguiu uma licenciatura sem praticamente colocar os pés nas aulas porque é que os petizes haviam de ter regras diferentes? Aplaudo a coerência da ministra e, acima de tudo, a solidariedade para com o seu “patrão”.

Mais uma crítica ao novo estatuto do aluno

"No curto espaço de uma semana, o Governo de José Sócrates conseguiu produzir dois documentos de uma imbecilidade absolutamente notável que dizem muito sobre a massa de que é feito este executivo.A festa começa nesse hino à impunidade e à displicência que constitui o novo estatuto do aluno. A coisa explica-se de uma penada: reconhecendo a sua antipatia genética pela ideia de disciplina, o PS de Sócrates resolve a questão da generalizada rebaldaria que grassa nas escolas públicas do País legitimando-a. A ideia é de uma genialidade desarmante. À falta de vencer a balda, integra-se no sistema a própria balda: os petizes, que já tinham dificuldade em chumbar por razões pedagógicas, ficam agora “proibidos” de chumbar por faltas. Ou como se diz em “eduquês”: “a escola pública inclusiva não pode permitir que se impeça um aluno de voltar à escola por conta, apenas (sublinhado meu), de um determinado número de faltas”. É certo que alguns lunáticos e conservadores ultrapassados dirão que se sacrifica um pouco mais a cultura de exigência e de mérito que seria suposto começar a ensinar-se na escola pública. Mas os cães ladram e a caravana passa. E o que é realmente importante é que, graças a esta aberração saída das profundezas mais tenebrosas do Ministério da Educação, que dá pelo nome oficial de “nova filosofia de intervenção pedagógica e disciplinar”, se salvam a face da ministra e as estatísticas do sector (...)".

Pedro Norton
Visão

terça-feira, outubro 30, 2007

Tolerância zero à mentira

Em mais uma manobra de propaganda, Maria de Lurdes veio anunciar, com pompa e circunstância, o facto de o insucesso escolar ter diminuído 7% no ensino secundário, nos últimos dois anos. Devia também ter dito, à luz da verdade, que isto só acontece graças à manipulação dos resultados. Deixando de fora as saídas precoces da escola, não considerando o abaixamento do nível de exigência e com as passagens administrativas que se verificam nos cursos profissionais, o difícil seria não apresentar melhores resultados. Se a esta redução correspondesse uma efectiva melhoria na qualidade das aprendizagens dos alunos, aí sim, havia razões para contentamento. Como, infelizmente, estes números não descrevem a realidade, longe disso, mais valia que a senhora tivesse ficado calada e deixasse de se aproveitar da ignorância dos portugueses para os enganar a torto e a direito. Verdade se diga que esta forma de estar não é exclusiva de Maria de Lurdes. A "chico-espertice" estende-se a todo o elenco governativo e já enoja. Num país a sério este tipo de atitudes seriam devidamente castigadas. Por cá, ao invés, o crime por norma compensa: em vez de sofrerem as consequências dos seus condenáveis actos esta malta prepara-se, como indicam as sondagens, para mais um mandato de governação. É caso para dizer: estamos lixados!

segunda-feira, outubro 29, 2007

Maria de Lurdes igual a si própria

A ministra da Educação acusou hoje o CDS/PS de “prestar um mau serviço aos jovens” ao difundir a ideia de que é possível faltar e passar de ano. Segundo a ministra, esta afirmação é uma enorme falsidade uma vez que o novo estatuto, ao contrário do anterior, é muito mais exigente em matéria de assiduidade dos alunos. Ao dizer o que disse, Maria de Lurdes, ou está esquecida ou manifesta um profundo desconhecimento do que consagrava o anterior estatuto que, como todos nós sabemos, penalizava os alunos com uma retenção caso estes ultrapassassem o limite de faltas previstos na lei, algo que não se passa com o novo estatuto em que o aluno tem a possibilidade de transitar de ano caso fique aprovado numa prova de recuperação.
A propósito desta mentira descarada, apresento aqui um excelente comentário anónimo, via jornal “Público”, que vale a pena reproduzir:

“Pois se é a verdade, nua e crua! Está escrito preto no branco, no novo Estatuto do aluno: os alunos que até aqui reprovariam por excesso de faltas, já não reprovam, bastando para isso fazer uma "prova de recuperação" que nem sequer está explicado, o que acontece se o aluno também faltar a essa prova. Provavelmente fará uma "recuperação" da Recuperação. Lurdes Rodrigues, nos seus desvarios de incompetência, não queria é que ninguém levantasse ondas nem denunciasse publicamente a situação. E que quer ela dizer com "se o aluno falta, será chamado à atenção"? Alguma rábula do Director de Turma, do género "isso não se faz à Tia"? Sim, porque depois deste "mamarracho" aprovado, o DT pouco pode fazer se o aluno quiser mesmo andar na balda. Aliás a Sinistra, perdão, Ministra, mete os pés pelas mãos ao tentar explicar o inexplicável: as escolas vão ser dotadas de meios para intervir nas faltas? Acabar com a burocratização? Restituir autoridade aos professores? Quando praticamente se legaliza as faltas dos alunos, passando claramente a mensagem que se excederem o limite não faz mal, há sempre uma "prova de recuperação..."? Mas qual reforço do controle de faltas? Mas qual reforço da autoridade do Director de Turma? E ainda vem defender publicamente este disparate colossal, falando das responsabilidades dos "outros"? E o propalado "líder" das associações de Pais junta-se a ela no coro, ao defender também este atentado!!! Ele que se fartou de falar das faltas dos Professores agora defende a liberalização - porque é disto que se trata, não tenham dúvidas - das faltas dos alunos? Se calhar quer que os Professores vão à procura dos alunos pelos corredores pedir-lhes que venham à aula, não? Eis os resultados de maiorias absolutas: por muitas asneiras que se façam está-se sempre a salvo de perder o lugar. Pelo menos até às próximas Legislativas...”

domingo, outubro 28, 2007

As lições que a escola vai dando

"Há sempre boas explica­ções gara tudo. Para o fim das faltas justifica­das nas escolas o secre­tário de Estado da Educação ar­ranjou uma bem simples: as faltas, disse ele, levavam a que os alunos chumbassem e ficassem parte do ano sem escola, numa situação insustentável. Ao mes­mo tempo, muitos pais justifica­vam fraudulentamente as faltas dos filhos. Era preciso acabar com isso.
Decretou-se mais exigência? Não! Decretou-se o fim da dife­rença entre faltas justificadas e injustificadas.
Doravante, um aluno com fal­.tas a mais (seja por doença seja por estar num centro comercial a fumar cigarros) sujeita-se a uma prova, especial para ele, que pesará na avaliação final o que o professor entender.
Enfim, entende-se que os miú­dos não podem andar aí pelas ruas, em vez de estarem nas es-
colas. Quando faltam, a escola notifica os pais e prepara-lhe a prova 'de recuperação'.
Isto, no fundo, deve-se à - per­doe-se-me a expressão, mas não vejo melhor - baldá total nas es~ colas. Dá-se de barato q~ há alunos que faltam. E como as re­comendações do Ministério (e as necessidades estatísticas) im­pedem o chumbo (perdão, a re­tenção do aluno) ia tudo passan­do de ano, mesmo sem saber ab­solutamente nada, a menos que faltasse demais.
Com as provas de 'recupera­ção' acaba-se este ciclo. A partir de agora o aluno faltoso deve fa­zer a prova. Se tiver boa nota, as faltas não interessam para nada; se tiver má nota, não se percebe bem o que acontece, uma vez que a retenção (vulgo chumbo) não e coisa que se faça, pelo me­nos no ensino obrigatório.
E, assim, as nossas adoráveis crianças descobrirão que faltar p"ode bem ser a forma mais fácil
de passar de ano. Não chumbam nem são excluídas da escola e an­dam na rua à mesma! Depois lá fazem um testezinho e pronto! Imagine-se o diálogo de um pai com o filho:
- Andas a faltar à escola?
- Não faz mal, eu faço a prova de recuperação.
E assim se passam valores pa­ra a"vida. Pena devem ter os tra­balhadores de não terem génios destes à frente das suas empre­sas. Faltar quando apetece e, de­pois, trabalhar um bocadinho ­nada que afecte as meninges ou o físico; nada que afecte o salá­rio contratado.
São lições que se ganham nas nossas escolas vítimas do fardo 'eduquês' dos legisladores.
Por mim, já nem tenho espe­rança na salvação. Quem pode, tem os filhos nas escolas priva­das; quem não pode, aguenta; quem não sabe, é excluído. A exi­gência é uma palavra banida des­te sistema educativo".

Henrique Monteiro
Expresso

sábado, outubro 27, 2007

Uma certa utopia de escola pública

"Foram divulgados os rankings das escolas relativos ao ano lectivo de 2006/2007. Permanecem os mesmos fenómenos de sempre. As escolas de topo do ranking são escolas privadas que conseguem sobreviver apesar de competirem com escolas públicas que não cobram propinas. As médias das notas que resultam da avaliação interna são superiores às médias obtidas em exame nacional. Esta discrepância é maior nas escolas com piores resultados nos exames nacionais, o que indica que os concursos de acesso ao ensino superior são viciados por escolas que inflacionam as notas internas. Os rankings continuam a indicar que as escolas do litoral têm melhores médias que as escolas do interior e que as escolas próximas de bairros ricos têm melhores médias que as escolas próximas de bairros pobres.
Estes resultados demonstram o fracasso de uma certa utopia de escola pública. Aquela utopia que nos diz que a escola pública acabará com as diferenças sociais e produzirá igualdade de resultados entre pessoas de meios sociais diferentes. São os próprios defensores dessa utopia que, perante os rankings, o reconhecem. Como os rankings mostram que as escolas mais bem classificadas são escolas privadas, os defensores da utopia da escola pública são forçados a alegar que os resultados das escolas privadas se devem à origem socioenonómica dos seus alunos. Dizem que o meio socioeconómico influencia mais os resultados que a qualidade da escola. Reconhecem, em última análise, que, ao contrário do que diz a utopia, a escola pública está muito longe de anular os efeitos do meio socioeconómico.
Os defensores da escola pública alegam ainda que as escolas privadas de topo têm melhores resultados porque seleccionam os seus alunos. Segundo eles, a escola pública é uma escola que não discrimina ninguém. Ora, este é mais um indicador de que o conceito de escola pública que defendem é utópico. A melhor escola para um dado aluno é aquela que tem, não apenas os melhores professores, os melhores métodos e as melhores instalações, mas também os melhores colegas. Nenhum pai quer que o filho tenha colegas que perturbam o ambiente escolar. As escolas melhores são aquelas que seleccionam os seus alunos. As escolas da utopia não podem fazer essa selecção e serão sempre medíocres. São os pais, os professores e o próprio Ministério da Educação os primeiros a recusar e a conspirar contra a utopia. Os pais mais bem informados tentam colocar os seus filhos nas escolas com o melhor ambiente socioeconómico. A formação de turmas de elite dentro das escolas públicas é uma prática comum. As políticas do Ministério da Educação levam os melhores professores para as escolas das zonas economicamente mais favorecidas. A utopia é irrealizável"

João Miranda
Diário de Notícias

sexta-feira, outubro 26, 2007

O Novo Estatuto do Aluno

Com o novo estatuto do aluno, está aberto o caminho para o caos na escola pública. O aluno agride, rouba, destrói, uma, duas, três, quantas vezes quiser que o pior que lhe pode suceder é ir 10 dias para casa, supostamente para se acalmar. Acabado esse período de férias forçadas (mas muito bem gozadas, presumo eu) volta de novo à escola e com carta branca para repetir a dose de agressões, de roubos e de destruição. Expulsar o aluno? Nem pensar! Seria mais um abandono escolar a contabilizar e isso é coisa que o nosso governo não permite pois comprometeria as estatísticas de sucesso. Prometia a ministra, há bem pouco tempo, que iria reforçar a autoridade dos professores na escola. Esta é a prova que faltava de que esta gente mente compulsivamente e, bem mais grave, com a maior das impunidades.
Como esta medida ainda não era suficiente, a bancada socialista decidiu colocar a cereja no topo do bolo ao decidir que as reprovações por faltas deixam de existir. Os alunos que excederem o número limite de faltas previstos por lei terão agora a possibilidade de fazerem uma ou várias provas de recuperação, tantas quantas as necessárias, até conseguirem a aprovação. Se isto é promover um ensino de qualidade eu vou ali e já venho!
Quem deve estar em êxtase com estas decisões são os alunos que vêem assim a sua vida facilitada. Os pais também devem estar felizes. Pelo menos a maioria (exceptuam-se aqueles que ainda se vão preocupando com a formação dos seus filhos). Aliás, o presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais já deu o mote ao considerar “a medida generosa porque permite dizer ao aluno que a escola está sempre aberta”. Segundo ele deu-se um passo em frente. Realmente com este novo estatuto damos um passo em frente, mas na direcção do abismo.
Uma coisa é certa. Dentro de um par de anos seremos imbatíveis nas estatísticas europeias de combate ao insucesso e ao abandono escolar. O pior será quando os nossos alunos confrontarem conhecimentos com os seus colegas europeus nas provas internacionais. Aí o embuste vai ser desmascarado e sempre quero ver como Sócrates irá descalçar a bota.

P.S. Aguardo expectante o que a nossa comunicação social terá a dizer sobre tudo isto. Em especial, os habituais opinadores que não se têm cansado de elogiar o trabalho da ministra. Não que tenha grande fé na sua honestidade intelectual. Mas, ainda assim, não deixo de estar curioso em ouvir e ler as prováveis barbaridades que serão ditas e escritas sobre este assunto.

quinta-feira, outubro 25, 2007

Ranking das escolas

"Com nove nas dez primeiras, a liderança das escolas privadas no ranking 2007 é inquestionável. Mas é abusiva qualquer leitura apressada que coloque as escolas privadas como naturalmente melhores que as públicas. As primeiras tendem a lidar com elites, tanto económicas como culturais, e são as segundas que enfrentam o desafio do país real. Para perceber que são as escolas públicas que convivem com o ensino de massas basta elaborarmos uma listagem das escolas onde se realizaram mais de 500 provas para se perceber que entre elas (quase cem) apenas existem três privadas e que a melhor não vai além do 4.º lugar.
No fundo, até que ponto se pode elogiar o primeiro lugar do Colégio Mira Rio, que funciona em Lisboa e somente para raparigas, e deixar, por exemplo, de sublinhar a qualidade da Secundária Manuel da Fonseca, em Santiago de Cacém, que consegue o 30.º lugar apesar de funcionar nesse Alentejo meio esquecido?
E se o ensino público não pode ser confundido com más escolas, também o ensino privado nem sempre é sinónimo de qualidade. Basta notar que nas dez piores do ranking estão três estabelecimentos privados, cinco se contarmos com duas escolas que funcionam no estrangeiro.
Numa sociedade aberta como Portugal tem de haver lugar para o ensino privado, sobretudo de qualidade. Mas convém não esquecer que é o ensino público aquele que tem obrigação de garantir a igualdade de oportunidades. E é defendendo-o e tornando-o melhor que se garante um Portugal melhor".

Editorial
Diário de Notícias

segunda-feira, outubro 22, 2007

Palavras sábias

Extracto de uma entrevista de Marçal Grilo, há sete anos atrás, após deixar a pasta da Educação.

Nunca sentiu falta dessa formação em Ciências da Educação?
Não. Nunca me fez falta. Acho que as Ciências da Educação têm um contributo muito importante para o futuro da educação, mas têm uma linguagem e uma forma de abordar os problemas… Não me fez falta, e não sei se faz falta a alguém, em termos de política educativa. Eu não tenho nada contra as pessoas das Ciências da Educação.
Num gabinete de Ministro, ou de Secretário de Estado, faz mais falta um jurista do que alguém especialista em Ciências da Educação?
Um jurista é absolutamente indispensável.
Era uma coisa que faltava no gabinete da sua Secretária de Estado, mas havia muita gente de Ciências da Educação.
Eu nunca tive ninguém. As Ciências da Educação são uma área… Conheço uns textos, mas a linguagem… Há uma coisa em alguma da sua mensagem que me faz um bocadinho de impressão. Talvez seja heresia o que estou a dizer: à educação e formação das pessoas está ligado trabalho intenso, esforço, algum sacrifício. O estudar ou formarmo-nos não é sempre uma coisa agradável, muito colorida. O rigor, a disciplina, o trabalho, fazem parte do processo educativo e quanto mais cedo se aprender isto melhor. Acho que, aqui, as Ciências da Educação simplificam um bocadinho.
No sentido da permissividade?
Não, mas no sentido em que há uma super-vontade de aceitar tudo e de tudo desculpar, e de tudo entender, e de tudo compreender, e de tudo justificar.(…)
Há, muitas vezes, a sensação de que as pessoas que giram em torno da educação são quase sempre as mesmas?
Não é só isso. Eles, no mundo da educação, conhecem-se todos uns aos outros. E têm ódios internos, os seus amores e as suas desavenças. Isso está permanentemente a vir ao de cima. Por exemplo, com aqueles que não gostam das Ciências da Educação (sou insuspeito nessa matéria, porque sou engenheiro mecânico… por isso estou completamente fora dessas questiúnculas), isso é perfeitamente notório.
Por isso não fala eduquês?
Pois. Nunca falei. Mas, dentro do mundo das pessoas que falam sobe educação, que fizeram teses sobre educação, há escolas entre eles, conhece-se dos júris, das teses, das faculdades, dos estudos que fizeram no estrangeiro, etc. Escrevem coisas que, muitas vezes, são reflexo das posições que têm à partida e não propriamente em relação ao tema específico. Este é mais um pretexto para voltar a afirmar determinada posição contra o senhor tal ou a senhora tal.
Reconhece-lhes algum valor, porque chamou alguns deles para fazerem estudos…
Com certeza. São doutorados, são pessoas qualificadas, com grandes qualidades, mas, na expressão das suas posições públicas, normalmente escrevem por razões que não têm a ver com o tema em si, mas com o que está por detrás disso.
Pensa, então, que há um grupo de pessoas que acha que percebe muito sobre educação e, afinal, percebe pouco?
Eu acho que devem perceber. O cidadão normal tem obrigação de saber coisas sobre educação, todos nós passamos pela escola".

sexta-feira, outubro 19, 2007

Exames só com matéria do 12º ano

"Os alunos que estão no 12.º ano e que realizem exames nacionais no final deste ano lectivo vão ter menos matéria para estudar. Uma portaria do Ministério da Educação (ME) determina que os exames às disciplinas trienais (Português, Matemática A, História A, Língua Estrangeira e Desenho A) incidam apenas sobre os programas do último ano, em vez de avaliarem os três anos do Secundário".

Invariavelmente, toda e qualquer orientação vinda do Ministério da Educação aponta no caminho do facilitismo ( a exigência é só para os professores). E assim se promove o sucesso escolar em Portugal.

quarta-feira, outubro 17, 2007

Caixa Geral de Aposentações recusa reforma a professora com cancro na língua

Crueldades deste calibre nem no tempo de Salazar. Em contrapartida, com este governo, estas e outras selvajarias vão-se tornando o pão nosso de cada dia. De forma incompreensível e com o beneplácito da maioria dos portugueses, conforme indicam as sondagens. É caso para dizer: estranho povo este que permite que pessoas nestas condições sejam obrigadas a manter-se no activo enquanto deputados e gestores públicos se vão “abotoando” a indignas reformas milionárias que pouco fizeram por merecer. Um novo 25 de Abril precisa-se. E com a máxima urgência.

quinta-feira, outubro 11, 2007

quarta-feira, outubro 10, 2007

Menos paleio e mais acção, é o que se exige

Nos seus habituais comentários das terças-feiras na TVI, Miguel Sousa Tavares, convidado a fazer uma apreciação sobre os acontecimentos da Covilhã, não desaproveitou a oportunidade para mais uma vez zurzir nos sindicatos de professores. Até aqui tudo normal: é sabido que o indivíduo não suporta os representantes legais dos professores, em especial a Fenprof, por quem nutre um profundo ódio, como aliás tem sido notório sempre que se pronuncia sobre temas da educação.
Mas o que mais me incomodou na dita intervenção foi ele dizer que ainda está por provar se os professores se revêem na contestação que os sindicatos fazem relativamente à política educativa do governo, apresentando como exemplo dessa sua tese o famigerado ECD. São estes considerandos que deviam fazer tocar os sinais de alarme da classe docente. Declarações como esta deviam preocupar todos os professores pois pode prevalecer a ideia de que MST é bem capaz de ter razão naquilo que afirma. A verdade é que nesta luta contra as diatribes do Ministério da Educação só os sindicatos se chegam à frente. Da parte dos professores continuamos a assistir a uma passividade preocupante que não abona em nosso favor. A atitude da maioria dos professores faz-me lembrar a velha imagem que o mundo do futebol costuma ter do futebol português: muito rodriguinho, muita capacidade técnica, mas na hora de rematar à baliza adversária somos um completo desastre. Com os professores passa-se exactamente o mesmo: muita retórica, muita falinha mansa, aparentemente muita vontade em demonstrar a nossa indignação mas no momento de traduzir esse descontentamento em actos concretos falhamos rotundamente. Assim sendo, não devemos depois admirar-nos que a opinião pública e MST em particular, possam ter naturais reservas sobre se os sindicatos efectivamente são a voz da contestação dos professores ou se ao invés se representam a si próprios.

A improdutiva Área de Projecto

"Costumo ler a secção "Pingue­-Pongue", onde escrevem, alternadamente, Rui Tavares e Helena Matos. Estando mais atento e manifestando mais interesse pela opinião da v/colaboradora, porque mais objectiva, mais pragmática e realista, não posso deixar de concordar, de uma maneira geral, com as análises que Helena Matos desenvolve, principalmente quando envereda por temas relacionados com a Educação. E, na minha opinião, sabe do que fala. Exemplo vivo disso foi a sua afirmação, no passado dia 11 de Setembro, de que a "Área de Projecto" é uma fraude". Sem dúvida.
Como professor - e leccionando, contrariado, esta abominável "disciplina" da área curricular não disciplinar -, verifico que a carga horária da mesma interfere com outras disciplinas, bem mais importantes, para a formação intelectual e científica dos jovens, coarctando-lhes a liberdade para o convívio, para a partilha, para o desporto. Em suma: sobrecarrega­-lhes os horários.
De resto é sabido que a designada Área de Projecto (AP), introduzida no ensino básico e secundário, pouco ou nada tem contribuído para a suposta autonomia, organização, capacidade de trabalho e espírito de inter·ajuda dos alunos. Esta cretina invenção dos "cientistas da educação" tem contribuído, ainda mais, para o descalabro e decadência do ensino no nosso país. Esta área curricular não disciplinar, a famosa A.P., acaba por degradar a qualidade da relação professor-aluno; promove e estimula a balbúrdia e a indisciplina; desvaloriza o verdadeiro conhecimento; sobrecarrega os curriculos e impede que outras áreas do conhecimento como as ciências, geografia, filosofia e história disponham de mais horas. Aliás, é patente a revolta dos professores das disciplinas que referi por verificarem que várias horas lectivas são desperdiçadas na vacuidade da AP, enquanto não lhes sobejam horas para desenvolverem, com proficiência, a consolidação dos conhecimentos e as matérias das disciplinas aludidas. Também tenho constatado, como professor, que os melhores alunos não gostam desta "disciplina" pois afirmam que é inútil, maçadora, vazia, "roubando-lhes" precioso tempo para estudarem as disciplinas fulcrais que os prepararão, verdadeiramente, para a vida profissional. Deixemo-nos, de uma vez por todas, de tretas, do "encher chouriços" e do "eduquês" que está subjacente à Área de Projecto! Não se inventem ocupações sem sentido algum, sobrecarregando os alunos! Já nos basta o supérfluo Estudo Acompanhado e a inoperante Educação Cívica que podem, muito bem, "substituir" a vacuidade da AP. Por estas e por outras é que a decadência da educação vai continuar. Convirá lembrar que, em grande parte, os factores do fracasso do sistema educativo português são os "cientistas da educação" que, com as suas teorias e o gosto pela papelada inútil, se instaIaram no sistema educativo e continuam, de forma perniciosa, a influenciar as determinações dos ministros. Mais: continuam estes "cientistas" enredados numa visão panglossiana a falar em sucesso educativo nesta escola democrática massificada, sucesso esse que - com esta política educativa de torniquete e sopeamento dos professores -, há-de vir numa manhã de nevoeiro envolvendo os ditos iluminados encabeçados pelos "três mosqueteiros" (uma e dois) que julgam, ilusoriamente, estar realizando um trabalho meritório e profícuo no Ministério da Educação ...
(...) Enquanto isso os alunos continuam com a indisciplina, a violência, os maus comportamentos dentro e fora da sala de aula e a isto o ministério nada diz. Ou melhor, descarta-se "dizendo": aturem-nos e aguentem. Se não conseguirem metam baixa e inundem os consultórios dos psiquiatras!".

António Cândido Miguéis
Vila Real

sexta-feira, outubro 05, 2007

O discurso de Cavaco Silva

Muitos professores terão ficado com a lágrima ao canto do olho só porque o Presidente da República alertou para a necessidade de se prestigiar a função docente. Pensam eles que o discurso de hoje pode constituir um sinal de mudança. Decididamente a classe não aprende. Não foi Cavaco Silva que promulgou um ECD que só desprestigia e desqualifica a profissão? Alguém o viu colocar em causa a constitucionalidade do documento quando havia pareceres a indicar a inconstitucionalidade de vários artigos? Porventura veio defender os professores dos constantes ataques de que têm sido vítimas por parte da tutela e da sociedade civil? Alguma vez criticou a política educativa do Governo? Caríssimos colegas, não sejam ingénuos, não se deixem levar por discursos de circunstância. Estas palavras, como bem sabemos, vão ser levadas pelo vento. Não terão efeitos práticos rigorosamente nenhuns. O Governo irá continuar a sua campanha de combate aos professores e estes manterão a sua habitual passividade, ou seja, continuarão a comer e a calar como sempre têm feito até aqui. Querem apostar?

quarta-feira, outubro 03, 2007

Realidade vs Marketing

"Os discursos oficiais anunciavam um caminho capaz de tirar Portugal rapidamente dos últimos lugares no que respeita à qualidade do ensino.
As famílias que se preocupam com o futuro dos filhos já tinham razões para desconfiar de tão fabuloso marketing, porque a experiência de grande parte das escolas desmentia o optimismo oficial.
É também por causa da deficiente qualidade do ensino público que as melhores escolas privadas das grandes cidades têm listas de espera infindáveis. Muitas escolas públicas transformaram-se em simples depósitos de alunos, onde a preocupação dos professores é cumprir o programa, aprendam os alunos ou não.
No final do ano passam todos para evitar chatices e pressões por causa das más estatísticas. Assim chegam ao antigo ciclo preparatório alunos que praticamente não sabem ler, escrever ou contar. E concluem o Ensino Secundário jovens que não conseguem entender o sentido de um texto.
Há alunos sem professor, escolas sem condições e contentores transformados em salas de aula.
Não basta as boas intenções do Ministério para que a Educação seja um efectivo investimento no capital humano".

Armando Esteves Pereira
Director Adjunto
Correio da Manhã

terça-feira, outubro 02, 2007

Escola triste, triste Escola...

"A inauguração oficial de mais um ano lectivo, distribuída por diversos estabelecimentos de ensino, foi um espaço de afirmação de um poder que mexe, que sabe aparecer, que manda, que controla, que até oferece computadores com uma prodigalidade nunca vista!... Tudo sucedeu em ar de festa… Para tentar alegrar (ludibriar?) a malta?... Apenas para inglês ver?...
Não assisti a nenhum desses actos. Discordo do seu formato tradicional, muito formal, com convidados importantes, bem trajados e frios. Daqueles que não passam cartão ao povo, sobretudo aos alunos que não lhes batem palmas nem lhe estendem a passadeira. Reprovo o repetido aproveitamento destas sessões. Têm um ar postiço, cheiram a falso. Será que mobilizam as comunidades escolares?... Não creio…
Neste início de ano lectivo, por razões diversas, fui visitar três escolas. Quando lá cheguei, já estavam a funcionar. Ou, melhor, já estavam atulhadas de gente. Em todas elas reinava a confusão. Seria a barafunda própria do recomeço?... Talvez. Vejamos: encontrei professores de cabeça baixa, em fila de espera, sentados nos sofás dos corredores de acesso aos Gabinetes dos Conselhos Executivos, resmungando contra a sobrecarga dos seus horários, barafustando contra a incerteza e a indefinição que caracterizam o momento actual da Escola Portuguesa; ouvi pais e encarregados de educação indecisos, desconfiados com o rumo da educação escolar ministrada aos seus educandos; falei com empregados ensonados, indiferentes ao momento, passivos, à espera de melhores dias; escutei alunos com a atenção voltada para a brincadeira, confortados com o convívio do recreio, enfadados com o recomeço das actividades lectivas.
As três escolas que eu visitei são o espelho da Escola Portuguesa. Uma grande Casa sombria, triste, desanimada, sem esperança, derrotada.
Aquele acumular de tristeza que invade as nossas escolas, que lhes arrefece o ambiente, incomodou-me. Fiquei impressionado, desolado. Como é que o ensino pode frutificar num terreno tão abandonado, tão melancólico, tão desapontado? Como é que os alunos e os professores podem desenvolver um trabalho alegre e produtivo num espaço inundado de revolta surda e de desapontamento? Como é que nós queremos que as nossas escolas sejam agentes positivos de mudança quando elas estão transformadas em ninhos de uma enorme e generalizada revolta e frustração?
Que tristeza!... Que desgosto ver a Escola mergulhada na mais profunda desolação e amargura!... Que dor!... Haverá inaugurações oficiais, com festas e com brindes, que sejam capazes de mudar o estado de alma das nossas escolas? Não cremos. As causas da tristeza são profundas, são estruturais, entroncam num sistema remendado que não entusiasma ninguém, em práticas continuadas de afronta e de descrédito dos profissionais do ensino, numa navegação à vista, na prevalência de critérios de natureza financeira sobre critérios de ordem pedagógica, numa nova categorização dos docentes que comporta as mais gritantes injustiças, etc.
Uma Escola triste, não pode entusiasmar ninguém, não pode animar e pintar de esperança o futuro das crianças e dos jovens que a frequentam. Ou seja, uma Escola triste não pode cumprir o seu papel, a sua função.
Uma Escola triste é uma fonte de amargura que se espalha por toda a sociedade. Já viram o que sente um jovem, na sua irrequietude e vontade de viver, ao encontrar na escola um ambiente acabrunhado e pesaroso? Não liga.
Uma Escola triste é uma triste Escola... Anda muito triste a Escola Portuguesa... Os jovens não gostam de ambientes deprimentes… Mudemos a Escola, rapidamente, para que os jovens, libertos deste desconsolo, possam mudar esta Sociedade murcha em que nos vamos consumindo".

José Fernando Rodrigues Alves Pinto
Mestre em Estudos Económicos e Sociais
O Primeiro de Janeiro

segunda-feira, outubro 01, 2007

O homem odeia os professores

"Saiu o regulamento para a classificação dos professores com vista à sua subida na carreira. Desapareceu a enormidade da participação dos pais no processo (a menos que sejam os próprios professores a requerê-lo), evitou-se a discriminação entre escolas boas e escolas "difíceis" e o que restou pareceu-me um sistema adequado e justo para premiar o mérito, a assiduidade e o esforço - certamente melhor do que nada. Mas, claro, a Fenprof está contra - como sempre, sempre, está contra qualquer medida que exija resultados ao sistema e aos professores e que tente inverter a situação catastrófica em que tem vivido o ensino. À fenprof interessa apenas o que respeite ao bem-estar dos professores, mesmo à custa da perpetuação do subdesenvolvimento cultural do país. A Fenprof acha que um professor que falte deve ter os mesmos direitos que um que não falte; acha que um que obtenha melhores resultados não deve ser beneficiado relativamente a outro que se está nas tintas para os resultados dos alunos; acha que um sistema de classificação em que nem todos podem obter a classificação máxima está desvirtuado à partida; acha, em suma, que classificar professores em função do seu mérito e dos resultados obtidos é uma ofensa aos direitos adquiridos".

Miguel Sousa Tavares
Expresso

sábado, setembro 29, 2007

As quatro fases do ensino ao longo dos tempos

Recebido via e-mail:

"- 1ª fase (antes de 1974) : O aluno ao matricular-se ficava automaticamente chumbado. Teria de provar o contrário ao professor.
- 2ª fase (até 1992) : O aluno ao matricular-se arriscava-se a passar.
- 3ª fase (actual) : O aluno ao matricular-se já transitou automaticamente de ano, salvo casos muito excepcionais e devidamente documentados pelo professor, que terá de incluir no processo, obrigatoriamente um “curriculum vitae” extremamente detalhado do aluno e nalguns casos da própria família.
- 4ª fase ( em vigor a partir de 2007) : O professor está proibido de chumbar o aluno; nesta fase quem é avaliado é o próprio professor, pelo aluno e respectiva família, correndo o risco quase certo de chumbar… "

sexta-feira, setembro 28, 2007

Santana Lopes versus José Mourinho versus SIC Notícias



Uma lição de dignidade

Não se deixem enganar

Recebido via e-mail:
"Os computadores que a TMN propõe por quase 800 euros (150 € de entrada + 3 anos x 17,50€ / mês) estão à venda na FNAC por 499 euros... e a FNAC tb oferece crédito que acaba por sair mais barato do que a oferta do nosso governo no âmbito do seu programa de choque tecnológico. O que me assusta é que tenho a certeza que não vão faltar professores para cair na esparrela e comprar aquilo. Se não acreditam investiguem, e... É só fazer as contas!... "

sexta-feira, setembro 21, 2007

Novas Oportunidades e desemprego de licenciados

"O problema das dezenas de milhares de candidatos a professores que não obtiveram emprego não é, como é óbvio, um problema só do Ministério da Educação. Também o é em parte, mas como diz e bem a ministra é um problema de desemprego mais global do País. E tem acrescentado, com uma rara frontalidade, que não se prevê tão cedo que esses licenciados possam obter emprego com as qualificações que têm. Os 40 mil rejeitados da educação são apenas a face mais visível do desemprego de jovens qualificados, que apenas uma minoria supera e uma minoria da minoria resolve indo para fora de Portugal.
Ora, no mesmo momento em que o Governo diz às pessoas no seu programa das Novas Oportunidades que "se tivesses estudado não serias balconista mas locutora de televisão", tem de admitir que muitos que estudaram para professores, engenheiros, advogados, psicólogos, sociólogos e outras profissões, que implicam esses mesmos "estudos" e qualificações que se propagandeiam nas Novas Oportunidades, acabem por ser balconistas, na melhor das hipóteses, quando não desempregados. Uma mão dá, outra mão tira".

Pacheco Pereira
"Sábado"

quarta-feira, setembro 19, 2007

Perseguição injusta

O Ministério da Educação não gostou do estudo feito pela DECO sobre a temperatura e a qualidade do ar nas salas de aula. Como as conclusões do dito não lhe são favoráveis nada melhor do que colocar em causa a credibilidade dos mesmos.
Hoje mesmo, o Supremo Tribunal Administrativo confirmou a ilegalidade da repetição dos exames do 12ºano. Querem ver que o STA também se está a autopromover e esta decisão é mais uma barbaridade que tem como objectivo descredibilizar o excelente trabalho da tutela?

terça-feira, setembro 18, 2007

Acabaram-se os males na educação

O Ministério da Educação quer-nos fazer crer que descobriu a receita para o êxito na educação. Segundo a tutela e mais uns quantos especialistas encartados, é no ensino técnico-profissional que reside a cura para a desorientação que se instalou no sistema de ensino, desde há várias décadas. A partir de agora tudo vai mudar. Para melhor. Basta para tanto investir na formação profissional e o caminho do sucesso está logo ali, ao virar da esquina. Pois sim! Como se o ensino profissional já não existisse há uma catrefada de anos com os resultados que se conhecem.

segunda-feira, setembro 17, 2007

www.netparatodos-bluff.gov

"Quando na passada semana abordei o despedimento colectivo de milhares de professores contratados com quem o Governo quis poupar mais alguns milhões de euros, estava longe de imaginar o degradante espectáculo de propaganda que o Governo tinha preparado para a abertura do ano lectivo.
Em nenhum país do mundo desenvolvido o início de um novo ano escolar merece dos respectivos governos uma atenção muito especial. É geralmente considerado um acto administrativo importante mas quase normal, no fundamental destinado a promover o reencontro de alunos, pais e professores com as respectivas escolas e projectos educativos. Assim deveria ser também entre nós mas não é. Em Portugal, Sócrates quis que a abertura do ano lectivo entrasse no Guinness, por isso mandou quase todos os seus ministros abandonar a governação e passar uma semana a fazer pose e a distribuir computadores! Foram 21 os governantes empenhados nesta megaoperação de propaganda, verdadeiro paradigma do ridículo e do anedotário da "nossa" Presidência Europeia!
Mas o que ninguém viu foi Sócrates e Lurdes Rodrigues a entregar computadores e a abrir o ano lectivo em escolas inseridas em áreas e bairros problemáticos, com edifícios cinzentos de humidade e apoios miseráveis para alunos cuja origem social só por milagre lhes permite almejar a tão falada igualdade de oportunidades.
O que ninguém ouviu foi Lurdes Rodrigues explicar porque é que este ano mudou as regras do mais recente concurso de professores, exactamente no dia em que a lista das colocações foi afixada!
O que ninguém ouviu foi Sócrates explicar a "nova teoria pedagógica" que exulta com o aumento do número de alunos e a diminuição do número de professores!
O que ninguém viu foi José Sócrates ou Maria de Lurdes Rodrigues prestar a mínima atenção aos milhares de profissionais da educação contratados a menos de oito euros por hora (e pagos por períodos lectivos de 50 minutos) para darem as aulas de extensão curricular do 1º ciclo com que o Governo "enche a boca" em actos de propaganda!
Perante tudo isto chego a imaginar que José Sócrates e Maria de Lurdes Rodrigues pensam que é possível melhorar a formação, combater o abandono escolar, enfim, reformar a Educação em Portugal, continuando a desprezar os professores, a fomentar a sua desvalorização profissional e "guetização" social. Oxalá os professores deste país tenham a capacidade e memória suficientes para lhes fazer engolir - mais tarde ou mais cedo, no máximo em 2009 - tamanha pesporrência!"

Honório Novo
Jornal de Notícias

quinta-feira, setembro 13, 2007

Exigências da propaganda

Nos últimos tempos, tantas têm sido as vezes que José Sócrates e a sua entourage reclamam a presença dos media nas cerimónias de entrega de computadores portáteis que, qualquer dia, a RTP vai ter de reservar um espaço próprio na sua programação para fazer eco de tão “importante” acto. É que ainda estão muitos milhares por entregar e os escassos minutos dos Telejornais começam a ser exíguos para tanta solicitação.

segunda-feira, setembro 10, 2007

Ainda há quem tenha orgulho em ser português

Propaganda enganosa

O primeiro-ministro, José Sócrates, considera que o sistema de ensino do país está a “ganhar eficiência” e que, actualmente, “há menos professores e mais alunos, assim como menos desperdício de dinheiro.

Ainda na semana passada a “nossa” Maria de Lurdes justificava o desemprego de 45.000 professores por haverem menos alunos e agora vem o engenheiro congratular-se com o facto de haver mais alunos no sistema de ensino. Mas afinal em que é que ficamos? Qual dos dois está a mentir?

Relativamente ao aumento do sucesso escolar ser resultado da política educativa do governo, aí estamos de acordo. Na verdade, ao diminuir-se o nível de exigência é evidente que o sucesso aumenta. Claro está que os alunos não sabem mais, não estão melhor preparados, mas isso não parece preocupar a tutela. O que importa é reduzir o insucesso. A qualquer preço.

domingo, setembro 09, 2007

Não precisamos de tantos professores

"Os sindicatos grelharam esta semana a ministra da Educação porque 45 mil professores ficaram sem colocação nos concursos. Porque é o resultado de uma política errada (fecho de escolas), porque é um ataque “à classe”, etc, etc. Nenhum reconheceu o óbvio: se a pirâmide etária se inverteu ...
Nenhum reconheceu o óbvio: se a pirâmide etária se inverteu (menos alunos), há professores que deixam de fazer falta. E das duas uma: ou é um problema passageiro, e faz sentido ajudar a “classe”; ou é um problema estrutural, e é melhor dizer aos excedentários para irem tratando da vidinha.
Como se pode ver pela taxa de natalidade, a segunda hipótese é a mais provável. Então se não é um problema passageiro, para quê desencorajar os professores de procurarem profissões de que a Economia necessita? Os professores deviam saber que a lei da oferta e da procura (tão velhinha que até os da área de Letras a estudaram é eficientíssima a alocar recursos. Neste caso o Trabalho. Ou seja, em vez de subsídio de desemprego, o Governo devia pagar-lhes para estudarem profissões em défice.
É claro que, mesmo com os incentivos correctos, haverá gente a recusar a reconversão: “Se eu tenho jeito para ensinar, porque vou ‘aprender computadores’?”, perguntou-me um dos tais 45 mil? “Porque eu não quero pagar a tua ociosidade”, respondi. A minha mãe não iria gostar de ouvir o que ouvi..."

Camilo Lourenço
Jornal de Negócios

sábado, setembro 08, 2007

A orientação escolar e profissional tem falhado

"
JOSÉ CANAVARRO, ex-secretário de Estado da Educação

Que razões explicam a elevada e persistente taxa de abandono escolar, que é mais do dobro da média da UE?

Haverá condições socioeconómicas que podem explicar o fenómeno, combinadas com falhas de orientação profissional por parte do sistema de ensino. Mas a investigação internacional que existe sobre o assunto demonstra que não são os períodos de crise económica que são responsáveis pelo aumento do abandono escolar. Porque quando há recessão há menos emprego e alternativas para os jovens no mercado de trabalho.

Se a crise económica está afastada, que outras razões?

O Governo está a fazer uma aposta meritória nos cursos profissionalizantes, embora os resultados só devam começar a aparecer em 2009 ou 2010. Ainda não se conhecem os resultados dessas apostas, que foram introduzidas no último ano lectivo. Mas o essencial é que a orientação escolar e profissional tem falhado. É preciso repensar toda a oferta profissionalizante a partir do 3.º ciclo do ensino básico. Ou seja, ao contrário do que acontece agora, a oferta profissionalizante deveria começar logo no 7.º ano e não no 9.º. Porque desde relativamente cedo se conseguem perceber as capacidades cognitivas dos alunos e os seus níveis de interesse.

O Ministério da Educação deve apostar mais na orientação profissional?

É crucial que o ministério contrate mais pessoal especializado na orientação profissional, porque actuar num aluno em risco só a partir dos 15 anos já é muito tarde. Esse trabalho deve ser feito em articulação com as famílias dos alunos em risco.

Não deveríamos estar já a convergir de forma muito mais rápida com a média da União Europeia?

Absolutamente. Penso que as prioridades do Governo têm estado mais centradas na qualificação de adultos, através dos centros de novas oportunidades, do que nos jovens, que permitem uma qualificação muito rápida, a meu ver, rápida demais. Isso permite mudar mais rapidamente as estatísticas comparativas da população em geral e melhorar a imagem de Portugal. Mas a qualificação dos adultos não se reflecte na estatística do abandono escolar.

Porque há uma tão grande disparidade (15 pontos) entre a taxa de abandono escolar dos rapazes e das raparigas? E em Portugal é três vezes maior do que na UE...

Os estudos dizem que desde os quatro anos de idade, as meninas pontuam 10% acima dos rapazes em capacidades cognitivas e de memória, sendo os rapazes mais indisciplinados. Isto é a regra. Mas num país como o nosso, em que ainda é possível sair da escola para ir trabalhar nas obras e noutro tipo de trabalho desqualificado, as condições para o abandono escolar são facilitadas".

Entrevista publicada no
Diário de Notícias

sexta-feira, setembro 07, 2007

A estatística "mentirosa"

"Com a arrogância só possível de exibir por quem nada entende do que fala, a “sinistra” ministra dispara estatísticas estarrecedoras: afinal o rácio professor/aluno é em Portugal dos mais baixos da Europa, cerca de 9 alunos por professor. Escândalo, pensa o “povão”, tão ignorante nestas matérias quanto a “sinistra”, então que querem os malandros dos professores? Não contentes com os três meses de férias e só terem de trabalhar 14 ou 16 horas por semana, afinal só têm esses alunos? E depois ainda se queixam que não têm tempo para ver “tantos” testes? Deviam era de mandar mais umas dezenas de milhar para a rua!! Bom, vamos lá ver se introduzimos alguns neurónios neste assunto. Para simplificar a compreensão do “fenómeno estatístico” consideremos uma escola somente com 4 turmas, cada turma com 25 alunos, frequentando 10 disciplinas, cada uma leccionada por um professor diferente, que leccionando às 4 turmas fica com horário completo. Assim, a escola tem 100 alunos e 10 professores, portanto o rácio é de 10 alunos por professor. Significa isso que cada professor tem 10 alunos? Não, com 4 turmas de 25 alunos, cada professor tem 100 alunos! E com isto, penso que está feito o esclarecimento".

Anónimo

quinta-feira, setembro 06, 2007

Abandono Escolar

"Nota prévia: este post não deve ser lido por pessoas sensíveis!...
Segundo o DN de ontem, e apesar de todas as medidas tomadas, o abandono escolar agravou-se em 2006: a percentagem de jovens que saíram precocemente da escola e cujo nível de estudos não ultrapassa o 9º ano subiu de 38,6% em 2005 para 39,2% em 2006.As razões geralmente enunciadas para explicar o fenómeno são todas politicamente correctas: o baixo nível socioeconómico das famílias, a fraca valorização do conhecimento e reformas educativas mal orientadas.Responsabilidade individual é motivo completamente riscado do catálogo.Por isso, e por maior que seja o esforço em dinheiros públicos para levar os meninos ao colo a passarem de ano, de forma fácil e sem exames, e a não abandonarem, eles recusam. A culpa nunca é deles, nunca é individual, nem sequer parcialmente, mas colectiva, das famílias, da escola e do governo.Assim, e com esta compreensão abstrusa da realidade, continuará a ser deitado dinheiro fora, até que a sociedade imponha ou um Governo se farte e diga: tiveram todas as oportunidades, não aproveitaram, vão trabalhar, malandros!…"

Pinho Cardão
http://quartarepublica.blogspot.com

quarta-feira, setembro 05, 2007

Licenciados no desemprego

A minha solidariedade para com todos os milhares de professores que não conseguiram obter colocação. Bem pode José Sócrates apregoar que Portugal precisa de cidadãos com mais qualificações porque só portugueses a saber mais poderão contribuir para que o país possa competir com mais sucesso, quando a realidade o desmente diariamente ao verificarmos que é cada vez maior o número de licenciados que cai no desemprego. Se isto é um estímulo para que os portugueses invistam na sua educação, eu vou ali e já venho. Entretanto, cresce o número de empregos para os quais não são necessárias quaisquer habilitações. Pode ser que eu esteja a avaliar mal o problema, mas digam-me lá se é disto que o país precisa?!

terça-feira, setembro 04, 2007

Os pobres que paguem a crise!

"O Estado de completa devastação ideológica em que se encontra o PS pode ser avaliado pelos resultados obtidos ao cabo de dois anos de governação. Empenhado em meter o país nos eixos, o Executivo pelo sempre severo e temido engenheiro Sócrates cometeu uma proeza (in)digna de qualquer partido socialista que se preze: uma redução rápida e brutal do défice do Orçamento do Estado e uma subida vertiginosa das desigualdades sociais; um aumento algo pindérico da taxa de crescimento do PIB e uma diminuição bastante significativa do poder de compra dos trabalhadores. Mais: enquanto o desemprego se situa a um nível muito alto e a precaridade se generaliza, as grandes fortunas prosperam, tendo crescido 35,8 por cento em relação a 2006. Um escândalo. Se estes são resultados dignos de um governo socialista vou ali e já venho.
Bem podem tentar desqualificar-me, chamando-me “esquerdista”, “demagogo” e “populista”. Os números são bastante claros, não fui eu que os inventei. “Esquerdista” é o Instituto Nacional de Estatística, “demagogo” é o Instituto de Emprego e Formação Profissional, “populista” é o Eurostat. O certo é que a diferença de rendimentos entre ricos e pobres, em Portugal, atingiram uma dimensão inédita, batendo um novo record: ao contrário da tendência que se regista na União Europeia, o fosso salarial entre ricos e pobres alarga-se e situa-se, agora, duas vezes e meia acima da média comunitária. Além disso, Portugal é o país europeu que menos investe na Segurança Social. O desemprego de longa e muito longa duração cresceu assustadoramente e já representa quase metade do total de 470 mil desempregados. Há 250 mil desempregados com menos de 35 anos e 124 mil com mais de 44 anos. O PS bem pode limpar as mãos à parede.
Parece absurdo que o combate à crise económica e finaceira, levado a cabo por um Governo pretensamente socialista, em nome dos superiores interesses do país, resulte em maiores desigualdades sociais, mais precariedade, mais desemprego e mais pobreza, ao mesmo tempo que as grandes fortunas aumentem vertiginosamente. Mas, como diiza Napoleão, em “política, o absurdo não é um obstáculo”. Não se contesta crucial da propriedade privada e do capital no desenvolvimento de uma sociedade aberta, livre e democrática. Mas é legítimo perguntar que contribuição têm dado os mais ricos para combater esta crise tão grave. Queixam-se de que o Estado os estrangula, mas a verdade é que as suas fortunas crescem a olhos vistos, ao mesmo tempo que as classes médias empobrecem e os trabalhadores sofrem os efeitos da técnica da banda gástrica que este Governo decidiu aplicar-lhes para lhes reduzir o apetite. O que é indecente.
É verdade que a devastação ideológica que se verifica no PS remonta ao tempo do inefável engenheiro Guterres. Mas o “pico do incêndio” só foi atingido agora, sob a égide do intratável engenheiro Sócrates. A perda de quaisquer estímulos ideológicos na luta política gerou um vazio ao nível das ideias, das convicções e dos princípios, dando lugar a uma nova classe de políticos mais sensíveis a motivações matérias, a interesses pessoais e de poder. Foi a vitória do sentido de oportunidade (para não lhe chamar outra coisa mais feia) e do pragmatismo sem princípios.
As chamadas “práticas clientelares” (mais evidentes ao nível autárquico) e de “governo paralelo” (das grandes empresas e interesses financeiros) impõem-se, hoje, aos partidos do bloco central. Por isso, não espanta que a passagem do poder do PSD para o PS (e vice-versa) não seja mais do que “saltar do lume para a frigideira”. Dizem as boas línguas que o Governo do engenheiro Sócrates tem feito “reformas muito corajosas”. Eu, que sempre fui má-língua, limito-me a perguntar: é preciso coragem para exigir aos pobres que paguem a crise?!"

Alfredo Barroso
Membro fundador do PS

segunda-feira, setembro 03, 2007

Haja vergonha!

"A remuneração média de cada membro de conselho de administração das empresas cotadas na bolsa [portuguesa] representa 31,5 mil euros/mês e uma grande parte (..) foram aumentados sessenta vezes mais que um trabalhador comum..."

São notícias como esta que revoltam as pessoas. O país em dificuldade e estes senhores cada vez mais ricos. Não há dúvida que viver assim é um consolo. Os pobres que paguem a crise!

domingo, setembro 02, 2007

O preço dos manuais escolares

"O Governo levantou o congelamento dos preços dos manuais escolares, permitindo aumentos bem acima da taxa de inflacção. Cuidadosamente, a medida foi tornada pública antes do discurso de rentrée que José Sócrates centrará no novo ano escolar. Argumentou o Ministério que os aumentos são irrisórios ou, nas palavras do secretário de Estado da tutela, correspondem a “dois ou três cafés por ano”. Ora, estes governantes devem estar desligados da realidade. Numa altura em que às famílias a corda aperta cada vez mais a garganta, os aumentos dos manuais escolares, ainda que equivalentes a “dois ou três cafés por ano”, não são irrisórios. É que não se trata apenas de um manual por ano, são vários (uma média de 10 nos 2º e 3º ciclos) e para cada filho; ou seja, mais ou menos 30 cafés por filho. É fazer as contas: um mês sem cafés por filho. E não são pagos ao longo de um ano, são todos de uma vez, agora, já, em Setembro. Argumenta o Ministério que o aumento serve para garantir qualidade aos manuais. Quererá isso dizer que a Constituição, quando fala de ensino tendencialmente gratuito, pugna pela mediocridade?"

Mário Ramires
"Sol"

Como resolver a equação entre alunos e professores

"Há cada vez menos crianças e jovens em Portugal, portanto haverá cada vez menos alunos e estes precisarão de cada vez menos professores. O concurso deste ano é a mais recente prova desta lógica inevitável - 49 mil ficaram de fora.
De resto, a própria ministra da Educação disse ontem que o "nosso sistema de ensino não está em fase de crescimento, pelo contrário, está em fase de retracção".
Esta premissa coloca dois desafios ao Governo: encontrar uma maneira de formar menos professores nas universidades e, seguindo as leis da oferta e da procura, aproveitar para aumentar a qualidade dos profissionais que dão aulas.
O primeiro desafio não é fácil, implica a coordenação com o Ministério da Ciência e do Ensino Superior.
Mas foi também Maria de Lurdes Rodrigues que ontem assumiu que "não há condições para responder às expectativas destes diplomados no ensino".
O segundo é mais importante. A qualidade do ensino degradou-se quando ele se democratizou. Pode-se bem aproveitar o efeito de contracção para o tornar melhor. O ministério já anunciou que no próximo ano haverá uma espécie de provas de aferição para os candidatos a professores. Podem ser a condição dessa melhoria".

Editorial
Diário de Notícias