quarta-feira, fevereiro 23, 2011

Professores ao murro

"Dois professores da Escola Superior de Saúde da Guarda travaram-se de razões, ao murro e pontapé, num corredor do estabelecimento de ensino. Um deles usou spray de gás paralisante. Não sabemos quem quis tratar da saúde a quem. Mas na docência, profissão maioritariamente constituída por mulheres, estes exercícios de virilidade são encorajadores.

Nunca ignorei, na minha passagem pelo ensino, que as professoras também usam sprays. E lacas de marca. Gostam de se produzir. Mesmo as mais despretensiosas não dispensam unhas de gel, eyeliners, batons. Fazem dos corredores da escola elegantes passerelles, espalhando glamour e charme. Mas os professores, meu Deus, acantonados na sua cinzenta minoria, habitualmente não se fazem notar. Chegou a sua hora.

Estes dois docentes, homens do sexo masculino, contrariando a crescente efeminização da escola, dão um bom exemplo de que pelo menos esta catedral do saber, o Instituto Politécnico da Guarda, não é o reino da quietude amaricada, o lugar soturno onde as aulas provocam mansos bocejos.

Os tesos docentes andavam há seis anos pegados um com o outro. Esperavam uma boa oportunidade para exercitarem o músculo. Ela surgiu. Um dos contendores confessou ao Correio da Manhã que apenas se defendeu, usando "em absoluta legítima defesa e como último recurso, a arma de classe E (spray)", para cujo uso teria licença.

Um professor que anda na escola com uma arma de classe E no bolso é homem prevenido. Anda armado. Armado em parvo, julgarão os mais cépticos.

Eu não creio. O spray servia apenas para fixar a poupa do cabelo, dar-lhe um look mais másculo, para evitar que algum colega lhe chegasse a mão ao pêlo.

Os docentes brigões, com escoriações visíveis, foram assistidos no hospital da Guarda. Sendo professores da escola Superior de Saúde, não compreendi se o treino fazia parte de alguma formação prática, devidamente protocolada entre os ministérios da Ciência e da Saúde. Se assim foi, deseja-se formação mais intensiva e vigorosa. Em arrufos, para medir competências psicossomáticas e científicas, tem de haver mais sangue. É necessário estimular a prática das diversas especialidades de medicina e de enfermagem.

Não sabemos quem abriu as hostilidades pedagógicas. Mas estes raros ódios de estimação, entre professores do ensino superior, são excelentes para tornarem insignificantes, e desculpáveis, os inúmeros episódios de violência nas escolas secundárias e básicas. Não fica bem, em níveis de ensino não superior, mosquinhas mortas abúlicas, sejam professores ou alunos.

Não consegui confirmar se este docente de classe E tinha mesmo licença. Classe, tinham os dois. Com licença ou sem ela, o que estão a precisar é de licença sabática. Para, no mínimo, se dedicarem às artes marciais. Se um dia regressarem à escola, poderão treinar as competências dos seus colegas e alunos em kickboxing. Gente eriçada, a animar as escolas, faz falta.

A sociedade portuguesa anda deprimida com a recessão. Se o exemplo frutificar terá excelentes oportunidades para desviar o olhar do seu umbigo e distrair-se com as punhadas e as biqueiradas de alguns dos melhor preparados, e melhor formados, profissionais do Ensino.

Só espero que a Direcção-Geral do Ensino Superior e o Tribunal, onde já correm as participações, sejam magnânimos para com os docentes. Estes não sendo os "heróis do mar" - que Henrique Lopes de Mendonça incensava no seu poema de 1890 e que Alfredo Keil musicou em A Portuguesa - não deixam de ser verdadeiros heróis da Serra. Fomos, somos e seremos, como o hino pátrio não se cansa de o proclamar, uma Nação valente".

José Alberto Quaresma
Expresso

terça-feira, fevereiro 22, 2011

Sr. Mata e Sr. Esfola

"Como fizeram para reduzir os salários e as prestações sociais, PS e PSD juntaram--se de novo no Parlamento, desta vez para impedir limites (nem sequer para os reduzir, só para lhes pôr freio) aos vencimentos dos gestores públicos.

Gestores públicos é um eufemismo usado para designar "boys" e "girls", em geral sem mais qualificações para gerirem o que quer que seja do que a sua disponibilidade para serem geridos. E se há assunto em que PS e PSD estão de acordo, além de que os pobres é que devem pagar as crises provocadas pelos ricos, é o da protecção dos "seus".

Embora não pareça, há no entanto diferenças entre PS e PSD. Por exemplo, o PS quer despedimentos fáceis & baratos para estimular "o emprego" enquanto o PSD também quer despedimentos fáceis & baratos mas para estimular "a economia". Para quem for despedido é igual, mas visto do lado do PS e PSD é muito diferente.

Do mesmo modo, o PS rejeitou as propostas do BE, PCP e CDS para que os salários dos gestores públicos tivessem como tecto o vencimento do presidente da República por isso ser "da competência do Governo" ao passo que o PSD as rejeitou por serem "populistas". "Boys" e "girls" do PS e PSD continuarão, pois, a poder ganhar mais do que o presidente da República. E não por um mas por dois bons motivos, um o do Sr. Mata outro o do Sr. Esfola.

É assim que PS e PSD conseguem o milagre de estar em desacordo fazendo exactamente o mesmo".

Manuel António Pina
JN

sexta-feira, fevereiro 18, 2011

Professores de 32 municípios já recusaram modelo de avaliação

"O protesto dos professores contra o novo modelo de avaliação é uma bolha que cada dia está mais inchada - em pouco mais de um mês alastrou a 37 escolas espalhadas por 32 concelhos de 15 distritos. Departamentos curriculares, comissões de coordenação da avaliação do desempenho, conselhos pedagógicos, grupos disciplinares ou conselhos gerais de professores já assumiram, desde o início do ano, 43 tomadas de posição colectivas, abaixo-assinados, manifestos ou declarações de protesto contra o actual sistema.

São cada vez mais os que recusam o novo modelo, exigindo a sua "suspensão imediata", a sua "revisão", a sua "substituição" ou a sua "anulação". Os termos usados variam de caso para caso, mas todos rejeitam um modelo "descoordenado e confuso", "burocrático", "originador de conflitos" ou demasiado "centrado na progressão da carreira" e pouco orientado para a formação da classe.

Na Escola Secundária Ferreira Dias, em Sintra, o protesto partiu da comissão de coordenação da avaliação de desempenho, que diz não conseguir dar resposta aos "constantes" pedidos de esclarecimento sobre o novo modelo. Perante a ausência de regras "precisas e claras" do Ministério da Educação, a comissão alerta para o perigo de cada escola decidir de acordo com a sua interpretação da legislação.

Na Escola Básica 2+3 de Gaia, o conselho pedagógico concluiu que o sistema, ao "não garantir a imparcialidade", gera "injustiças" e compromete o ambiente de trabalho nas escolas. Em Chaves, os professores da Secundária Dr. António Granjo assumiram publicamente que o modelo de avaliação é uma "fantochada" que abre caminho ao compadrio, beneficiando "amigos, sobrinhos e por aí fora".

Da Escola Básica 2+3 da Maia saiu a declaração de protesto dos relatores (avaliadores), que denunciam "conflitos de interesses" ao avaliar os colegas a concorrer aos mesmos escalões. A contestação entrou também na Secundária de Camões, em Lisboa, com os professores a avisarem a tutela das "implicações negativas" que a adopção deste modelo provoca tanto no plano da "cooperação" entre colegas como na redução do tempo de que dispõem para acompanhar os alunos. Os agrupamentos de Freiria (Sobral de Monte Agraço), de Vila Nova de Poiares, as escolas Básica Bairro da Ponte (Caldas da Rainha) ou Secundária Frei Heitor Pinto, na Covilhã, são só alguns dos estabelecimentos de ensino que adoptaram um texto comum para criticar um modelo que esqueceu a "vertente formativa" e privilegiou a "progressão na carreira".

Para os avaliadores da Escola D. Carlos I, em Sintra, o único objectivo que este modelo consegue atingir é a introdução de quotas para os lugares de topo. O objectivo, aliás, "não tem qualquer efeito", uma vez que a progressão na carreira está congelada na função pública. Como na prática nem para essa meta o modelo se mostra eficaz, os professores pedem a suspensão de um processo que exige "maior carga horária", que corresponde "não a um aumento mas a uma redução dos vencimentos".

Há muito mais protestos, de dezenas de escolas ou agrupamentos, que seguiram para o gabinete da ministra Isabel Alçada. Faltam ainda respostas da tutela, que, no entanto, vai anunciando aos poucos medidas para corrigir algumas das imperfeições deste modelo. É o caso de despachos que vão definir quotas diferenciadas para grupos de avaliadores e avaliados, que, contudo, aguardam ainda publicação em Diário da República, ou da primeira formação sobre avaliação do desempenho para professores relatores com mestrado que começará a 1 de Março - a informação é recente e foi enviada quarta-feira às escolas pela Direcção-geral de Recursos Humanos da Educação. Resta saber se será suficiente para conter a revolta".

Jornal i

Cascais: Esfaqueia mãe que lhe tirou a playstation

Que sociedade estamos a criar?

"Uma criança de 13 anos deu várias facadas na mãe porque os pais o puseram de castigo, retirando-lhe a consola de jogos Playstation e o acesso à internet.

Ao que apurou ontem o CM, o jovem, que emboscou a mãe à porta de casa, armado com uma faca de cozinha, encontra-se numa unidade hospitalar de Lisboa para avaliação psicológica.

A mãe foi internada no Hospital de Cascais, estando fora de perigo. Tudo se passou anteontem ao final da tarde, na Charneca, Cascais. A vítima, de cerca de 40 anos, foi esfaqueada numa das pernas e apresentava ainda cortes na cabeça, nos braços e no tronco.

Segundo soube o nosso jornal, as más notas escolares do agressor levaram a que os pais o castigassem, proibindo-o de jogar Playstation e de aceder à internet. Revoltado, o jovem foi comprar um periférico de acesso à internet sem o conhecimento dos pais. A mãe saiu para ir às compras e foi no regresso a casa que acabou atacada pelo filho. A PSP de Cascais, através das Brigadas de Investigação Criminal, e os bombeiros estiveram no local".

CM

terça-feira, fevereiro 15, 2011

Professores bibliotecários vão ter de dar aulas ou apoio individual de alunos

"A obrigatoriedade de os professores bibliotecários darem aulas a uma turma foi hoje publicada em Diário da República e estabelece apoio individual a alunos para os casos em que não seja possível aplicar a regra.

A portaria de 2009 sobre esta matéria previa que os docentes em tais funções pudessem optar por manter uma turma, ficando dispensados da componente lectiva, excepto se o número de alunos matriculados no agrupamento ou escola fosse inferior a 400. Teriam, neste caso, uma redução de 13 horas na componente lectiva.

Agora, o Governo vem adequar este preceito legal à resolução do Conselho de Ministros de Dezembro de 2010, “salvaguardando a diversidade das situações em que se encontram os docentes actualmente a exercer funções como professores bibliotecários”.

A nova portaria (76/2011) diz que quando não for possível ao professor bibliotecário leccionar uma turma, por se tratar de professor de carreira sem serviço lectivo atribuído ou da educação pré-escolar ou do 1.º Ciclo do Ensino Básico, “deverá o docente utilizar 35 por cento da componente lectiva a que está obrigado para apoio individual a alunos”.

A alteração produz efeitos a 01 de Setembro, “sendo tida em conta na elaboração do horário semanal do pessoal docente, bem como na distribuição do serviço correspondente”, lê-se no texto hoje publicado".

Público


segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Avaliação nas escolas. Professores em "competição desgovernada"

"A competição entrou nas escolas. Os professores brigam para conseguirem subir na carreira. Colegas avaliam colegas a competir pela mesma vaga. Quem dá aulas de História avalia quem dá aulas de Filosofia. Licenciados em Inglês avaliam licenciados em Francês. Directores com formação em Matemática ou em Biologia obrigados a avaliar coordenadores de Geografia, de Português e quem mais tiver de ser. Avaliadores submersos em fichas de avaliação, relatórios de auto-avaliação, aulas assistidas, reuniões ou entrevistas com os que se candidatam às notas mais altas - Muito Bom e Excelente. Avaliados ressentidos e avaliadores atormentados.

Para quem pensava que a avaliação dos docentes é uma questão que ficou arrumada há um ano quando os sindicatos e a ministra Isabel Alçada assinaram um memorando de entendimento, o engano não podia ser maior. A seis meses de terminar o ciclo avaliativo, há cada vez mais professores a recusar o novo modelo. Há cada vez mais manifestos, tomadas de posição, protestos colectivos que chegam ao Ministério da Educação ou às direcções dos agrupamentos escolares.

Na Escola Secundária de Barcelos, o processo está suspenso e só será retomado depois de todas as dúvidas serem esclarecidas em despachos, circulares ou ofícios. Tanto faz. Desde que as confusões acabem. No Agrupamento de Escolas do Atlântico, em Viana do Castelo, os professores pedem ao ministério para voltar a dialogar sobre um modelo que já provocou um "clima de competição desgovernada". Esse mesmo "clima de competição desenfreada" que acabou com "quaisquer valores de partilha" ou de cooperação entre colegas, avisam os professores do departamento do 1.o ciclo do Agrupamento de Escolas de Gondifelos, em Famalicão.

A tomada de posição na Escola Secundária Maria Amália Vaz de Carvalho, em Lisboa, surgiu porque o novo modelo "permite subjectividade e a arbitrariedade". Na Escola Secundária Infanta D. Maria, em Coimbra, 95 num total de 96 professores concluíram que o modelo é excessivamente complexo, burocrático e, por isso, exigem com urgência uma "discussão séria e alargada" sobre o actual sistema.

Causas individuais Há tomadas de posição colectiva e, depois, ainda há os professores que assumem causas por conta própria. Maria José Simas, professora de Inglês e de Alemão na Escola Secundária D. João II, em Setúbal, pediu ao Ministério da Educação para deixar de ser avaliadora dos colegas. Jaime Pinho, professor de História, está na mesma escola e fez o mesmo. José Carvalho, dá aulas de Educação Física na Secundária de São Pedro, em Vila Real, e também pediu a escusa do cargo de relator (avaliador). Aguardam uma resposta mas, entretanto, desistiram de competir pelas classificações mais elevadas. Vão ter de esperar mais quatro anos para voltarem a ter nova oportunidade de subir na carreira. É o custo que dizem não se importar de pagar. Preferem isso a perder o "brio na profissão", a "sanidade" ou o tempo que dizem não estar a ser usado para preparar as aulas.

José Carvalho não teve formação específica para ser avaliador e está convencido de que a sua licenciatura serve apenas para avaliar os seus alunos. "Não me sinto com competência para dizer que um professor é melhor do que o outro só porque estou há mais anos nesta profissão." A antiguidade é um posto neste modelo de avaliação e foi esse o critério para ser nomeado docente-relator. Mesmo que os colegas, embora mais novos, tenham qualificações superiores: "Teria de avaliar pessoas com mestrados e com doutoramentos, formação que não tenho."

E nem tem tempo, avisa o professor de Educação Física. Uma hora por semana é o período que lhe foi imposto para avaliar três colegas. Gasta mais do que isso. São dezenas de fichas de avaliação para preencher, relatórios para apreciar, entrevistas com os avaliadores, reuniões com júris "vão muito além dos 60 minutos por semana". E tudo o resto fica comprometido: "Preparar aulas, desenvolver actividades com os alunos, participar em reuniões de planeamento são algumas tarefas que ficam incompletas ou são feitas a correr."

Maria José Simas usa os mesmos argumentos para recusar avaliar os colegas: "Apesar de ter sido formadora e orientadora de estágios de professores em início de carreira, não consigo fazer o mesmo para os que estão ao mesmo nível que eu ou acima." E como avaliar um colega, assistindo a duas ou três aulas por ano? É a pergunta sem resposta de uma boa parte dos professores. Quem quer ter notas de mérito ou transitar para o 5.o ou 7.o escalão tem de pedir aos outros professores para assistirem às suas aulas - duas no mínimo ou três no máximo terão de ser suficientes para os avaliadores concluírem que as aulas do avaliado são científica e pedagogicamente adequadas.

O avaliador ainda tem de apreciar relatórios de auto-avaliação e preencher fichas com dezenas de páginas e dezenas de "indicadores" que se multiplicam por "domínios", subdividem-se em "níveis" ou se reproduzem em "dimensões", em conceitos ou em temas associados. "O grande problema são os critérios subjectivos que não sei aplicar", reconhece Maria José Simas. Quantificar a contribuição do avaliado para o sucesso escolar ou determinar o seu maior ou menor envolvimento com a comunidade educativa são alguns exemplos: "Não tenho dados estatísticos ou sociológicos para concluir que um professor está mais envolvido do que outro na comunidade escolar nem sequer descobrir qual deles contribuiu mais ou menos para reduzir o insucesso ou absentismo."

Ter de competir com os colegas foi a gota de água: "Na minha escola, somos 120 professores e todos queremos as mesmas cinco ou seis vagas." Ou menos, não se sabe, já que o ministério terá ainda de definir a quota-parte a que cada escola ou agrupamento tem direito. Por tudo isso, e ainda para "não perder a sanidade", a professora de Inglês saiu a meio do jogo. E voltou a ter tempo para se dedicar às aulas.

Porque é disso que se trata, esclarece Jaime Pinho: "O modelo colocou-me num dilema." Ou escolhe os seus 170 alunos ou entrega-se a "um monstro burocrático insaciável." Pondo as coisas nesse patamar, é fácil optar: "Desisti de tentar ser um Excelente ou Muito Bom professor." A partir de agora e, durante os próximos quatro anos, terá de se contentar em ser apenas um Bom professor".

Jornal i

sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Eles copiam e não são apanhados. 70% de cábulas na universidade

"Para ter vergonha é preciso ser apanhado? Se a resposta for sim, a explicação da dimensão da fraude académica nas universidades portuguesas pode estar na diferença entre os alunos que admitem copiar e os que são apanhados: 70% já copiaram num exame e apenas 2,4% foram apanhado. Os dados são de um novo estudo sobre integridade académica coordenado por Aurora Teixeira, da Faculdade de Economia da Universidade do Porto. Para a investigadora, que nos últimos anos tem contribuído para a literatura internacional sobre o tema, os resultados revelam um verdadeiro flagelo no meio académico.

A análise preliminar, avançada ao i, tem por base as repostas de 5403 estudantes de mais de 400 cursos e uma centena de escolas. Neste estudo Aurora Teixeira quis aprofundar os resultados de um inquérito realizado em 2005 junto de alunos de Gestão e Economia, centrado na cópia em exames. O novo inquérito realizou-se entre Maio e Julho de 2010 e questionou alunos de todas as áreas sobre comportamentos como o plágio, a compra de trabalhos ou assinaturas falsas em folhas de presença.

Os resultados revelam que mais de metade dos alunos acredita que se copia deliberadamente e não porque a oportunidade surge ou por uma situação de pânico durante a prova. Pode concluir-se também que há uma continuidade neste tipo de comportamento: o estudo anterior, embora com alunos diferentes, revelava uma propensão para copiar de 62%. A percepção geral dos estudantes é que as práticas são reprováveis, mas não muito. Os alunos entendem ainda que haveria menos comportamentos desonestos se estudassem mais e organizassem melhor o tempo, mas também se os professores se interessassem mais pela sua aprendizagem.

Para Aurora Teixeira, a experiência académica em Inglaterra e os estudos comparativos sobre este tipo de fraude permitem concluir que em Portugal existe uma lacuna na forma como as instituições lidam com o problema. "O comportamento desculpabilizante é transversal a toda a sociedade", defende. "Quando falamos com alguém que tem alguma responsabilidade nas escolas sentimos que a questão da ética é relegada para segundo plano." Apesar de Portugal não ter taxas de incidência tão elevadas como outros países europeus, por exemplo a Polónia (ver texto ao lado), Aurora Teixeira frisa que as amostras portuguesas têm sido sempre maiores nos estudos comparativos, o que poderá ter atenuado a dimensão do problema.

Fraude generalizada O estudo só estará pronto daqui a dois meses e permite a primeira avaliação do plágio nas universidades portuguesas, problema que Aurora Teixeira diz ultrapassar a cópia nos exames. De acordo com dados preliminares, 11,2% dos alunos inquiridos não citam fontes deliberadamente para "reclamar a originalidade de material copiado". Questionados sobre se já viram alguém fazê-lo, 43,6% responderam de forma afirmativa. Quase dois em cada dez estudantes admitem ter copiado "uma secção de um livro, artigo ou website e submetê-lo como seu".

Para Aurora Teixeira, outro dado revelador é a dimensão da reciclagem de trabalhos: 45,6% dos estudantes já entregaram o mesmo trabalho em mais de uma disciplina. "Os casos graves que vêm a público só acontecem esporadicamente, mas quem lecciona tem a nítida noção de que o plágio nas universidades é um problema aterrador", afirma a investigadora. O caso mais mediático é recente: uma professora do Instituto Politécnico do Porto foi acusada de plagiar um autor brasileiro no doutoramento, na Universidade do Minho.

Aurora Teixeira defende que os softwares de detecção de plágio, não sendo perfeitos, são uma ajuda. Numa ronda pelas universidades portuguesas, a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e a Universidade Lusófona revelaram usar o sistema Ephorus, mas tanto as que o usam como as que não têm qualquer sistema implementado têm dados sobre o problema.

Aurora Teixeira alerta para a importância de existirem códigos de honra, dissuasores da fraude, e sanções claras. A prática nas universidades não é homogénea. Na FCSH, o plágio dá reprovação imediata na unidade curricular ou no mestrado/doutoramento em questão. Na licenciatura, só a reincidência conduz à abertura de procedimento disciplinar, medida que é imediata nos estudos avançados. A Universidade de Aveiro sustenta que "os casos detectados têm sido pontuais e de imediata resolução, em contexto de avaliação contínua, e por isso até agora sem consequências graves para os autores".

Na UA optou-se por uma "atitude pedagógica e de informação, promovendo acções de divulgação da propriedade intelectual dirigidas a docentes, investigadores e alunos". Já a Universidade Católica Portuguesa diz que os casos têm sido raros. "A formação académica deve alertar para a ética da investigação científica e procuramos, logo na formação de base dos estudantes, familiarizá-los com o devido tratamento das fontes." Esta é também a opinião de Aurora Teixeira, que acredita existirem falhas na formação para a investigação, mas também na forma como a avaliação está estruturada. "As escolas têm de se organizar de outra forma", defende, considerando inconcebível avaliarem-se trabalhos escritos de 80 alunos. O processo de Bolonha é parte do desafio: "Bolonha, com uma maior autonomia dos alunos, não funciona nas antigas estruturas em que não existia o hábito de dar feedback. Se ao longo do curso tive sempre 18 e fui sempre à Wikipédia fazer copypaste, é natural que não veja problema."

Apesar de os dados não serem revelados por escola, cada instituição que participou no estudo vai receber um relatório detalhado com o tipo de fraudes mais praticadas pelos seus alunos".

Jornal i

quarta-feira, fevereiro 09, 2011

Nova reforma no Ensino a pensar nas contas

"Quando as nossas escolas pareciam recuperar a serenidade, novas medidas anunciadas pelo Governo espalham de novo a confusão, espevitam o conflito. Não será possível aplicar uma reforma até ao fim no Ensino em Portugal?

Em causa, agora, as aulas de 90 minutos que tanta controvérsia geraram quando o Ministério da Educação, liderado por Maria de Lurdes Rodrigues, implementou o novo sistema. Os tempos lectivos passavam de 45 para 90 minutos. Caía o Carmo e a Trindade. Especialistas e afins garantiam: as criancinhas não aguentariam estar sentadas, atentas e concentradas durante uma hora e meia. Afinal, venceram essa tortura.

Quando a coisa parecia consolidada, há que mudar e voltar ao princípio. Com uma nuance. O Ministério faz jus à autonomia das escolas e pede-lhes para decidir. Os meninos voltam, portanto, a ter aulas de 45 minutos - daquelas que mal começam já se ouve o toque de saída.

Não ficou o Ministério da Educação satisfeito com os resultados do PISA (programa que avalia a competência científica dos alunos)? Ficou, tanto que fez um enorme exercício de propaganda. O aproveitamento dos alunos de 15 anos a Português, Leitura e Ciências punha Portugal pela primeira vez a entrar na média da OCDE.

O primeiro-ministro, sem hesitar um segundo, colava os resultados do PISA às políticas educativas do seu Governo. E agora: como explica a reforma? Vai desfazer o que conduziu aos bons resultados. Porque a medida não se limita ao fim das aulas de 90 minutos. É mais vasta. Os alunos do 2.º e 3.º ciclos deixam de ter Área de Projecto, uma disciplina que visava ajudá-los a criar métodos de trabalho, e o Estudo Acompanhado fica limitado a crianças com dificuldades a Português e a Matemática. Ou seja: servirá para diminuir os chumbos nos alunos menos preparados, os outros não terão ninguém que os apoie para serem melhores. Da Escola Pública, tão discutida nos nossos dias, espera-se - além do combate à mediocridade - a excelência.

José Sócrates bem pode vir com discursos optimistas sobre a situação do Ensino. No entanto, a nova reforma curricular, mais do que a qualidade da formação dos jovens, tem em vista a qualidade das contas públicas".

Paula Ferreira
JN

terça-feira, fevereiro 08, 2011

35% dos alunos de 15 anos já chumbaram

"Quase 35 em cem alunos portugueses de 15 anos repetiram pelo menos um ano de escolaridade durante o ensino básico, segundo um estudo da Comissão Europeia divulgado esta segunda-feira, que coloca Portugal no quinto lugar dos 31 países analisados europeus.

De acordo com o relatório ‘Taxas de Retenção durante a Escolaridade Obrigatória na Europa', Portugal regista 34,5 por cento de chumbos, superado pela região da Valónia, da Bélgica, com 37,1 por cento, a França 36,5 por cento, Luxemburgo 36,1 por cento, Espanha 35,3 por cento.

O estudo analisa de forma comparativa como é que as retenções são aplicadas nas escolas dos vários países e chegou à conclusão que as práticas variam muito.

"A existência de uma cultura de retenção é a razão pela qual a prática é mais usada em determinados países, Nestes, a ideia de que a repetição é benéfica para os alunos continua a prevalecer. Na Europa, é sobretudo na Bélgica, Espanha, França, Luxemburgo, Holanda e Portugal que esta convicção persiste", lê-se no documento.

Já a Islândia, a Noruega, a Bulgária e o Liechtenstein têm estabelecida oficialmente a progressão automática, ao nível do primeiro ciclo.

"Progresso insuficiente é em todos os casos a principal razão para que um aluno seja retido. No entanto, em alguns países, outros critérios como as faltas e o comportamento podem ser tidos em consideração", acrescenta".

Correio da Manhã

sábado, fevereiro 05, 2011

Professores: começou a revolta que ainda não faz barulho

"Professores estão ansiosos por gritar nas ruas contra os cortes na escola pública e nem querem esperar pela convocação dos sindicatos.

O apelo circula nos emails, nos corredores das escolas, nos encontros marcados ao fim-de-semana, nos plenários organizados ao final da tarde ou à mesa dos restaurantes. Os professores conspiram quando e onde é possível, sem esperar pelos sindicatos para preparar os protestos contra a vaga de despedimentos e os cortes anunciados para o próximo ano lectivo. Querem ir para a rua depressa e a falta da logística das organizações sindicais não os impede de acreditar que vão conseguir mobilizar milhares de colegas nas praças ou nas avenidas de Lisboa. O comboio já está em movimento e a cada dia ganha mais velocidade.

Nas escolas de Setúbal ou de Oeiras são os professores que saem das aulas com vontade de se reunirem em vez de irem para casa ruminar sobre as desgraças que julgam virem aí. "A facilidade com que os professores se juntaram espontaneamente há poucos dias na Escola Básica Luísa Todi foi surpreendente", conta Jaime Pinho, do Movimento Escola Pública (MEP). Foi o princípio de uma corrente que em poucas horas contagiou a escola onde dá aulas mesmo ali ao lado - a Secundária D. João II - e estará prestes a entrar noutros agrupamentos de Setúbal ou de Palmela.

"Na minha escola, por exemplo, há uma grande vontade por parte dos professores de começarem a fazer qualquer coisa para travar o Ministério da Educação", explica Jaime Pinho. Os contactos já começaram - professor a professor, escola a escola, até entrarem em todas e conseguirem organizar um plenário com os docentes de todo o concelho de Setúbal. E depois logo se vê: "O que fazer com este movimento que está agora a germinar é ainda uma incógnita. Sentimos que o mínimo que podemos fazer é gritar alto numa praça da capital."

Jornal i

terça-feira, fevereiro 01, 2011

PSD quer emagrecer o Ministério da Educação

"O PSD quer um Ministério da Educação (ME) limitado ao papel de regulador do ensino sem funções de gestão das escolas. Depois de, nas jornadas parlamentares do PSD, ontem em Braga, Joaquim Azevedo, ex-secretário do governo de Cavaco Silva, ter defendido que o "Ministério da Educação pode ser implodido sem nenhum problema", ao i, o vice-presidente da bancada parlamentar, Pedro Duarte, explica que o PSD quer "reduzir o monstro burocrático do ME". De acordo com o deputado, o sistema intermédio, "como as direcções regionais", gera "entropia na educação". Estas estruturas, esclarece, levada a cabo a "redução das competências" defendida pelos sociais-democratas, "extinguem-se por si próprias". A visão da educação do PSD passa por remeter a tutela a apenas "uma função de regulação e avaliação do sistema" mas "não a de dirigir as escolas". "Uma verdadeira autonomia das escolas", diz o Pedro Duarte, que concorda com uma avaliação dos professores feita por uma agência independente.

Nas jornadas, o antigo secretário de Estado Joaquim Azevedo tinha defendido que Portugal não precisa dessa administração do ME "para coisa quase nenhuma". O que é necessário, sustentou, é apenas uma agência de apoio às escolas e uma agência de avaliação. "Mais nada".

Encolher o peso e influência do ME foi a empreitada que Couto dos Santos quis levar até ao fim enquanto tutelou a pasta da Educação, no governo de Cavaco Silva. Falhou na missão e hoje culpa os partidos pelo fracasso: "Encontrei demasiadas resistências entre altos funcionários das direcções centrais e regionais, estratificados por todas as forças partidárias."

O modelo que o antigo ministro ambicionou tinha como finalidade reduzir o ministério a duas funções: "Um ministro e dois staff para gerir o processo legislativo e definir estratégias de médio e longo prazo das políticas educativas seria suficiente." Tudo o resto caberia às escolas, que veriam a autonomia aumentar, e às direcções regionais, que teriam de reduzir a dimensão: "Acabar com os serviços centrais e descentralizar o concurso de professores para um plano regional foram metas que não consegui cumprir."

Hoje é diferente, avisa Couto dos Santos, convencido de que é "agora ou nunca" que a reestruturação deve avançar: "A falta de dinheiro é uma oportunidade única para iniciar o processo, que contudo, não pode ser tão radical como defende Joaquim Azevedo - terá de avançar por fases", remata".

jornal i

Evangelizemos, o Estado paga

"No "site" da Agência Ecclesia, Jorge Cotovio, secretário-geral da Associação Portuguesa de Escolas Católicas, apela à "luta" e à "acção" contra a decisão do Governo de atribuir às escolas privadas com contrato de associação, designadamente às da Igreja, financiamento por turma igual ao que recebem as escolas públicas. Porque, "se achamos que as escolas católicas são um meio privilegiado de evangelização junto da juventude e das suas famílias, não podemos atirar a toalha ao chão".

Reivindicam-se as escolas católicas como "escolas públicas não estatais" que prestam "serviço público" de ensino e que devem, por isso, ser financiadas pelo Estado (e até, pelos vistos, com financiamentos superiores àqueles com que o Estado financia as suas próprias escolas). Afinal, o "serviço público" que tais escolas têm em vista é a "evangelização junto da juventude e das suas famílias".

Temos assim os contribuintes a financiar a evangelização de uma confissão religiosa sob a capa do "ensino público", e apesar de a Constituição determinar que "o ensino público não será confessional" (artº 43º, nº 3).

A financiar, por exemplo, um colégio de Coimbra onde os alunos são, contra a lei, seleccionados conforme o seu, e dos pais, "ideário" e onde é seu dever "desenvolver uma devoção especial a Nossa Senhora" e dever dos professores "participar na oração comunitária da manhã na Capela". Isto numa "escola pública".

Manuel António Pina
JN