domingo, dezembro 31, 2006

A falta de isenção de MST

Miguel Sousa Tavares não perde uma oportunidade para malhar nos professores. Nada a que não estejamos habituados. Só que desta vez foi longe de mais. O homem que opina sobre tudo e se acha um expert em todas as matérias, enumera 50 desejos para Portugal em 2007. O 13º desejo contempla esta pérola: "Que a ministra da Educação não desista de enfrentar os lóbis instalados no ensino nem a protecção corporativa de que eles gozam por parte dos tribunais". Um tipo lê e não acredita! Este senhor tem o desplante de pôr em causa a imparcialidade dos tribunais, acusando-os de estarem ao serviço dos professores, só porque não têm pactuado com as várias ilegalidades cometidas pelo ministério da Educação. E pensava eu que vivíamos num Estado de Direito e que competia aos tribunais assegurar o cumprimento das leis que regem este país. Pelos vistos, ando equivocado. A fazer fé nas palavras de MST, há gente em Portugal que deve estar acima da lei. Para este comentador encartado, Maria de Lurdes é uma delas.

quinta-feira, dezembro 28, 2006

A gestão escolar

2007 vai trazer muitas novidades no que à educação diz respeito. A principal será a entrada em vigor do novo ECD, embora outras venham a estar sobre a mesa. Uma delas, e pela qual tenho grande curiosidade em saber o que vai acontecer, tem a ver com a gestão escolar. Será que a velha pretensão de colocar gestores profissionais à frente das escolas básicas e secundárias vai vingar? Será que em vez destes avançarão os professores com formação específica em Administração Educativa? No caso de não haver docentes disponíveis num dado estabelecimento de ensino, abrir-se-á um concurso público para candidatos, do corpo docente ou não, mas só para os que tenham formação específica na área? Ou, pelo contrário, manter-se-á o modelo actual? Se assim for, poderão candidatar-se professores não titulares? Num ano em que muitos Conselhos Executivos cessam os seus mandatos aguarda-se com natural expectativa o que a tutela irá decidir.

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Aulas de substituição pagas como horas extra


"Os tribunais administrativos de Castelo Branco e Leiria deliberaram favoravelmente a dois professores que exigiram o pagamento das aulas de substituição contínua como trabalho extraordinário.

De acordo com a edição desta quinta-feira do jornal ‘Público’, as sentenças contrariam o entendimento do Ministério da Educação, que considera que a substituição dos professores que faltam não tem de ser remunerada de forma extraordinária. Segundo o Estatuto da Carreira Docente em vigor, as aulas de substituição são consideradas “serviço docente extraordinário”, no entanto, a tutela só aceita que as aulas de substituição sejam pagas como horas extra quando asseguradas por professores da mesma disciplina e desde que estes sigam o plano de aulas do colega em falta, adianta o jornal. O ‘Público’ acrescenta ainda que de acordo com o Código de Processos nos Tribunais Administrativos, se houver mais de três decisões no mesmo sentido sobre casos “perfeitamente idênticos”, todos os docentes que tiverem feito substituições poderão requerer que as horas sejam pagas como extraordinárias. Em declarações à rádio ‘TSF', Augusto Pascoal, secretário nacional da Fenprof, mostrou-se satisfeito com a decisão judicial, sublinhando que o Ministério terá de pagar todo o dinheiro que deve.Esta controvérsia surgiu em 2005, quando o ME aprovou um despacho que obrigava as escolas a organizar os horários dos professores para que caso algum faltasse ser imediatamente substituído, de forma a manter a ocupação dos alunos".

Notícia publicada no Correio da Manhã

quarta-feira, dezembro 20, 2006

As reuniões de avaliação

Com o final das reuniões de avaliação terminámos o primeiro período escolar. Estas reuniões constituem para muitos professores, incluindo eu próprio, os momentos mais desmotivantes na carreira docente. Então se as ditas disserem respeito ao unificado (felizmente só tenho uma turma neste grau de ensino), a desmotivação aumenta exponencialmente. É que elas estão transformadas num antro de desnecessária burocracia, onde o principal objectivo passou a ser o preenchimento de carradas de documentos, a maioria deles sem que se perceba a sua finalidade, sendo que o tratamento das questões pedagógicas passaram a ter um tratamento de segundo plano, algo perfeitamente inadmissível. É bom que se diga que os professores têm responsabilidades por esta situação, pela forma acrítica e passiva com que aceitam todas as directrizes emanadas do ministério da Educação. Menos burocracia e mais pedagogia é o que todos nós professores devemos exigir sob pena de nos convertermos em meros funcionários administrativos.

terça-feira, dezembro 19, 2006

Afinal o que é a TLEBS?

Um contributo para afinal percebermos o que é a TLEBS

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Portugal no seu melhor

"Mais de 14 mil candidatos maiores de 23 anos, a maioria sem o 12º ano completo, foram aprovados para ingressar no ensino superior. Ao todo, concorreram perto de 20 mil através deste regime.
Estes números contrastam com o ano lectivo passado, no qual entraram apenas 901 alunos através dos antigos exames ad-hoc. O que distingue o antigo regime do actual é que as provas de acesso estão agora inteiramente a cargo de cada instituição.
Tal como o Sol noticiou na edição de 7 de Outubro, o processo de admissão destes alunos ficou fora de controlo, com várias instituições a informar os candidatos que as entradas eram "garantidas". Só em o Politécnico de Bragança admitiu cerca de 600 alunos através deste regime.
O ministro do Ensino Superior, Mariano Gago, disse na Assembleia da República que está atento: "Vamos avaliar a taxa de sucesso escolar destes alunos e compará-la com o resto do universo estudantil".

Jornal Sol

Nota: Depois admiram-se que as taxas de abandono escolar no ensino básico sejam elevadas. Pudera, com um regime destes quem é que não se sente atraído a deixar os estudos?

terça-feira, dezembro 12, 2006

Espírito de luta, precisa-se!

Será impressão minha, ou os professores estão resignados e vão aceitar pacificamente o novo ECD que, ao que tudo indica, entrará em vigor logo no mês de Janeiro? Observando o que se passa na minha escola, e se ela puder servir de referência, é isso que me parece que se vai verificar. Se em momento algum ele suscitou grandes reacções por parte dos meus colegas, então agora, o silêncio é total. Infelizmente fica a ideia de que, mais uma vez, nos entregamos nas mãos dos sindicatos, ficando à espera que eles tomem a iniciativa e resolvam os nossos problemas. Se estes nada fizerem, o pessoal desmobiliza e acata serenamente o que o ME nos quer impingir. Não tenho sobre isso a mais pequena dúvida. Se ao longo dos tempos, sempre temos sido ordeiros e cumpridores escrupolosos de tudo o que emana do ME, porque é que desta vez a postura iria ser diferente?

quinta-feira, dezembro 07, 2006

O novo regime de contratação de professores

O novo regime de contratações de professores que dá a possibilidade às escolas, de poderem contratar docentes em situações de substituições de professores de baixa ou licença de maternidade, bem como em outras situações pontuais, contém em si todos os ingredientes para se tornar num processo pouco transparente, ou não estivéssemos nós em Portugal. Num país onde o compadrio, o amiguismo e o favorecimento pessoal são o critério habitual em grande parte dos concursos públicos, só um ingénuo poderá pensar que nas escolas o processo irá decorrer de forma diferente. Já estou a imaginar alguns presidentes de conselhos excutivos a estabelecerem perfis que, por mera coincidência, estarão mesmo à medida de um qualquer familiar ou de um amigo de peito, ou até, quem sabe, dum qualquer candidato com uma grande cunha. Vai ser um forrobodó, que só visto!

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Mais um estudo sem novidades

Portugal é o país dos estudos. Não deve haver assunto sobre o qual não se tenha constituído um qualquer grupo de trabalho para o estudar e investigar. Vem isto a propósito de mais um estudo realizado, desta feita, pelo ISCTE, e que conclui que o nosso sistema de ensino agrava as desigualdades sociais. Para quem trabalha no ensino, a conclusão deste estudo não vem acrescentar nada de novo. Todos nós que labutamos nas escolas sempre tivemos consciência desse facto. No entanto, para aquelas mentes mais retorcidas que passam a vida a opinar que o insucesso escolar se deve exclusivamente à incapacidade dos professores, estes e outros estudos deveriam ser de leitura obrigatória. Este estudo permite explicar a essas pessoas o porquê de, por exemplo, haver uma grande disparidade em matéria de sucesso escolar em escolas situadas na mesma zona. Dá conta que nas escolas com melhores equipamentos e onde predominam alunos pertencentes a classes sociais elevadas os resultados escolares são melhores, enquanto que nas escolas maioritariamente constituídas por alunos das classes desfavorecidas as taxas de reprovação apresentam valores bem mais elevados. Dá conhecimento também da discriminação que se faz dentro das próprias escolas: alunos com trajectórias escolares de excelência agrupados nas mesma turmas sendo que outras são constituídas exclusivamente por alunos com fraco desempenho escolar. Tudo constatações que o País está farto de saber, mas que grande parte dos portugueses tarda em perceber ou não quer entender. Se os portugueses enterram a cabeça na areia já os senhores da 5 de Outubro têm um conhecimento profundo desta realidade. Ora se assim é, como qualificar a atitude do ME ao pretender penalizar os professores pelo insucesso escolar dos seus alunos?

sábado, dezembro 02, 2006

Aulas de substituição são regra noutros países


"Vale sempre a pena visitar os vizinhos para nos conhecermos melhor.

A perplexidade com que os responsáveis pela Educação em Espanha, Itália e Irlanda responderam às perguntas do DN sobre a existência de aulas de substituição revela bem o atraso em que estamos e a irracionalidade de combater esta iniciativa.

Obviamente que, como diz quem fala em nome da Itália, a escola tem a obrigação de acompanhar os alunos desde a entrada à saída. Como podem os professores considerar que não é assim ou, se assim é, que nada têm a ver com isso? Só um tempo demasiado longo, durante o qual as autoridades abandonaram a escola à sorte de ser dirigida por profissionais voluntaristas, é que pode explicar a falta de consciência da responsabilidade de um professor.

Sem estas recentes orientações, há muito que muitas escolas se organizaram para assegurar a ocupação dos tempos livres dos alunos. São espaços que representam mais que a soma das horas de aula, que não se limitam a ser um edifício onde autómatos entram e saem debitando matérias.

Quem está contra as aulas de substituição parece defender um depósito de crianças e adolescentes e não uma escola. E esperemos que alguns não tenham caído na tentação de manipular os seus alunos contra uma iniciativa que há muito devia ser uma regra. As manifestações de crianças e adolescentes causam, por vezes, grande estranheza.

Qualquer professor sabe que há uma infindável lista de actividades que pode desenvolver com os jovens. Um professor que ensina Português não pode substituir a aula de Matemática? Provavelmente não. Mas pode aproveitar esse tempo para ensinar Portu- guês.

E a escola? Pode com certeza de-senvolver actividades que funcionam em contínuo para onde se deslocam os alunos que ficaram com um "furo". Tanto que se pode fazer. É só querer.

Porque não querem os professores, ou pelos menos alguns, os que se manifestam contra? É difícil perceber. Uma das hipóteses é esta posição contra as aulas de substituição ser apenas uma forma de reivindicação salarial. Os professores podem considerar que não são pagos para isso. Mas não têm razão.

Se a remuneração dos professores estivesse ligada aos resultados, nem aumentos salariais deveriam existir, pelo menos para alguns. É tempo de quem ensina assumir também as suas responsabilidades pelo estado da educação dos portugueses."

Helena Garrido

Diário de Notícias

Nota: A senhora jornalista manifesta a sua indignação pelo facto de, em Portugal, ao contrário de outros países, os professores serem contra as aulas de substituição. Chega até a insinuar que os professores manipularam as recentes manifestações dos alunos o que é algo absolutamente inaceitável. Tanta foi a vontade em zurzir nos professores que no seu editorial se esqueceu de dar relevância a um pormenor extremamente importante. É que nesses países, que apresenta como exemplo, todas as aulas dadas para além da componente lectiva são pagas. Um "pequeno" detalhe que faz toda a diferença, uma vez que em Portugal isso não se verifica. E tem esta senhora a lata de falar em manipulação!

quinta-feira, novembro 30, 2006

Síntese do ECD

Na página da Fenprof encontra-se um excelente resumo do novo ECD. A consultar com especial atenção.

quarta-feira, novembro 29, 2006

Alunos portugueses imbatíveis

Pelos vistos, não é só por cá que os alunos portugueses apresentam altos níveis de insucesso escolar. No Luxemburgo, os filhos dos nossos compatriotas ocupam a lanterna vermelha nas aprendizagens escolares. Nesta matéria, parece que também em França ninguém nos passa a perna. Não fosse eu saber que tudo isto é resultado da forma como os portugueses encaram a escola estaria tentado a admitir que existe no povo luso alguma condicionante de índole genética. Resta-nos a consolação de que, pelo menos, neste caso, a nossa ministra da educação não irá atribuir a culpa aos professores portugueses. E daí sabe-se lá. Daquela mente tudo é possível, mesmo a coisa mais estapafúrdia.

sábado, novembro 25, 2006

A propaganda socialista

As declarações de Sócrates relativas à aprovação do novo ECD no último Conselho de Ministros provocam-me um sentimento: nojo! Não é de agora. Desde há algum tempo que este senhor e a sua ministra me merecem a mais veemente repulsa. Desta vez, Sócrates, duma forma demagógica e populista, pretende-nos convencer que com este ECD estarão reunidas as condições para o salto qualitativo que há muito se deseja no ensino em Portugal. Uma grande mentira como nós sabemos, e ele tão bem sabe, e que o tempo se encarregará de confirmar. Nada que lhe tire o sono. Só os ingénuos poderão pensar que o nosso “primeiro” está preocupado com a qualidade do nosso sistema de ensino. Antes tivesse. O homem tem apenas uma, e uma só, preocupação em mente: a redução do déficit. E como a classe de professores é a maior corporação dentro da função pública facilmente se previa qual seria o alvo a atingir. Logicamente que os professores. Se a isto juntarmos a péssima imagem que temos na opinião pública não foi difícil construir um ECD que respondesse às suas exigências e que fosse facilmente “vendável” junto dos portugueses. Mesmo que à custa de um chorrilho de mentiras o objectivo estava alcançado. A contestação dos professores é apenas um detalhe que, de momento, não o parece incomodar minimamente. Como disse a ministra há dias atrás o que para ela era verdadeiramente importante é que os portugueses percebessem a necessidade deste novo ECD. E como a maioria deles o subscreve, não faz sentido, na sua opinião, que os professores o ponham em causa.
No meio disto tudo há um pormenor que me dói sobremaneira: no futuro, sabem quem vai ser responsabilizado, quando se chegar à conclusão que afinal este ECD em nada contribuiu para a melhoria da qualidade de ensino nas nossas escolas? Esta ministra? Os anteriores ministros que passaram pela pasta nas últimas décadas e que delinearam a política educativa nestes últimos 30 anos? Nem pensar! Não se pense, porém, que a culpa morrerá solteira. Nada disso. Arranjar-se-ão as desculpas mais esfarrapadas, mas os culpados serão identificados, como, aliás, tem acontecido em todas as outras ocasiões. E quem são eles? Os mesmos de sempre: os professores. Têm dúvidas? Aguardem e verão!

segunda-feira, novembro 20, 2006

"Disse-se... mas não se disse. Eu digo!"

"A semana que passou, marcada pela vigília dos professores, pela entrega na 5 de Outubro de um documento com 65.000 assinaturas, de repúdio pelas propostas do Ministério da Educação, e pela greve dos estudantes, não foi, tão-só, "mais uma jornada de luta", que se somou à manifestação e à greve precedentes. A semana que passou patenteou, sobretudo, que o descontentamento e a agitação social se apossaram das escolas e começam a ser insustentáveis, face ao prejuízo imenso que repercutem no ensino e na educação dos alunos.
O país tem hoje dois problemas de monta. Um é substancial e de natureza económica e financeira: na educação, na saúde, na segurança social, na reforma do Estado, tudo se reduz a cortar, subtrair, nivelar por baixo. O outro é existencialista e de natureza patológica: na mente de alguns aninhou-se a missão de salvar a Pátria, albergou-se a verdade única e a convicção de que, em nome da "esquerda moderna", vale tudo.
Os que, como eu, pensam que a solução da crise económica é incompatível com uma política fundamentalista de anulação, em anos, de um défice que se engordou em décadas, admitem, com tolerância, que as regras europeias (com que não concordam) e a competitividade feroz do mercado global (que não apreciam) imponham modificações dolorosas para sanear as contas públicas. Mas não admitem que a factura seja paga apenas pelo trabalho e isente o capital; que as modificações sejam impostas e não negociadas; que a manipulação sem pudor dos números seja usada para fomentar a inveja e o ódio contra classes profissionais honestas; que a débil informação da generalidade dos portugueses seja demagogicamente aproveitada para lhes "comer as migas na cabeça". O que se segue fundamenta o que acabo de escrever. Os visados que desmintam, se forem capazes.
1. Nos últimos tempos disse-se, citando a OCDE e para os denegrir, que os professores portugueses eram dos mais bem pagos da Europa. O que permitiu a notícia, glosada até à náusea, foi um gráfico que se refere apenas aos professores do secundário com 15 anos de serviço, em função do PIB por habitante, que é dos mais baixos da Europa. Na mesma página, logo por cima do gráfico utilizado, está outro, bem mais relevante, que ordena os professores em função do valor absoluto do salário. E nesse, num total de 31 países estudados, os professores portugueses ocupam a 20.ª posição! Mas, sobre isto, nada se disse!
2. Disse-se, aludindo ao mesmo estafado indicador, que somos dos que mais gastamos com a educação. Mas não se disse o que importa: que o dinheiro efectivo gasto por aluno nos atira para a 23.ª posição entre os 33 países examinados e que, mesmo em relação ao PIB, estamos, afinal, num miserável 19.º lugar.
3. Disse-se que a prioridade das prioridades era a qualificação dos portugueses, mas não se disse como se concilia isso com o corte de 4,2 por cento na educação básica e secundária e 8,2 por cento no ensino superior. Como tão-pouco se disse, do mesmo passo, que os subsídios pagos pelo Estado a alguns colégios privados cresceram exponencialmente, de 71 a 108 por cento, como se retira da matéria publicada no DR de 16 de Outubro!
4. Disse-se, ainda, alto e bom som, que os funcionários do Estado estavam mais bem pagos que os privados. Mas não se disse que um estudo encomendado pelo Ministério das Finanças a uma consultora internacional (é moda agora adjudicar a consultoras externas e pagar-lhes a peso de ouro aquilo que os técnicos dos serviços sabem fazer) concluiu, e por isso foi silenciado, que os funcionários públicos ganham, em média, muito menos do que ganhariam se fizessem o mesmo trabalho para um patrão privado. E estamos a falar de diferenças que são, diz o estudo, de 30, 50, 70 ou mais que 100 por cento, em desfavor do funcionalismo público. Isto não se disse! As cerca de 300 páginas deste estudo estão, prudentemente, silenciadas na gaveta de Teixeira dos Santos.
5. Igualmente silenciados, porque não convém que se diga, estão os dados do Eurostat que mostram a inutilidade das medidas da ministra da Educação para a área: o abandono escolar precoce passou dos 38,6 por cento do ano passado para os 40 por cento deste ano, enquanto diminuiu por toda a Europa.
6. José Sócrates disse no Parlamento, qual justiceiro-mor que não ataca só os que pouco podem, que determinaria a inspecção obrigatória das empresas que declarassem prejuízos superiores a um milhão de euros, relativos a operações de reestruturação societária. Mas não disse... que isso já está na lei vigente e não passa, pois, de mero fogacho. Na mesma altura, disse ainda ir propor legislação destinada a obrigar os bancos a explicarem que manobras de planeamento fiscal estão a preparar. Mas não disse... , mais uma vez, que não estava a descobrir a pólvora, porque a lei actual já permite obstar a manobras que se destinem à simples obtenção de vantagens fiscais, assim tenha coragem de a aplicar. E, mais importante, não disse o óbvio, isto é, quando vai fazer legislação sem buracos e quando cumprirá a reforma do sigilo bancário que, segundo prometeu, já devia estar feita.Digo eu que estes expedientes cansam! "

Santana Castilho

Professor do ensino superior

domingo, novembro 19, 2006

Acreditem que é verdade

A partir de Janeiro, os adultos com mais de 18 anos que não concluíram o Ensino Secundário vão poder obter equivalência ao 12.º ano. Ora aqui temos mais uma medida de incentivo ao abandono escolar. Ao que consta, para se conseguir a certificação basta fazer prova de umas quantas competências sociais e laborais. O conhecimento das matérias que, todos nós, que andámos na escola, fomos obrigados a aprender, não será exigido nestes casos. Uma maravilha! Perante tanto facilitismo, faz todo o sentido perguntar: para que serve o sistema de ensino em Portugal?

quarta-feira, novembro 15, 2006

Os professores "trolhas"

Nos últimos dias falou-se na hipótese de os professores com horários zero serem colocados no quadro de supranumerários da função pública. Ontem, no parlamento, a ministra da educação desmentiu tal possibilidade dizendo que está a preparar um projecto de reconversão profissional para os professores naquela situação. De entre as várias funções apresentadas houve uma que suscitou a minha particular atenção. Refiro-me concretamente à "manutenção de edifícios". Querem ver que um dia destes ainda vamos ver os professores em andaimes a pintar paredes, ou em casas-de-banho a reparar canalizações? Não há dúvida que a nossa profissão é um mundo repleto de oportunidades.

segunda-feira, novembro 13, 2006

Entrevista a um "examinador" de escolas

É director do INESC nacional e, até Julho último, foi presidente da sua extensão no Porto. É um catedrático da Faculdade de Engenharia do Porto que se sente como peixe na água quando se pronuncia a palavra Ciência. A sua experiência na avaliação de cursos superiores e o percurso académico de Pedro Guedes de Oliveira (61 anos) levaram-no a assumir o cargo inédito de "examinador" das escolas. Diz que a Ciência é o seu "habitat" e, em conversa à parte da entrevista, informa que não continuará nestas funções a partir de Janeiro. A missão exige uma estrutura permanente e não um Grupo de Trabalho.

Quando a ministra o convidou para ser o "avaliador" das escolas, achou que a missão era atractiva
?
Achei que era importante, sem querer sobrevalorizar aquilo que tenho feito. Só uma vista externa nos ajuda a olhar melhor para nós próprios. Sempre acreditei que essa visão externa deve ser susceptível de ser levada a cabo por não especialistas. A escola não deve ser um mundo fechado.
Não é obrigatório, por exemplo, que seja um professor primário a avaliar uma escola do 1.º Ciclo?
Podia ser, mas não é necessário. A escola deve ser capaz de se mostrar a um grupo exterior e de responder perante os seus "stakeholders", isto é, a representação dos interesses que justificam a sua existência. Uma escola existe para prestar um serviço. A missão deste Grupo de Trabalho visa um conjunto de objectivos que passam pela avaliação das escolas. Quem é pago por dinheiros públicos tem de prestar contas.
A propósito de "stakeholders", concorda com a ideia de os pais passarem a ter uma intervenção indirecta na avaliação dos docentes?
Desde que isso seja feito com bom-senso, não tenho qualquer objecção. Do mesmo modo, sempre achei que os alunos devem ser um elemento importante na avaliação dos professores no Ensino Superior, tal como sucede noutros países. Em Portugal, já se vai fazendo, mas com pouca clareza. As notas não são tornadas públicas. E devo dizer que é estranho uma classe que passa a vida a avaliar, e que vê os jovens com a sua vida às voltas por falta de umas centésimas que não os deixa entrar em Medicina, esteja sempre com medo das avaliações só porque elas não são justas. Não são com certeza sempre justas. Ninguém pode dizer que aquele aluno com mais duas centésimas merecia mais entrar em Medicina. Apesar de tudo, é inevitável. E é possível montar sistemas mais justos, menos arbitrários e que apresentem alguma coisa de válido.
Simpatiza com as linhas gerais do Estatuto da Carreira Docente (ECD) proposto pelo Governo?
Conheço só as linhas muito gerais, mas há coisas com as quais simpatizo e outras com que não simpatizo de todo. Não concordo com a extensão do estatuto. Devia ser uma coisa simples e fácil de ler. Não devia ser enorme e muito regulamentar. É um problema que temos em Portugal, mas o mesmo se passa na carreira universitária. Acho inevitável que haja escalões e que esses correspondam a estágios diferentes de desenvolvimento de competências e de responsabilidades. É justo e realista que não haja espaço para todos aqueles que forem muito bons. Quando o número é ilimitado, toda a gente vai até ao topo.
Como na universidade, onde não há cátedras para todos.
Exactamente. Acho, portanto, normal que assim seja. E eu até acho que devia haver mais do que dois estágios (professor e professor titular). Acho absolutamente razoável que uma pessoa, vendo que tem a sua evolução de carreira tapada, procure outros sítios. Acho óptimo que se induza mobilidade. As pessoas têm de se habituar.
Quanto às partes que considera mais críticas.
Não acho bem que sejam os coordenadores de departamento a ter uma parte muito activa na avaliação. Eles são eleitos por um período temporário. É complicado quando alguém que hoje avalia, porque foi eleito, está amanhã a ser avaliado, porque é eleitor. Eu posso avaliar o produto do trabalho de alguém. Não avalio a pessoa, mas sim o produto do seu trabalho.
Mas, globalmente, o ECD é justo?
Há justeza em muitas medidas. Mas por mais justas que as medidas sejam, serão sempre desconfortáveis para quem as recebe. Compreendo o facto de os professores estarem chateados. Parece que tudo é penalizante. Ao longo dos anos, houve muito disparate que foi feito. Os próprios membros da classe acham injusto que todos sejam tratados por igual.
Segundo o ECD, serão os titulares a ter papéis de maior responsabilidade. Acha que temos quadros com perfil de pró-gestores, sobretudo se a escola for autónoma?
Quem, como eu, tem uma vida profissional longa e esteve à frente de instituições, sabe que é mais difícil encontrar gente capaz de liderar do que de trabalhar bem. Tenho encontrado entre os nossos alunos profissionais fantásticos. Mas não é fácil encontrar pessoas que liderem bem. Este perfil é necesário em todas as instituições.
Nomeadamente nas escolas?
É normal que não as encontre muito num meio em que as pessoas foram orientadas para serem professores e não gestores. É natural que haja docentes que gostem dessa via e que, ao longo dos anos, se vão apetrechando com as competências necessárias para gerir. As equipas de gestão ideais são aquelas cuja matriz de formação seja a de professor.
A eleição é o método correcto de escolher essas pessoas?
A eleição não é a melhor forma de escolha para o presidente do Conselho Executivo. Podia haver uma comissão de avaliação constituída por professores e fazer-se um concurso. Por exemplo, abria-se um lugar no Conselho Executivo em dada escola, podendo concorrer qualquer professor, mesmo que seja de outro estabelecimento. A escola que abriu esse lugar nomearia 10 professores que avaliariam os candidatos. Para além do CV, o candidato teria de apresentar uma estratégia de actuação para aquela escola face aos seus problemas concretos.
Agora que foram escolhidas 24 escolas para se candidatarem a contratos-programa, até onde julga que deveria ir a autonomia?
Essas escolas foram avaliadas e o grupo de trabalho identificou pontos fortes e fracos. Os estabelecimentos tiveram direito ao contraditório e agora vão poder apresentar as respectivas estratégias. Vão dizer o que precisam para melhorar.
Para muitas escolas, a autonomia financeira não parece ser o objectivo principal.
Para muitas escolas, o dinheiro nem é problema central. E quanto à autonomia, a responsabilidade de gestão financeira é muito complicada. Mas pode haver maior flexibilização a esse nível.
Encontrou escolas cujo grande objectivo era poder contratar quem entendessem?
Alguns conselhos executivos de escolas queriam poder "segurar" professores de quem gostassem muito.
Não se está a passar a ideia de que a autonomia é o paraíso?
Para a maior parte das vezes que me têm falado desse assunto, a autonomia é a palavra-chave em detrimento da avaliação. Como se esse fosse o grande objectivo. Isso corresponde a um falso paradigma ideológico (equiparação ao privado).
Cada escola é um caso?
Em seis escolas que visitei pessoalmente, é impressionante ver as diferenças. Encontrei coisas fantásticas. As 24 agora escolhidas não são necessariamente as melhores. Depois virão mais 100 e por aí fora. Todas têm direito a negociar a autonomia, mas depois é necessário fiscalizar.
Como vai decorrer a partir de agora o processo de avaliação?
Nesta segunda fase, entrarão as 100 já identificadas e que se candidataram. Na terceira fase, a partir de 2008, deverá ser por sorteio e não por candidatura. Mesmo que não queiram, as escolas têm de ser avaliadas. Uma escola que não quiser ser avaliada é um problema muito mais complicado.
Acha que as reformas curriculares são um dos grandes problemas do ensino?
Acho um total disparate o grande número de disciplinas. Em contrapartida, temos um ensino estritamente monodocente no 1.º Ciclo que também me parece errado. Pelo menos no quarto ano, os alunos deviam começar a ter professores mais especializados. Espero que as escolas do 1.º Ciclo se organizem com as do 2.º Ciclo, por forma a que os professores mais especializados nesta ou naquela disciplina comecem a participar na docência do primário.

Entrevista conduzida por Pedro Araújo

Jornal de Notícias

Constatação preocupante

Estando presente num Conselho de Turma do unificado, fiquei impressionado com a quantidade de alunos com problemas de saúde que obrigam a planos educativos individuais e a condições especiais de avaliação. Pelo que me foi contado, tal cenário é extensível à maior parte das turmas deste grau de ensino. Das duas uma: ou tudo isto é verdade e, nesse caso, os serviços do Ministério deviam ser alertados, dado ser preocupante que neste nível etário haja tantos alunos debilitados, ou então, tudo não passa de ardilosos esquemas para legitimar transições no final do ano lectivo. Não sei porquê estou mais tentado a acreditar nesta última hipótese. Estarei errado?

quarta-feira, novembro 08, 2006

Entrevista da ministra da educação

Excertos de uma entrevista de Maria de Lurdes Rodrigues, hoje, ao Jornal de Negócios


Como é que lida com o estigma de ser arrogante?

O que acho é que se procura trazer o debate político para um nível que considero inaceitável, que é o das características pessoais. Eu gosto de discutir questões de política: como inverter o problema do insucesso escolar, como vamos combater o abandono e melhorar o funcionamenteo das escolas, como é que vamos lançar o Inglês e articular o trabalho com as autarquias. Isso sim, são temas de política e são esses os objectos do meu trabalho.
E motivar os professores?
Com certeza. Os dados de que dispomos mostram que o absentismo, em termos homólogos, caiu 40% em Setembro. A média baixou de 10% para os 6%, mas são apenas os dados do primeiro mês, é preciso cautela. Além disso, é minha obrigação explicar ao País o que se está a fazer em matéria de Educação. O resto são "fait-divers". Quem não tem nada para dizer fala sobre a arrogância da ministra.
Nota-se no Orçamento do Estado para o próximo ano uma redução para os 80% do peso relativo do custo com pessoal. Isso é feito à custa do quê?
Sobretudo à custa da diminuição de professores contratados. Houve um ajuste às reais necessidades do sistema. Para este ano orçamental, que corresponde ao ano lectivo passado, contratámos menos 9000 professores. Este ano, no mês homólogo, ou seja em Setembro, tínhamos contratado menos 6500. E a nossa expectativa é que no final deste ano lectivo tenhamos contratado menos 5000.
Mas as universidades continuam a formar professores. Estão condenados ao desemprego?
Como o sistema de contratação estava um pouco fora do controlo, o primeiro ciclo e a educação de infância eram portas de entrada fácil na administração. Mas, quanto mais aperfeiçoarmos os mecanismos de gestão, menor será essa possibilidade. Penso que as instituições de ensino superior vão ter que se reformar para se ajustarem a esta nova realidade. Claro que vamos continuar a precisar de educadores de infância e de professores do primeiro ciclo, porque o País tem um problema de oferta para as crianças dos 0 aos 3 anos, e é preciso estender a cobertura dos 3 aos 5. No que respeita aos jardins de infância ainda há espaço para crescer, sobretudo se o País tiver uma política de apoio à família.
Tem desvalorizado a ideia que a proposta de revisão do ECD tem motivações "economicistas". Mas a verdade é que as novas limitações de acesso ao topo da carreira vão ajudar o ME a poupar em ordenados.
Nesta fase não ajuda nada, porque os professores que estão no 8º, 9º e 10º escalões têm o seu salário assegurado. O que ajuda, no futuro, é a melhorar a organização do trabalho dentro das escolas.
Mas vai, ou não, permitir ao ME gastar menos com pessoal?
Vai permitir gastar melhor. Actualmente, com esta estrutura de carreira,o peso dos salários no orçamento das escolas é de 97% e por isso é impossível fazer investimentos. Nós procurámos alterar a lógica. O que cortámos em massa salarial, decidimos aplicar nas despesas de funcionamento das escolas, e mesmo assim é insuficiente.
Mas a população escolar tem vindo a reduzir-se...
Sim, em vinte anos perdemos meio milhão de alunos.
E este ano?
Ganhámos. Essa é a novidade. Este ano, pela primeira vez, invertemos a tendência de perda de alunos. Acho que isso resulta das medidas de combate ao insucesso. No fundo resulta da aposta nos cursos de educação e formação de nívelII, para quem não concluiu com êxito o 9º ano, e do aumento dos cursos profissionais também.
Porque é que insiste na necessidade de estruturar a carreira docente em duas categorias?
Actualmente, temos nos quadros 140 mil professores: 65 mil estão no 8º, 9º e 10º escalões. Um professor do 10º escalão ganha o dobro de um eminício de carreira (4º escalão). Entre o 4º e o 6º escalão, o professor leva 12 anos para ter um impulso slarial de 54 pontos. Do 9º para o 10º escalão são apenas três anos para os mesmos 54 pontos. Imaginem o efeito que isto tem agregado, quando temos 65 mil professores nesses últimos escalões. Se não fizéssemos nada, tirando as saídas, em seis anos teríamos 65 mil professores no 10º escalão. Isto não tem problema nenhum só por si...
Tem...para o aumento da despesa do ministério...
Não. Independentemente da despesa. Não estamos aqui a falar em despesa. Até poderia ser acomodado. Existem é dois problemas: um é o da despesa claro, mas não é o mais importante, só é importante porque tem um efeito organizacional de disfunção no interior das escolas.
Porquê?
Porque estes professores, que são os mais experientes, os mais competentes e os que mais ganham, têm as maiores reduções da componente lectiva e até ao ano passado, não estando regulamentada a componente não lectiva e não havendo condições nas escolas, eram os professores que menos davam ao sistema. A disfunção é que não se associa à maior remuneração, competência e formação, maior responsabilidade na organização interna das escolas. Portanto, pode acontecer, que um professor com dois ou três anos de experiência, assuma a liderança de um departamento onde existem outros com 26 ou 28 anos de carreira.
Mas isso não acontece agora só por "demissionismo" dos mais antigos?
É uma espécie de organização interiorizada da carreira. Reparem que estes professores já passaram pelos outros escalões. Há um período de grande capacidade de trabalho que é o da juventude, com a compensação de um progressivo afastamento da escola a partir de certa altura. Isso para mim não é aceitável. As escolas têm que se estruturar como as outras organizações, em que às carreiras corresponde uma distribuição funcional. E esta é razão da introdução de duas categorias. Dizer que, a partir de certa altura, alguns professores mais velhos, mediante prova, poderão adquirir o estatuto de professor titular e desempenhar as fnções de coordenação e liderança.
Mas porquê os limites? Qual a necessidade da introdução de quotas?
Porque os lugares de responsabilidade são em menor número.
Mas aí estamos a falar nas "quotas" às vagas de acesso à categoria de professor titular. Então porquê as "quotas" na avaliação?
São apenas um mecanismo para obrigar a avaliação a diferenciar. A prática na administração pública, não havendo quotas, mostra que toda a gente tem a mesma nota. E reparem que só estamos a atribuir quotas ao "excelente" e ao "muito bom". As quotas até funcionam como um instrumento de apoio a quem tem de avaliar, definindo patamares de exigência.
O critério "notas dos alunos", por exemplo, como é que se concretizará na avaliação dos professores?
Há muitas formas. Pode ser a média das notas positivas, ou o valor acrescentado - isto é, a diferença entre a nota com que o aluno chegou e a nota com que ele sai. Pode até haver formas mistas. É no momento da regulamentação do sistema de avaliação que tudo será definido.
Diz que quer continuar a dialogar com os sindicatos. Mas, ao mesmo tempo, garante que o ECD entrará em vigor no dia 1 de Janeiro e que não quer mexer em "princípios fundamentais". Então não é uma perda de tempo?
Não. A negociação é mesmo assim. Há sempre aspectos em relação aos quais não pode haver compromisso sob pena de se comprometer tudo.
Mas tem consciência de que o aumento dos níveis de contestação pode prejudicar o funcionamento das escolas?
A contestação é inevitável, mas não vai prejudicar o bom funcionamento das escolas. Essa é uma conversa invocada muitas vezes, mas acredito que não há um risco real. E devo dizer que, independentemente das negociações e da sua conclusã, o Governo tem toda a legitimidade para decidir, e vai decidir e implementar o estatuto nas melhores condições possíveis.
Está satisfeita com o seu modelo das aulas de substituição? Agora surgiu a contestação no secundário.
Os meninos do secundário são crescidos e não se conformam com algumas soluções. Se um aluno de 12 anos aceita jogar Sudoku, com um jovem que está pressionado pelos exames as coisas são diferentes. por isso, temos de fazer com que as escolas garantam qualidade nas aulas de substituição.
Mas como?
Às vezes não é preciso mais do que dizer que é preciso fazer.
(...) Mas ainda há escolas onde é difícil encontrar uma liderança. Ninguém quer assumir os conselhos executivos.
Este ano determinámos que nenhuma direcção regional indicasse ninguém para os casos em que não tinham emergido lideranças. Abrimos um concurso para cerca de 20 agrupamentos, e foi muito curioso porque os lugares foram ocupados por pessoas que se candidataram. Foi feita uma avaliação e a escola ratificou. Esta pode ser uma experiência para o futuro. Actualmente, o diploma obriga a que as lideranças sejam internas à própria escola. Mas esta possibilidade de um professor se candidatar ao conselho executivo de outra escola tem vantagens até no processo de recuo, quando o professor deixa de ter responsabilidade de "gestão".
Porquê?
Quando um professor pertence à própria escola, e deixa de ser presidente do conselho executivo, fica numa posição fragilizada. Ora, se o seu lugar de recuo for uma outra escola, é mais fácil. Seria muito importante que um presidente que tivesse dado boas provas na liderança de uma escola pudesse candidatar-se ao conselho executivo de outra mais difícil.

terça-feira, novembro 07, 2006

Adivinha

Baixa, de olhos ruins, amarelenta
Usando só de raiva e de impostura
Triste de facha, o mesmo de figura
Um mar de fel, malvada e quezilenta;

Arzinho confrangido que atormenta
Sempre infeliz e de má catadura
Mui perto de perder a compostura
É cruel, mentirosa e rabugenta.

Rosto fechado, o gesto de fuinha
Voz de lamento e ar de coitadinha
Com pinta de raposa assustadinha
É só veneno, a ditadorazinha.

Se não sabe quem é, dou-lhe uma pista: prepotente, mui gélida, sinistra, amarga, matreira e intriguista. Abusa do poder... E é ministra.

Anónimo

sexta-feira, novembro 03, 2006

Alunos contra as aulas de substituição

"Os estudantes de Vila do Conde organizaram uma estridente manifestação para sensibilizar a ministra da Educação para a inutilidade das aulas de substituição. Os alunos queixam-se do que ficam a fazer na escola quando um professor falta: dizem que vão para as salas de aula, com os professores substitutos, jogar à sardinha, conversar sobre a vida ou contar anedotas.
Seguramente inspirados pelos dirigentes da Fenprof, encontraram-se com a ministra para lhe pedirem autorização para irem para casa estudar, fazer exercícios de Matemática ou ler um bom clássico da literatura.
Ninguém duvida das boas intenções dos alunos de Vila do Conde. Nem que todos são capazes de aproveitar os tempos mortos a estudar sózinhos enquanto os amigos vão jogar à bola. Mas é capaz de ser mais eficaz encontrar professores substitutos que sejam capazes de manter os estudantes durante uma hora, dentro de uma sala de aula , a estudar ou a rever a matéria e a tirar-lhes as dúvidas que tenham, por muito que alguém ache isso dispensável e desnecessário para o seu aproveitamento.
Maria de Lurdes Rodrigues até pode ter falhado em várias fases deste processo - ter aulas de substituição de Português com professores de Educação Física ou não dar condições às escolas para acabarem com os furos dos estudantes -, mas convenhamos que nestes casos específicos de que se queixam os manifestantes de Vila do Conde o problema está em dois sítios: nos professores que não conseguem pôr os alunos a estudar e nos alunos que não querem estudar. Sem exigência - e sem aulas de substituição - é difícil acabar com as notas vergonhosas em Portugal."

Editorial da Revista "Sábado"

terça-feira, outubro 31, 2006

Foi engano

Este fim-de-semana os jornais noticiaram mais uma pérola do ministério da educação. Parece que a Srª Maria de Lurdes pretende aumentar a carga horária dos professores de cinco para oito horas diárias. Confesso que de todas as surpresas com que esta senhora nos tem brindado ao longo dos últimos tempos, esta é a que menos me preocupa. E digo isto porquê? Porque simplesmente esta é uma daquelas medidas que não tem qualquer possibilidade de ser implementada. É tão amalucada, tão disparatada, tão destituída de senso que até a própria ministra já deve ter caído em si e, por certo, nunca mais vamos ouvir falar do tema. Vão por mim. Não se preocupem.

domingo, outubro 29, 2006

A montanha pariu um rato

Mais uma vez, rasgados elogios para o ME. A populaça aplaude extasiada. Até dos próprios sindicatos dos professores vieram loas à decisão ministerial (querem ver que a insanidade atacou os próprios sindicatos?!). Tudo isto por causa de uma proposta do Governo que obriga os candidatos a professores a terem um mestrado de acordo com as novas regras do Processo de Bolonha. Vão ser necessários 5 anos de formação. Esqueceram-se de dizer que esses são os anos de formação que tiveram a maioria dos professores do ensino básico e secundário deste país. A única diferença é que naquela altura as licenciaturas tinham uma duração de 5 anos que agora passarão a três. Ou seja, tudo na mesma como dantes: os novos professores terão o mesmo tempo de formação que era exigido até aqui. Ora se asssim é, o que terá motivado a reacção efusiva dos sindicatos?!

sexta-feira, outubro 27, 2006

Um mentiroso refinado

"Verifiquei com satisfação que, finalmente, ao longo de muitos meses, os sindicatos, nas reuniões que têm mantido com o Governo, acabaram por concordar com o Governo de que a introdução da avaliação era necessária no novo estatuto da carreira docente. Mais vale tarde do que nunca!" (José Sócrates).

Há que reconhecer que Sócrates é um expert em propaganda política. Não importa se o que ele diz é verdade ou não. Para ele o que importa, o que verdadeiramente interessa, é fazer passar a ideia de que os professores não querem ser avaliados. E quer queiramos quer não, conseguiu-o. E na veiculação desta mensagem, a ajuda da comunicação social tem sido preciosa uma vez que se tem constituído como o principal aliado do governo na desacreditação dos professores junto da opinião pública. Os professores e os sindicatos bem têm tentado desmontar esta cabala mas a verdade é que até agora o nosso esforço tem-se revelado infrutífero. Andámos muito tempo adormecidos. Acordámos tarde. E com os media do outro lado da barricada quer-me parecer que a nossa batalha está condenada ao insucesso.

terça-feira, outubro 24, 2006

A vergonha do costume

O Ministério das Finanças reconhece hoje, em comunicado, que os bancos não são obrigados a reter na fonte o IRS e o IRC resultantes dos juros de obrigações emitidas por bancos nacionais no exterior. Segundo o ministério, esta situação só era possível porque a administração fiscal desconhecia o regime aplicável.
Mas alguém acredita na "ignorância" da administração fiscal sobre esta matéria? Por acaso esta gente pensa que somos todos burros e que não vemos que tudo isto não passa de um nojento conluio entre o governo e a banca? Como pode a administração fiscal ignorar os faustosos lucros da Banca? Não seria suposto esta entidade controlar as finanças públicas como tão bem sabe fazer com os pequenos contribuintes, aqueles que sempre pagam a factura elevada da incompetência de sucessivos (des) governos que há conta de manobras destas tendem a levar o país para uma situação insustentável? É o cúmulo da imoralidade! Este regime de excepção para os poderosos devia desencadear em todos nós uma reacção vigorosa. Os lucros e mordomias escandalosas dos bancos, e as obras para enriquecer alguns ( TGV e OTA ) são atestados de estúpidez e ignorância, passados a todos os portugueses. Este governo enoja: sempre tão solícito a "bater" nos mais fracos e sempre tão subserviente relativamente aos poderosos. Até quando vamos aguentar este escândalo nacional?

segunda-feira, outubro 23, 2006

Curso de Formação sobre Área Projecto do 12ºAno

Com o intuito de disponibilizar informação aos professores que estão a leccionar a Área Projecto do 12ºAno, o Ministério da Educação decidiu realizar um Curso de Formação de 25h que decorrerá até finais de Novembro, em vários pontos do país: durante esta semana em Coimbra, na 2ª semana de Novembro em Évora e, finalmente, na 3ª semana de Novembro, no Porto. Não está em causa a pertinência da acção que, por razões que toda a gente facilmente percebe ( novidade no ensino secundário; ausência de um Programa que oriente os professores na sua prática lectiva), faz todo o sentido realizar-se. O que me deixa perplexo, é ela fazer-se só nesta altura quando a maioria dos projectos já está em fase de execução. Não lembra ao diabo e custa a entender porque é que não se realizou antes do ano lectivo se ter iniciado. Que me desculpem os senhores do ministério, mas isto é um claro desrespeito pelos professores que leccionam e/ou coordenam esta área não disciplinar.

domingo, outubro 22, 2006

Ministros sobem 6,1%

Se há notícias que chocam esta é uma delas. Depois de brindarem o zé povinho com aumentos salariais que não vão além dos 1,5%, o governo decidiu aumentar os seus ministros em 6,1%. Ora digam lá se isto não é motivo para uma pessoa se sentir revoltada? Levam a vida a apregoar que o país está em crise e a apelar ao sacrifíco de todos e aquilo a que nós assistimos é que afinal a contenção é só para alguns. É sempre a mesma coisa o que já enoja. E a tudo isto os portugueses respondem passivamente. Não há volta a dar-lhe: anexem-nos a Espanha!

sexta-feira, outubro 20, 2006

A luta continua

Tal como se esperava, o 2º dia de greve não teve a mesma taxa de adesão do 1º dia. Foi, contudo, uma baixa pouco significativa (5%) e perfeitamente compreensível atendendo a que, para algumas carteiras, dois dias consecutivos de paralisação são bastante penalizadores. Seja como for, um valor global de 80%, é algo que eu, muito honestamente, não estava à espera e que me deixa bastante satisfeito. Talvez agora a srª ministra tenha finalmente percebido que os professores não são nenhuns paspalhos a quem ela espezinha quando muito bem quer e lhe apetece. Pelo contrário. Os professores demonstraram cabalmente que sabem lutar pelos seus direitos e vão continuar a prová-lo no futuro. No entanto, é bom que tenhamos consciência que esta guerra ainda agora começou e muita água ainda vai correr por debaixo das pontes. A ministra não vai capitular facilmente, como aliás ficou bem patente na reunião desta tarde com os sindicatos. A 4ª versão do ECD, mantém no essencial tudo o que as outras versões continham, o que significa que temos ainda muito caminho por desbravar. As sondagens favoráveis, a concordância dos analistas e da maioria da população à sua política, dão-lhe força para continuar a manter a intransigência. Esta inflexibilidade da ministra só pode ser quebrada com uma classe unida e perseverante na luta por um ECD que dignifique a profissão docente e a qualidade do ensino em Portugal.

quarta-feira, outubro 18, 2006

Os números da greve

Na guerra habitual dos números, temos um primeiro balanço: do lado dos sindicatos, os números de adesão à greve foram assoladores (85%); na perspectiva dos serviços do ministério estes ficaram-se pelos 39%. A diferença nas duas leituras é abissal, como era de esperar. Por aquilo que verifiquei na minha escola e dos dados que fui recolhendo de outras escolas vizinhas, estou tentado a apontar um número na casa dos 70%. Certo ou errado, ainda assim é um número bastante significativo. Aguardemos o que nos diz o dia de amanhã.

segunda-feira, outubro 16, 2006

O escandaloso negócio da banca em Portugal

"Esta carta foi direccionada ao Banco BES, porém devido à criatividade com que foi redigida, deveria ser direccionada a todas as instituições financeiras.O que acham?

CARTA ABERTA AO BRADESCO

Exmos Senhores Administradores do BES

Gostaria de saber se os senhores aceitariam pagar uma taxa, uma pequena taxa mensal, pela existência da padaria na esquina da v/. rua, ou pela existência do posto de gasolina ou da farmácia ou da tabacaria, ou de qualquer outro desses serviços indispensáveis ao nosso dia-a-dia.
Funcionaria desta forma: todos os meses os senhores e todos os usuários, pagariam uma pequena taxa para a manutenção dos serviços (padaria, farmácia, mecânico, tabacaria, frutaria, etc.). Uma taxa que não garantiria nenhum direito extraordinário ao utilizador. Serviria apenas para enriquecer os proprietários sob a alegação de que serviria para manter um serviço de alta qualidade ou para amortizar investimentos. Por qualquer produto adquirido (um pão, um remédio, uns litros de combustível, etc.) o usuário pagaria os preços de mercado ou, dependendo do produto, até ligeiramente acima do preço de mercado.
Que tal?
Pois, ontem saí do meu BES com a certeza que os senhores concordariam com tais taxas. Por uma questão de equidade e de honestidade. A minha certeza deriva de um raciocínio simples.
Vamos imaginar a seguinte situação: eu vou à padaria para comprar um pão. O padeiro atende-me muito gentilmente, vende o pão e cobra o serviço de embrulhar ou ensacar o pão, assim como, todo e qualquer outro serviço. Além disso, impõe-me taxas. Uma "taxa de acesso ao pão", outra "taxa por guardar pão quente" e ainda uma "taxa de abertura da padaria". Tudo com muita cordialidade e muito profissionalismo, claro.
Fazendo uma comparação que talvez os padeiros não concordem, foi o que ocorreu comigo no meu Banco. Financiei um carro. Ou seja, comprei um produto do negócio bancário. Os senhores cobraram-me preços de mercado. Assim como o padeiro cobra-me o preço de mercado pelo pão. Entretanto, de forma diferente do padeiro, os senhores não se satisfazem cobrando-me apenas pelo produto que adquiri.Para ter acesso ao produto do v/. negócio, os senhores cobraram-me uma "taxa de abertura de crédito" - equivalente àquela hipotética "taxa de acesso ao pão", que os senhores certamente achariam um absurdo e se negariam a pagar. Não satisfeitos, para ter acesso ao pão, digo, ao financiamento, fui obrigado a abrir uma conta corrente no v/. Banco. Para que isso fosse possível, os senhores cobraram-me uma "taxa de abertura de conta".Como só é possível fazer negócios com os senhores depois de abrir uma conta, essa "taxa de abertura de conta" se assemelharia a uma "taxa de abertura da padaria", pois, só é possível fazer negócios com o padeiro, depois de abrir a padaria.Antigamente, os empréstimos bancários eram popularmente conhecidos como "Papagaios". Para gerir o "papagaio", alguns gerentes sem escrúpulos cobravam "por fora", o que era devido. Fiquei com a impressão que o Banco resolveu antecipar-se aos gerentes sem escrúpulos.
Agora ao contrário de "por fora" temos muitos "por dentro".
Pedi um extracto da minha conta - um único extracto no mês - os senhores cobraram-me uma taxa de 1€.
Olhando o extracto, descobri uma outra taxa de 5€ "para a manutenção da conta" - semelhante àquela "taxa pela existência da padaria na esquina da rua".
A surpresa não acabou: descobri outra taxa de 25€ a cada trimestre - uma taxa para manter um limite especial que não me dá nenhum direito. Se eu utilizar o limite especial vou pagar os juros mais altos do mundo. Semelhante àquela "taxa por guardar o pão quente".
Mas, os senhores são insaciáveis.
A prestável funcionária que me atendeu, entregou-me um desdobrável onde sou informado que me cobrarão taxas por todo e qualquer movimento que eu fizer.
Cordialmente, retribuindo tanta gentileza, gostaria de alertar que os senhores se devem ter esquecido de cobrar o ar que respirei enquanto estive nas instalações do v/. Banco.
Por favor, esclareçam-me uma dúvida: até agora não sei se comprei um financiamento ou se vendi a alma?
Depois que eu pagar as taxas correspondentes, talvez os senhores me respondam informando, muito cordial e profissionalmente, que um serviço bancário é muito diferente de uma padaria. Que a v/. responsabilidade é muito grande, que existem inúmeras exigências legais, que os riscos do negócio são muito elevados, etc, etc, etc. e que apesar de lamentarem muito e nada poderem fazer, tudo o que estão a cobrar está devidamente coberto por lei, regulamentado e autorizado pelo Banco de Portugal.
Sei disso.
Como sei, também, que existem seguros e garantias legais que protegem o v/. negócio de todo e qualquer risco. Presumo que os riscos de uma padaria, que não conta com o poder de influência dos senhores, talvez sejam muito mais elevados.
Sei que são legais.
Mas, também sei que são imorais. Por mais que estejam protegidos pelas leis, tais taxas são uma imoralidade. O cartel algum dia vai acabar e cá estaremos depois para cobrar da mesma forma".


P.S. - Apetece perguntar: que contributo tem dado a banca para a resolução da crise neste País?

sexta-feira, outubro 13, 2006

As greves da próxima semana

Tal como se previa, vamos ter greve nos dias 17 e 18 de Outubro. Na reunião de ontem com os sindicatos, o Ministério da Educação manteve a sua intransigência em fazer concessões nas matérias fundamentais da carreira docente e, por isso, não restou outra alternativa aos professores que não fosse avançar para mais uma jornada de luta. Pretende-se como é óbvio que a greve venha a ter a mesma dimensão que teve a manifestação do dia 5. Bem gostaríamos que assim fosse. Porém a experiência diz-nos que quando toca a greves o professorado encolhe-se. Pelas mais variadas razões. A principal das quais prende-se com questões monetárias: a classe docente é mal paga e um dia de greve faz sempre mossa no orçamento familiar; acresce que, desta vez, a greve prolonga-se por mais um dia o que penaliza ainda mais quem já vive com dificuldade. Este facto, que não é tão desprezível quanto isso, poderá condicionar a adesão de muitos professores. E infelizmente parece-me que é isso que vai acontecer. A imagem de unidade que tão bem soubemos dar na semana passada sairá assim bastante beliscada. Oxalá os meus prognósticos não se confirmem e que quarta feira eu tenha a grande satisfação de admitir que afinal os meus receios não se justificavam. Para bem de todos nós, professores!

A vida de um professor na China



Estes estão um pouco pior do que nós!

quarta-feira, outubro 11, 2006

A verdadeira reforma no ensino

Há dias atrás ficámos a saber que instituições universitárias estão a receber alunos que nem o 9ºano completaram. Basta que os alunos tenham mais de 23 anos, façam uma prova e uma entrevista de admissão, que em muitos casos é um mero pró-forma, e aí estão eles elevados à condição de estudantes universitários. Ainda dizem que isto não é um país de oportunidades!
Qualquer dia vamos ser confrontados com alunos nas escolas básicas dizendo-nos que não faz sentido andarem a estudar se, meia-dúzia de anos depois, podem aceder à universidade sem sequer completarem o 9º ano. A continuar-se por este caminho acresce mais um motivo para as taxas de abandono escolar aumentarem. Definitivamente este país está a tornar-se num verdadeiro case-study a nível europeu e mundial.

terça-feira, outubro 10, 2006

Maria de Lurdes garante que os professores desconhecem o novo ECD

Questionada sobre a manifestação da passada semana, a ministra da educação resolveu passar mais um atestado de menoridade aos professores. Segundo ela, somos todos uma cambada de iletrados e analfabetos, sem vontade própria, e comandados por sindicatos que se servem a si próprios em vez de se preocuparem em defender os nossos interesses. Considera a manifestação um equívoco, fruto da ignorância dos professores face à proposta de revisão do ECD: parece que não o lemos, porque se o tivéssemos feito facilmente reconheceríamos estar perante um documento cheio de virtudes que toda a classe docente deveria subscrever e aclamar.
Já nem vale a pena comentar estes dislates da senhora tão óbvio se torna que a sua sanidade mental se degrada a cada dia que passa. Maria de Lurdes precisa urgentemente de acompanhamento médico especializado de modo a travar esta espiral de insensatez de que, há muito, dá mostras de estar possuída.

segunda-feira, outubro 09, 2006

"Ditadora", "autista" e "mentirosa", disseram eles


"1. O que Lisboa viu no dia 5 de Outubro, 96 anos depois do nascimento da República e Dia Mundial do Professor, foi a maior manifestação de sempre de docentes portugueses. Simpatize-se ou não com o processo, mais de 20 mil professores (e os números são da polícia, que não de fontes sindicais) a dizerem na rua o que lhes vai nas almas, vindos de todo o país, em dia feriado, foi esmagador. "Ditadora", "autista" e "mentirosa" foram alguns qualificativos endereçados à ministra da Educação, no calor da indignação. Se esta senhora integrasse um governo democrático e de esquerda, estaria agora a pensar. Mas uma voluntarista rudimentar como ela, que chega ao cúmulo de defender publicamente que se deve avançar mesmo que não existam condições para isso, que de Educação só vê cifras e números, mesmo sem os saber interpretar, não pensa.

2. Sendo que o carácter meramente formal da democracia em que vivemos parece não inquietar particularmente os portugueses, já o mesmo se não pode dizer quanto às clivagens que marcam hoje a nossa sociedade. Maliciosamente, políticos e gente de fluente "economês" têm-nas fomentado segundo a velha cartilha salazarenta do dividir para reinar, lançando o privado contra o público e os pais contra os professores (não se ufana a ministra de ter perdido os professores mas ter ganho os pais?). Os mais de 20 mil professores que desceram a Avenida da Liberdade não protestaram apenas contra o aviltamento e contra o roubo. Protestaram contra a sociedade que este Governo de direita liberal cega está a impor-nos, trocando pessoas por estatísticas manipuladas e números falsos, e o concreto, pungente, pelo abstracto. É fácil para os senhores que estiveram no Beato, sob a sigla "Compromisso Portugal", liquidar de uma só vez a vida de 200 mil funcionários públicos e famílias, sem que nos digam aquilo a que eles próprios se comprometem. É fácil para o governador do Banco de Portugal, confortado com o seu belo salário e protegido por uma reforma de privilégio, dizer que os salários dos funcionários públicos devem diminuir. O que é difícil é convencer os professores a andarem para trás enquanto os lucros bancários continuam por tributar, a corrupção grassa, a promiscuidade entre os interesses particulares e os do Estado persiste e os encerramentos de unidades produtivas viáveis se fazem em nome da sacrossanta economia de mercado.

3. A economia é uma caldeirada de ciências que deve ser usada para servir as pessoas, todas as pessoas, para uns. Para outros, a economia é um fim em si e falam dela como os taliban de Alá ou as beatas da Nossa Senhora de Fátima. A maneira como se olha a economia permite distinguir a esquerda da direita. A esquerda não pode governar sem pesar a consequência das suas medidas na vida da Pessoa e das pessoas. É por isso que Sócrates e servos são a direita nua de ideias no poder. Sob o estandarte da rosa murcha, vão ao próximo congresso do partido, que ainda se chama socialista, sem opositores, com um inegável apoio do sebastianismo nacional. Era bom que a indignação atirada ao vento da Avenida da Liberdade ecoasse nos ouvidos dos portugueses. A espoliação que agora toca aos professores chegará a (quase) todos, vintém após vintém.

4. A crise e o clima social que gerou seriam claramente propícios a um emendar de mão, que contaria com a solidariedade dos professores. Mas não chegámos à pré-falência senão por culpa da elite política, dos partidos que nos têm governado e dos erros que, ano após ano, foram cometendo. Era bonito e mobilizador que o reconhecessem, antes de nos ir aos bolsos e às batatas dos nossos filhos. E já que se persignam hipocritamente nas cerimónias oficiais a que presidem, em nome do Estado leigo que representam, bem podiam fazer essa contrição pública em vez de nos elegerem como malfeitores sociais. Foi contra a impossibilidade de corrigir erros de décadas num átimo e a necessidade de partilhar com os interessados as formas de o conseguir que os professores se manifestaram. Foi contra o escandaloso aumento do fosso entre ricos e pobres (segundo o INE, 10 por cento da população, os mais ricos, recebem mais que 50 por cento dessa mesma população, os mais pobres) que os professores protestaram.

5. Falei acima de estatísticas manipuladas. Que bom seria alguma televisão sentar frente a frente, em contraditório público, quem tem leituras diferentes dos mesmíssimos dados estatísticos. E se ficasse claro que apenas um parceiro europeu tem menos funcionários públicos que nós, que temos a segunda mais baixa despesa com saúde da Europa, que somos quem menos gasta em educação, que o número oficial de alunos por professor é uma treta e que os professores portugueses estão bem longe de ser os melhor pagos entre os pares, etc., etc.? Por mim, iria lá deliciado, confesso, e não vetaria interlocutores como a ministra da Educação terá feito para ir ao Prós e Contras. Prometo levar notas de vencimentos dos professores de vários escalões e um belo documento assinado pelo sindicalista Jorge Pedreira, quando então defendia exactamente o contrário do que hoje diz o secretário de Estado Jorge Pedreira, sobre a mesmíssima matéria das carreiras dos docentes".

Santana Castilho

Jornal Público

sábado, outubro 07, 2006

Demonstração de força

A manifestação de ontem excedeu as minhas melhores expectativas. Confesso que não estava à espera de uma participação tão massiva: 20.000 ou 25.000 manifestantes, é um número nada desprezível, bem pelo contrário, e revelador do grande descontentamento dos professores face à política da ministra e, em especial, das barbaridades inscritas no novo ECD. Os professores parece que finalmente acordaram e tomaram consciência de que têm de lutar se quiserem fazer valer os seus direitos. Deseja-se que este dia de luta tenha constituído um factor motivador para todos aqueles docentes que, pelos mais variados motivos, não puderam ou não quiseram estar presentes. Novas jornadas de luta se avizinham - 17 e 18 de Outubro - e todos aqueles que não participaram ontem, têm nestes dias uma boa oportunidade de o fazer. Quanto mais não seja por uma questão de respeito por todos aqueles colegas que andam a lutar por eles. É imprescindível que os professores dêem uma imagem de unidade num combate onde não nos é permitido perder.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Será boato?

Os sindicatos, nalgumas escolas, andam a dizer que os professores dos 8º, 9º e 10º escalões que não se queiram candidatar a professores titulares sujeitam-se a ir para o quadro de excedentes. Será que isto tem algum fundamento ou é apenas uma manobra de diversão?

quarta-feira, outubro 04, 2006

Maria de Lurdes igual a si própria

No final de uma visita a escolas básicas do concelho de Loulé e Portimão, a ministra da educação conseguiu juntar à sua habitual arrogância e prepotência, um cinismo revoltante. A mulher tem um particular prazer em atentar contra a dignidade dos professores e faz gala em não esconder o gozo que isso lhe dá. Esta atitude provocatória sem limites pode um dia sair-lhe bastante cara. Há muitos bons professores por esse país fora, que se empenham ao máximo na sua profissão e que começam a estar fartos deste constante ataque à sua dignidade profissional. De tanto esticar a corda, um dia ela parte e, nessa altura, a senhora ministra pode vir a colher os ventos que desde há largo tempo não se cansa de semear.

domingo, outubro 01, 2006

O stress na profissão docente

É rara a vez em que não chegue a casa carregadinho de stress após mais um dia de trabalho, sobretudo naqueles dias em que a carga horária é mais pesada. Esta é uma situação muito particular da condição de professor e que não se verifica na maioria das outras profissões. Os problemas da nossa profissão são, como se sabe, inúmeros: a indisciplina; a falta de empenhamento dos alunos nas aulas; a falta de condições de trabalho; a insuficiência de apoios por parte do Ministério da Educação; as exigências que são feitas aos professores para os quais eles não estão preparados (ser pai, mãe, assistente social, psicólogo, etc); a constante desvalorização social de que somos vítimas apesar do trabalho intenso que envolve o "ser professor". Estes são apenas algumas das situações complexas com as quais os professores convivem diariamente. Outros tantas poderiam ser acrescentados sem o menor esforço. Ora tudo isto contribui para que o "ser professor" devesse ser considerada uma profissão de risco. Aliás não será por acaso que os profissionais de ensino são aqueles que mais recorrem à ajuda psiquiátrica e psicológica. Infelizmente, este não parece ser o entendimento do Ministério da Educação que não só resolveu aumentar a idade da reforma dos professores dos 60 para os 65 anos, como ainda decidiu que a primeira redução da componente lectiva só irá acontecer aos 50 anos de idade. Nem dá para acreditar! Uma decisão destas só pode ser tomada por alguém que não consegue percepcionar a verdadeira dimensão do que é ser professor na sociedade dos nossos dias. Seria interessante verificar qual a percentagem de professores que aos 60 anos está em condições físicas e psicológicas para enfrentar as exigências da profissão? Muito poucos, direi eu.

sexta-feira, setembro 29, 2006

Desabafos de uma professora "titular"

"Mas... só me apetece dizer "os professores têm o que merecem".Mas que merda de gente é esta que se põe a falar sobre a Proposta de alteração do Estatuto da carreira docente sem o ler primeiro! É ouvir "a fulana disse-me que...o sicrano disse-me que....caíram na armadilha montada (muito bem montada) pelo ministério e é vê-los (furiosos e ultrajados) de braços no ar a dizer raios e coriscos dos encarregados de educação: "EU? SER AVALIADA PELOS PAIS DOS ALUNOS? ERA O QUE FALTAVA! TODOS BURROS E ANALFABETOS, SEM FORMAÇÃO, IRRESPONSÁVEIS, ETC, ETC, ETC..." E não saem daqui . Que bom para o ministério, cuja ministra, a esta hora, esfrega as mãos de contente e diz "esta classe é uma cambada de burros, deixai-os esbracejar à vontade, ocupados com a guerra contra os pais porque, aquilo que a nós realmente interessa, é o resto que está escrito no novo estatuto"! Sou obrigada a tirar o chapéu a esta ministra e dizer que é, de facto, muito inteligente, embora pudesse ser mais bem educada e dizer as coisas de forma mais "subtil", mas para além de ser inteligente é, como se diz cá no Alentejo, "mais bruta que uma morada de casas", e quando fala é para deitar tudo abaixo. Pois, pois, ocupem-se com os pais e não vejam que: a partir de agora, 80% dos professores nunca atingirá o topo da carreira; navegarão toda a sua vida profissional no 3º escalão, recebendo um mísero salário (isto, se não tiverem o azar de receber duas classificações seguidas de "regular", ou pior ainda, forem classificados de "insatisfaz", porque aí são excluidas do circuito, sem hipótese de regresso) ; os desgraçados que agoram iniciam, para além do exame de estado, e supondo que têm nota positiva, têm um primeiro ano de experiência para mostrarem se servem ou não, se não, fora com eles. Agora, pergunto eu: os médicos ou os juízes também o fazem? Se calhar, deviam!; a 1ª redução lectiva (2 horinhas) só vai acontecer aos 50 ANOS DE IDADE; e pensar que na Alemanha a seguir a uma 1ª recaída, após uma depressão nervosa, os docentes são reformados! Um professor, dos 2º, 3ºciclos e secundário, com 50 anos de idade, em Portugal, irá enfrentar uma média de 100 a 130 alunos diáriamente; e livre-se de ir ao psiquiatra porque, então, com fama de "maluco" é que nunca mais passará da classificação de "regular", se não for "pró olho da rua"(supranumerário). E dizem já alguns todos inchados "Eu já sou professor de 1ªcategoria," E ENCHEM A BOCA PARA ACRESCENTAR "JÁ SOU PROFESSOR TITULAR". Mas que tolos, não viram o presentinho envenenado que lhes está reservado: são eles que obrigatóriamente têm que assumir as funções de coordenadores, executivos, departamentos, etc. Há que aprender a ser "lambe-botas" dos chefes de departamento, dos coordenadores de grupo e dos membros do executivo (claro, sem esquecer a oferta dos presuntos aos encarregados de educação!), são eles que nos vão avaliar numa escala de 1 a 10;Um dos itens de avaliação ao docente, a preencher pelo executivo é "nº de alunos que reprovou", "nº de alunos que abandonou"...finalmente, o insucesso escolar vai acabar e os alunos num futuro próximo não vão saber escrever uma linha direita, nem somar 2+2, quer dizer, 1+1, porque 2+2 já não sabem, agora. E é vê-los a berrar "greve aos exames, greve aos exames!!!!!!!" . Já se esqueceram da requisição civil feita nos exames do ano passado, durante a qual, pusemos o rabinho entre as pernas e fomos todos assinar o ponto. Ninguém fala de uma greve de zelo, a começar no período das avaliações, mas não, isso seria uma atitude demasiado nobre para ser levada a cabo por uma chusma de incompetentes que pensa logo: "HÉ PÁ, MAS ISSO VAI ATRASAR A MINHA IDA PARA FÉRIAS, NÃO PODE SER"! A ministra aparece na comunicação social a "chamar tudo aos professores" e eles, com um sorriso larápio ainda dizem "conheço colegas que são mesmo o que ela (ministra) diz"; e os MUITOS que o não são? Tive um saudoso professor de História Económica que, na década de 80, dizia "aos professores só já falta cagar em cima". Pois agora já não falta! RECUARAM COM OS MÉDICOS, RECUARAM COM OS MAGISTRADOS, MAS TÊM A OFENSIVA GANHA COM OS PROFESSORES QUE, DE FACTO, SÓ TÊM O QUE MERECEM."


Mariana (uma professora titular).

segunda-feira, setembro 25, 2006

Os campeões do arrependimento

Um recente inquérito feito pela Associação Nacional de Professores a 3252 professores concluiu que 43,6% não escolheriam esta profissão se pudessem voltar atrás. Tendo em conta tudo o que se tem dito dos professores, nomeadamente, que se trata duma classe privilegiada e bem remunerada, este resultado deve-nos fazer reflectir. Das duas uma: ou os professores gostam de dramatizar - se calhar é por isso que os consultórios dos psiquiatras se enchem desta gente! - e, nesse caso, não responderam ao inquérito com seriedade, ou então tudo o que se tem dito sobre eles não passa de um enorme embuste que deve ser desmascarado. Eu sei a resposta. E você, caro leitor?

sexta-feira, setembro 22, 2006

De indignação em indignação

Maria de Lurdes Rodrigues, acorrendo a mais uma solicitação, vem à estampa, esta semana na revista "Visão", num artigo de opinião, onde a dado passo escreve esta coisa singela: "A estruturação da carreira docente em dois níveis, introduzindo a diferenciação e o reconhecimento do mérito dos professores, procurará estimular o seu empenho...". Como?! Desde quando é que os professores se podem sentir motivados quando sabem que, por muito que se dediquem ao seu trabalho e por melhores que sejam os seus níveis de competência, o mais provável é nunca ascenderem à categoria de professor titular pela simples razão de que esta senhora decidiu introduzir numerus clausus no acesso aos patamares mais altos da carreira? Escrever estas alarvidades com o maior dos despudores, revela uma falta de honestidade intelectual que revolta qualquer leitor mais esclarecido. Mesmo que esse leitor não seja professor!

terça-feira, setembro 19, 2006

Os Conselhos Executivos

Ontem não vi o "Prós e Contras". E não vi porque de antemão sabia que não iria ser dito nada de novo. Além disso já não tolero ouvir a ministra: a senhora provoca-me náuseas e dado que não sou obrigado a ouvi-la, faço tudo para a evitar. Não duvido, no entanto, que muitos professores tivessem estado à frente do televisor ouvindo atentamente tudo o que a senhora tinha para dizer. Lendo alguns blogues esta manhã confirmei as minhas suspeitas: a ministra esteve igual a si própria, o mesmo é dizer, arrogância e prepotência a rodos e competência e educação a menos. No programa também estiveram alguns presidentes de conselhos executivos que, de acordo com os relatos, outra coisa não fizeram que bajular a ministra. Muitos deles, há muitos anos que não dão aulas mas mesmo assim arrogam-se o direito de querer representar os seus colegas professores. Deviam ter vergonha na cara. Esta gente - não são tão poucos quanto isso - está-se borrifando para a classe: fazem-se representar apenas a si próprios a aos seus interesses que na grande maioria dos casos passam pela perpetuação no poder sem olhar a meios e pisando (leia-se, perseguindo) todos aqueles que ousem enfrentá-los. No exercício do cargo seguem religiosamente as orientações do ministério, mesmo que estas sejam desapropriadas ao contexto em que se inserem. Não importa. É preciso mostrar serviço aos superiores hierárquicos e eles estão lá para isso. Querem dar a imagem de bons alunos e fazem os possíveis para manter a confiança das chefias (direcções gerais e ministério da educação). A grande maioria queixa-se do excesso de trabalho e das curtas férias mas, curiosamente, quando chegam as eleições lá estão eles novamente a recandidatar-se. Vá lá a gente perceber porquê! Limitação de mandatos precisa-se e com urgência!

domingo, setembro 17, 2006

A Área Projecto no 12ºAno

Os alunos do 12ºAno foram presenteados neste ano lectivo com uma nova "disciplina". Refiro-me concretamente à Área Projecto, área curricular não disciplinar, já velha conhecida dos alunos do unificado mas agora com outros níveis de exigência, no secundário. Alguém entendeu que o ensino secundário era demasiado académico e que seria necessário arranjar uma "disciplina" com carácter prático que desenvolvesse nos alunos uma visão integradora do saber, promovesse a sua orientação escolar e profissional e facilitasse a sua aproximação ao mundo do trabalho. Os alunos, claro está, não gostam da ideia. Os professores também têm dificuldade em acreditar no sucesso desta inovação. Será que alguém acredita verdadeiramente que a AP vá acrescentar algo de significativo à formação dos alunos do 12º ano? Chamem-me conservador mas esta parece-me mais uma daquelas medidas avulsas do ministério, apostado em modernices, que em nada acrescentam qualidade ao currículo e que acabam sim por constituir mais um suplemento de desmotivação em alunos e professores. Depois da Área Escola só faltava mais esta para nos atormentar o juízo e a paciência!

terça-feira, setembro 12, 2006

Uma classe amorfa

O ECD é uma coisa séria e devia merecer de todos os professores uma leitura atenta e pormenorizada. Infelizmente aquilo que se verifica é que grande parte ainda não leu o documento nem faz tenção de o ler. Não estão para aí virados. Uma pequena minoria limita-se a recolher algumas informações junto daqueles colegas que ainda se vão preocupando com a profissão, enquanto a esmagadora maioria nem isso faz. Não restem dúvidas que esta constante perseguição de que temos sido vítimas por parte da ministra da educação só acontece porque somos uma classe amorfa no que toca à defesa dos nossos direitos. Quando discordamos, os nossos protestos e lamentos ficam-se pela sala de professores, deixando que outros - os sindicatos e alguns professores mais ousados - façam o trabalho que devia caber a todos. Sendo assim, temos o que merecemos e não temos autoridade moral para nos queixarmos.

sábado, setembro 09, 2006

Direito à indignação

Ainda a propósito do post anterior e num artigo sobre a mesma matéria, podemos ler no "Correio da Manhã" de hoje, o seguinte: "Os salários dos docentes nacionais são, no entanto, dos mais baixos quando comparados só por si com os dos outros países, sem levar em conta a ponderação do PIB. No início da carreira, um professor no Luxemburgo recebe 2554 euros por mês; na Alemanha, 2183; e em Espanha 1712."
Isto esquecerem-se os senhores do "Público" de referenciar porque obviamente não lhes interessa. Desde há muito tempo que este jornal vem fazendo uma campanha de assassinato público dos professores que já enoja. Manipulam dados, dão falsas notícias, sempre com o intuito de achincalhar a classe docente.
Se querem ser sérios utilizem os mesmo critérios e abordem os salários dos políticos, dos gestores públicos, dos advogados, dos engenheiros, dos médicos, dos juízes, dos enfermeiros. Aí é que os resultados seriam certamente surpreendentes!

Estamos sempre a aprender

Depois de ler esta notícia fiquei a saber que o melhor que tenho a fazer é emigrar para o México. Contrariamente ao que eu e muita gente pensava, é neste país que os professores têm o melhor nível de vida. Qual países nórdicos, qual Inglaterra, qual Alemanha, qual França, qual Holanda...! Desenganem-se, pois não é nestes países que está o dinheiro. Para os professores o paraíso está no México. Durante muitos anos fizeram-nos crer que neste país da América do Norte a miséria abundava. Afinal tudo não passava de uma grande mentira!

sexta-feira, setembro 08, 2006

Promover uma cultura de exigência nas nossas escolas

A sociedade é cada vez mais competitiva, cada vez mais exigente. No trabalho, no desporto, no lazer, na formação e na investigação cada vez se exige mais e se estabelecem metas cada vez mais ambiciosas. Esta postura de exigência nem sempre é possível de ser aplicada na escola.
O processo de socialização do aluno, os problemas do sistema de ensino e a contradição e os seus grandes objectivos e as reais condições com que se deparam as escolas, bem como a orientação política de muitos governos, mais preocupados com estatísticas de sucesso/insucesso para Europa ver, têm levado à aprovação de sistemas de avaliação e progressão pouco concordantes com o grau de exigência que se pressente na sociedade em geral.
Da constatação destes factos resulta que não podemos continuar a passar a mensagem de que é mais cómodo promover o sucesso, mesmo sem o aluno saber, do que fazê-lo repetir novamente o ano, para que os objectivos e competências definidas sejam efectivamente atingidas.
É pois missão da escola, não só, ter em atenção todas as componentes sociais, económicas, afectivas e psicológicas dos alunos, mas também pugnar por um ensino de qualidade.
A aprendizagem da vida em sociedade passa pela aprendizagem de que o estudo, o empenho, o esforço, a dedicação devem efectivamente ser premiados. É assim que se passa na sociedade. Só os mais capazes, os mais exigentes consigo próprios é que são normalmente premiados, reconhecidos.
A escola no seu todo não pode ficar indiferente. Sem promover a competição, deve contudo, preocurar-se em formar com rigor, com empenho, em suma, com exigência.

quarta-feira, setembro 06, 2006

Ministério da Educação não cede

Como era de prever, o Ministério da Educação não recua nas matérias essenciais do novo Estatuto da Carreira Docente. Limita-se a conceder uns pequenos rebuçados que em nada alteram as questões fundamentais do documento. Tamanha prepotência e falta de respeito só podem ter uma resposta por parte dos professores. Resta saber se somos capazes de a dar. Infelizmente, estou muito céptico quanto a essa possibilidade.

segunda-feira, setembro 04, 2006

O ensino em Portugal visto pelos imigrantes do Leste

"Alla desistiu de ter o filho, de 12 anos, a estudar em Portugal. Ao fim de seis anos de escolaridade, fartou-se de o ouvir dizer que "ia descansar para a escola", que aqui se aprendia brincando e da "grande indisciplina" que marcava o dia-a-dia do ano lectivo nacional. O miúdo até ia bem - era um dos melhores da turma - mas voltou para a Ucrânia. Lá garante a mãe, é "tudo muito diferente. A professora não é uma amiga, é quem ensina. Os alunos estão lá para trabalhar e aprender. Não há brincadeira".
O embate foi duro para quase todos os imigrantes do Leste com filhos a estudar em Portugal. E começou logo nos primeiros dias da 1ª classe. Os meninos e meninas chegaram à primária a saber ler e escrever, a dominar as operações básicas de matemática e ainda com formação musical e física. Os seus colegas - todos portugueses - estavam ainda em branco.
Desde os 3 anos, na Ucrânia, que as crianças vão para a escola ter aulas de língua materna, matemática, música e educação física. "Como são pequenas, só têm 20 minutos de cada disciplina", explica Alla, garantindo que estão "sentados a trabalhar e isso é normal". Aos quatro, russos e ucranianos, aprendem a ler e a escrever. Se não o souberem, ficam para trás, ou "chumbam", uma vergonha nacional a que - pasmam-se os imigrantes - "ninguém liga nenhuma aqui!".
Explicar que só no final do 4º ano é exigido que os alunos portugueses saibam ler, escrever e contar, torna-se difícil de traduzir. Porque o fosso que divide a educação nacional e a das memórias dos imigrantes do Leste é, de tamanho "extra large". "Prefiro nem falar disso", diz Julia Gundarina, uma professora russa que apesar de estar cá há cinco anos e de "gostar tanto" que nem pensa em voltar para casa, assume que "a educação é o pior de tudo". Estranham, sobretudo, a maneira como se ensina, a falta de ordem, a "balda" generalizada. "Na Rússia os professores são mais exigentes", diz num português ainda mal arranhado, mas suficiente para perceber que importa não ferir as susceptibilidades.
Preferiram mudar de estratégia e criar alternativas. "A educação e a indisciplina nas escolas é um dos principais problemas da integração", diz Sérgio Treffaut, realizador brasileiro que produziu e dirigiu o documentário "Os Lisboetas". "Os imigrantes do Leste queixam-se muito destes aspectos. Acham que a escola, aqui, é demasiado banal", diz. Há quatro anos, abriu no Restelo uma escola russa que Julia dirige. Há cinco, Alla Lirkovest abriu uma escola ucraniana no Estoril. Mais de 120 estudantes estão no Restelo, desde ontem de manhã, em aulas que só fecham em finais de Junho. As turmas de ALLa não ultrapassam as 20 crianças e regressam hoje ao trabalho.
Começaram com o objectivo de ensinar a língua e cultura russa e ucraniana, mas alargaram a sua área de actividade. Ensinam os que acabaram de chegar a falar português e a aprofundar conhecimentos aos que frequentam a escola normal. Aos sábados, vindos de Setúbal, de Torres Vedras e de todos os arredores de Lisboa, as crianças passam nove horas seguidas na escola. Compensam num dia as falhas de uma semana de trabalho. "Ficam cansadas", garante Julia. Na segunda-feira voltam à escola portuguesa. Para descansar mais um pouco..."

Rosa Pedroso Lima no "Expresso"


Estes imigrantes do Leste não precisam de muito tempo para conhecerem a realidade portuguesa. Na educação, conseguem fazer o diagnóstico correcto - até mesmo as crianças, pasme-se! - algo que nós portugueses nunca conseguimos. Disciplina, exigência e trabalho. É muito simples. Só nós é que teimamos em não ver, que a chave do problema para a melhoria do ensino neste país, passa pela implementação destes factores. Em vez disso, escudamo-nos em teorias pedagógicas de valor mais que duvidoso que há muito minam e fragilizam o sistema de ensino em Portugal
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sexta-feira, setembro 01, 2006

Reprovações aumentam 20% no 9ºAno

A taxa de reprovação e desistência no 9.º ano subiu no ano lectivo de 2004/2005 de 12,5% para os 19,9%, segundo números publicados hoje pelo Diário de Notícias. Dos 96.500 alunos inscritos, 19 mil chumbaram. Trata-se do pior desempenho em mais de uma década. Tendo em conta que em 2005 os exames de Português e Matemática tiveram um peso de 30%, tudo aponta para que estes valores venham a ser ultrapassados.
Pensávamos nós que a educação neste país já tinha batido no fundo, mas, afinal, ainda há muito "fundo" por desbravar.

sexta-feira, agosto 18, 2006

Sobre o que não fala a ministra nem ninguém

"A época de exames e as suas peripécias puseram a nu a fragilidade da política educativa do Governo. E, mais gravemente, mostraram - coisa ainda pouco posta em evidência - como o actual Governo, nos mais diversos domínios, despreza ou ignora o princípio do Estado de direito. Modificar as regras de acesso à universidade em pleno processo de avaliação, fazê-lo sem alterar as respectivas leis, aprovar à pressa e a posteriori um lei inconstitucional (por violação da protecção da confiança) e mandá-la publicar escassas horas depois, terminando com a produção de um despacho que já havia sido emanado e divulgado sem qualquer base legal, é a negação pura e simples do núcleo essencial do Estado de direito. Nada que admire ou espante num país de costumes brandos, em que as regras estabelecidas não valem nada e os improvisos e "jeitinhos" valem tudo.
A gravidade do caso não reside só no que ele representa para a nossa vida cívica e para o exemplo que o Estado dá aos jovens portugueses. Reside também na circunstância, de ao fim e ao cabo, ele pôr na sombra e no olvido as centenas de milhares de jovens e de alunos que não são candidatos às universidades. Centenas de milhares que, sem qualquer formação adequada, pululam por aí.

É muitas vezes notado que o Estado Novo seccionou o sistema de ensino em dois segmentos. O segmento académico alicerçado nos "liceus" e conduncente às universidades, e o segmento profissionalizante, alojado nas "escolas técnicas" e, qundo muito, tendente aos "institutos superiores". Percebe-se que um regime corporativo - assente na representação orgânica das profissões - tivesse lugar para a preparação dos ofícios e mesteres. E percebe-se ainda que um regime "elitista" quisesse separar o destino dos "meninos bem" e dos meninos "sobredotados" do fado dos filhos de uma classe média e emergente (as escolas técnicas). Isto para lá de, por força de uma mundividência "ruralista", a grande massa dos jovens viver então à margem de qualquer formação escolar secundária e se ver constrangida a ingressar aos 10 ou 12 anos no mercado de trabalho (ou melhor, no "mercado dos aprendizes").
naquele universo educativo, o ensino técnico garantia entretanto dois objectivos altamente meritórios. Primeiro, fornecia uma aprendizagem efectiva - servida outrossim por uma formação geral satisfatória -, que permitia que os alunos chegassem ao mercado de emprego com "ferramentas" de trabalho. Segundo, e um tanto paradoxalmente, constituía um autêntico patamar de elevação social. Com efeito, apesar do rótulo social, muitas pessoas que, de outro modo, nunca passariam de ocupações indiferenciadas logravam converter-se em quadros empresariais médios e intermédios. Muitas delas - para quem, à partida, a universidade representava uma quimera - acabavam mesmo por completar graus académicos.

O 25 de Abril, movido pela euforia igualitária, aboliu o ensino técnico. E fê-lo, em grande parte, de boa-fé. Alegava-se que este se fundava num prejuízo de classe, adjudicando o estudo académico aos privilegiados e o ensino prático aos excluídos. A abolição, no entanto, não era mais do que um pueril sintoma da sobrevivência do "preconceito" do regime anterior. Também para a democracia, o exercício de profissões de alçado universitário. E se era assim, deveria decretar-se o fim das profissões braçais, ordenar-se o termo dos trabalhos técnicos e erigir-se um promissor "país de doutores".
Apesar de, nos anos seguintes, se ter criado o ensino técnico-profissional e os cursos tecnológicos, apesar do investimento europeu na área da formação profissional, a verdade é que não se conseguiu refundar o ensino técnico como alternativa normal e paralela no sistema geral de ensino. As iniciativas pontuais de sucesso deram-se no ensino particular e contaram sempre com a resistência das autoridades governamentais. É justamente neste estado - sem uma via profissionalizante efectiva e credível - que chegamos aos 9 anos de escolaridade obrigatória e à veleidade de os converter em 12.

A piroridade na educação não é, como frequentemente se diz, o ensino universitário ou o secundário ou o básico. A verdadeira prioridade localiza-se no fornecimento de alternativas de habilitação técnica e profissional especializada. E isto tanto no plano do secundário - enquanto fonte directa e primária de habilitação - como, com a devida ponderação e acompanhamento em estados anteriores. Num contexto em que tanto se pretende conbater a taxa de abandono escolar, como é possível deixar de fora o ensino profissionalizante? Mesmo nos casos de abandono prematuro - anterior ao actual 9ºano, em que não se atigiu ainda a idade mínima legal para trabalhar -, não terá o ensino técnico e profissional uma palavra a dizer? Não será melhor ter jovens com 14 anos em curso de ordem profissional, porventura em estágios profissionais, do que tê-los na rua e na marginalidade?
A maior parte dos alunos que hoje conclui o 12ºano sem entrar na universidade encontra-se numa situação de grave impreparação. A formação teórica que recebeu - lacunosa e inadequada como é - não tem préstimo; a aprendizagem profissional é nula.
O que falta ao país, decididamente, não são historiadores e biólogos. Mas todos sentem a falta de electricistas, de picheleiros, de carpinteiros, de informáticos, de operadores de maquinaria de toda a sorte e ordem. Todos sentem, nos serviços e na indústria, a falta de especialistas que sejam profissionais e competentes e com know how. Não intercede aqui qualquer preconceito "classista". Afinal, o que favorece mais a coesão social, o reforço das classes médias e a tendência social para a igualdade? A ilusão de um "país de doutores", ou a consolidação de saídas profissionais que potenciam a verdadeira e sustentada progressão cultural e social?"

Paulo Rangel
Jurista e deputado do PSD

quinta-feira, agosto 10, 2006

A Transição

"A revisão do Estatuto da Carreira Docente (ECD) é uma tarefa que, ainda este ano civil, irá ser efectuada com a consequente implementação no nosso sistema de educação, sendo um diploma legal com uma importância fulcral e, na minha opinião, a primeira grande reforma da Ministra da Educação.
De facto, o ECD teve a sua génese há cerca de 16 anos, com uma alteração a meio da sua vida, tendo por certo que até ao final do ano será profundamente modificado, em todos os seus âmbitos. Dir-se-ia que vamos passar do “8 para o 80”, só podendo fazer uma análise crítica e construtiva mais detalhada depois das negociações que estão a ser levadas a cabo entre o Ministério e os sindicatos dos professores.
Porém, numa altura em que todos estão a usufruir de merecidas férias, depois de um ano lectivo em que “nada ficou como dantes”, atrevo-me a falar sobre alguns pontos que, julgo, merecem especial atenção aos nossos políticos e entidades negociadoras.
Deverá ser implementada uma avaliação do desempenho docente efectiva que premeie os melhores, em vez de hipocritamente, ser igual para todos como sucede actualmente. Esta medida fará com que os menos bons trabalhem e se esforcem mais para atingir os patamares que seus pares alcançaram. Os alunos, a educação, lucrará com isso. Não deve ser desprezada a instituição de um “prémio pecuniário de desempenho” para os melhores.
Entendo ainda que os pais e encarregados de educação não deverão ser chamados para “esta guerra” (avaliação dos docentes), já que as suas energias deverão ser canalizadas para outras latitudes escolares, onde os seus educandos lucrarão realmente. No entanto, é minha convicção que, em termos de avaliação, estes parceiros imprescindíveis, devem poder avaliar a escola que os seus educandos frequentam, com o objectivo de melhorias da/na mesma.
A criação das categorias de professor titular e professor é uma grande aposta deste equipa ministerial que, julgo, não irá “abrir mão”. Será um ponto de forte polémica, sobretudo na transição entre os dois regimes. Aqui, deverá existir algumas cautelas e cedências, pois todos os cargos importantes (diversas coordenações e orientações, direcção dos centros de formação, exercício de cargos de direcção executiva, exercício das funções de professor supervisor, etc.) não deverão ser entregues só aos professores titulares, tanto mais que nesta primeira fase, estes serão encontrados administrativamente (os professores que se encontrem posicionados nos 9º e 10º escalão da carreira docente transitam para a nova estrutura da carreira na situação de equiparado a professor titular, válida para efeitos funcionais e remuneratórios, exceptuando a aplicação das correspondentes regras de progressão e o exercício dos cargos de coordenação científico-pedagógica que estejam especialmente cometidos àquela categoria). A energia e sabedoria profissional dos professores mais novos deve, sobretudo nesta fase transitória, ser tida em conta de forma a catapultar os projectos das escolas, indiciando este procedimento uma boa gestão de recursos humanos que as escolas possuem.
É minha convicção que o busílis do ECD será a transição entre o velho e o novo modelo. Talvez mais que as novidades e profundas alterações que estão previstas, o “calcanhar de Aquiles” deste importante diploma residirá na estratégia a adoptar pelo Ministério, no sentido de uma transição que valorize a profissão docente, fomentando o gosto e vocação em ser professor/docente, uma das mais nobres profissões do mundo.Os nossos alunos também agradecerão!"

Filinto Lima
"O Primeiro de Janeiro"

terça-feira, agosto 08, 2006

Onde está a coerência?

"Aparentemente a nossa Ministra da Educação acha que todo o imbróglio em que se meteu (a si e aos desgraçados dos afectados por ele) valeu a pena. Toda a discricionariedade não foi em vão e todos podem ficar descansados que o precedente foi plenamente justificado. Ou será que não?

A melhoria de resultados não se registou, no entanto, na prova de Física, também abrangida no regime excepcional criado pela tutela, que permitiu aos alunos das duas disciplinas (programas novos) repetir as provas na segunda fase e concorrer com a melhor nota à primeira fase de acesso ao ensino superior, onde estão em jogo a maioria das vagas. A Física, as notas baixaram em relação à primeira fase, com a média de classificações a descer de 7,7 para 7,3 valores e a taxa de reprovação no exame a subir de 67 para 70 por cento.

Ora atente-se no conteúdo do despacho original do secretário de estado da educação(despacho interno nº2-SEE/2006):

"Tendo em conta que os resultados da 1ª fase dos exames nacionais relativos aos novos programas de Química (código 642) e de Física (código 615) evidenciam um valor médio relativamente baixo e muito inferior ao verificado no ano passado bem como ao verificado este ano nas provas relativas ao programa antigo das mesmas disciplinas (códigos 142 e 115, respectivamente);

Determino:

Todos os alunos que o desejarem podem repetir na 2ª fase, as provas de Química e Física (códigos 642 e 615)"


Uma vez que no caso de Física os resultados, na sequência da repetição, foram ainda piores, e tomando-se como critério o enunciado pelo secretário de estado (que não foi o da existência de particulares erros ou vícios da primeira chamada, mas sim somente a análise dos seus resultados e comparação com os do ano passado), aguarda-se ansiosamente a marcação de uma nova chamada para corrigir esta situação persistente e intolerável aos olhos do ministério."

Texto retirado de http://small-brother.blogspot.com