terça-feira, fevereiro 24, 2015

Não chumbem a criança que é caro!

"Pode haver argumentos pedagógicos, sociológicos, psicológicos e até de ciências mais ocultas para não chumbar - perdão, reter - os maus alunos. Mas há a recompensa e a punição. Uma e outra não podem ser independentes do esforço, caso contrário vai-se o mérito.
Não tenho qualificações para discutir o futuro das crianças, salvo ter filhos e netos. Dantes, esta era a qualificação mais importante, mas aos poucos, o Estado e os seus especialistas intrometeram-se nas nossas vidas e começaram a explicar-nos como devíamos proceder. Eu compreendo que seja caro chumbar um aluno. O que não compreendo é o argumento! Se a educação é gratuita e apoiada, deve penalizar, ainda que muito ligeiramente, o aluno que não cumpre.
Eu compreendo que seja caro chumbar um aluno. O que não compreendo é o argumento! Se a educação é gratuita e apoiada, deve penalizar, ainda que muito ligeiramente, o aluno que não cumpre. Uma parte dessa penalização pode recair sobre a família, porque é precisamente a falta de exemplo na família - falta de empenho no estudo das crianças - que cria o ambiente propício ao desinteresse escolar.
Há duas atitudes extremas possíveis: uma é erradicar o aluno, ou exigir-lhe o pagamento do que gastou depois de ter chumbado (se não tiver justificações sólidas, como questões de saúde para lhe ter acontecido). Esta solução não funciona, porque muitos pais retirariam os filhos da escola por falta de verbas. Mas a outra solução extrema é a de alguns opositores dos exames: faz-se de conta que não aconteceu nada! Ninguém chumba - perdão, ninguém é retido.
Além de ser caro, argumenta-se, cria problemas emocionais aos alunos. Deus queira que sim! Se lhes fosse indiferente seria pior. Não falo de cor, uma neta minha teve, numa escola pública, más notas, e eu, como uma parte da família, criei-lhe "problemas emocionais". Desde logo, fazendo-lhe planos de estudo e obrigando-a a estudar mais e a brincar menos. Houve recuperações em quase todas as disciplinas e na única em que subsiste a negativa, insistiremos com mais "problemas emocionais".
A alternativa que a CNE propõe é que se detete mais precocemente as dificuldades dos alunos e se acompanhe posteriormente com mais cuidado os que têm dificuldades. Isto é teoricamente possível e já acontece, mas não chega. Por outro lado, a ideia de dar mais atenção às crianças com insucesso.(sem razões para isso) do que às bem sucedidas pode criar uma ilusória inversão da escala de valores.
Parece-me que a solução é diferente e tem de partir de uma atitude diferente. Estudar não é uma brincadeira! Deixem de infantilizar os livros escolares e de tentar que os alunos não sintam a escola como uma obrigação, porque isso lhes cria os tais "problemas emocionais". Os alunos que chumbam ou ficam retidos devem ter vergonha (salvo nos referidos casos em que há justificações plausíveis para os atrasos) de não conseguir. Devem habituar-se ao esforço, à ideia de que em toda a vida terão de se esforçar. Porque é a vida. O facilitismo na escola ensina o facilitismo na vida e, como diziam os nossos avós, a ociosidade é a mãe de todos os vícios.
Por isso deixem-se de tretas. Não tratem a sociedade como se ele fosse composta por um conjunto de imbecis. Os pais, as crianças, os professores sabem bem com quem e com o que lidam. As bonitas teorias são isso mesmo. Mas não há forma de educar sem regras claras e simples. E dentro dessas regras terá de haver recompensas e punições".

Henrique Monteiro
Expresso Diário

segunda-feira, fevereiro 23, 2015

Professores andam a ser enganados na redução da componente letiva

"Um ofício enviado pela Direção-Geral da Administração Escolar (DGAE) à Provedoria de Justiça defende que os professores dos 2º e 3º ciclos e do secundário têm direito a uma maior redução no horário de trabalho, em função da idade e tempo de serviço, do que aquela que tem sido a interpretação da tutela. Milhares de professores poderão estar a ser prejudicados e deverão utilizar o documento para intentar ações contra o Ministério da Educação e Ciência, reclamando horas extraordinárias, que poderão custar milhões de euros aos cofres do Estado.

Em causa está a interpretação da aplicação do regime transitório, depois de em 2007 ter sido alterada a legislação que regula a redução da componente letiva. No documento, datado de maio de 2014 mas só agora tornado público, pelo blogue Arlindovsky, a DGAE afirma que os docentes que no anterior regime "tiverem beneficiado de 2 e 4 horas de redução de componente letiva têm direito a mais 2 horas aos 50 anos de idade e 15 anos de serviço".

Mas as orientações que têm sido dadas e aplicadas pelas escolas vão no sentido de que os docentes que já tiverem beneficiado de duas horas de redução só têm direito a mais duas aos 55 anos e 20 anos de serviço – enquanto os que beneficiaram de 4 horas no anterior regime só aos 60 anos teriam direito a mais duas de redução.

"A interpretação do ofício é a correta, mas nunca foi aplicada nem divulgada. Os professores acima de 50 anos, grande parte da classe, foram prejudicados", afirma Arlindo Ferreira, autor do blogue que revelou o ofício, frisando que se a redução fosse aplicada haveria centenas de horários disponíveis para professores". 


CM

domingo, fevereiro 15, 2015

Educação Sexual nas escolas é um "faz-de-conta"

"A Educação Sexual deveria ser considerada uma área curricular não disciplinar, como a Formação Cívica, na opinião da especialista Zélia Anastácio.
Em 2009, quando José Sócrates era chefe do Executivo, aprovou-se uma lei que obrigava as escolas a desenvolver programas de Educação Sexual com uma duração mínima de seis horas por ano no 1º e 2º ciclos do ensino básico e 12 horas no 3º ciclo e secundário.
Seis anos volvidos, tudo não passa de um "faz-de-conta", na perspetiva da especialista Zélia Anastácio, certa de que “a lei está longe de ser cumprida” e as horas “são ocupadas com iniciativas pontuais: é Natal, vamos falar do nascimento de Jesus”.
A investigadora da Universidade do Minho, entrevistada pelo Público, é da opinião de que a Educação Sexual deveria ser integrada nas áreas curriculares não disciplinares (como a Formação Cívica), que “acabaram entretanto”.
“Está longe de corresponder a um projeto coerente e consistente para cada turma, que envolva todos os professores numa perspetiva de transversalidade, como indica a lei, e que produza resultados”, lamentou".

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